Catálogo de Poemas



Partes: 1, 2, 3

Este e-book reúne poemas escritos entre 2002 e 2003. Foram anos marcados pela minha separação da Estelita que se confirmava, pela enfermidade da Nádia, mas também pela atenta e delicada presença de Josilene, com quem fazia terapia. Outros amigos importantes foram Osni, com quem conversei em momentos críticos, sempre buscando sua sabedoria. Nessa época conheci também Rosana, uma pessoa cuja importância futura eu não avaliava, e meu filho Gabriel tornava mais firme sua relação com a Ale. Como se pode ver meus melhores amigos são mulheres, talvez por um motivo simples que a Nádia salientou um dia: as mulheres conversam. São também mais informais e criativas, e agradeço a todas as que citei na forma desses poemas. Tive também amigos caros, como Mariano, Demian e Tiago, pessoas fortes, às vezes fortes demais para mim. Mas meus maiores amigos são meus filhos. Como um pai inveterado, construí uma concha com meus filhos, meus amigos, defendendo-me do mundo ou pelo menos dosando minha exposição a ele. Mais tarde surgiriam outras figuras muito queridas, mas estas ficaram. Estes poemas são assim extremamente pessoais e graças a isso tornaram-se, em geral, leves e até engraçados. Isso foi bom para uma pessoa que viveu tantos momentos deprimentes ao longo da vida. Agradeço a Ednilson Pedroso, ao Bruno e ao Lucas por digitarem e organizarem este livrinho, que pode ser passado adiante sem problema.

O anjo apoia a mão sobre o seu ombro esquerdo

Suas madeixas louras

caem sobre a gola da sua camisa

E seu olhar sereno olha adiante

Para onde você não pode olhar

Você pensa num banho quente e num café

Recomeça a fazer seus planos para a semana

Vai aos poucos relaxando o corpo

E pensa que a tormenta será uma memória perene

Mas suportável

Algo a ser ensinado

A ser devagar aprendido por você mesmo

Com um suspiro você se volta para o anjo

E ele felizmente não segura mais o seu ombro

Paulo

Se ele não houvesse andado comigo

Eu não saberia dizer o que te digo

Ainda que duvido ter compreendido

Tudo e bem

Ele não me ocultou nada

Mas nem sempre se vê e escuta

Mesmo quando se entrega todo

A um amor que todavia

É inexato

E então eu começo a sonhar

E nos melhores dias a crer

Pois se sente feliz quem tem fé

Se viu alguma coisa

E se não viu melhor ainda

Sempre se interpreta

Às vezes quando não se pressente

A presença dele em tudo em volta

Como antes

Melhor não dar adeus

Esperar que outra vez retorne

E ande conosco

Quando o amor está distante

Ainda a esperança deve ser

Viva e inequívoca

Anna Luisa

Vamos nos encontrar de novo em abril

Quando já estiver longe o tórrido descanso

E também distante o pálido inverno

Vamos nos encontrar no meio de setembro

Quando tivermos corrigido as primeiras provas

Mas se não pudermos contar logo com as férias

Talvez tenhamos um tempo curto entre o oásis e o deserto

Talvez tenhamos um do outro uma imagem

Que não se destaca tão cedo como acalentada miragem

E eu te seja leve e apressado

Com mais mãos do que palavras

Com mais gentis bom-dias

Do que tantos livros para ler e nunca lidos

Quando você estiver no meio do corredor

Eu passarei discreto ao teu lado

Indicando com o dedo que o café

Já foi passado

De um poema de Heine

Eu e minha esposinha

Trouxemos para o mesmo lar

Nossos retratos de infância

Nossas receitas de pão

Nossa comemoração de natal

Trouxemos nossos poemas mais queridos

E nossa canção para acalentar as noites de inverno

Tudo trouxemos

Nossos planos para o longo futuro

Partes: 1, 2, 3

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