Demonstração lógica e argumentação retórica
Para Perelman a noção de argumentação é explicitada a partir sua oposição com a demonstração. Aquilo que, segundo este teórico, distingue uma da outra são as seguintes características:
• primeira ideia: «enquanto a lógica formal é a lógica da demonstração, a lógica informal é a da argumentação» (Perelman, 1986a: 17);
• segunda ideia: ao invés da lógica tradicional, esta última não se preocupa com a verdade abstracta, categórica ou hipotética, mas com a adesão (Perelman e Olbrechts-Tyteca, 1952: 18). Nota Perelman que «na argumentação não se trata de mostrar, como na demonstração, que uma qualidade objectiva, como seja a verdade, passa das premissas para a conclusão, mas que se pode fazer …exibir mais conteúdo…
Esta distinção entre demonstração e argumentação deve ser devidamente contextualizada e inserida na oposição entre ciências e humanidades numa época de hegemonia das primeiras sobre as segundas e à tentativa de proceder a um alargamento da ideia de racionalidade que permitisse incluir os dois campos. Neste sentido ela é paralela da introdução de dois tipos de prova: a prova científica (caracterizada por ser demonstrativa, certa, impessoal, an-histórica, abstracta, rigorosa, formal, infalível e não apelar à decisão) e a prova retórica (caracterizada pela justificação, pela obtenção de adesão, pela pessoalidade, por ser situada, concreta e plausível, por se reportar a convicções, por ser falível e por apelar à decisão).
Pode também dizer-se que a distinção entre demonstração e argumentação remete para o uso da razão na sua articulação com o uso da linguagem: enquanto a demonstração está associada a uma construção prévia de um jogo de linguagem no qual o raciocínio irá funcionar (com