A Constituição do Campo de Análise e Pesquisa da Antropologia Jurídica

5266 palavras 22 páginas
A constituição do campo de análise e pesquisa da antropologia jurídica
Orlando Villas Bôas Filho

Doutor e Mestre em Direito –USP;
Professor da Faculdade de Direito – Mackenzie.
São Paulo – SP [Brasil] ovbf@mackenzie.br Pretendemos, neste artigo, analisar sinteticamente a constituição do campo de análise e pesquisa da antropologia jurídica no século XIX, enfatizando sua relação com o imperialismo e com o colonialismo.
Palavras-chave: Antropologia jurídica. Colonialismo. Imperialismo.
Prisma Jurídico, São Paulo, v. 6, p. 333-349, 2007.

333

1 Antropologia, colonialismo e imperialismo
Abordar a constituição do campo de análise e pesquisa da antropologia jurídica implica examinar a gênese dessa disciplina, ou seja, o
…exibir mais conteúdo…

Embora essa idéia de superioridade não seja nova na relação entre os europeus e as demais sociedades, como o demonstra a primorosa análise de Tzvetan Todorov
(1993), o fato é que, no imperialismo do século XIX, havia uma novidade consistente em que
Prisma Jurídico, São Paulo, v. 6, p. 333-349, 2007.

335

[...] os não-europeus e suas sociedades eram crescente e geralmente tratados como inferiores, indesejáveis, fracos e atrasados, ou mesmo infantis. Eles eram objetos perfeitos de conquista, ou ao menos de conversão aos valores da única e verdadeira civilização [...] (HOBSBAWM, 2002, p. 118).

Entretanto, para ser eficaz, a ideologia da superioridade demandava argumentos capazes de proporcionar o convencimento de sua veracidade.
Não cabe aqui adentrar a questão referente à formulação do conceito de povo que, enquanto subproduto dos Estados-nação, forneceu importante elemento ideológico que, ao lado do racismo colonial, permitiu legitimar o imperialismo. Para os propósitos limitados desta análise, basta notar, seguindo Hardt e Negri (2001, p. 121), que “[...] os conceitos de nação, povo e raça nunca estão muito separados. A construção de uma diferença racial absoluta é o terreno essencial para a concepção de uma identidade nacional homogênea,” ou seja, a constituição das nações, entendidas como “comunidades imaginadas”, para utilizar o termo proposto por Benedict Anderson

Relacionados

  • FICHAMENTO DO TEXTO VILAS BÔAS: CONSTITUIÇÃO DO CAMPO DE ANÁLISE E PESQUISA DA ANTROPOLOGIA JURÍDICA
    925 palavras | 4 páginas
  • Resumo Cap.I da Obra Ensaios de Antropologia e de Direito
    1706 palavras | 7 páginas
  • antropologia e psicologia forense
    10386 palavras | 42 páginas
  • François laplantine, aprender antropologia
    1792 palavras | 8 páginas
  • Pre projeto / ressocialização do preso em vista do mercado de trabalho
    793 palavras | 4 páginas
  • QUESTÕES DE CIDADANIA E O DIÁLOGO ENTRE O JURÍDICO E A ANTROPOLOGIA. AS CONSEQUÊNCIAS DO RECONHECIMENTO DA DIVERSIDADE CULTURAL. (Resumo) Dr. Marcelo Beckhausen
    1392 palavras | 6 páginas
  • Patrimônio cultural material e imaterial - dicotomia e reflexos na aplicação do tombamento e do registro
    6606 palavras | 27 páginas
  • Lombroso, garofalo e ferri.
    4074 palavras | 17 páginas
  • Biopirataria
    1586 palavras | 7 páginas
  • Resumo do Livro Direito Penal 1 CLEBER MASSON
    4273 palavras | 18 páginas