O mito da neutralidade científica

3972 palavras 16 páginas
INTRODUÇÃO

O que é ciência? Talvez a ciência não possa nem ser definida. Em geral, é mais conceituada do que propriamente definida. Para o grande público, ciência é um conjunto de conhecimentos “puros” ou aplicados, produzidos por métodos rigorosos, comprovados e objetivos, fazendo-nos captar a realidade de em modo distinto da maneira como a filosofia, a arte, a política ou a mística a percebem. A verdadeira ciência seria um conhecimento independente dos sistemas sociais e econômicos. Seria um conhecimento que, baseando-se no modelo fornecido pela física, se impõe como uma espécie de ideal absoluto. Não há ciência “pura”, “autônoma e “neutra”, como se fosse possível gozar do privilégio de não se sabe que “imaculada concepção”.
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Os valores não podem surgir de um saber sobre o homem, mas de um querer do homem, ser inacabado e sempre aberto às possibilidades futuras. O autor explica que os capítulos deste livro obedecem a um certo fio condutor, religando a ciência objetiva a uma ética do saber objetivo, passando pelos pressupostos axiológicos das ciências humanas e por um esboço de crítica ao princípio da “neutralidade científica”. O primeiro capítulo é uma tentativa de colocar o problema da objetividade científica e de detectar os principais pressupostos axiológicos. O segundo visa a enfatizar o caráter cada vez mais praxeológico ou “intervencionista” dessas disciplinas. Os capítulos 3 e 4 visam a mostrar, entre outras coisas, que o progresso dos conhecimentos não aparece mais, em nossos dias, como uma condição necessária e suficiente para a prosperidade humana e, menos ainda, como a garantia de um melhor bem-estar social e da felicidade dos indivíduos. Em outras palavras: a pesquisa fundamental ou teórica não pode ser mais vista como a condição necessária e suficiente do progresso de inovação e de melhoria das condições humanas de vida.

I
OBJETIVIDADE CIENTÍFICA E PRESSUPOSTOS AXIOLÓGICOS

“Toda realidade social é constituída ao mesmo tempo de fatos intelectuais e afetivos que estruturam, por sua vez, a consciência do pesquisador e que implicam, naturalmente, valorizações. Donde parece-nos impossível um estudo

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