Síntese 3. o espírito e o cérebro
Eis então duas noções, o cérebro e o espírito, ligados por um só nó que não pode desatar, em torno do qual giram as visões de mundo, do homem, do conhecimento, em relação às quais só se pode decidir com um bárbaro golpe de espada.
O que tem haver esse miolo gelatinoso com as idéias, com a religião, a filosofia, a bondade, a piedade, o amor, a poesia, com a liberdade? Como pode ser que essa substância indolor nos dê a dor? Inversamente, o que sabe o espírito do cérebro? Espontaneamente, nada. O espírito é de uma cegueira extraordinária em relação ao cérebro, sem o qual não existira. A prática médica reconheceu, desde Hipócrates, o papel espiritual do cérebro; o …exibir mais conteúdo…
Ambos são necessários, mais insuficientes isoladamente. Toda negação do espírito ilustra a surpreendente potência das idéias, logo do espírito, pois é bem o espírito que recusa a sua própria existência para não afetar a idéia que tem da matéria.
Antes de tudo, impõe-se uma relação inegável de dependência do espírito em relação ao cérebro. Por outro lado, o que afeta o espírito afeta o cérebro e, através do cérebro, todo o organismo. Por isso, a relação do espírito com o cérebro não pode ser simplesmente concebida como a do produto com o produtor, do efeito com a causa, do emanado com a fonte, pois o produto pode retroagir sobre o produtor e o efeito sobre a causa. Tudo isso nos indica uma ação recíproca, um efeito mútuo, uma causalidade circular.
Em consequência, devemos conceber, na sua própria dependência, certa autonomia do espírito. Assim, enquanto começa a decadência biológica do cérebro, parece, depois dos vinte anos, o espírito continua o seu desenvolvimento, o qual pode prosseguir mesmo com o envelhecimento dos tecidos do organismo.
A atividade do espírito é uma produção do cérebro, mas a concepção do cérebro é uma produção do espírito. O espírito apresenta-se como uma eflorescência do cérebro, mas este aparece como uma representação do espírito.
- A tríade
Não se pode isolar o espírito do cérebro nem o cérebro do espírito. Além disso, não se pode isolar o espírito/cérebro da cultura. Sem cultura, o espírito humano não teria