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A contribuição da escola de circo no processo educativo do adolescente, na região leste de Goiânia – 2007 (página 3)


O acompanhamento das atividades desenvolvidas, por meio de metodologias específicas de avaliação, é outro fator de destaque, que ainda não está colocado de forma objetiva, segundo Gohn (Ibidem). Este aspecto é de fundamental importância, pois possibilita observar o que foi proposto e qual é a realidade social dos educandos. Para esta modalidade de educação este fator deve ser considerado, pois se desenvolve sistematicamente no âmbito das demandas que surgem da própria população usuária.

Gohn (2005, p. 31) sintetiza que é necessário o desenvolvimento de metodologias para acompanhar os egressos que participaram da educação não-formal. Assim é possível observar se a finalidade realmente está sendo alcançada. O desenvolvimento desta prática educativa não se encerra em si, por isso é necessário observar se está proporcionando algum beneficio para a população que dela se utiliza.

Estas questões levantadas por Gohn (Ibidem) têm como princípio proporcionar uma definição mais clara da educação não-formal e de seus objetivos. Com essa avaliação é possível traçar estratégias para que essa modalidade de educação não seja mais uma, mas que tenha fundamentação para tornar viável sua existência. A metodologia para seu desenvolvimento deve partir, segundo a autora, das próprias demandas dos grupos e usuários destes serviços, levando-se em conta a cultura da população.

Os objetivos da educação não-formal se distanciam da educação formal apenas na estruturação, pois a educação formal tem como objetivo que os indivíduos aprendam um conteúdo que foi pré-definido, sobre o qual é mais fácil realizar uma avaliação. Os objetivos da educação não-formal se estruturam em: "educação para cidadania; para justiça social; direitos humanos, sociais, políticos, culturais; para liberdade; igualdade; democracia; contra discriminação; pelo exercício da cultura, e para a manifestação das diferenças culturais" (GOHN, 2006, p. 32-3), os quais estão também contidos na educação formal. No espaço da educação não-formal estes objetivos devem ser alcançados com dimensões coletivas, onde não há um conteúdo pré-estabelecido para se chegar a este fim, mas um conhecimento que é construído coletivamente.

Para tanto, a educação não-formal situa-se em um campo muito complexo. O fato de não estar ligada a uma instituição de ensino, normatizada pela legislação não significa que não existam regras, normas e um plano político pedagógico. Tal modalidade se diferencia da educação formal, como bem lembra Gadotti (2005) por ser um processo livre, menos burocrático e hierárquico.

2.3 – O Circo Social como educação não-formal

Nessa perspectiva de educação não-formal, dentre outras instituições, encontra-se o Circo Social. Com este direcionamento, da arte circense como ferramenta pedagógica, serão abordados questões referentes à história do circo, bem como questões referentes ao circo social como dimensão da prática educativa não-formal.

A cultura circense não é tão recente como se pensa. Na China, foram descobertos pinturas de quase 5.500 anos que apresentam habilidades de acrobatas, contorcionistas e equilibristas. As apresentações iniciaram-se após exibições desses artistas em festas locais, passando a incorporar as tradições locais, que davam boas vindas aos estrangeiros, por volta de 108 a.C. Em Roma há traço de atividades relacionado à arte circense, por volta de 40 a.C., no mesmo espaço que foi construído o Coliseu. No século XVIII, vários grupos de saltimbancos percorriam a Europa, especialmente a Inglaterra, a França e a Espanha, eram freqüentes as exibições de destreza a cavalo, combates simulados e provas de equitação (FIGUEIREDO, 2007).

O primeiro circo europeu moderno, o Astley's Amphitheatre, foi inaugurado em Londres por volta de 1770 por Philip Astley, um oficial inglês da Cavalaria Britânica. Segundo Cassoli (2006, p. 15) estas exibições eram realizadas ao ar livre, na Inglaterra desde 1758, tinham por objetivo em mostrar o poder dos cavaleiros do exercito inglês. "A grande proeza de Astley foi apropriar-se dessa exibição e inseri-la em uma arena de 13 metros de circunferência, em recinto fechado" (BOLOGNESI, apud CASSOLI, p. 16). Os métodos adotados por Astley ficaram conhecidos como "circo moderno" ou "circo de cavalinho", por tem em sua origem o uso do cavalo, pois Astley era militar, e realizava, junto com outros cavaleiros, números exibicionismo nas ruas.

Com essa mudança de ambiente, o circo perde o caráter popular e passa a destinar as apresentações para a alta burguesia. Apresentações estas que expressavam a força dos cavaleiros do exército inglês, por suas habilidades, domínio do corpo, pois "esta exibições simbolizava a força no regime das monarquias decadentes" (CASSOLI, 2006, p. 16). Nota-se que o circo moderno esteve atrelado à alta burguesia, que expressava seus valores, seu domínio. Com o nascimento desta arte os artistas de rua foram aderindo ao circo, como um novo espaço para trabalhar, fazendo surgir o circo moderno, por incorporar outras modalidades de arte.

Segundo Cassoli (2006, p. 16) o circo que ocorria nas ruas, quando desloca-se para recintos fechados, "passa a ser utilizado pela burguesia como forma de expressão de si mesma, para exibir seus troféus, riquezas e conquistas, tal qual acontecia na antiguidade com a chegada dos exércitos romanos em Roma". Ou seja, a arte circense nasce nas ruas, mas encontra-se presente na alta burguesia, de forma a demonstrar, por meio do exibicionismo seu poder e suas conquistas.

Segundo Henriques (2007, p. 1) "Astley foi inovador quando começou a incorporar os saltimbancos, acrobatas, cavaleiros e palhaços em uma só apresentação tornando-se esta a base do circo moderno". Esse novo formato fez com que o circo moderno se atrelasse ao modelo econômico capitalista, passando a incorporar a bilheteria.

A cultura circense tem em suas raízes, às apresentações ao público com a utilização de animais, tais como ursos, leões e serpentes. As apresentações com animais encantavam pelo fato do público nunca ter visto de perto animais tão ferozes. Outras artes foram incorporadas ao mundo do circo, dentre elas, "o andar com as mãos, lançar-se no espaço, produzir sons com o corpo, cuspir fogo" (Ibidem, p. 2).

Nessa nova modalidade de circo são incorporadas novas atividades, de forma a expandir os espetáculos, com "uma mistura de números oriundos de práticas militares; acrobacias, os trapezistas; números que desafiam os limites do corpo, bem como as esquetes de palhaços e peças teatrais, oriundas da tradição artísticas de rua" (CASSOLI, op. cit. 17). É a partir desta nova organização do circo que os artistas circenses passam a desenvolver estas atividades em diversas cidades da Inglaterra e outros países europeus.

Os artistas circenses foram muito discriminados na época, por sua condição de viajante. Os [...] "personagens que marcaram a história do circo são conhecidos como nômades viajantes como os ciganos e os saltimbancos, artistas que divertiam o público em feiras e praças públicas durante a Idade Média em apresentações realizadas de cidade em cidade (HENRIQUES, 2007, p. 1)". Por onde passavam deixavam um rastro de "destruição", de abandono, com isto eram taxados de "desocupados", "vagabundos", o que, por certas vezes, permeia a opinião das pessoas até os dias atuais.

O palhaço, considerado símbolo do circo, tem sua origem na Itália, no século XIX. Estes artistas "vertiam-se de roupa de espantalhos, utilizando palha dentro da roupa para amortecer as quedas, daí a designação dada a esse artista" (Ibidem). O circo vem se mordenizando ao longo dos tempos, mas o palhaço permanece por ser um símbolo vivo da alegria, que é expresso até mesmo nas cores das lonas.

No Brasil, mesmo antes do circo de Astley, já havia os ciganos, saltimbanco que vieram da Europa, onde eram perseguidos, pois sempre houve ligação dos ciganos com o circo. Segundo Cassoli (op. cit. 24) "há registro de que desde o século XVIII artistas ambulantes percorriam as cidades brasileiras, e que, dentre outras habilidades, executavam números próprios do espetáculo circense". Entre suas especialidades incluíam-se a doma de ursos, o ilusionismo e as exibições com cavalos. Há relatos de que eles usavam tendas e nas festas sacras, havia bagunça, bebedeira, e exibições artísticas, incluindo teatro de bonecos. Eles viajavam de cidade em cidade, e adaptavam seus espetáculos ao gosto da população local. Números que não faziam sucesso na cidade eram tirados do programa.

Segundo Figueiredo (2007, p. 24) "o primeiro circo de que se tem notícia no Brasil é o Circo Bragassi, em 1830. Antes havia pequenos circos improvisados, mas a partir dessa visita, o surgimento de companhias circenses nasceu". Os circenses visitantes no Brasil ficaram encantados pela riqueza que existia no país, devido ao circulo do café, isto fez com que novos circos visitassem ao país.

A partir de 1910 foi incorporado o teatro ao circo. Não tinham a organização de um texto escrito, "seguia regras, que era feita por meio da transmissão oral [...]. O teatro significou um aperfeiçoamento da linguagem escrita e falada, bem como reforçou a idéia de que a aprendizagem, qualquer que fosse, era incorporada para reproduzir o circo-família" (HENRIQUES, op. cit.). O espetáculo, pelo fato do circo ser viajante, adaptava-se de acordo com a cultura de cada cidade que estava instalado.

O circo encontra-se em três dimensões históricas: circo de rua; circo moderno e escola de circo, que faz emergir o circo social. Em primeiro as apresentações eram realizadas nas ruas por cavaleiros e artistas saltimbancos. A segunda categoria de circo é vinculada aos parâmetros do circo em um ambiente fechado, bem como a incorporação de outras modalidades de arte ao mundo do circo, como bem lembra Figueiredo (2007, p. 16) "o circo moderno passou a ter também contorcionistas, malabaristas acrobatas, palhaços". Esta mesma categoria de circo ficou conhecida no Brasil como circo tradicional ou circo familiar. Pois as habilidades de todo o processo de construção dos espetáculos, desde o armar a lona até as apresentações no picadeiro concentravam-se no grupo família, ou seja, todas as pessoas participavam do processo, incluindo as crianças, que segundo Cassoli (2006, p. 25) participavam de todas as atividades, incluindo "negociar com representantes das cidades por onde passavam, armar a lona, montar os instrumentos, construí-los, vistos que poucas coisas eram compradas, quase tudo era construídos por eles mesmos".

As escolas de circo surgem no Brasil a partir da década de 1980. O surgimento destas escolas tinha um "papel relevante na formação de novos artistas para o mercado de trabalho e estão empenhadas especialmente no aprimoramento e na renovação do espetáculo circense" (CASSOLI, 2006, p. 26). As famílias circenses tinham por objetivo encaminhar seus filhos para viverem no mundo externo ao circo, cuja única forma de sobrevivência que encontraram foi desenvolver atividades voltadas para a arte circense por meio das escolas de circo (HENRIQUES, 2007). Esta expansão pode ser identificada, como no caso do Brasil, por meio da Associação Brasileira de Circo – ABRACIRCO:

a mais antiga escola de circo do Brasil é a Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro (RJ), com 23 anos de existência. Ela é a única no país a ser mantida pelo Governo Federal. Seguida da Circo Escola Picadeiros na cidade de São Paulo, com 21 anos de atividades. Outras mais recentes foram fundadas, como o CEFAC – Centro de Formação Profissional em Artes Circenses e a Academia Brasileira de Circo. Salvador (BA) conta com a Escola Picolino de Circo, com 19 anos de trabalho na formação de jovens artistas. Estas últimas são escolas particulares e mantém programas de bolsas de estudos (CARTILHA ABRACIRCO, apud Cassoli, op. cit. p. 26).

Além das modalidades mais formais de circo – circo de rua, circo moderno e escola de circo – existe o Circo Social, que no Brasil nasceu por meio de organizações não governamentais e posteriormente com o apoio do Cirque du Soleil. Com a implantação da "Rede Circo Mundo Brasil, que ocorreu através da parceria de organizações não governamentais nacionais, internacionais e, na maioria das vezes, com o apoio do próprio Cirque du Soleil" (CASSOLI, 2006, 26-7). Este processo de criação desta rede no Brasil tem início na década de 1990, período em que, segundo Gohn (2005), a educação não-formal começa a ser desenvolvido nos países vinculados a Organização das Nações Unidas – ONU.

Segundo Figueiredo (2007) o Circo Social surgiu no Brasil com um programa social desenvolvido pelo Cirque du Soleil. "Ele é um programa de ação social, que utiliza-se das artes do circo como pedagogia alternativa junto a jovens em dificuldades no mundo" (FIGUEIREDO, op. cit. 49). Estes projetos têm como perspectiva trabalhar com a população em situação de risco social, especialmente as crianças e adolescentes que sobrevivem nas ruas das grandes cidades, isto estando presente no Brasil e em diversos outros países. Com a implantação da Rede os projetos de Circo Social têm como fundamento um trabalho em conjunto, no sentido da troca de experiências.

A Rede está presente em diversos estados brasileiros. É "formada por 22 projetos de circo social em nove estados do Brasil, além do Distrito Federal, tendo experiências em 19 cidades e atendendo diretamente 10.000 crianças e jovens em situação de risco social, além de gerar cerca de 900 empregos diretos nas localidades onde se desenvolvem os projetos" (FIGUEIREDO, Ibidem, 49-50). Tais projetos vêm crescendo em todo o país, o mais conhecido deles, segundo esta autora é Se Essa Rua Fosse Minha, que surgiu na década de 1990, com perspectiva de trabalhar com meninos e meninas de rua.

Segundo Lobo e Cassoli (2007, p. 64) "as práticas de circo social não objetivam o espetáculo como acontece no circo, mas combinam finalidades de educação e de assistência social com saberes populares". É um tipo de arte que se expressa, particularmente, nas periferias das grandes cidades de forma a proporcionar um ambiente diferente das vividas nas ruas. São atividades que não objetivam capacitar artistas circenses, tampouco acabar com a pobreza. Tais atividades têm sua emergência na filantropia, com o uso desta arte para desenvolver atividades para a população que não dispõe do acesso a atividades recreativas.

Com esta nova categoria de circo ocorre uma transformação histórica na tradição circense. Seja por meio das Escolas de Circo, que objetivavam sair do círculo familiar, do circo tradicional, passando a incorporar novas atividades, como teatro – um exemplo é o Cirque du Soleil – e mesmo com o circo social, que tem como princípio a filantropia.

Segundo a Rede Circo no Mundo Brasil esta categoria de circo tem por objetivo contribuir com o desenvolvimento de crianças e adolescentes, o que ocorre por meio da arte-educação, que objetiva a utilização das ferramentas do circo de forma a fortalecer e promover o desenvolvimento de habilidades dos participantes destes projetos. A participação do Cirque du Solei na cooperação

à Rede Mundial de Circo Brasil envolve o apoio para a realização de encontros e atividades voltadas para a formação de educadores de "circo social", conceito que as 22 organizações e projetos que integram a Rede vem consolidando no Brasil que, em síntese, busca fortalecer o potencial das artes circenses para interferir em processos de desenvolvimento humano, tendo como foco principal a elevação de autonomia e auto-estima dos jovens, fortalecendo-os como sujeitos de direitos e como atores e protagonistas de transformação social (Rede Circo no Mundo Brasil, apud Cassoli, op. cit. p. 27).

A prática do Circo Social implica o desenvolvimento de habilidades, de segurança de si mesmo, de domínio, controle das emoções e sentimentos, respeito mutuo, dentre outros aspectos. A perspectiva deste tipo de atividade é contribuir com a "disciplina, que molda ao mesmo tempo a percepção de si mesmo e a atenção em relação ao mundo exterior" (Rede Mundial de Circo apud CASSOLI, op. cit. p. 28). Essa nova perspectiva de circo não visa somente o lucro por meio dos espetáculos, mas o encantar ao público ao verem que crianças e adolescentes que estavam em situação de risco social estão desenvolvendo atividades tão desafiadoras.

Uma das atividades desenvolvido no âmbito do Circo Social é a Roda de conversa. A Roda é o momento destinado à reflexão, momento destinado a construir a segurança de si, em relação aos usuários, como bem menciona Figueiredo:

as Rodas acontecem antes e depois de todas as aulas, ou pelo menos em um desses momentos. No momento anterior à aula, é caracterizado pela comunicação do que será realizado naquele dia, quais os objetivos e resultados são esperados, além de representar o momento para acolher, receber e explicar o projeto de circo social, para educandos e para educadores novos e também para visitantes. Já a Roda, após as atividades, é caracterizada pela avaliação do dia, além de debates, discussões, tomada de decisões, entre outras tarefas (op. cit. 42).

Segundo a autora esta atividade é muito importante, pois expressa o envolvimento dos usuários considerando-os como co-autores do processo de aprendizagem, pois têm voz e voto. A perspectiva das Rodas é desenvolver a capacidade criativa de cada indivíduo.

A prática do Circo Social se dá pelo desenvolvimento de "técnicas circenses como ferramenta para o trabalho educativo numa perspectiva de promoção de cidadania e transformação social" (CASSOLI, 2006, p. 70). Tal perspectiva encanta por ser uma arte, que comumente é desenvolvida nas periferias, mas faz emergir uma categoria de circo que atende também aos desejos da burguesia, como no caso do Cirque du Solei. Como foi constatada no decorrer deste item, esta arte nasce nas ruas, mas se constitui no picadeiro. É uma ferramenta pedagógica alternativa utilizada por instituições, especificamente filantrópicas, no trabalho com populações de baixa renda.

O Circo Social na perspectiva da educação não-formal proporciona o desenvolvimento de habilidade, auto controle, desenvolve a capacidade de concentração, dentre outras, de quem dele participa. Essa modalidade de circo tem como fundamento promover o envolvimento das crianças e dos adolescentes no processo de aprendizagem. "O direito de expor suas opiniões, de poder se transformar, criar e recriar atitudes e a si mesmo, tem como resultado um educando mais autônomo, possuidor de livre pensar e com responsabilidade de saber que sua autonomia15 depende de suas reflexões e conclusões" (FIGUEIREDO, 2007, p. 45).

Em todo seu período de existência o circo vem se renovando. Nasce de práticas militares nas ruas, passando para o espaço fechado, recebendo o nome de circo, incorporando outros tipos de artes ao mundo circense. No Brasil, com a criação da Associação Brasileira de Circo – ABRACIRCO esta arte, que em sua maioria concentrava-se no âmbito da família, passa a romper com essa barreira, criando uma nova modalidade, as escolas de circo. Segundo Cassoli (op. cit.), é a partir da criação destas escolas que diversos artistas brasileiros vão trabalhar nos circos europeus. Para tanto a prática do circo social é uma modalidade de circo que vem se firmando no Brasil e no mundo enquanto ferramenta pedagógica no trabalho com população em situação de risco social.

Capítulo III

A PERSPECTIVA EDUCATIVA DA ESCOLA DE CIRCO

Este capítulo tem como objetivo apresentar a contribuição da Escola de Circo no processo educativo dos adolescentes e tem como fundamento o resultado da pesquisa realizada em 2007/2. Utilizou-se como critério para realização desta investigação a pesquisa qualitativa16, tendo como fonte de pesquisa os alunos que desistiram no ano de 2007 e os alunos que estão freqüentando no ano em curso.

O resultado desta pesquisa será apresentado em dois subitens. O primeiro será destinado apresentar a proposta educativa da Escola de Circo, tendo como fundamento o contexto histórico da instituição, bem como em relação a sua estrutura organizacional. O segundo momento será destinado à análise das entrevistas.

3.1 – "O Educativo" da Educação não-formal: a proposta pedagógica da Escola de Circo

Este item tem por objetivo apresentar a estrutura da Escola de Circo, bem como, especificamente, os fundamentos metodológicos de sua prática educativa.

A Escola de Circo está inserida no Instituto Dom Fernando – IDF, por meio da extensão, da Universidade Católica de Goiás – UCG. A UCG nasce em Goiânia aos 17 de outubro de 1959. Instituição de ensino superior, de natureza católica, mantida pela Sociedade Goiana de Cultura – SGC, sem fins "lucrativos, a UCG é caracterizada como associação civil de direito privado, Comunitária, Filantrópica e de Assistência Social, pertencente à Arquidiocese de Goiânia (IDF, 2006b).

A Escola de Circo está inserida no Instituto Dom Fernando – IDF. O IDF foi criado em março de 1995, mantido pela Sociedade Goiana de Cultura – SGC até 2004, órgão da Arquidiocese de Goiânia, com as seguintes áreas de atuação: Educação Ambiental e Saúde, Cultura e Cidadania. Neste período se subdividia: Núcleo de Educação Ambiental e Saúde – NEAS; Centro de Educação Profissional Dom Fernando – CEPDF; Núcleo de Reciclagem Industrial – NIR; Centro de Arte, Educação e Cultura "Escola de Circo – CAEC (IDF, 2003).

No ano de 2003 iniciou-se o processo de transição do IDF que viria tornar-se um programa de Extensão da UCG. No final de 2004 o IDF passou a Instituto Dom Fernando especializado nas temáticas da Infância, Adolescência, Juventude e Família. Neste mesmo período passa a incorpora à Pró-Reitoria de Extensão e Apoio Estudantil – PROEX, da Universidade Católica de Goiás – UCG.

Com este novo direcionamento teórico-metodológico e com novas áreas de atuação o IDF passa a incorporar ao seu conjunto os programas de extensão da UCG: Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão Aldeia Juvenil – CEPAJ; Programa Aprender a Pensar – PAP; e os que antes faziam parte continuaram: Escola de Formação da Juventude17 e Escola de Circo. Os outros programas, especialmente do Núcleo de Educação Ambiental e Saúde – NEAS, que não estavam na temática do IDF foram migrados para a Coordenação de Estágio – ETG da PROEX (IDF, 2004).

A Escola de Circo está instalada na região leste de Goiânia, no bairro Jardim Dom Fernando I, no terreno que pertencia à Igreja Católica até meados da década de 1980. "A arquidiocese possuía uma grande área fundiária na região leste, onde se localiza o Centro de Pastoral Diocesano. Parte desta área foi ocupada pelos movimentos populares de luta pela moradia (...) surgindo então os bairros Dom Fernando I e II" (IDF, 2003, p. 18), posteriormente outros bairros foram surgindo na região. Com o processo de luta pela terra naquela década, especialmente pela moradia nas zonas urbanas, a população buscou o direito Constitucional referente à moradia. Após a área ser destinada à construção das casas, a Igreja Católica passa a desenvolver seus projetos sociais na região.

Foi criada em março de 1996, com o objetivo de atender crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social. Iniciou suas atividades em um espaço cedido pela Igreja Católica, no Centro Comunitário e após a obtenção de um financiamento foi possível a aquisição de uma lona e então foi instituída a Escola de Circo, na Praça do Jardim Dom Fernando I, área pública (IDF, 2007).

A Escola de Circo, desde que foi constituída até os dias atuais, não tem a perspectiva de formar artistas circenses, apenas faz uso das ferramentas de circo como material pedagógico. Atua junto às crianças, aos adolescentes e suas famílias com o objetivo de promover atividades lúdicas, recreativas, por meio da educação não-formal, a fim de fortalecer o protagonismo infanto-juvenil, de forma em contribuir para reduzir os índices de risco social existentes na região (IDF, 2007).

A Escola de Circo atualmente atende um quantitativo de 160 alunos, entre criança e adolescente, os quais freqüentam as atividades duas vezes por semana, terça e quinta ou quarta e sexta-feira. Terça e quinta-feira, vespertino: Palhaço Berimbau, faixa etária entre 12 e 16 anos; Palhaço da Pracinha, quarta e sexta-feira, vespertino, faixa etária entre 07 e 11 anos; Pernalêlê, matutino, faixa etária entre 07 e 11 anos; Os Equilibristas, quarta e sexta no período matutino, faixa etária entre 07 e 11 anos e aos sábados no período matutino a Oficina do Espetáculo, é uma turma mista, entre crianças e adolescentes, tem por objetivo aperfeiçoar as atividades que vem sendo desenvolvidas no decorrer da semana que concretiza no espetáculo. Quando há uma oficina oferecida por professores da Universidade Católica de Goiás – UCG, por meio da Extensão, as atividades podem se estendem a outros dias da semana18.

As atividades da Escola de Circo são desenvolvidas em forma de oficinas. Tais "oficinas constituem recurso metodológico central no processo educativo desenvolvido pela Escola de Circo. São atividades culturais e artísticas que têm como objetivo proporcionar às crianças e adolescentes a possibilidade de aprender brincando, a conviver com as diferenças, a interagir, a decidir em grupo" (E.C, 2007, p. 4). Estas oficinas têm por objetivo também contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem em grupo, por meio de regras, limites e controle dos conflitos. A perspectiva do circo social, como já mencionado, não tem a intenção de formar artista circense, a Escola de Circo se inscreve nessa perspectiva, pois seu objetivo é contribuir com o desenvolvimento social, por meio das ferramentas pedagógicas do circo.

As oficinas desenvolvidas na Escola de Circo são de: Arte circense, Esporte e Recreação e Capoeira e Recreação. Estas oficinas são desenvolvidas por quatro educadores, desses apenas um não dispõe de formação específica. Um é formado em letras; outro está concluindo o curso de artes cênicas pela UFG, outro é formado em educação física. As oficinas de extensão são desenvolvidas por professores, que variam de acordo com o semestre.

As atividades pedagógicas são desenvolvidas na Escola de Circo levando-se em consideração a construção dos seguintes instrumentos:

- "Contrato Pedagógico" – cada início de semestre é construído um "contrato pedagógico", firmado entre educadores, usuários e coordenação. "As crianças e adolescentes juntamente com os educadores constroem as regras de convivência que irão nortear a condução do trabalho durante o semestre" (E.C, 2007). Tais regras são, posteriormente, afixadas em um local visível para todos os usuários.

- "Toda Turma no Circo Tem Nome" é uma forma de dar identidade ao conjunto das atividades e a cada turma da Escola de Circo. Neste ano os nomes por eles designados foram: Palhaço Berimbau, Pernalêlê e Oficina do Espetáculo. Os outros nomes já existiam, como aferido anteriormente.

- "Mapeamento" – tem como objetivo avaliar o desenvolvimento das habilidades de cada criança/adolescente, "no final de cada semestre as mesmas realizam sua auto-avaliação, podendo passar para um nível mais elevado" (C.E., 2007, p. 6);

- "Ficha Técnica" – é um instrumento em que se registra a potencialidade de cada usuário da Escola de Circo nas modalidades circenses, como por exemplo, os adolescentes que fazem apresentações com malabares, perna de pau, e assim sucessivamente. Este instrumento é a fonte de recurso para as apresentações externas/interna da unidade, que dispõem da potencialidade de cada usuário, em cada modalidade do circo.

- "Circo vai a Escola" – objetiva "apresentar a proposta da Escola de Circo para as escolas da região" (Ibidem), especialmente àquelas cujos usuários da Escola de Circo estudam.

A "Escola vem ao Circo" – refere-se a uma atividade por meio da qual o espetáculo ("Projeto Circocultura") é apresentado na sede da Escola de Circo para alunos de escolas tanto da região Leste, como de outras regiões da cidade.

- O "Circocultura" – é uma atividade em que a Escola de Circo desenvolve espetáculos durante três dias, sempre com uma temática, este ano foram realizados dois "Circocultura", cujas temáticas foram: "Circo picadeiro da infância" e "Circo equilíbrio ecológico no picadeiro". São assistidos por escolas, como já referido, e também pela comunidade.

- A "Colônia de Férias" – é uma atividade que ocorre comumente no mês de janeiro de cada ano, quando as atividades rotineiras da EC estão suspensas. Está aberta a todas as crianças da EC que queiram dela participar19.

A rotina pedagógica da Escola de Circo tem como objetivo promover o desenvolvimento pessoal e coletivo dos usuários. Esta modalidade se subdivide em:

1. "Ingresso Ecológico" ocorre todos os dias no início das atividades de cada período, no qual as crianças/adolescentes ao entrar Escola de circo para as atividades devem coletar resíduos recicláveis que se encontram na praça, que fica em frente à unidade. Esta atividade tem como objetivo despertar a educação ambiental (E. C. 2007).

2. No início de cada turno as crianças e os adolescentes se reúnem em uma roda, denominado "Roda de Conversa". Esta atividade tem por objetivo apresentar as atividades que serão desenvolvidas no dia, bem como se consiste em um momento para refletir sobre o tempo em que passaram fora da Escola de Circo (E. C, Ibidem).

3. A atividade "Pão e Circo" é desenvolvido no momento do lanche ou almoço20. Cada criança ou adolescente serve sua própria refeição, o qual "é mais um momento de aprendizagem no circo, pois é acompanhado por todos os educadores que orientam quanto ao valor nutritivo dos alimentos e alerta-os para o não desperdício da comida, cujo lema é Resto Zero" (E. C. Ibidem, 12)

4. Na Escola de Circo todas as atividades são desenvolvidas em conjunto, tendo como foco a cooperação. As "Práticas Cooperativas" se subdividem em: lixo no lixo; o uso dos equipamentos fica sob a responsabilidade de cada um/uma em utilizar e devolver para o seu devido lugar; "chinelodromo" e "cadeirodromo", esta atividade tem por objetivo construir a responsabilidade por seus pertences e para com os equipamentos e utensílios da Escola de Circo que são para o uso de todos. No final de cada período é realizada a avaliação das atividades, levantando pontos de crescimento e o grau de participação dos alunos nas atividades. No final de cada ano os usuários participam da avaliação das atividades, compõem ao relatório final.

5. No Circo todas as pessoas, incluindo usuários, educadores, coordenação e visitantes, lavam seus talheres, copos e pratos (E. C. 2007). Essa prática tem por objetivo contribuir para o processo educativo, tendo em vista que diversos aprendizados não são somente de competência da escola formal.

As atividades da EC contemplam, ainda, ações direcionadas às famílias como:

- "Atendimentos diários às famílias" – são realizados pela psicologia, pelo serviço social e, especialmente, pela pedagogia, quando as famílias procuram a EC para quaisquer esclarecimentos, orientações, informações sobre os filhos, matrículas etc.

- "Reuniões bimestrais com as famílias" – com o intuito de envolver as famílias no processo educativo vivenciados por seus filhos/as inseridos na EC, são realizadas essas reuniões. Nelas são informadas sobre a rotina da EC, as atividades programadas etc., bem como discutidos temas de interesse do grupo participante e da EC.

- "Reuniões temáticas com as famílias" – os temas para estas reuniões são proposto pelas próprias famílias, dirigidos, especificamente, pela psicologia. Isto se dá pelo fato do Serviço Social ainda não está institucionalizado. Os professores da psicologia dispõem de uma carga horária superior a oito horas semanais, que não é o caso do Serviço Social, para atuarem na Escola de Circo. Este ano foram realizados apenas duas reuniões neste enfoco.

É importante ressaltar que a Escola de Circo não conta rotineiramente com profissionais da Psicologia e do Serviço Social. Os profissionais que estão lá presentes (uma psicóloga, uma assistente social21 e uma fisioterapeuta) são professores da Universidade Católica de Goiás – UCG, com carga horária para a extensão, com seus respectivos estagiários. Estes profissionais têm como objetivo desenvolver os trabalhos em suas respectivas áreas de conhecimento, especialmente direcionados às famílias, às crianças e aos adolescentes, buscando encaminhamento, quando necessário, para a rede básica de atenção à família.

Segundo Iamamoto (2005, p. 21) a nova conjuntura tem exigido profissionais cada vez mais capacitados para desenvolver as atividades que dizem respeito ao serviço social. São requisitos que proporcionam uma mudança na visão histórica que vem permeando a atuação deste profissional, que é comumente conhecido como um profissional interventivo. As novas requisições para o profissional de Serviço social não mais se concentram nesta perspectiva, com diria a autora, o desafio para este profissional é "decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano". Tais reaquisições centram-se na perspectiva de um profissional capaz de propor estratégias para o enfrentamento da questão social, que dispõe como uma de suas ferramentas a pesquisa.

Na Escola de Circo este profissional não foge desta perspectiva apontada por Iamamoto (2005), pois devido às condições objetivas e subjetivas que estão postas, tendo em vista a realidade social em que estas famílias estão inseridas irá contribuir tanto em relação a propostas e projetos a curto e longo prazo.

A atuação do Serviço Social nesta unidade tem como foco o atendimento às famílias, crianças e adolescentes, de acordo com as demandas e encaminhados para a rede Básica de atenção à família. Também participa das reuniões da unidade, do planejamento e da execução dos projetos, bem como de reuniões externas a instituição que compreende a busca de estratégias para a superação dos problemas oriundos das famílias que são atendidas na unidade.

Pois, como bem sintetiza Yazbek (2006)

o Serviço Social interfere nos processos relacionados com a reprodução social da vida, desenvolvendo sua ação profissional em situações sociais que afetam a qualidade de vida da população em geral e, sobretudo dos setores mais empobrecidos da sociedade, objetivando melhorar essas condições sob múltiplos aspectos (YAZBEK, 2006, p. 124).

Portanto, o Serviço Social como profissão elabora, planeja, executa, avalia, orienta, encaminha. Tem a competência realizar estudos socioeconômicos, como também desenvolver pesquisas na área social. É nesta perspectiva que o Serviço Social está posto na Escola de Circo, como uma profissão que tem por objetivo contribuir com a construção de uma sociedade diferente dos moldes neoliberais. Nestes parâmetros não centra-se apenas na execução dos projetos na E.C., visa também elaborar projetos que possam atender as demandas das famílias atendidas.

3.2 – A contribuição da Escola de Circo no processo educativo do Adolescente

Este item tem por objetivo apresentar a metodologia da pesquisa realizada, bem como seus resultados.

Para a realização desta pesquisa foram selecionados adolescentes que freqüentam ou freqüentaram as atividades por, pelo menos, três anos. Optou-se por assim proceder, por considerar que dessa forma seria possível conhecer a influência daquela proposta na formação dos adolescentes. Aqueles que não mais estão mais freqüentando, foram escolhidas a fim de se observar as razões que contribuíram para essa desistência. A seleção deles foi realizada por meio de um levantamento junto à coordenação da unidade, que indicou sete adolescentes que desistiram em 2007 e que haviam freqüentado as atividades por seis anos. A seleção dos adolescentes que estão freqüentando foi realizada junto à coordenação e junto aos próprios adolescentes, sendo por eles indicados treze adolescentes, cuja permanência na Escola de Circo varia entre três e sete anos22.

Dos sete adolescentes indicados que não mais estão freqüentando, um deles não foi encontrado em casa em nenhuma das duas visitas realizadas, outro se recusou a responder à pesquisa, sendo dessa forma entrevistados cinco adolescentes desistentes. Dos treze adolescentes indicados que estão freqüentando, dois estavam viajando, dois não foram encontrados em casa no horário da visita domiciliar, um se recusou a responder e outro o tio havia falecido. Assim, desse grupo, oito adolescentes foram entrevistados. No total, participaram então da pesquisa treze adolescentes e seus respectivos responsáveis (os quais realizaram as matrículas dos adolescentes na Escola de Circo).

Esta pesquisa foi realizada por meio de entrevistas gravadas realizadas nas residências dos adolescentes para coletar as informações. No roteiro de entrevistas, como pode ser observado no anexo I, constam questões abertas e fechadas. As questões abertas são tanto para os adolescentes como para os responsáveis, bem como questões fechadas que se referem aos componentes do grupo familiar.

O instrumental técnico para realização desta pesquisa, como consta no anexo I, foi único para todos os entrevistados, tanto em relação aos que evadiram como para os que estão freqüentando, o que diferencia é a questão sobre porque você saiu da Escola de Circo? Em relação à identificação dos entrevistados, todos estão com nomes fictícios.

A motivação para a realização desta pesquisa está ancorada em dois fatores. Primeiro, o fato de ter havido, durante o ano de 2006, a evasão de 80 usuários da unidade, entre crianças e adolescentes, o que instigou o desejo de se conhecer qual o real motivo destas desistências. Por isso, foram investigados os desistentes. Segundo, considerando-se que a Escola de Circo situa-se no âmbito da educação não-formal (conforme discussões anteriores), buscou-se compreender como ela tem contribuído com o processo educativo dos adolescentes, sendo este um aspecto investigado nos dois grupos (que evadiu e que freqüenta). Diante destas questões buscou-se compreender, também, qual a visão dos responsáveis sobre a contribuição dessa unidade em relação ao processo educativo dos filhos. Tendo em vista que a E.C., só em 2006, atendeu um total de 200 usuários, que corresponde a um total de 160 famílias, das quais cerca de 30% participaram ativamente das atividades direcionadas às famílias na unidade.

Perfil dos componentes do grupo familiar dos adolescentes entrevistados

Os dados referentes à composição familiar dos adolescentes entrevistados serão analisados em conjunto. As pessoas que compõem o grupo familiar dos adolescentes entrevistados correspondem a 45 pessoas no total (excetuando-se os próprios adolescentes, com eles somam-se 58 pessoas), dos quais 51,10% são do sexo feminino e 48,90% do sexo masculino (Gráfico 1).

Gráfico 1

Divisão por sexo do grupo familiar

Monografias.com

Fonte: Pesquisa primária realizada na Região Leste de Goiânia,

área de abrangência da Escola de Circo/IDF/UCG, Goiânia, nov./2007

A divisão por idade do grupo familiar pode ser demonstrado da seguinte forma: de 6 a 12 anos, corresponde a 26,70%. Por não haver pessoas, aos quais correspondem aos adolescentes entrevistados (como aferido) entre 13 a 15 anos foi incluindo apenas de 16 a 24 anos, que corresponde a 15,50%. O grupo de 31 a 45 anos corresponde a um total de 49% e os componentes com idades entre 55 a 60 anos corresponde a 8,80% (Gráfico 2).

Gráfico 2

Divisão por idade do grupo familiar

Monografias.com

Fonte: Pesquisa primária realizada na Região Leste de Goiânia,

área de abrangência da Escola de Circo/IDF/UCG, Goiânia, nov./2007

Na maioria das famílias há um predomínio de crianças e adolescentes, pois 40%% correspondem aos irmãos; o pai corresponde a 17,80%; os tios a 6,70%, em relação ao padrasto, pai adotivo, avô, avó e mãe adotiva cada um corresponde a 2,20% e 24,40% correspondem às mães, que também foram entrevistadas (Gráfico 3).

Gráfico 3

Grau de parentesco do grupo familiar

Monografias.com

Fonte: Pesquisa primária realizada na Região Leste de Goiânia,

área de abrangência da Escola de Circo/IDF/UCG, Goiânia, nov./2007

A situação educacional dos componentes do grupo familiar dos entrevistados pode ser conferida no Gráfico 4. Em relação aos que estão estudando, correspondem a um total de 28,90%. Considerando-se o grupo daqueles que estão na alfabetização e os dos menores de seis anos, representam 2,20% cada. A população que não está estudando corresponde a 46,70% e a população que estuda corresponde a 28,90%. Se comparado este dado com a idade do grupo familiar, se verá que o nível de escolaridade é muito baixo, condição esta, como afirmado anteriormente, compatível com a realidade da população que se encontra em regiões periféricas, onde a atuação do Poder Público é fraguimentada, especificamente, no que desrespeita a educação.

Gráfico 4

Situação educacional do grupo familiar

Monografias.com

Fonte: Pesquisa primária realizada na Região Leste de Goiânia,

área de abrangência da Escola de Circo/IDF/UCG, Goiânia, nov./2007

Em relação ao trabalho formal, pode-se constatar que 31,10% dos familiares possuem carteira de trabalho assinada; 22,20% estão no trabalho informal como: pedreiro, ajudante de pedreiro, músico e fabricação de chocolate na própria residência. A população do grupo familiar acima de 16 anos que não trabalha corresponde a um total de 13,30%. Os componentes do grupo familiar que estão aposentados representam um total de 6,70% (Gráfico 5). Se comparado com o nível de escolaridade, percebe-se que o grupo familiar tem um nível baixo de escolaridade e que esta população sofre, como um dos fatores, no trabalho precarizado.

Gráfico 5

Situação trabalhista do grupo familiar

Monografias.com

Fonte: Pesquisa primária realizada na Região Leste de Goiânia,

área de abrangência da Escola de Circo/IDF/UCG, Goiânia, nov./2007

A participação dos componentes familiares em Programas que podem ser caracterizados como inseridos na educação não-formal é muito baixa, quando relacionada à população acima de 25 anos. Ou seja, 55,60% nunca participaram de nenhum Programa com esse perfil. Justificou-se dizendo que "em minha época não existia esse tipo de coisa" (Marisa, 60 anos, avó do Douglas de 13 anos – Freqüentando). Conforme conferido em Gohn (2005), essa modalidade de educação passou a ser intensificada no Brasil a partir da década de 1990. Dos componentes do grupo familiar que participaram de Programa de educação não-formal 8,90% freqüentaram a Escola de Circo, 24,40% freqüentam a Escola de Circo que corresponde aos irmãos dos adolescentes e 11,10% que corresponde a outros, participaram de Projetos que podem ser caracterizados como educação não-formal, tais como Escola de Música e Casa da Juventude – CAJU (Gráfico 6).

Gráfico 6

Educação não-formal que o grupo familiar participou

Monografias.com

Fonte: Pesquisa primária realizada na Região Leste de Goiânia,

área de abrangência da Escola de Circo/IDF/UCG, Goiânia, nov./2007

Perfil dos/das Adolescentes entrevistados/as

Os dados que compõem os adolescentes entrevistados referem-se tanto os que evadiram como os que estão freqüentando. Julgou-se necessário realizar a tabulação destes dados separado do grupo geral da familiar por entender que aqui corresponde a particularidade destes adolescentes, de forma a entender questões referentes aos mesmos separadamente. Como pode ser conferido no gráfico 4, do total de adolescentes entrevistados, que correspondem a 13, são do sexo feminino 54% e 46% dos adolescentes correspondem ao sexo masculino (Gráfico 7).

Gráfico 7

Divisão por sexo dos adolescentes entrevistados

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Fonte: Pesquisa primária realizada na Região Leste de Goiânia,

área de abrangência da Escola de Circo/IDF/UCG, Goiânia, nov./2007

Em relação à idade demonstra-se, por meio do Gráfico 8, que 38,46% estão com treze anos, 23,7% têm catorze anos, a idade de quinze anos com o mesmo percentual, 7,7% têm dezesseis anos, compondo o mesmo percentual para doze anos.

Gráfico 8

Divisão por idade dos adolescentes entrevistados

Monografias.com

Fonte: Pesquisa primária realizada na Região Leste de Goiânia,

área de abrangência da Escola de Circo/IDF/UCG, Goiânia, nov./2007

A escolaridade dos adolescentes, em relação à série que estão freqüentando, pode ser visualizada por meio do Gráfico 9. 38,5% encontram-se no 8° ano; os que estão cursando o 1° ano do ensino médio correspondem a 23%; em relação a 9° e 6° ano, correspondem a 15,4% cada; no 5° ano do ensino fundamental estão 7,7% dos adolescentes. Considerando-se as idades demonstradas, constata-se uma defasagem em relação à idade/série, o que confirma a falta de condições adequadas das classes subalternas para vivenciarem a educação escolar, entrecortada por carências, falta de estrutura do ensino etc.

Gráfico 9

Grau de escolaridade dos adolescentes entrevistados

Monografias.com

Fonte: Pesquisa primária realizada na Região Leste de Goiânia,

área de abrangência da Escola de Circo/IDF/UCG, Goiânia, nov./2007

Análise das entrevistas: Adolescentes e responsáveis

A seguir serão analisadas as questões referentes aos dados qualitativos que em duas dimensões. Em primeiro lugar constam as entrevistas realizadas com os adolescentes. Em segundo momento as entrevistas realizadas com os responsáveis. Esta análise será realizada em conjunto, tanto em relação à evasão como os que estão freqüentando.

As questões que compõem esse bloco foram iniciadas abordando-se os adolescentes quanto ao aprendizado obtido na Escola de Circo. A maioria deles apontou inicialmente as atividades características relacionadas aos equipamentos circenses. Dentre tais: cama elástica, perna de pau, rola-rola, malabares, etc. Mas, em seguida, dos cincos que saíram e quatro dos oitos que permanecem, responderam que aprenderam valores para a vida como fazer novas amizades, respeito às pessoas, a colaboração etc. O que pode ser percebido nas falas:

...aprender a lidar com as pessoas, com as diferenças né, educação, sei lá. Acho que foi isso né, aprender a lidar, ter um comportamento, assim, diferente de muitos jovens de hoje né, só isso, eu acho (Suzana, 14 anos – evadiu).

É... deixa eu ver... assim... eu aprendi a ter mais respeito, me sinto mais diferente, ter paciência, ter educação, eu aprendi... que agente nunca deve ser egoísta pra ninguém, porque sempre tem que ajudar quem precisa, porque se agente ajudar aquela pessoa hoje amanhã agente vai ser ajudado pela aquela pessoa (Ana. 13 anos – freqüentando).

Ajudou muito, como eles fala colaboração né? Respeito, esse tipo de trem assim (Maria, 14 anos – freqüentando).

Além desses aspectos, ressaltaram também à importância de se aprender não só as atividades circenses. Mas conhecer os aspectos sócio-históricos e culturais em relação ao circo, o que representa a preocupação da equipe em não só ensinar as técnicas em si, mas em munir os adolescentes de informações para que possam construir sua própria visão sobre o espetáculo, o circo e sua história.

Nas rodas de conversa eu aprendi muitas coisas, por exemplo, sobre a história do circo agente já conversou várias vezes, por causa dos espetáculos agente tinha que saber pelo menos um pouco do que agente tava fazendo, se eu tava lá era pra aprender alguma coisa, não é só usar os instrumentos, mas você tem que saber um pouco da história, de que jeito começou, onde começou, quem começou, quem fez, isso era bom (Thais, 15 anos – evadiu)

A proposta da educação não-formal não é um "moldar" seus usuários para se adequarem ao modelo de sociedade que aí está, mas para contribuir com a formação de sujeitos que serão precursores de sua própria história (GOHN, 2005 e 2006). Acredita-se que na Escola de Circo haja a preocupação de situar os sujeitos em relação não só aos direitos, como aos deveres, especialmente os valores humanos, pois os trabalhos "têm como base valores fundamentais que sustentam e iluminam o cotidiano [...], dentre os quais: respeito, solidariedade, cooperação, honestidade, união, tolerância, paz, felicidade e liberdade" (E.C., 2007, p. 2).

Outra questão levantada é sobre a representação da Escola de circo para eles. Vários deles referiram-se ser para eles um espaço que contribui para que os adolescentes não fiquem nas ruas, outros a descreveram como um local de lazer, um "lugar legal"; e, alguns, a identificaram como um local de aprendizado. Como pode ser constatado nas falas:

Eu acho assim, que é um meio de ajudar os jovens de hoje, tirar eles do meio da rua, evitar assim deles ficar na malandragem, eu acho que é uma coisa muito boa, é uma parte da vida assim... muito boa que agente deve preservar, igual se eu não tivesse trabalhando eu ia continuar lá (Suzana, 14 anos – evadiu).

A escola de circo pra mim é o lugar onde tira as crianças da rua, pra não ficar passando tempo na rua, assim, envolver com drogas. Lá ela ajuda, além de tirar as crianças da rua, ensina a fazer coisas que você nunca imaginou que poderia dar conta (Juliana, 14 anos – Freqüentando)

As respostas no geral estão centradas em tirar os meninos da rua, ambiente de lazer. Segundo Gohn (2006) um dos problemas da educação não-formal é em relação à definição clara de seus objetivos, o que dificulta a relação de compreensão da importância deste tipo de educação para a sociedade. A proposta da Escola de Circo é trabalhar por meio da "arte circense, buscando proporcionar às crianças e adolescentes das camadas populares, uma educação mais humanizadora na busca pela garantia de seus direitos" (E.C., 2007, p. 2). Com este foco, ao mesmo tempo em que tira as crianças da rua contribui para forma cidadãos de diretos e deveres.

Outra questão levantada nesta pesquisa é em relação às críticas que os adolescentes têm em relação à Escola de Circo. O grupo revelou ter poucas críticas em relação à E. C. aqueles que as identificaram, em geral, apontaram a não identificação com atividades de algum equipamento específico. Houve crítica também ao comportamento de alguns colegas que, às vezes, atrapalham o andamento das oficinas e a alguns educadores, o que pode ser observado nas seguintes falas:

Eu não gosto só quando os meninos vai pra bagunçar e não deixa agente fazer as atividades quieta (Carla, 16 anos – freqüentando).

Não gosto de monociclo (Gilberto, 12 anos – freqüentando).

Tem alguns professores lá que é assim... você ta lá dando duro, o máximo de você, e eles que assim, [de outra forma], tudo bem que tem que puxar mais exige mais de você, só que um professor montava uma coreografia e um outro vinha e reclamava, sendo que muitos, assim, por exemplo, eu não vou citar nomes, então, agente ficava meio assim com alguns professores por causa disso, porque... na maioria das vezes não criticava as atividades deles mas vinha criticar a dos outros (Thais, 15 anos – evadiu).

É porque... a [educadora] X ela é assim, se ta fazendo alguma coisa, a [educadora] X, a X não gosta ela já vem falando auto com você, se falar um a ela paga sapo na sua cara, eu não gosto disso, eu também sou assim eu pago sapo também. Ai, no dia da apresentação aconteceu um negocio comigo e com ela, ai também foi por isso que também que eu quis sair do circo [....] (Carolina, 13 anos – evasão).

Dentre tais questões pode ser identificado, com relação as crítica à E.C., que as mais complexas, que compreende em relação às atividades e aos educadores, encontram-se mais presente no grupo que evadiu. Desta forma, uma das questões da evasão, como identificado, relaciona-se com as atividades, pois os adolescentes sentem mais empolgação.

Em relação à formação dos educadores, segundo Fernandes e Garcia (2006) e Gohn (2006), falta à qualificação específica dos educadores, mas nem sempre a instituição que desenvolve este tipo de educação dispõe de recursos para tal finalidade. Na Escola de Circo são quatro educadores, apenas um não tem formação superior. Todo início de semestre é realizado um contrato, denominado "contrato pedagógico", em conjunto entre crianças, adolescentes que compõem as regras de convivência. Dentre estas questões percebe-se que os mesmos compreendem esta noção de deveres, por este motivo que reivindicam o cumprimento das mesmas.

Em relação aos equipamentos da Escola de Circo, alguns usuários não dispõem de habilidades para determinadas ferramentas utilizadas para o aprendizado, mas por outro lado, constata-se também a falta de diversidade, algumas vezes, nas atividades, o que faz com que fiquem desestimulados, por isso a necessidade de se incluir outras novidades no quadro da unidade.

Dentre às sugestões dos adolescentes para melhorar as atividades da Escola de Circo pode-se observar a referência maior em relação à estrutura e ao funcionamento do circo como: melhorar a lona (que está muito precária); a presença de mais educadores; melhor forma de administrar o comportamento daqueles que atrapalham as atividades; e a inclusão de novas atividades/brincadeiras/instrumentos.

Eu acho que cada professor tinha que seguir, assim, suas aulas. Que, por exemplo, que desse arte circense só arte circense, não mecha com outro tipo de atividade, artes corporais a mesma coisa, e devia dar mais atividades, não só de circo, mas como, antes tinha aulas de dança do ventre, dança de ache, tinha que entrar também, para as pessoas evoluir mais (Thais, 15 anos – evasão).

As questões centram na perspectiva de ampliar e melhorar o espaço físico da Escola de Circo. Incluir outras atividades, como menciona um adolescente, relaciona-se com as novas propostas do Circo Social, que não deve centrar-se apenas nos equipamentos circenses, mas em modalidade que possa manter e conquista os adolescentes, ou seja, atividades que não sejam rotineiras (CASSOLI, 2006).

Outras sugestões estão direcionadas para a reafirmação da proposta da Escola de Circo, pois enfatiza a necessidade de continuar se constituindo numa alternativa para os jovens para que não fiquem ociosos fora do horário de aula. Esse aspecto pode ser constatado na fala de Suzana, que não retornou para as atividades neste ano.

Que eles continua assim buscando os jovens pra ficar lá, porque eu acho que isso ajuda muito, tirar, assim, muitos jovens da rua, que não tem nada pra fazer, ter alguma coisa pra se preocupar... eu acho que é só eles continuar dando foco nisso ai. Há, como tem muita gente que saiu, como tem o período da manhã, da tarde, deveria colocar um período a noite, ia ser bom, pra gente, assim, num sair da escola, acho que isso seria bom (Suzana, 14 anos – evasão).

Ao mesmo tempo a adolescente demonstra a vontade de retornar à Escola de Circo, com a sugestão da abertura de mais um turno.

Ah, como tem muita gente que saiu, como tem o período da manhã, da tarde, deveria colocar um período à noite, ia ser bom, prá gente, assim, num sair da escola, acho que isso seria bom (Suzana, 14 anos – evasão).

Foi, então, solicitado que os adolescentes avaliassem especificamente as oficinas, as quais foram consideradas: "muito boas"; "um aprendizado diferente"; dinâmicas, devido ao envolvimento dos professores, apesar das "bagunças"; "uma forma de trocar experiências"; uma forma de motivar a cooperação dos participantes. Mas, em seguida, um dos cincos adolescentes que saíram e um dos oitos que estão freqüentando afirmaram que as oficinas proporcionam momentos de aprendizado, tal como pode ser observado nas falas:

Era muito legal, muitas vezes eu não sabia, eu aprendi lá. Tipo eu era muito... brigona, aí depois do negócio que a gente fez lá eu parei com isso. [O que você fez?] Agente fez tipo uma peça de teatro lá, só para os meninos de terça e quinta, aí eu parei com isso. (Carolina, 13 anos, evasão)

Uma adolescente referiu-se especificamente à atenção a eles dada pela coordenação e educador:

...É... como se diz, ajuda a você, mas ao mesmo tempo você ajuda eles, você se interessando pelas aulas eles também ficam contente. Então minha avaliação é deis, quando agente não vai eles se preocupam, procuram saber o motivo (Juliana, 14 anos – freqüentando).

Dentre tais questões percebe-se que os adolescentes, tanto os que evadiram como os que estão freqüentando, identificam que as atividades contribuem de forma significante para seu processo educativo, especificamente no que diz respeito aos valores humanos, direitos e deveres, diante disto, como aferido, a proposta da Escola de Circo não é formar artistas circenses, mas cidadãos capazes de contribuir para a construção de uma nova sociedade (E.C., 2007).

Ao serem questionados em relação à diferença entre a escola formal e a Escola de Circo, todos identificam uma diferença em relação ao ensino e à aprendizagem: "Na E.C. aprende brincando", é mais divertida, a metodologia é diferente; escola formal; mais burocrática, hierárquica, é uma obrigação. Dois dos cinco adolescentes que desistiram e dois que continuam freqüentando responderam em relação á metodologia de ensino, as quais podem ser identificadas:

há!! A escola formal não tem nem comparação com a escola de circo, muito chato, professores ignorante, o circo dá de dez a zero lá. Porque lá tem professores ignorantes, tem até que xinga lá, no circo agente escreve, faz tudo se divertindo, escreve se divertindo. Lá agente só faz com raiva e triste (Ricardo, 13 anos – freqüentando)

A diferença é que a escola formal agente estuda mais é com raciocínio, ficar escrevendo... caligrafia... essas coisas, e a escola de circo não, não só estuda isso, mas também como os movimentos corporais (Juliana, 14 anos – freqüentando)

Toda diferença, na escola de circo agente fica mais a vontade, e, como que eu vou falar, mais a vontade com os professores, além de eles te dão muita liberdade. Na formal você vai lá e estuda, aprende ou não aprende, empurra com a barriga e pronto. (Thais, 15 anos – evadiu)

Ai Escola de Circo é bem mais divertida, você sente, assim, sente mais assim, não é que é ruim a escola formal, mas a Escola de Circo sabe lá, é mais divertido, o entrosamento entre você e os meninos. Agora na escola formal você vai mais assim pra estudar, assim, uma coisa mais séria, agora a escola de circo é mais light, mais divertida, acho que é essa a diferença. (Suzana, 14 anos – evadiu)

Segundo Gadotti (2005) a educação não-formal se distancia da formal apenas no ambiente em que se desenvolve, ou seja, não é, ou não deveria ser, uma ex-tensão da educação formal, pois neste, da educação formal, ocorre estas duas modalidades de educação. Nas respostas dos alunos percebe-se que vêem a Escola de Circo como ambiente de lazer; os educadores são mais abertos para o diálogo e que ensinam outros tipos de atividades. Nestas falas percebe-se que para os adolescentes a diferença entre a E.C. e a escola formal esta centrado na metodologia de ensino, bem como ao conteúdo que é desenvolvido, pois a educação formal limita-se a conteúdos definidos, sem o envolvimento dos adolescentes, o que para eles torna-se "sério", "pesado".

Os adolescentes que estão freqüentando ao serem questionados sobre o que mais gosta na Escola de Circo, respondem questões referentes aos equipamentos circenses. Dentre estes equipamentos: cama elástica, acrobacia, rola-rola, futebol, malabares, etc. Dentre os oitos adolescentes entrevistados dois deles acrescentam ainda, como podem ser observados nas falas:

Os adolescentes que estão freqüentando ao serem questionados sobre o que mais gostam na Escola de Circo, atualmente, referem-se sempre às atividades circenses desenvolvidas, sobretudo: cama elástica, acrobacia, rola-rola, futebol24, malabares, etc. Maria justifica demonstrando uma característica típica da adolescência que é a de não temer o perigo, o que pode causar pânico nos adultos e render aos adolescentes satisfação.

Há, cama elástica, porque agente deixa todo mundo com medo. Minha mãe, por exemplo, quando eu vou apresentar quase morre do coração (Maria, 14 anos – freqüentando).

Carla chama a atenção para o incentivo à socialização e ao cooperativismo vivenciado no processo de aprendizagem e que são partes constitutivas da Proposta Pedagógica da Escola de Circo (E.C., 2007)

Monociclo e rola-rola, da união entre a gente lá, uns ajudo os outros, passa o que agente sabe pro outros, é isso ai (Carla, 16 anos – freqüentando).

Em relação aos adolescentes que evadiram os mesmos respondem de forma semelhante. Dentre o que mais gostam na Escola de Circo destacaram: cama elástica, acrobacia, rola-rola, futebol, malabares etc. Apenas um dos cinco adolescentes que evadiram acrescentou:

dos professores, das atividades, o lanche também era muito bom (risos), dos passeios também, os passeios era muito bom também. Eu sinto falta da Escola de Circo (Suzana, 14 anos – evadiu).

Segundo Cassoli (2006) a finalidade da utilização desses equipamentos se dá em desenvolver a auto-confiança, potencialidade para vencerem os obstáculos da vida. As "oficinas constituem recurso metodológico central no processo educativo da E.C. São atividades culturais e artísticas que têm como objetivo proporcionar às crianças e adolescentes a possibilidade de aprender brincando, a conviver com as diferenças, a interagir, a decidir em grupo, praticando dessa forma sua autonomia" (E.C., 2007, p. 4). É nestes aspectos que estes dois grupos apresentam a diferença entre a E.C. e a escola formal, ou seja, se diferencia na metodologia e no sistema de organização da instituição.

Uma das questões contidas no questionário foi direcionada apenas aos adolescentes que evadiram em 2007 e se refere ao motivo da desistência. Dentre as respostas destacam-se:

Porque eu fiquei de castigo aqui em casa. Mas esse circo esta muito ruim, não ta bom não. [Por que esta ruim?] Porque ta ruim, a [educadora] "X" voltou pior, o [educador] "Y" só sabe dá bronca, o único melhor era o [educador] "B" e o "C" saiu e a [educadora] "A". (Carolina, 13 anos)

Por caso que eu quis, por caso que os meninos tudo lá é pequeno só eu de grande, as atividades eu não tava gostando mais, por causa disso (Gustavo, 15 anos).

Mais pelo motivo deu ta trabalhando né, agora, e os horários também não tava batendo né, e também eu não gostei da turma de sábado. porque teve uma mudança diferente, assim, porque eu tava na turma de terça e quinta era a turma Astley né, ai de repente mudou só pra sábado, ai ficou uma coisa, nossa mudou totalmente, ficou muito ruim. Só que agora só foi eu sair que o trem melhorou (Suzana, 14 anos)

Todos estes adolescentes desistiram por livre escolha, os pais/responsáveis não tiveram nenhuma influência sobre sua decisão. Nas entrevistas foi possível observar que as mães, entrevistadas, gostariam que eles retornassem, para que os mesmos não fiquem sem atividade complementar a escola formal, mas os adolescentes, em sua maioria, saíram porque já havia ficado muito tempo, pois os mesmos identificam que querem é trabalhar.

Análise das entrevistas realizada com as responsáveis

Às responsáveis pelos adolescentes foram direcionadas questões referentes à sua concepção sobre a Escola de Circo, bem como a contribuição da E.C. no processo educativo de seus filhos/netos. Estas questões, que serão apresentados, são tanto em relação ao grupo de mães aos quais os filhos evadiram como aos que estão freqüentando.

Uma primeira questão levantada foi sobre o que representa a Escola de Circo para elas. Dez das quinze responsáveis referiram-se ao fato da E.C. acolher as crianças e os adolescentes impedindo-os que permaneçam nas ruas durante a jornada de trabalho dos pais, o que lhes possibilita uma maior tranqüilidade em relação aos filhos/netos. Dentre tais questões podem ser identificado nas falas, tantos das mães/avó dos que evadiram como dos que estão freqüentado:

Pra mim a Escola de Circo é muito boa, porque eu tenho meus três filhos que participa da Escola de Circo, é uma aprendizagem que eles estão tendo, e é uma oportunidade que tenho em está tirando meus filhos da rua (Eliana, 32 anos, mãe da Maria de 14 anos – freqüentando)

Primeiro ela... é uma coisa muito importante né para as crianças. Primeiro, ele não estão na rua, fazendo coisas erradas, eles tinha o momento deles ta no circo. Tinha muitos aí que não tinha nem alguma coisa, nada, muitos pais muito pobre, num tinha o que dar pra eles comer, ai ajudava eles na hora que eles ia para a escola de circo, tinha alimentação. No primeiro tempo que começo era assim, as crianças muito, os pais ganhavam muito pouco, ajudava muito as crianças, tiravam elas da rua (Antonia, 42 anos: mãe da Carolina de 13 anos – evasão)

Pra mim é um meio pelo qual as mães que trabalha fora, não têm aquela preocupação dos filhos ficar na rua, porque hoje em dia agente sai pra trabalhar eles fica mais na rua, lá eles estão aprendendo sendo instruídos (Julia, 42 anos, mãe do Gustavo de 15 anos – evadiu)

Dessa forma, pode-se constatar que a expectativa dos responsáveis é que a Escola de Circo supra a necessidade de equipamentos sociais, os quais não são implantados pelo poder público, o que reflete a insuficiência e a ineficácia das políticas sociais voltadas para a juventude.

Algumas das responsáveis ressaltaram também a importância da Escola de Circo como um local de aprendizado, que ensina valores humanos. Isto pode ser identificado nas falas:

Bom, na escola de circo representa muitas coisas na educação. Ajuda a educar, aprende mais coisas que as vezes, igual, antes eu não aprendia como os meninos aprende hoje, eu acho muito bom a aprendizagem lá, (Maria, 32 anos, mãe do Marcelo de 13 anos – freqüentando)

Pra mim a Escola de circo é muito boa, porque eu tenho meus três filhos que participa da escola de circo, é uma aprendizagem que eles estão tendo, e é uma oportunidade de tenho para está tirando meus filhos da rua. (Eliana, 32 anos, mãe da Maria de 14 anos – freqüentando)

Pra mim foi assim... um aprendizado que ela teve, um acompanhamento, um crescimento. (Carla, 39 anos, mãe da Thais de 15 anos – evadiu)

Por meio das respostas pode-se constatar que os responsáveis conseguem identificar, ainda que precariamente, a proposta da Escola de Circo. Segundo Gramsci (1982) é importante traçar estratégias para que se possa difundir melhor qual o papel da educação, claro que levando em conta a condição social da população, ou seja, de forma a trabalhar com esta população partindo de sua própria realidade.

A segunda questão procura resgatar junto às responsáveis o motivo que as levou a fazer a matrícula do filho/neto na Escola de Circo. As respostas confundem-se muito com o significado da E.C. para elas. Mais uma vez pode-se constatar que a opção centra-se no fato de poder "tirá-lo da rua", mas, ao mesmo tempo "aprender novas atividades". Em alguns casos foi o próprio adolescente que solicitou a matrícula para que não ficasse sozinho em casa.

Por uma das coisas era isso, tirar eles da rua. Como eu trabalhava muito, saía muito para trabalhar, é.. eu achei bom, na época eu não conseguia arrumar vaga em creche nem em nada, aí eu achei bom esse período deles ali, saía da escola e ficava na Escola de Circo e eu ficava despreocupada (Eliana, 32 anos, mãe da Maria de 14 anos – freqüentando)

Ela era, como ela é filha única, ela ficava muito sozinha né? As outras crianças, como você vê são bem menores do que ela, então, foi um complemento de atividades que eu encontrei assim... entre o período escolar, porque ela ia pra escola de manhã ou a tarde, tinha sempre um período livre, ocioso, então eu procurei colocar ela numa uma atividade, e ela gostava também (Carla, 39 anos, mãe da Thais de 15 anos – evasão).

A realidade dessas famílias não se distancia das frações do Estado monopolista (NETTO, 2006), pois das instituições que atuam no bairro, ou nas imediações, apenas o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI é desenvolvido pelo Estado, outras instituições que atuam no bairro, dentre elas: Escola de Circo; Centro de Formação da Juventude; Programa de Incubadora Social – PIS (atende a população de jovens e adultos, UCG); Projeto Amar (atende crianças com reforço escolar, Igreja Evangélica); Creche Mãe Dolorosa (crianças, Igreja Católica) são programas desenvolvidos pelo setor privado e instituições filantrópicas. Neste sentido, as alternativas que os pais têm para que possam trabalhar é utilizarem-se desses programas.

Outra questão levantada é em saber qual a contribuição da Escola de Circo no processo educativo dos adolescentes. As entrevistadas inicialmente respondem: melhorou no comportamento, aprendeu a respeitar as pessoas, ganho autonomia, ou seja, aprendeu valores humanos. Assim se referem quanto à importância da Escola de Circo para a educação do/a adolescente:

Teve muito, porque ela ficou mais... como eu vou explicar? Mas saída em tudo. Ela é mais dinâmica, quando ela que fazer uma coisa ela faz, ela não deixa nada para depois, ela teve muita mudança mesmo (Eliana 32 anos, mãe da Maria de 14 anos – freqüentando).

Com certeza, de comportamento, até relacionamento com outras crianças da idade dela, com outros adolescentes. Então ela aprendeu assim a se relacionar melhor, até mesmo em casa, na escola, com certeza, por que a escola de circo também dá esse apoio, de está orientando, cobrando que a criança freqüente a escola, é muito bom isso (Carla, 39 anos, mãe da Thais de 15 anos – evadiu).

Além desses aspectos uma das entrevistadas ressalta que o filho ficou pior, como pode ser observado em sua fala em relação à evasão:

Ah! Menino quando eles enturmam com muitos meninos fica mais custoso, sei lá. Parece que o povo fala que não incentiva, mas eu acho que incentiva. Quando meus meninos era... ficava mais assim em casa eles não ía [nesse] negócio de Lan House, que eles não saía assim pro circo. Eles eram mais comportados, obedecia mais, fica mais difícil. (Cicera, 42 anos, mãe do Marcos de 15 anos)

Estas questões mostram que a Escola de Circo vem alcançando seus objetivos, pois os adolescentes adquirem novas amizades, autonomia para decidir sobre o que é melhor para si. As outras respostas relacionam-se como comportamento e a aprendizagem ao relacionar-se com outras pessoas. Conforme Gramsci (1982) o objetivo da educação é construir uma nova cultura, sem dependência da cultura burguesa, ou seja, sujeitos capazes de construir sua própria história. Com estas considerações dos pais, como afirma Gadotti (2005) o objetivo da educação não-formal não é ser um espaço fechado, burocrático e hierárquico, mas um ambiente democrático, pois é neste sentido a Escola de Circo vem se constituindo.

Em relação às críticas dos responsáveis à E.C. pouco se pode acrescentar, pois a maioria restringiu-se a dizer que está tudo bom. Apenas duas responsáveis fazem as seguintes colocações:

...uma das coisas que eu acho que tem que ter mais, mais cuidado é porque os meninos realizam muitas atividades. Ultimamente, estão fazendo muitas atividades mais, assim, perigosas um pouco, é... como cama-elástica mesmo, que eles adora... Eu acho que deveria ter mais cuidado, tanto na hora dos ensaios como na hora das apresentação (Eliana, 32 anos, mãe da Maria de 14 anos – freqüentando).

Eu acho que deveria manter as atividades assim, ser... o adolescente hoje ficou meio sem lugar na escola de circo, ficou só uma atividade semanal, então... é... ela por exemplo, perdeu assim aquele interesse, porque o único dia que ela tem de folga na semana é o sábado, por as aulas ser no sábado é que ela saiu, eu acho que teria que ter um curriculo pro adolescente durante a semana (Carla, 39 anos, mãe do Marcos de 15 anos – evadiu)

Neste sentido, percebe-se um distanciamento na participação dos entrevistados em relação a E.C., pois a maioria das pessoas não vai com freqüência à unidade, não por falta de acesso, mas por falta, segundo eles, de tempo não conseguem acompanhar a educação dos filhos.

As sugestões das famílias para serem incluídas na Escola de Circo são: aula de reforço escolar, abrir novas vagas, ter atividades paras os pais, incluir novas atividades. Dos entrevistados da evasão, uma responde sobre atividades de acordo com a realidade deles, sobre a lona, grupo que está freqüentando, como podem ser observado nas falas:

Que tinha que ter mais oportunidade pras crianças aprender, coisa diferente né? Assim, que fizesse parte da vida deles para o futuro, assim, é mais pra eles fica lá, pra brincar, eu acho que mais foi diversão, tirar ele da rua um pouco (Cicera, 42 anos, mãe do Marcos, evasão).

Acho que deveria fazer algum jeito, alguma maneira, apesar de que é um circo, deveria ter alguma maneira dele não se tornar tão quente na época do verão. Porque fica muito quente lá dentro, é... não sei.. dar uma mudada naquele piso do chão do circo (Eliana, 32 anos, mãe da Maria de 14 anos – freqüentando).

Na proposta de reformulação do Circo na perspectiva social, outras modalidades de artes são incluídas, de forma a motivar a participação de seus usuários nas atividades. Entretanto, o que se percebe é que as famílias querem as mesmas atividades desenvolvidas nos parâmetros da Escola formal, o que não corresponde à proposta do Circo Social e, tampouco, da Escola de Circo. Pois nela as atividades buscam contribuir para a formação de sujeitos livres, possibilitando a formação de uma nova cultura e especificamente a noção de direitos e deveres (E.C. 2007).

Além destas respostas, uma das entrevistas, do grupo que está freqüentando menciona que poderia incluir atividades para os pais, como se pode observar na fala:

Poderia fazer alguma coisa assim pra gente que é pais, eu tava comentado com o P., de ginástica, dar aula de ginástica no sábado, pra gente manter a forma [...] porque dinheiro a gente recebe pouco não tem como pagar academia. Eu quero assim manter a forma com as atividades, saber o que acontece com os meninos e passar pra gente também. (Carolina, 40 anos, mãe do Ricardo de 13 anos – freqüentando)

No início deste ano foi re-inaugurado o Centro de Formação da Juventude, unidade do IDF que funciona próximo à Escola de Circo. Neste Centro estão sendo desenvolvidas atividades voltadas para cursos de informática, teatro, cinema e filosofia. No Programa de Incubadora Social – PSI da UCG/ETG, que funciona nas imediações da Escola de Circo, são atividades de capacitação profissional (voltadas para cooperativas, fabricação de instrumentos musicais e panificação). A proposta da E.C. é trabalhar com arte e educação, ou seja, com a educação não-formal utilizando as ferramentas circenses (E.C, 2007). Nas entrevistas percebeu-se que as famílias também sentem falta de atividades para os pais, não somente no que se refere ao relacionamento e educação dos filhos, mas atividades recreativas e culturais.

Outra questão que é levantada diz respeito às condições térmicas do Circo, pois no período de poucas chuvas a temperatura eleva-se, principalmente debaixo da lona e, atualmente, a lona encontra-se em péssimo estado de conservação, prejudicando as atividades do Circo.

Uma última questão levantada é em relação à diferença entre a Escola de Circo e a escola formal. As respostas ressaltam que: a escola formal é mais burocrática, há uma hierarquia, a metodologia de ensino é menos flexível. Na E.C. há mais atividades culturais, é uma educação que ensina também valores humanos, é um local de novas amizades. Dentre estas questões pode ser observado na fala de uma entrevistada:

Lá ele aprende as atividades, participa, gosta, tem os coleginhas dele né? E a formal não, já é mais uma responsabilidade um futuro a caminho da faculdade né? Então, lá no circo há diferença da formal por isso (Julia, 42 anos, mãe do Gustavo de 15 anos – evasão).

Além destas questões duas entrevistadas, do grupo que estão freqüentando, acrescentam que a diferença é na metodologia de ensino:

a escola formal a criança ta lá no colégio estudando, vendo os professor gritar com eles, às vezes um tá fazendo bagunça eles não tá aprendendo nada. A Escola de Circo, acho assim, que lá é pouco aluno e eles aprendem mais, na sala de aula eles aprende menos porque os outros não deixa a criança, porque eu já fui lá nas reuniões, eu já fui no colégio, e já vi, pra mim essa é a grande diferença (Julia, 37 anos, mãe da Ana de 13 anos)

Partes: 1, 2, 3, 4


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