Resenha crítica - o teatro dos vícios
O objeto desta análise, “O teatro dos vícios” foi escrito por Emanuel Araújo e publicado pela Editora Universidade de Brasília em 1997 (2ª edição). O autor possui suas teses de mestrado e doutorado na área de história antiga, realizadas na Universidade de Brasília (1968/1969) e sua área de atuação é abrangente, envolvendo História Antiga, Medieval e do Brasil (período colonial, especificamente).
O eixo principal da análise é a história social e das mentalidades no Brasil colonial, narrada de forma mais ampla, buscando fugir do caráter micrográfico da historiografia tradicional. No prefácio o autor descreve sua metodologia em relação às fontes: limitou-se ao universo documental de fácil acesso aos leitores que buscarem …exibir mais conteúdo…
O país foi então retratado como o “berço da preguiça” e a explicação era simples: a escravidão. “É que o negro cativo fazia tudo dentro de casa e, fora, ainda proporcionava bom rendimento a seu dono, o qual recebia dele uma féria diária ou semanal proveniente do que vendesse ou do aluguel do seu trabalho” (ARAÚJO, 1997, p. 87).
Mais do que o estatuto da escravidão, essa população que podia assentar-se no lucro aferido por seus escravos estava situada à margem da produção que interessava a Metrópole – realizada primordialmente por senhores de engenho e mineradores – e não estava preocupada em modificar a situação. Só restava então “acomodar-se e transformar o ócio, a preguiça, em virtude, em coisa prestigiosa naturalmente almejada por todos” (ARAÚJO, 1997, p. 88).
“O padrão ideal de status, portanto, era esse: possuir cativos que dispensassem o dono de certos trabalhos ou, melhor ainda, de todo o trabalho”. (ARAÚJO, 1997, p. 90). E incrivelmente, esse padrão era reproduzido por ex-escravos: uma vez atingindo a liberdade procuravam adquirir escravos, um primeiro passo para se afirmarem à semelhança do padrão dos brancos. Todos buscavam adquirir escravos, antes pelo status do que pela necessidade. Quanto maior o número de escravos, maior o prestígio social de quem os possuísse. A situação era tamanha que em 1799, o príncipe regente