A IMPOSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO NÃO-HUMANO NA FILOSOFIA KANTIANA
The impossibility of knowledge in nonhuman Kantian philosophy
Márcio Francisco Rodrigues Filho*
Resumo: Neste artigo pretendo mostrar que, seguindo-se a teoria da experiência proposta por Kant, animais não-humanos jamais seriam capazes de identificar objetos do mundo exterior. Isso porque, de acordo com Kant, para se ter experiência empírica são necessárias duas fontes do conhecimento: conceitos e intuições.
Porém, somente seres humanos operam com conceitos; animais, não. Cães e gatos, no entanto, assim como os seres humanos, reconhecem e são capazes de identificar objetos mesmo não possuindo pensamento abstrato e reflexivo (razão). A tese de Kant …exibir mais conteúdo…
Eles não podem, obviamente, fazer ciência. Mas disso não se segue que sejam incapazes de conhecimento não-discursivo, nãoconceitual. O problema é que se seguirmos a teoria da experiência de Kant, essa conclusão torna-se necessária. Não há, para Kant, nem poderia haver, conhecimento não-conceitual. O problema é que, com isso, animais não-humanos seriam seres completamente incapazes de qualquer experiência objetiva, pois, segundo Kant, intuições sem conceitos são cegas (CRP, A51/B76):
Intuições e conceitos constituem, pois, os elementos de toda nossa cognição, de modo que nem conceitos sem intuições correspondentes a eles de certa maneira correspondente a eles nem intuições sem conceitos podem fornecer uma cognição.
[...] Pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas.
Portanto, é tão necessário fazer dos conceitos mentais conceitos sensíveis – quer dizer, acrescentar-lhes o objeto a eles numa intuição – como fazer de nossas intuições compreensíveis – quer dizer, pô-las sob conceitos. Esses duas faculdades, ou capacidades, não podem trocar suas funções. O entendimento não pode nada intuir, e os sentidos nada podem pensar. Somente de sua unificação é que a cognição pode surgir (CRP, A50-51/B74-76).2
É um dogma na filosofia moderna seguida por Kant a tese de que a razão é a faculdade de se conhecer por conceitos3 (CRP, A69/B94), bem como a tese de que é a razão o que difere os humanos
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Há amplo consenso