Autonomos ou automatos
Dr. Alejandro Labale, Departamento de Ciências Sociais/UFPI.
Meu argumento começa com uma generalização, assumindo, claro, o perigo inerente a toda generalização: as criticas à educação estão predominantemente dirigidas aos aparelhos com que o Estado (tomado este em sua máxima amplitude semântica) se manifesta como grande amestrador. A esta crítica, proativamente, seguem-se as mais diversas propostas pedagógicas reforçando-se assim a idéia de erro tecnológico. Logo, o ponto de partida para esta indagação será: a crítica esquece o poder de disciplinamento que a Cultura significa, e que nos torna dóceis antes mesmo de pisar qualquer escola. Concomitantemente a esse, outro ponto que oferecerei à reflexão é a diferença entre adestramento e amestramento. Duas noções que muitas vezes tomam-se, erroneamente a meu ver, como sinônimas.
Meu pressuposto que, portanto não abordarei aqui, é que a Cultura significa comportamento aprendido; apoiando-me para tanto na tradição da antropologia acadêmica que desde Tylor, a finais de século XIX, vê na Cultura precisamente o que nos torna uns animais tão especiais. Ou seja, o Sapiens que identifica a espécie quer dizer exatamente seu contrário: nada sabemos ao nascer. Porém, nascemos com a predisposição de aprender, já que a natureza não nos fornece nenhum universal de comportamento. O paradoxo desta única característica eminentemente humana seria uma tendência a criar diferença,