Literatura infantil para surdos
Literatura, Letramento e Práticas Educacionais Grupo de Estudos e Subjetividade
LITERATURA SURDA
Lodenir Becker Karnopp
RESUMO O objetivo do presente artigo é proceder a uma análise dos livros de literatura infantil Cinderela Surda e Rapunzel Surda, focalizando os sentidos produzidos sobre identidades e diferenças. As análises desses livros pretendem contribuir para a discussão da produção de uma literatura surda, que está vinculada às discussões sobre cultura e identidade. Na investigação desses materiais, os textos e as imagens produzidas evidenciam que os autores buscam o caminho da auto-representação do grupo de surdos, através da luta pelo estabelecimento do que reconhecem como suas identidades e suas diferenças. Tais …exibir mais conteúdo…
Por outro lado, são escassos, nos contextos escolares, materiais que tematizem a diversidade cultural, tendo em vista a possibilidade de leitura de outros textos, de outras imagens e de outras histórias do que significa ser diferente. Enfim, uma abordagem que possibilite outras representações sobre os surdos. Ao afirmarmos que os surdos brasileiros são membros de uma cultura surda não significa que todas as pessoas surdas no mundo compartilhem a mesma cultura simplesmente porque elas não ouvem. Os surdos brasileiros são membros da cultura surda brasileira da mesma forma que os surdos americanos são membros da cultura surda norte-americana. Esses grupos usam línguas de sinais diferentes, compartilham experiências diferentes e possuem diferentes experiências de vida. No entanto, há alguns valores e experiências que os
© ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.98-109, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592.
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ARTIGO
Literatura, Letramento e Práticas Educacionais Grupo de Estudos e Subjetividade surdos, independente do local onde vivem, compartilham, ou seja: “todos são pessoas Surdas vivendo em uma sociedade dominada pelos ouvintes.” (WILCOX e WILCOX, 2005, p. 78). Não falamos de literatura surda como algo localizado, fechado, demarcado. Falamos no sentido que Heidegger imprimiu aos locais da cultura quando considera que “Uma fronteira