Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 


O perfil do Educador Ambiental do ensino fundamental em São Francisco Do Sul – SC (página 5)

Prof. Edelene Soraia Da Silva
Partes: 1, 2, 3, 4, 5

Em contra partida, o fato de que praticamente metade dos professores consideram que não modificam suas práticas ao retornar dos cursos de capacitação, leva ao questionamento a respeito da qualidade dos cursos oferecidos, seja em termos de recursos materiais ou humanos. Isso reforça a preocupação com relação às políticas públicas para gestão de recursos com organização e planejamento. Infelizmente tais recursos servem muitas vezes para beneficio de poucos que levam vantagens no superfaturamento dos serviços, enquanto existem profissionais nas próprias escolas com capacidades e qualificações que são esquecidos.

Há também que se repensar as atitudes dos próprios educadores em relação aos recursos que a escola dispõe. Se por um lado há escolas carentes de materiais e equipamentos tecnológicos, por outro o que se vê em escolas que recebem tais benefícios, não há comprometimento com seu bom uso e conservação. Não há consciência pelo que é coletivo como propriedade de todos, de uso comum e de beneficio comum.

De fato há verbas suficientes para uma melhor distribuição na Educação oriunda dos impostos arrecadados pelos governos, porém esta se torna insuficiente diante do imenso desperdício. Se houvesse uma economia que canalizasse para os salários dos professores esse desperdício, provavelmente o quadro seria outro.

Como fazer Educação Ambiental numa escola em que o desperdício e a depredação são constantes? E onde fica a responsabilidade dos alunos e dos pais diante disso tudo? Será que só a escola é responsável pela mudança de comportamento nas crianças e jovens em busca de uma sociedade sustentável?

Diante de toda esta discussão, fica claro que realmente a educação é também responsável pela modificação cultural. Nas escolas em que se têm maiores atividades de prática ambiental, os alunos pesquisados demonstram maior comprometimento com a sociedade e com o meio ambiente. Do mesmo modo os professores que recebem mais capacitação através de cursos de atualização, demonstram-se mais motivados e conscientes de seu papel de educador e especificamente de Educador Ambiental.

As política públicas voltadas à Educação deveriam incluir programas de envolvimento das famílias não apenas como beneficiárias do sistema que apenas provê desde o uniforme à alimentação, do material escolar à "bolsa-esmola", mas que resgatassem sua responsabilidade pelas pessoas que fizeram vir ao mundo. Que resgatassem os valores de respeito, civismo, cidadania e solidariedade.

Somente através da valorização da educação é que poderemos salvar o mundo e contar com a ajuda da humanidade nesta função, e isto inicia na família até chegar nas escolas. Através da educação é que formaremos homens e mulheres conscientes de que já temos documentos e instrumentos suficientes como a Carta da Terra, o Protocolo de Kyoto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Global Compact e a ONU, as portarias ISO e tantos outros para nortear as ações, fiscalizar as práticas e punir os descumpridores destes tantos acordos e leis que muitas vezes não passam de acúmulo de papel e desperdício de debates, se não forem tratados com seriedade. Há que se divulgar, inserir estes documentos nos currículos escolares de modo didático e fazer com que as pessoas desde sua infância já tomem conhecimento da existência destes documentos e órgãos, para que se pare de reinventar a roda e se passe à prática, de fato, do comportamento conservacionista em prol de um desenvolvimento sustentável.

REFERÃNCIAS

ALMEIDA, Alberto Carlos. (2008). Entrevista: só a escola garante uma sociedade ética e próspera. Entrevistado por Cristiane Morangon. Revista Nova Escola. Vol. 209, fevereiro, pp. 23-26. São Paulo: Abril.

ALMEIDA, Fernando. (2007). Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente. Rio de Janeiro: Elsevier.

ALVARENGA, Alejandra Estelbina Miranda de. (2005). Normas técnicas de presentación de informes científicos: tesis, tesinas y monografias. 2. ed. Asunción: A4 Diseños.

BERTÉ, Rodrigo. (2004). Educação ambiental: construindo valores de cidadania. Curitiba: Champagnat.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. (1997). Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF.

BRASIL. (1998). Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: tercerio e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF.

BOFF, Leonardo. (1996a). Ecologia, mundialização e espiritualidade. São Paulo: Ática.

______________. (1999). Saber cuidar: ética do humano, compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes.

BUENO, S. (2004). Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: FTD.

BUFFON, M, et al. (2003) O processo de formação de educadores ambientais: interpretando as dimensões polítido-educaionais. Visão Acadêmica, v. 4, n. 1. Curitiba: jan-jun.

CARNEIRO, Sônia Maria Marchiorato. (1999) A dimensão ambiental da educação escolar de 1ª. - 4ª. séries do ensino fundamental na rede escolar pública da cidade de Paranaguá. Dissertação de doutorado em Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento, Universidade Federal do Paraná.

CARSON, Rachel. (1962) Primavera silenciosa. São Paulo: Melhoramentos.

CARVALHO, Maria Cecília Maringoni de. et. Al. (1995). Metodologia científica: fundamentos e técnicas. 5ª ed. Campinas, SP: Papirus.

CASCINO, Fábio Albeti; Jacobi, Pedro e Oliveira, José Flávio de. (Orgs.) (1998). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA/Ceam.

Conferência Nacional de Educação Ambiental. (1997). Tessalônica, Grécia.

CONTE, Tatyana e Harada, Elaine. Pesquisa Científica. Disponível em file:///C:/Documents%20and%20Settings/Soraia/Configura%E7%F5es%20locais/Temporary%20Internet%20Files/Content.IE5/GXKD27GH/MCCC05_2004%5B1%5D.ppt#256,1,Pesquisa Científica, acesso em 17/07/2007.

DIAS, Genebaldo Freire. Atividades interdisciplinares de educação ambiental. 2 ed. São Paulo: Gaia, 2006.

______________. (2007) Palestra no XV prêmio Embraco de ecologia. Joinville.

DUFFY, Mary E. (1987) Methodological triangulation: a vehicle for merging quantitative and qualitative research methods, In Journal of Nursing Scholarship, 19 (3).

FIGUEIRÓ, Mary Neide Damico (2000). A viabiliadade dos temas transversais à luz da questão do trabalho docente. Disponível em: http://www2.uel.br/ccb/psicologia/revista/textov2n12.htm , acesso em: 20.02.2007)

FORQUIN J.C. (1993). Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artmed.

FREIRE, Paulo. (1997). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.

GADOTTI, Moacir. (2000). Pedagogia da terra. São Paulo: Peirépolis.

GEBARA, Ivone. (1997). Teologia ecofeminista: ensaio para repensar o conhecimento e a religião. São Paulo: Olho D"água.

Governo do Estado de Santa Catarina. A costa do encanto e seus municípios. Disponível em http://www.costadoencanto.sc.gov.br/index2.php?0,2, acesso em 27/01/2008.

GUIMARÃfES, M. (2004). A formação de educadores ambientais. Campinas, Papirus.

Gutiérrez, Francisco. ( 1996). Ciudadania planetária. Costa Rica, Heredia: (faculdade)

Instituto Paulo Freire. A carta da terra na perspectiva da educação. Disponível em http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/carta_terra.doc

Acesso em 18/01/2008.

_______________________. (1999). Resumos do primeiro encontro internacional da carta da terra na perspectiva da educação. São Paulo: IPF.

KRANZ, Patrícia. (1995). Pequeno guia da agenda 21 local. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal do Meio Ambiente.

LDB. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Lei 9.394 de 20/12/1996.

LEI N° 9.795, de 27 de abril de 1999. Política Nacional de Educação Ambiental.

LIMA, Gustavo F. da Costa. (1997). O debate da sustentabilidade na sociedade insustentável: Política e Trabalho, p. 201-22.

MEDINA, Naná Minnini. Dados Históricos da Educação Ambiental Internacional. http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./educacao/index.php3&conteudo=./educacao/hist_int.html , Acesso em 17/07/2007.

Ministério da educação e do desporto. Parecer sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais.http://209.85.165.104/search?q=cache:MExGP5lvSDAJ:portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/PCB0397.pdf+ORIGEM+DOS+PCN&hl=ptR&gl=br&ct=clnk&cd=1 (acesso em 29.01.2007)

______________. (2006). ProFEA: programa nacional de formação de educadoras(es) ambientais. Por um Brasil educado e educando ambientalmente para a sustentabilidade.

Ministério do Meio Ambiente. (2003). ProNEA: programa nacional de educação ambiental.

______________. (2003) PNEA: programa nacional de educação ambiental.

Ministério dos Transportes. Porto de São Francisco do Sul. Disponível em http://www.transportes.gov.br/bit/portos/sfransul/posaofranciscodosul.htm, acesso em 28/01/2008.

MORIN, Edgar. Kern, Anne Brigitte. (1993). Terre-Patrie. Paris: Seuil.

NICOLESCU, Basarab. (1996). La transdisciplinarité. Paris: Rocher.

NÓVOA, Antônio (Org.) (1992). As organizações escolares em análise. Lisboa: Dom Quixote.

ONU. Carta da terra. Disponível em http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/carta_terra.doc. Acesso em 18/01/2008

_______________________. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em http://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm. Acesso em 25/01/2008

PEDRINI, Alexandre de Gusmão. (1998) Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Rio de Janeiro: UFRJ.

PERRENAUD, P. (1997). Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas sociológicas. 2a ed. Lisboa: Dom Quixote.

RUDIO, Franz Vitor. (2002). Introdução ao projeto de pesquisa científica. Petrópolis: Vozes.

Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul. (2004) Agenda 21: São Francisco do Sul do futuro. Florianópolis: Letras Brasileiras.

______________. Turismo e História. Disponível em http://www.sfs.com.br/index.cfm?go=turismo.home&IDConteudoSubCategoria=2, acesso em 02/01/2008.

______________. Baía de Babitonga. Disponível em http://www.cwb.matrix.com.br/sensus/baiababitonga.htm, acesso em 04/01/2008.

SAMPIERI, Roberto Hernández. et. al. (1991). Metodologia da pesquisa. México: McGraw-Hill.

SANTA CATARINA. (1998). Secretaria do Estado da Educação e do Desporto. Proposta curricular de Santa Catarina: educação infantil, ensino fundamental e médio: formação docente para educação infantil e séries iniciais. Florianópolis: COGEN.

______________. (2003). Secretaria do Estado de Educação e Inovação. Um novo olhar sobre a matriz curricular. Florianópolis: SEC EDUC.

SCHMIED-KOWARZIK, Wolfdietrich. (1999). O futuro ecológico como tarefa da filosofia. São Paulo: IPF (Cadernos de ecopedagogia 4).

Secretaria Municipal de Educação e Cultura de São Francisco do Sul. Relatórios 2007.

SILVA JÚNIOR, Celestino Alves. (1995). A escola como local de trabalho. São Paulo: Cortez.

SILVA, Tomáz Tadeu. (1999). Documentos da identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica.

TAMANES, Ramón. A ningún país le viene mal la globalización. Disponível em http://www.eumed.net/cursecon/textos/tamamesentrevista.htm. Acesso em 30/04/2007.

UNESCO. (1999). Educação para um futuro sustentável: uma visão transdisciplinar para ações compartilhadas. In: Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente e Sociedade: educação e conscientização pública para a sustentabilidade. Brasília: Ibama.

UNIFOR. Estrutura para projetos de pesquisa. Disponível em http://www.uniformg.edu.br/imagens/depcom/outros/Estrutura_Projeto_Pesquisa_uniformg.pdf, acesso em 17/07/2007.

APÃNDICES

APÃNDICE I

QUESTIONÁRIO AOS PROFESSORES DE ENSINO FUNDAMENTAL

______________________________________

Questionário para investigação sobre o tema O Perfil do Educador Ambiental no Ensino Fundamental. As informações serão utilizadas para a tese de doutorado da Prof. Msc. Edilene Soraia da Silva de modo geral e sigiloso. Muito obrigada por sua colaboração.

Escola: ( ) municipal ( ) estadual ( ) privada

Função que exerce: ( )Diretor ( )Especialista ( )Professor ( )Funcionário

Disciplina(s) que ministra no Ensino Fundamental: ___________________________

1. Você já leu os PCNs? ( )sim ( )não

2. Já leu nos PCNs especificamente sobre o tema Educação Ambiental?

( )sim ( )não

3. Usa as orientações dos PCNs ao elaborar seu plano de ensino? ( )sim ( )não

4. Qual sua área de formação? __________________________________________

5. Há quanto tempo leciona no Ensino Fundamental? ( )anos ( )meses

6. Com que freqüência participa de cursos de Educação Ambiental? _____________

7. Ao voltar de algum destes cursos de Educação Ambiental, recorda de ter modificado sua opinião ou sua prática pedagógica no seu cotidiano de trabalho?

( )sim ( )não Justifique.

__________________________________________________________________

8.Como conceituaria Educação Ambiental?

___________________________________________________________________

9. De que forma aplica a Educação Ambiental como tema transversal dentro de sua disciplina e com que periodicidade? Relate.

___________________________________________________________________

10. Que tipos de materiais, técnicas ou recursos pedagógicos costuma utilizar para promover a Educação Ambiental com seus alunos do Ensino Fundamental?

___________________________________________________________________

11. Na escola onde atua, como acontece a Educação Ambiental? Relate.

____________________________________________________________________

12. A Educação Ambiental foi contemplada no PPP da sua escola? ( )sim ( )não

13. Quais as maiores dificuldades que percebe para uma prática pedagógica ideal e interdisciplinar para Educação Ambiental na escola onde atua?

_____________________________________________________________________

14. Utilizando os números das três alternativas abaixo, assinale de que modo as habilidades a seguir são observadas nos seus alunos do ensino fundamental?

1-pela sua prática

2-pela prática dos projetos desenvolvidos na escola

3-não observa isto na maioria dos alunos

  • k. ( ) identificar-se como parte integrante e responsável pela natureza

  • l. ( ) respeito às diversidades da natureza

  • m. ( ) respeito às diversidades sociais

  • n. ( ) analisar criticamente os fenômenos em prol da qualidade de vida

  • o. ( ) adoção de posturas na escola para o desenvolvimento sustentável

  • p. ( ) adoção de posturas em casa para o desenvolvimento sustentável

  • q. ( ) compreensão dos problemas ambientais de modo local

  • r. ( ) compreensão dos problemas ambientais de modo global

  • s. ( ) compreensão das relações causa/efeito que condicionam a preservação da vida

  • t. ( ) conhecimento de modo integrado as noções básicas relacionadas ao meio ambiente

15. Aponte sugestões para melhorar a Educação Ambiental na sua prática e na sua escola. (se precisar utilize o verso)

________________________________________________________________

APÃSNDICE II

QUESTIONÁRIO AOS ALUNOS DA OITAVA SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL

______________________________________

Questionário para investigação sobre o tema O Perfil do Educador Ambiental no Ensino Fundamental. As informações serão utilizadas para a tese de doutorado da Prof. Msc. Edilene Soraia da Silva de modo geral e sigiloso.

Série: ______ Idade: ______ Escola: ( ) municipal( ) estadual ( ) particular

1. O que você entende por Educação Ambiental?

_______________________________________________________________

2. Com os professores de quais matérias você mais aprende Educação Ambiental?

( )matemática ( )português ( )inglês ( )ensino religioso

( )ciências ( )história ( )geografia ( )educação física

( )artes ( )informática ( )outra, qual? _____________________

3. Na sua escola costumam acontecer atividades que promovam a Educação Ambiental? ( )sim ( )não Cite-as se tiver:

___________________________________________________

4. Você acha que as atividades desenvolvidas pela sua escola e pelos seus professores oferecem uma boa formação de Educação Ambiental a você e aos demais alunos da escola? ( )sim ( )não Justifique:

___________________________________________________

5. Dos temas abaixo, assinale os que realmente saberia explicar do que se tratam:

( ) chuva ácida ( ) efeito estufa ( ) desenvolvimento sustentável

( ) falta de água ( ) lixo e chorume ( ) buraco na camada de ozônio

( ) bioética ( ) desertificação ( ) poluição do ar, água e solo

( ) biopirataria ( ) transgênicos ( ) escassez de petróleo

( ) depredação ( ) invasões de terras ( ) desperdício de energia

( ) violência ( ) desemprego ( ) arrocho salarial

6. Assinale um X nos itens com os quais se identifica:

( ) considera-se parte integrante da natureza e responsável por ela

( ) respeita as diversidades da natureza

( ) respeita as diversidades sociais e étnicas

( ) analisa criticamente os fenômenos naturais em favor da qualidade de vida

( ) adota posturas na escola para o desenvolvimento sustentável

( ) adota posturas em casa para o desenvolvimento sustentável

( ) compreende os problemas ambientais de modo local

( ) compreende os problemas ambientais de modo global

( ) compreende as relações causa/efeito que condicionam a preservação da vida

7. No verso da folha, faça uma lista de atitudes que você pratica pra colaborar com a preservação do meio ambiente em casa, na rua ou na escola.

Muito obrigada por sua colaboração.

ANEXOS

ANEXO I

_____________________________________

A CARTA DA TERRA

PREÃ,MBULO

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.

Terra, Nosso Lar

A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

A Situação Global

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

Desafios Para o Futuro

A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais, não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano.

Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes.

Responsabilidade Universal

Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com nossa comunidade local. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual a dimensão local e global estão ligadas. Cada um compartilha da responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida, e com humildade considerando em relação ao lugar que ocupa o ser humano na natureza.

Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DA VIDA

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor, independentemente de sua utilidade para os seres humanos.

b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas.

b. Assumir que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder implica responsabilidade na promoção do bem comum.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.

a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e proporcionem a cada um a oportunidade de realizar seu pleno potencial.

b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a consecução de uma subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.

a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras.

b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem, em longo prazo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.

Para poder cumprir estes quatro amplos compromissos, é necessário:

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.

a. Adotar planos e regulamentações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.

b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.

c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçadas.

d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses organismos daninhos.

e. Manejar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais e vida marinha de forma que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos ecossistemas.

f. Manejar a extração e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e combustíveis fósseis de forma que diminuam a exaustão e não causem dano ambiental grave.

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.

a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais mesmo quando a informação científica for incompleta ou não conclusiva.

b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmarem que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental.

c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas conseqüências humanas globais, cumulativas, de longo prazo, indiretas e de longo alcance.

d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.

e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.

a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.

b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos recursos energéticos renováveis, como a energia solar e do vento.

c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias ambientais saudáveis.

d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas sociais e ambientais.

e. Garantir acesso universal à assistência de saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.

f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência material num mundo finito.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e a ampla aplicação do conhecimento adquirido.

a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada a sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.

b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuam para a proteção ambiental e o bem-estar humano.

c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÃ"MICA

9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.

a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não-contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e internacionais requeridos.

b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma subsistência sustentável, e proporcionar seguro social e segurança coletiva a todos aqueles que não são capazes de manter-se por conta própria.

c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem, e permitir-lhes

desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.

10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.

a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro das e entre as nações.

b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e isentá-las de dívidas internacionais onerosas.

c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas.

d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem com

transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas conseqüências de suas

atividades.

11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de saúde e às oportunidades econômicas.

a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas.

b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de decisão, líderes e beneficiárias.

c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a educação amorosa de todos os membros da família.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, concedendo especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas em raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.

b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.

c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.

d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.

IV.DEMOCRACIA, NÃfO VIOLÃSNCIA E PAZ

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, participação inclusiva na tomada de decisões, e acesso à justiça.

a. Defender o direito de todas as pessoas no sentido de receber informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tenham interesse.

b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações na tomada de decisões.

c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia pacífica, de associação e de oposição.

d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela ameaça de tais danos.

e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.

f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde possam ser cumpridas mais efetivamente.

14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.

a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.

b. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências, na educação para sustentabilidade.

c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no sentido de aumentar a sensibilização para os desafios ecológicos e sociais.

d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los de sofrimentos.

b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento extremo, prolongado ou evitável.

c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não visadas.

16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.

a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações.

b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.

c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura não-provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.

d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em massa.

e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a proteção ambiental e a paz.

f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte.

O CAMINHO ADIANTE

Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.

Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca

iminente e conjunta por verdade e sabedoria.

A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva.

Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao desenvolvimento.

Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida.

ANEXO II

_____________________________________

A CARTA DA TERRA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃfO

CARTA DA ECOPEDAGOGIA

Primeiro Encontro Internacional - São Paulo, 23 a 26 de agosto de 1999.

Organização: Instituto Paulo Freire - Apoio: Conselho da Terra e UNESCO-Brasil

CARTA DA ECOPEDAGOGIA

Em defesa de uma Pedagogia da Terra

(Minuta de discussão do Movimento pela Ecopedagogia)

1. Nossa Mãe Terra é um organismo vivo e em evolução. O que for feito a ela repercutirá em todos os seus filhos. Ela requer de nós uma consciência e uma cidadania planetárias, isto é, o reconhecimento de que somos parte da Terra e de que podemos perecer com a sua destruição ou podemos viver com ela em harmonia, participando do seu devir.

2. A mudança do paradigma economicista é condição necessária para estabelecer um desenvolvimento com justiça e eqüidade. Para ser sustentável, o desenvolvimento precisa ser economicamente factível, ecologicamente apropriado, socialmente justo, includente, culturalmente eqüitativo, respeitoso e sem discriminação. O bem-estar não pode ser só social; deve ser também sócio-cósmico.

3. A sustentabilidade econômica e a preservação do meio ambiente dependem também de uma consciência ecológica e esta da educação. A sustentatibilidade deve ser um princípio interdisciplinar reorientador da educação, do planejamento escolar, dos sistemas de ensino e dos projetos político-pedagógicos da escola. Os objetivos e conteúdos curriculares devem ser significativos para o(a) educando(a) e também para a saúde do planeta.

4. A ecopedagogia, fundada na consciência de que pertencemos a uma única comunidade da vida, desenvolve a solidariedade e a cidadania planetárias. A cidadania planetária supõe o reconhecimento e a prática da planetaridade, isto é, tratar o planeta como um ser vivo e inteligente. A planetaridade deve levar-nos a sentir e viver nossa cotidianidade em conexão com o universo e em relação harmônica consigo, com os outros seres do planeta e com a natureza, considerando seus elementos e dinâmica. Trata-se de uma opção de vida por uma relação saudável e equilibrada com o contexto, consigo mesmo, com os outros, com o ambiente mais próximo e com os demais ambientes.

5. A partir da problemática ambiental vivida cotidianamente pelas pessoas nos grupos e espaços de convivência e na busca humana da felicidade, processa-se a consciência ecológica e opera-se a mudança de mentalidade. A vida cotidiana é o lugar do sentido da pedagogia pois a condição humana passa inexoravelmente por ela. A ecopedagogia implica numa mudança radical de mentalidade em relação à qualidade de vida e ao meio ambiente, que está diretamente ligada ao tipo de convivência que mantemos com nós mesmos, com os outros e com a natureza.

6. A ecopedagogia não se dirige apenas aos educadores, mas a todos os cidadãos do planeta. Ela está ligada ao projeto utópico de mudança nas relações humanas, sociais e ambientais, promovendo a educação sustentável (ecoeducação) e ambiental com base no pensamento crítico e inovador, em seus modos formal, não formal e informal, tendo como propósito a formação de cidadãos com consciência local e planetária que valorizem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações.

7. As exigências da sociedade planetária devem ser trabalhadas pedagogicamente a partir da vida cotidiana, da subjetividade, isto é, a partir das necessidades e interesses das pessoas. Educar para a cidadania planetária supõe o desenvolvimento de novas capacidades, tais como: sentir, intuir, vibrar emocionalmente; imaginar, inventar, criar e recriar; relacionar e inter-conectar-se, auto-organizar-se; informar-se, comunicar-se, expressar-se; localizar, processar e utilizar a imensa informação da aldeia global; buscar causas e prever conseqüências; criticar, avaliar, sistematizar e tomar decisões. Essas capacidades devem levar as pessoas a pensar e agir processualmente, em totalidade e transdisciplinarmente.

8. A ecopedagogia tem por finalidade reeducar o olhar das pessoas, isto é, desenvolver a atitude de observar e evitar a presença de agressões ao meio ambiente e aos viventes e o desperdício, a poluição sonora, visual, a poluição da água e do ar etc. para intervir no mundo no sentido de reeducar o habitante do planeta e reverter a cultura do descartável. Experiências cotidianas aparentemente insignificantes, como uma corrente de ar, um sopro de respiração, a água da manhã na face, fundamentam as relações consigo mesmo e com o mundo. A tomada de consciência dessa realidade é profundamente formadora. O meio ambiente forma tanto quanto ele é formado ou deformado. Precisamos de uma ecoformação para recuperarmos a consciência dessas experiências cotidianas. Na ânsia de dominar o mundo, elas correm o risco de desaparecer do nosso campo de consciência, se a relação que nos liga a ele for apenas uma relação de uso.

9. Uma educação para a cidadania planetária tem por finalidade a construção de uma cultura da sustentabilidade, isto é, uma biocultura, uma cultura da vida, da convivência harmônica entre os seres humanos e entre estes e a natureza. A cultura da sustentabilidade deve nos levar a saber selecionar o que é realmente sustentável em nossas vidas, em contato com a vida dos outros. Só assim seremos cúmplices nos processos de promoção da vida e caminharemos com sentido. Caminhar com sentido significa dar sentido ao que fazemos, compartilhar sentidos, impregnar de sentido as práticas da vida cotidiana e compreender o sem sentido de muitas outras práticas que aberta ou solapadamente tratam de impor-se e sobrepor-se a nossas vidas cotidianamente.

10. A ecopedagogia propõe uma nova forma de governabilidade diante da ingovernabilidade do gigantismo dos sistemas de ensino, propondo a descentralização e uma racionalidade baseadas na ação comunicativa, na gestão democrática, na autonomia, na participação, na ética e na diversidade cultural. Entendida dessa forma, a ecopedagogia se apresenta como uma nova pedagogia dos direitos que associa direitos humanos – econômicos, culturais, políticos e ambientais - e direitos planetários, impulsionando o resgate da cultura e da sabedoria popular. Ela desenvolve a capacidade de deslumbramento e de reverência diante da complexidade do mundo e a vinculação amorosa com a Terra.

 

 

 

 

Autora:

Prof. Edilene Soraia Da Silva

soraia323[arroba]yahoo.com.br

Orientador: Prof. Dr. Aristide Maria Escobar Argaña

ASUNCIÓN - PARAGUAY

2008

UNIVERSIDAD TECNOLÓGICA INTERCONTINENTAL

PROGRAMA DE DOCTORADO ÉN CIENCIAS DE LA EDUCACIÓN


[1] (disponível em http://209.85.165.104/search?q=cache:MExGP5lvSDAJ:portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/PCB0397.pdf+ORIGEM+DOS+PCN&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=1, Acessado em 29/01/2007)

Partes: 1, 2, 3, 4, 5


 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.