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Hipersensibilidade ao leite de vaca e possível terapia utilizando o leite de cabra (página 3)

Fernanda de Figueiredo Beda
Partes: 1, 2, 3

Testes cutâneos diretos – é o método mais eficiente e prático de revelar anticorpo do tipo IgE cuti-sensibilizadores e utiliza uma solução aquosa muito diluída de vários alérgenos para o diagnóstico de alergia.

Teste de provocação cutânea. Consiste em colocar pequenas gotas de leite diluído em água no antebraço ou nas costas e fazer um pequeno arranhão com uma agulha (esterilizada) na pele através da gota, verificando a reação ocorrida. Este procedimento deve ser realizado por um médico especializado. A reação de inchaço e de brilho depois de 15 minutos indica que o paciente é alérgico ao leite. Este método tem sido usado para testar se alguns alimentos (leite de vaca, leite de cabra) e formulados (proteínas de soja, hidrolisado de proteínas, hidrolisado de caseina) apresentam reações alérgicas na pele.

Segundo Sabbah et.al. (1997), para a avaliação alergológica, existe a necessidade de uma avaliação sangüínea além dos testes cutâneos, e sobretudo uma prova de supressão depois da reintrodução do leite de vaca:

    • a avaliação sangüínea tem por objetivo dosar a taxa total de imunoglobulinas que permanece como um dos parâmetros fundamentais da atopia, sobretudo quando ela está alta e sobretudo, dosar a taxa de Imunoglobulinas Específicas ao leite de vaca e de seus principais alergênicos: a caseína, a alfa-lactalbumina e a beta-lactoglobulina.
    • a prova da supressão e de reintrodução é uma etapa indispensável. É ela somente que poderá confirmar ou invalidar a realidade de uma alergia ao leite de vaca. Este teste consiste de um regime estrito sem proteínas do leite de vaca durante 1 mês, depois há a reintrodução do alimento, avaliando objetivamente a evolução clinica durante o regime e depois da reintrodução.

2.9. Conduta a seguir quanto à alergia ao leite de vaca

Assim que a alergia ao leite de vaca é confirmada, a atitude terapêutica posterior é em função da gravidade da doença. Nas formas graves com manifestações anafiláticas, freqüentemente é aconselhado um regime prolongado com complementação de cálcio, o que é na verdade, um hábito no meio hospitalar. (Hassoun et al., 1999)

Segundo Sabbah et al. (1997), Sabbah e membros de sua equipe médica, do Laboratório de Imuno-Alergologia do C.H.U de Angers, há mais de 25 anos, propõe o leite de cabra em substituição ao leite de vaca com um resultado muito benéfico, tão bom do ponto de vista alergológico quanto do dietético.

3. LEITE DE CABRA

Desde a época dos gregos, a utilização do leite de cabra em lactantes tem sido associada a boa tolerância, bom crescimento ponderal e possível uso em comunidades com dificuldades de aceitação do leite de vaca. É claro que em países mediterrâneos, o grande rebanho caprino favorece o seu uso (Fisberg et al, 1999).

O valor nutritivo do leite de cabra foi longamente debatido nestes últimos anos. Existem pesquisas em curso para explorar e compreender as vantagens do leite de cabra. Um estudo clínico em Crétil (França), demonstrou a grande tolerância das crianças face a este leite. Com o desenvolvimento de novas tecnologias relativas à transformação e ao condicionamento, o leite de cabra pode ser considerado como um alimento adaptado à alimentação infantil (Fabre, 1997).

O leite de cabra possui valor nutritivo e é conhecido contendo os elementos necessários à nutrição humana, como açúcar (lactose), proteínas, gorduras, vitaminas, ferro, cálcio, fósforo e outros minerais. O produto tem reação alcalina e dificilmente azeda no estômago humano, tornando-se assim, um fator de alta eficiência no tratamento de cólicas em crianças. Sua digestibilidade é elevada e ocorre pelo tamanho reduzido e fácil dispersão dos seus glóbulos de gordura e pela sua proteína de coagulação que forma uma coalhada fina, macia e com perfeita digestão em um curto espaço de tempo (Costa, 2002).

O bom leite de cabra é de cor branca pura, apresentando sabor e odor próprios, porém agradáveis. É um alimento que se recomenda principalmente pelo alto valor nutritivo e por ser de fácil digestão; seu grande valor nutritivo resulta da riqueza em extrato seco, especialmente em gordura. Sua alta digestibilidade é conseqüência do reduzido tamanho e dispersão dos glóbulos graxos e dos caracteres próprios de sua caseína. Forma coágulos de granulação fina e macia, portanto de fácil digestão. É um leite naturalmente homogeinizado (Jardim, 1983).

O uso do leite de cabra na alimentação de bebês está tendo um crescimento popular e assim, requer maiores consideração do que no passado. O principal benefício reivindicado é que este leite é menos alergizante que o leite de vacas e é um substituto satisfatório para bebês que são alérgicos ao leite de vaca. Até recentemente, o leite de cabra só estava prontamente disponível em lojas de alimentos saudáveis. Porém, agora, o leite cru é vendido em muitas partes na Inglaterra e o leite em pó está sendo importado da Nova Zelândia (Taitz e Amitage, 1984).

O leite de cabra tem sido utilizado em casos de inapetência, repulsas, cólicas, vômitos, problemas do sono, e eczemas relacionados à, ou agravados pela ingestão do leite de vaca (Grzesiak, 1997). Pessoas idosas, convalescentes e crianças alérgicas às proteínas do leite de vaca, são recomendadas a ingerirem leite de cabra (Jardim, 1983). Crianças (com exceção de bebês debaixo de 6 meses) com autêntica ou suposta alergia à alimentos, são improváveis de sofrer grandes danos se o leite de cabra for acrescentado na dieta deles/delas (Taitz e Amitage 1984).

Segundo Grzesiak (1997), atualmente em numerosos países e notadamente nos países de Terceiro Mundo o leite de cabra presta imensos serviços:

"O leite de cabra tem uma utilidade particular no tratamento das alergias da infância". Esta frase resume diferentes opiniões expressadas na Inglaterra (Taitz e Armitage, 1984), na Austrália (Coveney e Darnton Hill, 1985), nos Estados Unidos (Luke e Keith, 1992), na Índia (Khanna, 1991).

Na Itália (Sandrucci et al., 1990), em Madagascar (Razafindrakoto et al., 1994) é dito que: "Os resultados demonstram que o leite de cabra tem as mesmas qualidades nutritivas que o leite de vaca e que ele pode ser utilizado no lugar do leite de vaca para a renutrição de crianças subnutridas".

Na Nova Zelândia (Birbeck, 1984) e nos locais afastados do hexágono Grzesiak (1989), Gauvin (1989) propõe "curar otites serosas reincidentes entre as crianças alérgicas às proteínas do leite de vaca".

Os inconvenientes clássicos do leite de cabra responsáveis em grande parte pelo decréscimo de sua utilização são, no entanto, fáceis de corrigir, tanto pelos procedimentos técnicos usuais no que concerne à transmissão da brucelose e outras doenças infecciosas (muito bem controladas pelos serviços veterinários), quanto por complementação vitamínica, no que concerne a carência em vitamina B12 e, sobretudo, em ácido fólico (Grzesiak, 1997)

Em 300 casos em que foram diagnosticadas alergia à lactoalbumina do leite de vaca como principal causa da asma, 270 tornaram-se livres dos sintomas em seis semanas após substituírem o leite de vaca pelo leite de cabra (Walker, 1991).

Entre 40 a 100% de pacientes alérgicos às proteínas do leite de vaca, toleram o leite de cabra. Embora algumas proteínas do leite de cabra possuam imunidade cruzada com proteínas do leite de vaca, crianças que sofrem de alergia com sintoma gastrointestinal e enteropatia crônica contra o leite de vaca, estavam sendo curadas através de terapia com leite de cabra (Park, 1994).

A grande quantidade de proteínas e fosfato no leite de cabra, dão maior capacidade de proteção quando comparada ao leite de vaca. Algumas propriedades físico-químicas fazem o leite de cabra possuir menores glóbulos de gordura, maior porcentagem de ácidos gordurosos de pequena e média cadeia, e formação de coalho mais macio. Suas proteínas possuem maior digestibilidade e metabolismo de lipídio quando comparadas ao leite de vaca mais saudável. O leite de cabra também tem uma maior biodisponibilidade de ferro que o leite de vaca. Estudos adicionais sobre a hipoalergenicidade e o significado terapêutico fazem do leite de cabra importante na alimentação humana (Park, 1994).

Vários leites e substitutos são comercializados para bebês alérgicos ao leite de vaca. Incluem o leite de cabra concentrado, uma preparação na qual o nitrogênio nutriente é suprido com uma mistura de aminoácidos (hidrolisado de caseína ou de soro) e alimentos não-lacteos nos quais a proteína é derivada de soja. Todos parecem ser nutricionalmente satisfatórios e tem lugar no tratamento de lactantes que não toleram o leite de vaca (Behrman et al., 1997).

Cerca de 7% das crianças são alérgicas ao leite de vaca. A alergia ao leite de cabra se aproxima do zero e ele cada vez mais vem sendo recomendado pelos profissionais da saúde e nutrição para auxiliar na solução desses problemas alérgicos (Fisberg et al. 1999).

O leite de cabra é um leite que muitas vezes resolve problemas de alergia em pessoas pouco predispostas à digestão do leite de vaca. Casos de alergia (até crônica) provocados pela insistência no consumo de leite de vaca, podem não ocorrer ou desaparecer substituindo o leite de vaca pelo leite de cabra. Assim, o leite de cabra é um leite cujo consumo precisa ser mais fomentado (Chandan, 1992).

Qualquer substituto deve ser melhor que o leite humano, mas o leite de cabra geralmente, é uma substituição muito satisfatória (Coveny e Hill, 1985).

Jenness (1980), cita um estudo no qual crianças entre 6-13 anos de idade tiveram a mesma dieta básica completada com 0. 946 litros de leite de cabra ou leite de vaca. Ambos os grupos tiveram crescimento excelente, mas as crianças alimentadas com leite de cabra, ultrapassaram o grupo alimentado com leite de vaca em mineralização de esqueleto, plasma sanguíneo, vitamina e cálcio, e tiveram uma ligeira maior concentração de hemoglobina.

Assim, tendo o leite de cabra se demonstrado mais digestivo e menos alergizante que o leite de vaca, pareceu lógico promovê-lo como um alimento lácteo dietético infantil ou ainda "alimento destinado aos infantes e crianças de pouca idade", aconselhado como primeira opção e não mais somente como um leite de substituição do leite de vaca (Grzesiak, 1997).

3.1. Propriedades Nutracêuticas do leite de cabra

O leite de cabra é reconhecido a séculos pelo seu valor nutricional, mas pesquisas em propriedades nutracêuticas estão provendo fortes evidências científicas para este benefício em humanos (Lowy, 2002).

O sucesso do leite de cabra, o qual é usado tanto no Ocidente quanto na medicina chinesa, foi baseado em grande parte em evidência anedótica. Houve poucas pesquisas realizadas especificamente para investigar a propriedade nutracêutica do leite de cabra. Segundo Lowry (2002), as pesquisas que vem desenvolvendo, confirmam a anedótica evidência que os produtos de leite de cabra são úteis para pessoas com certos tipos de função gastrointestinal prejudicada.

Segundo Lowry (2002), sabe-se agora, que o consumo do leite de cabra reduz significativamente os efeitos adversos dos antiinflamatórios não-esteroidais na inflamação do intestino delgado. Os resultados demonstram claramente os benefícios positivos em saúde intestinal e podem resultar em um maior consumo do leite de cabra.

3.2. Hipo-alergenicidade do leite de cabra

O uso do leite de cabra como um alimento hipoalergênico na alimentação infantil ou como substituto do leite de vaca em dietas humanas foi informado em muitas literaturas sobre pessoas que sofrem de eczema, asma, catarro crônico, enxaqueca, cólica, úlcera estomacal, disfunção epigástrica e dores abdominais devido a alergenicidade das proteínas do leite de vaca (Taitz e Amitage, 1984).

Crianças que eram reativas ao leite de vaca mas não para leite de cabra, também reagiram com a ingestão de queijo de leite bovino mas não para queijo de leite de cabra (Soohill et al., 1995).

A alergia gastrointestinal em crianças com eosinofilía também foi melhorada depois da administração do leite de cabra. Casos de enteropatia crônica em crianças devido a alergia alimentar ao de leite de vaca, foram curadas trocando para o leite de cabra (Kuzniarz e Hagen 1974).

O sucesso da administração do leite de cabra em crianças com alergia às proteínas do leite bovino também foi informada por Van der Horst (1976).

Há informações de que só uma em 100 crianças que eram alérgicas ao leite de vaca, não prosperou bem com a ingestão do leite de cabra. De 1682 pacientes com enxaqueca alérgica, 1460 possuíam esta enxaqueca devido à alimentação, 98 devido a inalantes, 98 devido a causas endógenas (bacterianas), e 25 devido a drogas (incluindo o tabaco) (Chandan, 1992).

Entre os 1460 pacientes com alergia à alimentos, 92% eram alérgicos devido à ingestão do leite de vaca ou produtos deste, 35% para trigo, 25% para peixe, 18% para ovo, 10% para tomate, e 9% para chocolate. Alguns pacientes eram alérgicos a mais de um alimento. Fórmulas de soja ou fórmulas do leite de vaca são, na maioria dos casos, os substitutos para crianças suspeitas de alergia ao leite de vaca, mas aproximadamente 20 a 50% destas crianças ainda terão sintomas de intolerância (Chandan, 1992).

O leite de cabra em pó foi recomendado para a alimentação infantil e crianças com sensibilidade à alfa s1-caseína presente no leite de vaca e que podem tolerar bem o leite de cabra (Chandan, 1992).

Durante centenas de anos, o leite de cabra foi considerado como leite cujas características mais se aproximavam do leite humano. Enquanto que no nível composicional bruto, as quantidades de gordura e proteína estão semelhante ao leite de vaca, há diferenças significantes no tipo de gordura, no tipo de proteína e na presença de componentes secundários (Grzesiak, 1997).

O mundo universitário acampava sobre a seguinte posição: o leite de cabra podia ser o motivo de uma alergia cruzada com o leite de vaca, não havendo razão para prescrever o leite de cabra. Portanto, um forte estudo científico hospitalar prometedor foi conduzido de 1988 à 1990 no Serviço de Pediatria do professor Reinert, a Creteil (Grzesiak, 1997).

3.3. Alergia ao leite de cabra

O leite de cabra é um substituto mais que interessante no quadro das alergias ao leite de vaca, contudo, alguns autores relacionaram a existência de reações cruzadas entre o leite de vaca e o leite de cabra (Gjesing e Osterbaele, 1986).

A reação cruzada se define pela possibilidade que um alergênico X ser reconhecido por uma IgE específica Y e desencadear manifestações alérgicas; isto é possível uma vez que os alergêncios X e Y tem em comum um ou mais epítopos (Bernard, 1992).

Segundo Sabbah et al. (1997), foram ralizados dois estudos sobre a realidade da alergia cruzada entre o leite de vaca e o leite de cabra e o efeito da substituição do leite de vaca pelo leite de cabra em pacientes incontestes ao leite de vaca. Para poder confirmar a existência de uma alergia cruzada entre dois alergênicos, foram realizadas mais técnicas de laboratório, das mais simples – dosagem de IgE específicos – às mais sofisticadas, Imunoblot e inibição do RAST.

Depois de trabalhos (Gjesing e Osterbaele, 1986; Bernard, 1992), a alergia cruzada entre o leite de vaca e o leite de cabra parece evidente. No entanto, num bom número de casos, esta reação cruzada não é senão biológica, sem expressão clínica. Trata-se unicamente de um problema de sensibilização.

3.4. Composição Média do Leite de Cabra

Composição comparativa dos leites segundo Grzesiak (1997):

VACA

HUMANO

CABRA

A.D.L

Calorias (Kcal/100ml)

70

69

73

67

Água (g/100ml)

88

88

86

Proteínas (g/100ml)

3.1

0.9

2.7

1.2 à 2.3

Caseínas

Alfa S1

1

Traços

0 à 0.7

Alfa S2

0.37

?

0.4

Beta

1

0.3

1

Kappa

0.35

0.1

0.6

Proteínas Solúveis

Alfa-lactoalbumina

0.12 à 0.17

0.6

0.12 à 0.2

Beta-lactoglobulina

0.3

Ausente

0.23

0.24

Serium Albumina

0.04

0.04

Lisozina

Traços

0.04

0.04

Lactoferrina

0.01

0.14

0.01

Imunoglobulinas

0.07

0.14

0.05

A.L.D Alimentos Lácteos Dietéticos (Grzesiak, 1997).

Obs.: A alfa-Lactoalbumina e Beta-Lactoglobulina caprina e bovina são próximas sem ser idênticas.

3.5. Composição Comparativa dos Leites (Cabra, Vaca e Humano)

Lipídios

A lipase do leite de cabra difere da do leite de vaca realizando uma lipólise mais precoce da matéria gorda; assim este tipo de triglicerídeo poderá ser absorvido mesmo em ausência de sais biliares e atravessar os enterócitos sem refazer triglicerídeos e assim, ganhar diretamente a veia porta. O interesse da digestibilidade das gorduras do leite de cabra foi estudado nas crianças apresentando má-nutrição de origem digestiva. A digestibilidade dos lipídios do leite de cabra é elevada, 90 a 95% mesmo nas crianças tendo uma disfunção pancreática (Grzesiak, 1997).

O leite de cabra é muito mais rico que o leite de vaca em ácidos gordos de cadeia curta e mais pobre em ácidos gordos de cadeia longa do que o leite de vaca, onde ocorre exatamente o contrário. Os ácidos de cadeia mais curta (pequena molécula), são mais facilmente atacáveis – e por isso digeríveis – do que os de cadeia longa (Sá, 1982).

As partículas de gorduras no leite de cabra, prevêem uma maior área de superfície para as enzimas atacarem as partículas, facilitando a digestão. Além disso, o leite de cabra não possui a substância aglutinina, presente no leite de vaca, que faz com que as partículas gordurosas do leite se juntem, formando um coalho de digestão mais difícil (Chandan, 1992).

O leite de cabra possui mais alto teor de ácido capróico (C6), caprílico (C8), cáprico (C10), totalizando 16% no leite de cabra (comparados com 7% no leite de vaca). Estes ácidos são usados no tratamento dos sintomas de mal absorção de alimentos, de distúrbios intestinais e na alimentação de bebês prematuros (Grzesiak, 1997).

Os ácidos capróico (C6), caprílico (C8), cáprico (C10) foram utilizados para o tratamento em uma variedade de pacientes que possuíam mal absorção e que sofriam de esteatose, hiperlipoproteinemia, e em casos de desconforto intestinal, alimentação de crianças prematuras, epilepsia na infância, fibrose cístico. Estes ácidos são metabolizados provendo energia nas crianças em crescimento e também atua em efeitos de hipocolesterolemia em inibição da deposição de colesterol e dissolução deste (Haelein, 1992).

Observa-se que o tamanho dos glóbulos de gordura do leite de cabra e de vaca são bem diferentes. Normalmente, o diâmetro destes glóbulos para ambos os tipos de leite é de 1 a 10 micros, porém 28% dos glóbulos de gordura do leite de cabra, contra apenas 10% dos de leite de vaca, apresentam diâmetro igual ou inferior a 1,5 microns. Esta variação é importante se considerarmos que poderia realmente estar na origem da grande digestibilidade atribuída ao leite de cabra, e que justificaria sua freqüente utilização na alimentação de pessoas idosas, com problemas gástricos ou mesmo de crianças com problemas de alegria ao leite de vaca. (Furtado, 1985).

O leite de cabra é, portanto, preferido em um número muito importante de casos onde é necessário seguir um regime por causa do estômago delicado ou de outras sensibilidades (alergia, por exemplo). O leite de cabra será digerido em 40 minutos no estômago humano enquanto que o leite de vaca levará duas horas e meia (Park, 1994).

Proteínas:

O teor de proteínas no leite de cabra, é superior ao máximo autorizado (3.5 g/100Kcal.) para os alimentos dietéticos e de regime para lactantes de menos de 3 meses e deve ser diminuído para evitar sobrecarga renal. Ela é correta a partir dos 4 meses (Grzesiak, 1997).

O leite de cabra tem melhor capacidade de proteção, sendo bom para o tratamento de úlceras. Proteínas, principalmente caseína e o sistemas de fosfato no leite, influenciam sua capacidade de proteção. Os títulos de proteção variam de espécies e dentro da mesma espécie (Park, 1994).

O leite de cabra forma coalhos menores e mais suaves, facilmente digeridos no estômago infantil que aliviam o processo digestivo. O leite de cabra, devido aos baixos níveis de caseína alfa-S1, produz coalhos que são mais fracos e menos compactos que os do leite de vaca (Grzesiak, 1997).

A composição protéica do leite de cabra e de vaca é similar, mas o teor reduzido de alfa-s1 caseína no leite de cabra, favorece a formação de coágulos finos e suaves, o que facilita o processo digestivo (Marre, 1985). Sendo menores e mais friáveis, os coalhos são atacados mais rapidamente através das proteases de estômago (Jenness, 1980). A proporção de micelas de caseína de pequeno tamanho, é muito maior no leite de cabra do que no leite de vaca, o que explica a boa digestibilidade do leite de cabra (Grzesiak, 1997).

O conteúdo de proteína no leite de cabra é mais alto que no leite humano em relação à calorias totais. A energia total do leite de cabra é derivada: 50% de gordura e 25% de lactose e 25% de proteína, considerando que as proporções para o leite humano são 55% de gordura, 38% de lactose, e só 7% de proteína. As proteínas também diferem em proporção e tipo, mas o perfil amino-ácido total é semelhante no leite de cabra e no leite humano (Jenness, 1980).

Segundo Mack (1953), o leite de cabra também possui uma maior biodisponibilidade de ferro do que o leite de vaca em estudos realizados com ratos anêmico. Ratos anêmicos alimentados com leite de cabra, cresceram significativamente melhores, tiveram maior peso vivo e maior eficiência de regeneração de hemoglobina comparado ao leite de vaca. Também observou que as crianças alimentadas com leite de cabra, ultrapassaram as crianças que se alimentavam com leite de vaca em relação à ganho de peso, estatura, mineralização do esqueleto, densidade óssea, plasma sangüíneo, vitaminas, cálcio, tiamina, riboflavina, niacina e concentração de hemoglobina.

Caseína

A caseína alfa-s1 presente em maior quantidade no leite de vaca, foi identificada como um dos principais agentes que causam a alergia. A caseína contida no leite de cabra tem uma estrutura diferente. O leite de cabra possui caseina-beta, caseína alfa-s2 e caseína alfa-s1. Os níveis de caseína alfa-s1 no leite de cabra variam geograficamente e parecem ser determinadas geneticamente. Isto pode explicar porque algumas pessoas sensíveis ao leite de vaca ficam bastante beneficiadas com o leite de cabra (Lowry, 2002).

A caseína presente no leite de cabra, durante a digestão forma coágulos menos resistentes e mais friáveis que no leite de vaca e que podem ser desintegrados mais rapidamente pelas enzimas proteolíticas. É um leite naturalmente homogeneizado (Jardim, 1983).

As proteínas do leite de cabra podem ser digeridas mais prontamente e os aminoácidos deste, são absorvidos mais eficazmente que no leite de vaca. É considerado que o leite de cabra forma um coalho mais macio e mais friável que pode ser relacionado aos baixos conteúdos de alfas1-caseina no leite de cabra (Chandan, 1992).

Proteínas Solúveis

Segundo Mendes (1989), a taxa de albumina sérica é três vezes menos elevada no leite de cabra do que no leite de vaca. A taxa de lactoalbumina é duas vezes mais elevada no leite de cabra.

A alfa-lactoalbumina de cadeia polipeptídica de 123 resíduos de aminoácidos difere em 12 pontos se sua homóloga bovina, elas reagem imunologicamente de maneira cruzada (Grzesiak, 1997).

3.6. Consumidores do leite de cabra

Segundo Chandan. (1992), pessoas de todas as idades podem ser beneficiadas com o consumo de leite de cabra. As inigualáveis qualidades do leite de cabra serão particularmente benéficas para as crianças e pessoas idosas. A digestão mais fácil é o principal benefício para estes dois grupos de pessoas. Mas o leite de cabra pode ajudar também no tratamento dos seguintes distúrbios divididos em três categorias distintas:

    • Gastrointestinais: vômitos, diarréia, desconforto abdominal, cólicas, constipação;
    • Respiratórios: asma, rinite, bronquite.
    • Dermatológicos: eczema, dermatites, erupções cutâneas.

Não há nenhuma dúvida do valor do leite de cabra para as crianças após o desmame, crianças maiores e como um suplemento dietético para a gestante e alimentação de mulheres. A composição exata é menos importante para estas categorias, e as proteínas, minerais e vitaminas do leite são, para eles, de grande valor nutricional, especialmente onde as dietas são deficientes nestes componentes (Gall, 1981).

Embora o leite de cabra para bebês é mais caro que as fórmulas tradicionais, isto é insignificante se comparado com o bem-estar do bebê (Gall, 1981).

Nas pessoas idosas, vale ressaltar mais uma vez os benefícios do leite de cabra. Nestas, os problemas digestivos e dermatológicos tornam-se freqüentemente mais acentuados. O consumo do leite de cabra pode amenizar significamente estes sintomas típicos da idade avançada (Razafindrakoto et al., 1994).

4. Casos

4.1 A substituição do leite de vaca pelo leite de cabra em 10 casos:

Foram coletados os prontuários de 32 pacientes alérgicos ao leite de vaca, 16 do sexo masculino, 16 do sexo feminino, com idades de 1 a 50 anos e com uma média de idade de 15 anos. As manifestações clínicas mais freqüentemente encontradas eram: a rinite em 53% dos casos, a asma em 46%, e o eczema atópico em 34%. A substituição do leite de vaca pelo leite de cabra foi eficaz em 10 casos, 7 responderam favoravelmente e 3 casos houve reincidência das manifestações alérgicas (Sabbah et al., 1997).

4.2 Utilização do leite de cabra em crianças com má tolerância ao leite de vaca

Segundo Fabre (1997), de 1988 a 1990 foi conduzido no serviço de pediatria do Professor Reinert em Crétil (França), um estudo piloto de apoio sobre as situações de má tolerância ao leite de origem bovina com prescrição de leite de cabra com objetivo terapêutico: 55 casos clínicos foram estudados:

Em estudo realizado, pode-se constatar que a maioria das crianças acometidas de intolerância às proteínas do leite de vaca se beneficiaram de uma alimentação com o leite de cabra, tanto em relação à aceitação, quanto ao da tolerância digestiva e, sobretudo, quanto aos parâmetros estatura-peso. Nenhum incidente grave de intolerância ao leite de cabra foi assinalado, e nenhuma modificação biológicas apareceu (Reinert e Fabre 1996).

4.3 Utilização do leite de cabra em pré-escolares

Estudo realizado por Fisberg et al.(1999) em crianças pré-escolares de São Paulo, verificando-se a aceitabilidade e tolerância do leite de cabra, comparado ao leite de vaca :

Foram analisadas 170 crianças, 95 (56%) menores de cinco anos e 75 (44%) maiores, em três creches municipais da cidade de São Paulo conveniadas com a Prefeitura Municipal, sob supervisão da Secretaria Municipal da Família e do Bem-Estar Social. Todas as crianças pertenciam a extratos sócio-econômicos baixos, sendo a renda familiar inferior a quatro salários mínimos mensais e foram avaliadas durante o período de agosto a novembro de 1998.

    • Resultados:

O grupo com leite de cabra em pó, enriquecido com ácido fólico e lecitina, apresentou adequação de 95% para energia e proteína, em ambos os momentos do estudo. O grupo que recebeu leite de cabra UHT, o percentual de adequação energética do oferecido em relação ao ingerido foi ao redor de 96%, sem variação ao longo do estudo. O grupo que recebeu leite de vaca integral apresentou ingestão energética de 83%, do ingerido em relação ao oferecido, passando a 90% no final do estudo.

Neste estudo realizado, houve uma maior aceitação do leite de cabra em relação ao da vaca. Verificou-se que as crianças que receberam leite de cabra tomaram duas vezes mais que as que estavam recebendo leite de vaca. O grupo que ingeriu leite de cabra em pó teve aceitação superior a 100% do volume oferecido, em todas as faixas etárias, ligeiramente superior ao volume ingerido de leite de cabra UHT, sob a forma liquida, enriquecida com ferro e vitaminas, que mesmo assim manteve o dobro de aceitação em relação ao leite de vaca.

Os resultados da dosagem de hemoglobina, verificou-se que o grupo que recebeu leite de cabra integral em pó enriquecido com ácido fólico apresentou um aumento significativo, de quase 1g de hemoglobina, em quatro meses de intervenção associado à uma maior oferta de leguminosas e carnes.

Em relação ao registro no que se refere à tolerância, não houve registro de caos de rejeição ao leite de cabra. Não foram registrados casos de abandono no tratamento por intolerância ao leite de cabra. Os únicos abandonos se deveram a mudança das crianças da creche, determinado o final do estudo para estes casos.

O leite de cabra foi melhor tolerado que o leite de vaca em todas as faixas etárias, não havendo registros de vômitos, diarréia ou dificuldade de sabor.

Segundo Fisberg et al. (1999), concluiu-se que o leite de cabra é uma excelente opção para substituição do leite de vaca, após o primeiro ano de vida, permitindo crescimento e desenvolvimento adequados. Quando utilizado o leite de cabra em pó, enriquecido com ácido fólico, parece haver um favorecimento da absorção do ferro na dieta. Quando utilizado leite UHT enriquecido com ferro e vitaminas, existe um claro beneficio na quantidade de ferro biodisponível.

4.4 - 60 casos de utilização do leite de cabra na pediatria urbana de 1985 a 1996 segundo Grzesiak (1997):

Sucesso em 45 casos, 5 casos de situação intermediária, 9 casos de fracasso.

As idades dos pacientes estudados desde as introduções bem-sucedidas do leite de cabra eram de 1 mês à 16 meses.

Exemplos dos sucessos obtidos:

    • N. JC. IPLV (intolerância às proteínas do leite de vaca) digestiva, tratamento Nutramigen depois Pregestemil. Visto ao 2º mês de vida por causa de cólicas, fezes verdes e liquidas. Sucesso integral do leite de cabra.
    • V. Floriane. IPLV digestiva com retrorragias, tratamento com Pepti-Junior, por causa de questões de preço os pais optaram pelo leite de cabra no sexto mês. Sucesso.
    • L. Mathilde. IPLV com refluxo gastro-esofágico ao trânsito GastroDuodenal. colocada no Nutramigen. Vista no 5º mês por má tolerância do Nutramigen. Efeito espetacular do leite de cabra, desaparecimento dos vômitos.
    • P. Arélien. Cólicas rebeldes, operado de uma estenose de piloro, eczema. Colocado no leite de cabra do 2º ao 6º mês, desaparecimento do eczema e dos problemas digestivos.
    • MO. Emmanuelle. Cólicas e eczema, IPLV familiar. Colocada no leite de cabra de 5 a 12 meses, reintrodução do leite de vaca a 1 ano e aparecimento de eczema. Retomada do leite de cabra até o 18º mês.
    • P. Amandine. Gêmea de um irmão pequeno, mãe enfermeira. Aos e meses atacada de choros incessantes, ausência de sono e acesso de sufocamento, pós-prandial, chamada em urgência, aconselhado leite de cabra. Recuperação imediata. No 9º mês tudo vai bem com o leite de cabra.
    • B. Baptiste. No 2º mês diarréia. Choros incessantes por vezes durante 2 horas, recusa mamadeira, no terceiro mês cólicas e gás, resmungão. Tentativa de leite de cabra. Segundo a mãe: "É revolucionário, ele não chora mais, é alegre e suas fezes verdes tornaram-se amarelas". Aos 4º. meses tudo vai bem.
    • L. Paul. No seio até os 3 meses, digere mal o leite de vaca e apresenta um eczema, colocado no leite de soja. Aos 9 meses intolerância à soja: diarréia. Colocado no leite de cabra, melhora do eczema, aos 14 meses ainda no leite de cabra.

Não há duvida que a informação do público, dos médicos, de todos os atores da 1ª idade e do ramo agro-alimentar desbloqueará a situação e permitirá este produto marcante sair da confiabilidade e conhecer o sucesso que, de qualquer forma, lhe é prometido (Grzesiak, 1997).

Os hidrolisados de proteínas do soro do leite ou da caseína, da soja e do colágeno do porco (Nutamigen, Alfare, Galliagene, Pepti-Junior, Pregestemil, Pregomine) permitem efetivamente controlar a grande maioria das intolerâncias às proteínas do leite de vaca. Mas, num contexto aparentemente banal, as cólicas da crianças, o preço desses leites, seu gosto particular, sua digestibilidade por vezes medíocre, podem colocar problemas (Grzesiak, 1997).

4.5 Leite de cabra como substituto em crianças desnutridas: uma tentativa clínica duplo-cega randomizada

Este trabalho comparou os efeitos do leite de cabra e de vaca: ganho de peso e absorção de gordura em crianças com mal nutrição evidente, em 30 crianças malnutridas hospitalizadas com idade entre 1 e 5 anos foram incluídas num teste duplo-cego randomizado.Foram oferecidas às crianças 100 kcal/kg no primeiro dia, com aumento diário regular de energia, alcançando 200 kcal/kg no décimo dia.

Os resultados sugerem que o leite de cabra tem um valor nutricional semelhante ao leite de vaca e que pode ser usado como uma alternativa ao leite de vaca para reabilitar as crianças desnutridas (Razafindrakoto et al., 1994).

5. Outros benefícios do Leite de Cabra

5.1. Combate à Osteoporose

Considerar o leite importante apenas para a alimentação de bebê, crianças e adolescentes, é um erro que pode trazer conseqüências graves à saúde. Ao cortar esse produto e seus derivados das refeições, o adulto, principalmente as mulheres, terão chances de desenvolver osteoporose no futuro (Elias e Cury, 2002).

Cálcio e fósforo encontrados no leite, são importantes para formar e manter forte ossos e dentes. O leite fornece quase todos os nutrientes como proteína, ferro e vitaminas A, B1, B2 e C, em quantidade necessária para o corpo funcionar bem. O leite possui proteína completa, oferecendo todos os aminoácidos essenciais não produzidos pelo organismo. O cálcio deste produto é mais bem absorvido do que o que existe em pequenas quantidades de frutas e verduras verdes escuras (Elias e Cury, 2002).

6. CONCLUSÃO

O leite de cabra é um produto nutritivo e importante no tratamento e prevenção de patologias, em especial a alergia às proteína do lei de vaca. Quanto não pode curar uma criança desse tipo de alergia, ele ajuda a diminuir em grande proporção os sintomas relacionados à ela.

Existem estudos que comprovam os benefícios do leite de cabra, mas ainha há uma grande descrença em seu real valor. Sendo assim, cabe a nós profissionais da saúde e Médicos Veterinários, tornar o leite de cabra mais popular para a sociedade, através de nosso estudo, divulgação e comprometimento com este setor da agropecuária, independente da especialidade.

Certamente, a popularização dos benefícios oferecidos com a alimentação com leite de cabra, apresentará grandes vantagens para a classe Médica Veterinária através do reconhecimento da importância de nossa profissão junto a qualidade da saúde humana.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Agradeço à Deus pela minha vida e por ter me proporcionado a benção de ser Médica Veterinária

Agradeço aos meus pais por me proporcionarem condições de concluir esse curso

À Profa. Carla, pela amizade e orientação, que foram fundamentais para a conclusão deste trabalho.

 

Autor:

Fernanda de Figueiredo Beda

ferfig_vet[arroba]yahoo.com.br

Monografia apresentada para a conclusão do curso de Graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Paulista

Área de concentração: Criação Animal

Orientadora: Profa. Carla Balzano de Mattos

SÃO PAULO

2002

UNIVERSIDADE PAULISTA

AUTORIZO A DIVULGAÇÃO TOTAL OU

PARCIAL DESTE TRABALHO PARA FINS DE PESQUISA E ESTUDO DESDE QUE CITADA A FONTE.

Partes: 1, 2, 3


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