Senso comum, mito e filosofia

3325 palavras 14 páginas
O SENSO COMUM, O MITO E A FILOSOFIA Prof. Marcelo José Caetano

INTRODUÇÃO: Aristóteles, em sua Metafísica (I, 1), afirma que “no vigor de sua constituição ontológica, o homem deseja ardentemente conhecer”. Para este filósofo, a “natureza” humana é regulada por este desejo ardente. Contudo, o que é conhecer? Que relações existem entre o conhecimento que obtemos (ou construímos) sobre as coisas e a aquisição da verdade? O que é a verdade? É possível alcançarmos a verdade plena sobre as coisas que constituem nosso mundo? Segundo Buzzi (1997), o início do processo de conhecimento está na intuição sensível. Para ele, “tudo o que se dá na intuição deve ser simplesmente recebido e trabalhado no interior dos limites de nossas possibilidades”
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Uma pessoa comum como milhares de outras. Vamos pensar em como ela funciona, lá na feira, de barraca em barraca. Seu senso comum trabalha com problemas econômicos: como adequar os recursos de que dispõe, em dinheiro, às necessidades de sua família, em comida. E, para isso, ela tem de processar uma série de informações. Os alimentos são classificados em indispensáveis, desejáveis e supérfluos. Os preços são comparados. A estação dos produtos é verificada: produtos fora de estação são mais caros. Seu senso econômico, por sua vez, está acoplado a outras ciências. Ciências humanas, por exemplo. Ela sabe que alimentos não são apenas alimentos. Sem nunca haver lido Veblen ou Lévi-Strauss, ela sabe do valor simbólico dos alimentos. Uma refeição é uma dádiva da dona de casa, um presente. Com a refeição ela diz algo. Oferecer chouriço para um marido da religião adventista, ou feijoada para uma sogra que tem úlceras, é romper claramente com uma política de convivência pacífica. A escolha dos alimentos, aqui, não é regulada apenas por fatores econômicos, mas por fatores simbólicos, sociais e políticos. Além disto, a economia e a política devem lugar ao estético: o gostoso, o cheiroso, o bonito. E para o dietético. Assim, ela junta o bom para comprar, como bom para dar, como bom para ver, cheirar e comer, com o bom para viver. É senso comum? É. A dona de casa não traba-

lha com aqueles instrumentos que a ciência definiu como científico. É comportamento

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