As máscaras da ciência
DA CIÊNCIA* Hilton Japiassu
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Universidade Federal do Rio de Janeiro
IBICT
Falar das "máscaras da ciência", é falar de seus anteparos ideológicos e interrogar-nos, ao mesmo tempo, sobre o sentido da ciência, sobre seu sentido profundo e real, que se oculta por detrás de suas significações aparentes. Sabemos que sua significação aparente encontra-se, quer nas intenções subjetivas dos próprios cientistas, cuja preocupação fundamental seria a busca do conhecimento, quer nas intenções dos que promovem e elaboram a chamada política científica, tendo em vista, em última análise, como decorrência do aumento de produção de conhecimentos, o aumento de produção de …exibir mais conteúdo…
No mundo atual, o cientista é ao mesmo tempo um precioso capital, um grande investimento cuja rentabilidade precisa ser assegurada, uma moeda de troca, uma imagem de marca nacional ou ideológica.
Num certo sentido, sua função teatralizou-se. Ele passa a ser um iceberg flutuando sobre o oceano de nossas incertezas, de nossas ignorâncias. Sem dúvida, a parte oculta de seu trabalho só justifica o estatuto privilegiado que lhe reconhecemos, mas ele não pode permanecer estranho à "sociedade do espetáculo". Na verdade, saiu da ficção neutralista. E, com ele, a ciência.
Por isso, estamos diante de dois mitos ou de duas ilusões (máscaras) que precisam ser superadas.
Trata-se da dupla ilusão da neutralidade objetiva, que dispensaria os cientistas, em nome de sua atividade racionalista, de tomar parte nos conflitos e nas incertezas da cidade política
(exceto de tomar parte na defesa da nação em perigo, e este é o caminho de todas as hipocrisias neutralistas), e do magistério ético que reconheceria aos cientistas o direito que eles possuiriam de dizer o que é bom, porque conhecem o que é verdadeiro (o que degenera, ipso facto, em "política cientificizada"). Ora, não há nenhum carisma político no patrimônio da comunidade científica. Por isso, não pode