BEDA, F. F. Hipersensibilidade ao leite de vaca e possível terapia utilizando o leite de cabra. Monografia (Graduação em Medicina Veterinária) – Universidade Paulista, 2002
O objetivo do presente trabalho foi proporcionar aos leitores informações sobre a hipersensibilidade ao leite de vaca e a utilização do leite de cabra para crianças que possuem este tipo de alergia e citar outros benefícios do leite de cabra.
A prevalência da alergia ao leite de vaca é de 1 a 7%, e os sintomas são geralmente gastrointestinais e cutâneos. Outros sistemas também estão envolvidos neste tipo de alergia como a visão e o sistema respiratório.
Alergia às proteínas do leite de vaca é diferente de intolerância ao leite de vaca. A intolerância se expressa na incapacidade de digerir a lactose, que é um açúcar, enquanto que a alergia é relacionada às proteínas.
O leite de cabra geralmente é bem tolerado pelas crianças com este tipo de alergia e quando o problema não é resolvido totalmente, os sintomas se tornam mais sutis.
A alergia ao leite de vaca é a primeira causa das alergias digestivas entre as crianças de nosso país. Ela pode provocar diferentes manifestações clínicas respiratórias (asma-rinites) ou cutâneas (eczema-urticária).
A alergia alimentar verdadeira é uma resposta imune, geralmente de IgE; uma reação ocorre normalmente dentre de duas horas. A alergia alimentar resulta da hipersensibilidade a um antígeno de origem alimentar (geralmente proteína). As manifestações da alergia são causadas pela liberação de histamina e serotonina.
Doenças atópicas em crianças possuem a prevalência de 35% e estão entre os fatores de maior importância em morbidade nos países industrializados. Além do mais, sua incidência é crescente e nas décadas recentes, vem dobrando em países ocidentais. O Jornal Europeu de alergia (1999), enfatizou um aumento nestes casos através de dados epidemiológicos por toda a Europa. Testes de controle alimentar demonstram que alergias a alimentos em geral ocorrem em 5% a 10% na população infantil (Maria, 2001).
Em crianças que receberam o aleitamento materno, a incidência de ocorrerem alergias às proteínas do leite bovino são de 0.5% a 1.5%. Contudo, cerca de 20% de crianças com risco elevado de desenvolver alergias, irão desenvolver alergia às proteínas do leite de vaca durante o primeiro ano de sua vida se alimentarem-se com leite de vaca (Maria, 2001).
As alergias podem ser herdadas, mas não necessariamente a um antígeno específico. Qualquer pessoa que apresenta uma tendência ao aparecimento de alergia pode desenvolver sensibilidade a outros tipos de alimentos (Behrman et al.,1997).
A incidência varia dependendo da população estudada e o critério de diagnóstico. Em países desenvolvidos com diagnóstico preciso, a incidência varia de 2 a 7% (Host, 1994 e Jakobsson e Lindeberg, 1980). Barau e Dupont (1994), concordam que a freqüência da alergia às proteínas do leite de vaca em crianças pequenas está estimada, segundo as estatísticas, entre 2 e 7% da população.
O leite de cabra é considerado um dos alimentos mais próprios ao consumo humano, e vem se destacando como complemento alimentar de idosos, convalescentes e crianças alérgicas. Seu grande valor nutritivo é decorrente da riqueza em extratos secos (proteínas, gorduras, vitaminas e sais minerais) (Fisberg et al., 1999).
Apesar dos excelentes benefícios do leite de cabra, não se pode esquecer que casos de reações cruzadas entre proteínas homólogas ao leite de vaca podem ocorrer. Assim, a boa tolerância do uso do leite de cabra se traduz positivamente quando a alergia às proteínas do leite de vaca se manifesta em sintomas gastrointestinais e de vias aéreas superiores não tão intensos (Reinert e Fabre, 1996).
O leite é um liquido composto basicamente de proteínas, lipídios e glicídios, além de sais minerais dispersos em água. Executando dietas mal equilibradas que condicionam à superdosagem, hipodosagem, fórmulas inadequadas, etc., as reações adversas dependentes dos componentes do leite se reduzem a: indisposição (relacionado às gorduras do leite), intolerância (relacionado à lactose) e alergia (relacionado às proteínas), (Negreiros e Ungier, 1995).
1.1. Histórico
Acredita-se que Hipócrates tenha sido o primeiro a descrever a alergia alimentar ao leite de vaca, ao enfatizar que ele poderia causar reações alérgicas. Entretanto, foi em 1901 que Hamburger descreveu reações graves ao leite de vaca em crianças com ele alimentadas. Em 1905, Schlossmann descreveu os sintomas apresentados durante sensibilização ao leite de vaca e postulou a reação antígeno-anticorpo como por eles responsável (Brandão, 2000).
O leite de cabra foi introduzido na alimentação humana há séculos, quando os povos nômades da Ásia e do Oriente Médio domesticaram a cabra; isto data aproximadamente de 8000 a.C. É um alimento nutritivo e tanto ele como o leite de vaca têm sido largamente utilizados na alimentação infantil em vários países (Desjeux, 1993).
Na Grécia Antiga os médicos recomendavam o uso do leite de cabra para crianças enfermas, devido a sua fácil digestibilidade. Além disso, crianças alérgicas ao leite de vaca podem usualmente tolerá-lo (Campbel e Marchal, 1975).
O leite de cabra, hoje, possui um papel eminente na alimentação infantil de numerosos países anglo-saxãos, da Ásia, do Margeb, da África e do Terceiro Mundo. Ele foi vítima de um processo injusto no início da era industrial, porque pesquisadores, compararam dois grupos de crianças nutridas, de um lado com leite de cabra cru e de outro com leite de vaca esterilizado, alcançando resultados negativos para o leite de cabra. Foi assim que o leite de cabra foi desacreditado por muito tempo (Grzesiak, 1997).
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