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A actividade turística em Portugal, apesar de constituir um fenómeno relativamente recente enquanto actividade económica organizada apresenta uma já considerável diversificação e segmentação, ainda que continue a assentar fortemente no chamado turismo balnear litoral ou turismo de sol e mar. Este é, de facto, o sector mais massificado, aquele que mais nacionais faz deslocar dentro do país e que maior número de estrangeiros atrai, sendo, portanto, o sector de mercado turístico de maior significado económico e de maior relevância geográfica, quer pela importância de que se reveste na mobilidade da população, quer pelo papel que desempenha na transformação dos espaços e da paisagem, quer, ainda, pelos impactes ambientais e sociais que gera (L. CUNHA, 1995).
Para além do turismo de sol e praia, outros sectores relativamente importantes parecem ser o termalismo, outrora de grande importância económica e geográfica e que hoje parece estar a ressurgir, ainda que com motivações e características diferentes das que assumiu no passado e o turismo religioso, nomeadamente para Fátima, que parece continuar a crescer em volume e significado.
Além destas, outras formas de turismo, como o turismo em espaço rural, o turismo cultural ou o turismo de eventos que, sobretudo a partir dos anos 80, começam timidamente a despontar, podem vir a ganhar, num futuro próximo, uma relevância económica e geográfica que ultrapasse o nível local e regional.
A par com a saturação da principal região turística do país – o Algarve – e com as deficientes condições de acolhimento de grande parte das regiões costeiras do Oeste que parecem não conseguir aproveitar os ensinamentos da má gestão do turismo algarvio, geram-se novas formas de procura turística que aproveitam também a tendência para o aumento do número de períodos de férias ainda que com a diminuição da sua duração (daí o slogan "faça férias repartidas") e o aumento das operações de curta distância e de tráfego interno, de forma a cativar os potenciais turistas nacionais ("vá para fora cá dentro"). Entre esses novos rumos das práticas turísticas estão o turismo cultural, o turismo de eventos ou de negócios, o turismo de saúde e repouso, o turismo itinerante e o conjunto de acções que se conhecem sob a designação de Turismo em Espaço Rural e outras formas com elas directamente relacionadas: turismo natureza, turismo aventura, turismo cinegético, etc.
Para estudar o turismo é necessário fazer uma avaliação dos valores das divisas entradas, do número de estrangeiros que passaram as fronteiras, do número de dormidas nos hotéis e pensões e da frequência dos parques de campismo e aldeias de férias e ainda, o conhecimento do comportamento dos visitantes, segundo as nacionalidades e a classe socio-económica. Por outro lado, implica também, o conhecimento da capacidade total de recepção dos hotéis e pensões, parques de campismo e formas complementares de alojamento. Raras vezes se conhece a duração média das estadas, em relação com as nacionalidades, as classes sociais e as formas de alojamento.
Será este o objectivo deste capitulo ao analisar a situação actual do turismo em Portugal segundo os diversos indicadores supracitados.
A informação fornecida pelas Estatísticas do Turismo permite conhecer algumas das características apresentadas pela entrada de turistas estrangeiros em Portugal. Assim, é notável o acréscimo entre 1984 e 1999 (Figura 5). Contudo este crescimento apresentou ritmos diversos ao longo do período considerado e uma evolução diferente. Notando-se um acréscimo bastante acentuado até 1987, ao que se segue um período de estagnação até 1990. A partir desta data o número de visitantes entrados nas fronteiras não tem parado de aumentar. Há a assinalar, contudo, o pequeno decréscimo de turistas registado em 1993, embora o volume total de visitantes tenha mantido um ritmo crescente.
Figura 5 – Visitantes entrados nas fronteiras em 1984-99. Fonte: Estatísticas do Turismo.
Em 1999 o número de chegadas de turistas representava cerca de 43% do total de chegadas de visitantes e o conjunto de excursionistas cerca de 57% desse total. Notamos assim que o maior número de entradas é de excursionistas, o que se deve ao comportamento do mercado espanhol (Figura 6).
5.1.1 – PerFIL DOS TURISTAS ESTRANGEIROS EM PORTUGAL
As características mais relevantes dos visitantes estrangeiros podem resumir-se da forma seguinte.
O excursionismo é fundamentalmente produzido pela vizinha Espanha, cujos visitantes não permanecem em Portugal, no mínimo, uma noite. Este mercado tem representado ao longo dos últimos anos valores entre 97% e 99% do total dos excursionistas que visitam Portugal.
Figura 6 – Entradas gerais de visitantes em 1998, segundo o país de nacionalidade. Fonte: Estatísticas do Turismo.
Os principais motivos da deslocação a Portugal centram-se nas compras, sendo os maiores gastos realizados na alimentação nos restaurantes e similares, seguindo-se as aquisições de artigos domésticos e de decoração.
O gasto médio dos excursionistas por dia foi de 9.800 escudos (em 1998), contra 12.400 escudos em 1990.
Turistas
As profissões mais representativas dos turistas que chegam a Portugal centram-se na grande maioria nos especialistas das profissões intelectuais e científicas (34,5%) em 1997 e 33,8% em 1998) seguindo-se os técnicos e profissionais de nível intermédio e só depois os quadros superiores da Administração Pública, dirigentes e quadros superiores das empresas.
Faz-se ainda referência à classe dos reformados, cujo peso entre os não activos é relativamente elevado, no que se refere aos americanos (28,4% em 1998), ingleses (24,6% no mesmo ano) e alemães (21,0% também em 1998). Estes valores são relativamente mais elevados dos que foram obtidos em 1997.
Em 1998, a maioria dos turistas fez a marcação da sua deslocação a Portugal com uma antecedência de um a três meses, tendo vindo a diminuir ao longo dos anos a frequência com que este período é utilizado para a marcação da visita. Pelo contrário, as marcações feitas com menos de um mês de antecedência, têm vindo a aumentar para a generalidade dos mercados emissores de turistas para Portugal.
Quanto ao principal motivo de viagem tem sido, entre 1990 e 1998, a passagem de férias (90,7% em 1990 e 87,1% em 1998), vindo as actividades profissionais e a participação em congressos, bem como a deslocação em negócios, nas posições imediatas. Refira-se que a actividade profissional e os congressos têm ao longo dos anos, aumentado a respectiva quota entre os motivos da viagem.
O avião é o principal meio de transporte dos turistas que visitam o país (28,9% nas carreiras regulares e 42,6% em voos charter em 1998), seguindo--se a deslocação em automóvel (21,7% em 1998) e a grande distância, o autocarros (3,2% no mesmo ano).
Constata-se que em 1998 cerca de 67,3% dos turistas estrangeiros que visitaram Portugal tiveram a intervenção de uma Agência de Viagens, sendo os nacionais do Reino Unido a requisitarem mais os seus serviços (82,5%), seguindo-se a Alemanha (76,3%) e os EUA (74,9%). Os que menos utilizaram os serviços das Agências de Viagens para se deslocarem a Portugal, foram os espanhóis (35,4%) e os franceses (47,2%). Por outro lado, os serviços mais requisitados no conjunto dos mercados turísticos externos às Agências de Viagens em 1998, foram os transportes (40,5%), com destaque para a Holanda (57,7%) e o Reino Unido (43,7%). A viagem com tudo incluído é mais adquirida pelos americanos. O gasto médio por turistas e por dia, atingiu em 1998 o valor de 15.300 escudos, contra 13.800 escudos em 1997 e 10.100 escudos em 1990.
GASTOS DOS ESTRANGEIROS NÃO RESIDENTES EM PORTUGAL
Em 1998, os gastos dos excursionistas, atingiram cerca de 149 milhões de contos, atribuídos essencialmente ao mercado espanhol. Resultados idênticos em anos anteriores foram os seguintes: em 1990 cerca de 126,5 milhões de contos; 1992 perto de 138,5 milhões de contos; 1994 aproximadamente 114 milhões de contos; 1997 um pouco mais de 130 milhões.
Relativamente aos turistas, este tipo de visitantes, gastou em Portugal, globalmente e em 1998, mais de 1.230,0 milhões de contos, tendo este gasto vindo a crescer desde 1990: 602 milhões em 1990; 816 milhões em 1992; 859 milhões em 1994; 961 milhões em 1997.
Tendo como referência o ano de 1998, o segundo mercado fornecedor de turistas (Reino Unido) gastou em Portugal cerca de 295,5 milhões de contos, seguindo-se a Espanha (primeiro mercado de turistas) com um gasto de cerca de 219 milhões de contos e a Alemanha, com um montante que atingiu os 157 milhões de contos.
O conjunto dos gastos dos turistas e dos excursionistas, elevaram- -se em 1998 a cerca de 1.379 milhões de contos, quando em anos anteriores, aqueles valores globais tinham sido: em 1990 mais de 728,4 milhões de contos; 1992 cerca de 954,4 milhões de contos; 1994 mais de 972,6 milhões de contos; 1997 cerca de 1.090, 8 milhões de contos.
Faça-se notar que a Espanha é o primeiro mercado a contribuir para as receitas cambiais, a título de turismo, com um montante em 1998 que ronda os 367,9 milhões de contos (cerca de 27% dos gastos totais dos estrangeiros).
O tipo de gastos mais frequente relativamente a turistas centra-se no alojamento (36% dos gastos totais em 1998) seguindo-se as despesas com a aquisição de bens e serviços diversos, onde estão incluídas as despesas com a alimentação em restaurantes e similares. A autonomização deste último serviço, aponta para um gasto total de 288,8 milhões de contos em 1998, na rubrica geral de bens em serviços diversos, que atinge o montante de 332 milhões de contos.
A distribuição dos gastos do conjunto de turistas e excursionistas, realizados nas diferentes regiões do país (Áreas Turístico-Promocionais) põe em evidência que é o Algarve a região que provoca maior volume de gastos dos estrangeiros (é a região de maior oferta turística). Neste termos, em 1998, recebeu 545,3 milhões de contos (39,5% do total das despesas no país). As regiões que estão nas posições seguintes, por ordem decrescente de volumes de gastos turísticos em 1998 são: Costa de Lisboa (321,2 milhões de contos), Costa Verde (180,1 milhões de contos), Costa de Prata (106,7 milhões de contos), Planícies (84,1 milhões de contos), Região Autónoma da Madeira (64,7 milhões de contos), Montanhas (46,7 milhões de contos) e Região Autónoma dos Açores (30,2 milhões de contos).
No que se refere às capitações nas diferentes regiões (relação entre gastos totais e turistas/dia) os valores obtidos para 1998, também por ordem decrescente, foram: Costa de Lisboa (20,2 milhares de escudos); Planícies (17,0 milhares de escudos; R. A. Açores (16,4 milhares de escudos), Costa Verde (16,3 milhares de escudos), Região Autónoma da Madeira (15,2 milhares de escudos), Costa de Prata (14,8 milhares de escudos), Montanhas (14,6 milhares de escudos) e Algarve (13,6 milhares de escudos).
Chama-se a atenção para o facto dos valores obtidos pela D.G.T. não deverem ser confundidos com os valores divulgados pelo Banco de Portugal para as receitas atribuídas ao turismo, porquanto assentam em metodologias diferentes.
5.1.2 – Perfil dos turistas nacionais em Portugal
Cerca de 5.485 milhares de portugueses, maiores de 15 anos e residentes no Continente, gozaram férias em 1999, ou seja 71% da população nas condições anteriormente apontadas (Figura 7). Em 1998, esta percentagem não ia além dos 63%, tendo assim havido um aumento de 685 milhares de portugueses a gozarem férias.
Também as férias gozadas fora da residência habitual tiveram um aumento significativo ou seja, passaram de 3.198 milhares de indivíduos em 1998 para 3.762, a que corresponde um aumento de cerca de 18%. Assim, tendo por base o total da população, 49% gozaram as suas férias fora da residência habitual em 1999, enquanto que em 1998 aquela percentagem se situava nos 42%.
Figura 7 – Percentagem de portugueses que gozou férias fora da sua residência habitual (1980-1999). Fonte: Estatísticas do Turismo.
Nas suas preferências pelos locais de férias, o estrangeiro alcançou a melhor posição alguma vez registada, com um total de 823 milhares de deslocações para férias em 1999 contra 528 milhares em 1998 (mais 295 milhares de indivíduos, ou seja, mais 56%).
Excluindo o Algarve, a região de residência onde não houve aumento de gozo de férias da sua população, todas as restantes regiões assistiram a aumentos significativos: a Grande Lisboa passou de 70% dos seus residentes a terem gozado férias em 1998, para 89% em 1999; o Grande Porto passou de 63% para 80%; o Litoral passou de 65% para 69%; o Interior Norte de 59% para 64%; o Interior Sul de 40% para 50%; e por último o Algarve que viu baixar a taxa de gozo de férias da sua população de 55% para 40%.
Quanto aos estratos sócio-económicos da população portuguesa, o gozo de férias dá-se com maior intensidade nas classes mais elevadas regredindo para as mais baixas, embora em todas elas se tenha observado aumento em 1999 relativamente ao ano anterior: Alta e Média Alta, de 89% para 96%; Média Superior de 76% para 87%, Média Inferior de 66% para 75; e Baixa de 32% para 38%.
Os principais motivos que levaram a população portuguesa a ter gozado férias fora da residência habitual em 1999 foram as seguintes: descanso/recuperação 79%; actividades de praia 37%; paisagem 25%; divertimento /espectáculos 23%; encontro com pessoas de outras regiões 22%; visitas a Museus/Monumentos 9%.
Em relação ao total de portugueses que gozaram férias fora da residência habitual, cerca de 22% fizeram-no no estrangeiro, tendo preferido, na Europa, a Espanha (53%), França (11%) e Inglaterra (5%). Os países de África foram os que maior peso tiveram fora do continente europeu (8%), seguindo-se o Brasil (7%), os EUA (4%) e o vasto conjunto de outros da América (6%).
Em Portugal, os principais destinos escolhidos em 1999, para férias passadas fora da residência habitual, foram o Algarve (28%), Beiras (17%), Minho (11%), Costa Azul (10%), Porto (10%), Leiria/Fátima (8%) e Alentejo (8%).
Os meses de verão continuam a ser os da preferência dos portugueses para o gozo de férias. Assim, independentemente das férias terem sido gozadas na residência habitual ou fora dela, o mês de ponta foi o Agosto, com 61% das férias aqui concentradas, seguindo-se o Julho, com 28% e o Setembro, com 18%. Assinale-se o mês de Dezembro com um elevado índice de gozo de férias, sendo equivalente ao que se verificou em Junho (7%).
Estes valores não diferem muito dos obtidos para a população que gozou férias fora da residência habitual.
Cerca de 25% da população teve condicionalismos na escolha dos meses das férias. Para estes, há uma tendência na preferência para gozarem as férias também concentradas nos meses de verão: Agosto com 36%; Julho com 39%; Setembro com 21%.
Relativamente aos condicionalismos, os de maior importância foram o escalonamento de serviço no emprego (35%), os negócios e afazeres profissionais (34%) e as férias escolares (23%).
Para as férias gozadas fora da residência habitual, a viatura própria foi o meio de transporte mais utilizado (61%) seguindo-se a viatura de familiares ou amigos (21%), o avião (13%) e o autocarro (11%). O caminho de ferro é representado somente por 4% das deslocações para o local de férias.
O alojamento mais utilizado para as férias dos portugueses quando estas são gozadas fora da residência habitual continua a ser a casa de familiares ou amigos (39%), seguindo-se o alojamento na hotelaria (26%), a casa alugada fora de empreendimento turístico (16%), o campismo (12%) e as casas alugadas em empreendimentos turísticos (6%).
Para a preparação das suas férias em 1999, os portugueses recorreram com maior frequência aos serviços das Agências de Viagens. Assim, cerca de 616 milhares de portugueses que gozaram as suas férias fora da residência habitual, solicitaram serviços às Agências de Viagens. Aquele número, em relação ao total dos que as tiveram fora de casa, representa 16% desse total.
Os serviços mais requeridos às Agências de Viagens em 1999 foram: a preparação total da viagem (56%); reserva de alojamento (29%), reserva de transporte (25%) e informações gerais (22%).
As principais vantagens apontadas na utilização dos serviços das agências de viagens foram a comodidade (68%), a poupança de tempo (39%), o s preços mais favoráveis (20% ) e a garantia de qualidade (14%).
Relativamente ao fraccionamento ou não das férias para portugueses que as gozaram fora da residência habitual, 68% fizeram-nas de uma só vez, enquanto que 27% repartiram-nas em dois períodos, 4% gozaram-nas por três vezes e 1% por quatro vezes.
Cerca de 32% (2.442 milhares) da população portuguesa maior de 15 anos e residente no Continente fizeram fins-de-semana fora da residência habitual, com uma maior frequência a ter o intervalo de um mês (24%), sendo de 15 dias o intervalo daquele gozo a estar na posição imediata (20%). Trimestralmente 18% dos portugueses gozam fins-de-semana, sendo somente de 8% os que os gozam na totalidade, ou seja, todos os fins-de-semana.
Também, no que se refere ao aproveitamento das chamadas "pontes", 24% da população usufrui deste calendário, tendo este valor sido superior ao observado em 1998 (15%).
Para a generalidade dos portuguesa, o ambiente preferido para o gozo de férias é o de praia (48%) seguido do ambiente de campo (33%), e os ambientes de montanha e de cidade (ambos com 7%).
Um pouco mais de 56% da população portuguesa recebeu subsídio de férias em 1999. Dos que gozaram as suas férias fora da residência habitual, cerca de 64% receberam aquele subsídio neste último ano.
Em termos gerais, o aumento do número de portugueses maiores de 15 anos e a residir no Continente que gozaram férias em 1999 relativamente ao ano anterior é reflectido pelos seguintes indicadores entre outros:
5.1.3 – Quotas de mercado
Evolução do turismo internacional
A nível mundial, no ano de 1999 ter-se-á atingido um total de chegadas de turistas na ordem dos 657 milhões, o que representa um aumento de 3,2% em relação ao ano anterior. Também as receitas do turismo, a nível mundial, teriam crescido com o mesmo ritmo das chegadas entre 1998 e 1999, atingindo neste último ano um montante de 455 mil milhões de dólares dos Estado Unidos.
A Europa, só com valores para 1998, apresenta uma variação relativamente a 1997 na ordem dos 3,8%. A quota do turismo mundial neste Continente foi, em 1998, de cerca de 55%, quando em 1989 era de cerca de 62%. Nos últimos anos tem aumentado muito as quotas dos destinos da Ásia Oriental e Pacífico e ainda os destinos do Médio Oriente e de África. As receitas atribuídas ao turismo na Europa atingiram, em 1998, o valor 228,9 mil milhões de dólares americanos, ou seja, cerca de 52% das transacções mundiais a título de turismo.
Portugal, em indicadores estatísticos gerais, está na 15ª posição, a nível mundial, quanto a chegadas de turistas (11,6 milhões em 1999) quando em 1995 estava na 17ª posição do ranking mundial, tendo já estado na 14ª posição em 1990. Quanto a receitas geradas pela actividade turística, Portugal contabilizou 5.169 milhões de dólares americanos, estando na 24ª posição mundial, enquanto que em 1995 estava na 22ª posição e em 1990 na 19ª.
Devem-se estas situações ao facto de terem melhorado muito os indicadores relativos a alguns mercados do leste europeu, que na década de 90 tiveram grande abertura aos mercados turísticos ocidentais.
O turismo em Portugal, tendo como horizonte os planos mundial, europeu e o conjunto dos países da Europa do Sul, teve em 1998 e em termos de turistas, as seguintes quotas: 1,8% do turismo mundial; 3,0% do turismo europeu e 9,9% do turismo da Europa do Sul.
Em 1980, aquelas posições eram: 0,9% do turismo mundial; 1,5% do turismo europeu; 4,5 do turismo do Sul da Europa.
No sul da Europa, Portugal está na quarta posição como país receptor de turistas (11,2 milhões) estando à sua frente, nesta zona, a França (70 milhões) a Espanha (47,7 milhões) e a Itália (34,8 milhões).
No que concerne a receitas atribuídas ao turismo, Portugal posiciona-se no 4.º lugar entre os destinos da Europa do Sul, estando à sua frente, para além dos destinos já indicados para as chegadas de turistas, a Turquia.
Conforme referimos, a estatística das entradas de turistas em Portugal indica um nível de crescimento variável, mas sustentado. Da análise da Figura 6, verifica-se o predomínio da Espanha como país emissor, bem longe dos outros países emissores.
Mercados emissores de turismo para Portugal
Figura 8 – Entradas gerais de visitantes estrangeiros (jan-jul 2000). Fonte:INE
Relativamente ao modo de transporte utilizado pelos visitantes estrangeiros salienta-se o terrestre, essencialmente o rodoviário (Figura 8).
Figura 9 – Dormidas 1984-95. Fonte: Estatísticas do Turismo.
Em relação ao número de dormidas o seu valor anda associado ao volume de turistas entrados e não ao volume de excursionistas, pois estes, por definição não permanecem mais de 24 horas num determinado local e por isso não ocupam qualquer unidade hoteleira, sendo na sua maioria visitantes oriundos de Espanha que devido à facilidade de deslocação, visitam um determinado local e tornam ao lugar de origem no mesmo dia. Assim ao comparar na Figura 5 os turistas entrados com a Figura 9, nota-se um certo paralelismo.
Figura 10 – Taxas de ocupação por principais regiões (%), de jan. a set. 2000. Fonte DGT.
No que respeita à taxa de ocupação por quarto e por cama, os valores são mais elevados na cidade de Lisboa e no Algarve (Figura 10).
Figura 11 – Dormidas nos estabelecimentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos turísticos, por países de residência (valores provisórios para o ano 2000). Fonte DGT.
Os principais mercados geradores de turismo para Portugal foram, além da vizinha Espanha, o Reino Unido, a Alemanha e a França.
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Figura 12 – Dormidas nos estabelecimentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos turísticos (valores provisórios para o ano 2000). Fonte DGT. |
O turismo receptivo depende, sobretudo do comportamento dos principais mercados geradores, que são, para Portugal, a Espanha (em termos de volume de entradas) e o Reino Unido (em termos de hóspedes nos meios de alojamento) – Figura 11.
A Espanha contribuiu em 1998 com 77% do total de entradas de turistas estrangeiros (contra 15% do Reino Unido), representando, no entanto, somente 5,4% do total de dormidas de estrangeiros (Figura 11). Trata-se, pois de um mercado basicamente constituído por excursionistas e por pequenas estadias.
Sendo evidente a maior contribuição da Espanha e do Reino Unido como principais mercados geradores, os esforços feitos no sentido de atenuar essa dependência têm alterado de forma significativa tal situação. Pois outros países têm contribuído fortemente, como seja a Alemanha, a Holanda, a França, a Itália, a Irlanda ou a Bélgica, chegando alguns países a duplicar e a triplicar a entrada de estrangeiros na ultima década.
ESPANHA
Portugal é o primeiro destino turístico dos espanhóis (76,5% do movimento geral de estrangeiros recebidos em 1998). O segundo destino dos espanhóis é a França, vindo a seguir, mas a grande distância, a Itália e Marrocos.
É também o primeiro mercado, em termos de gastos em Portugal, tendo atingido em 1998 um montante global (turistas e excursionistas) de 367,9 milhões de contos ou seja, cerca de 27% das receitas totais provocadas pelo turismo no país. O gasto médio diário dos turistas espanhóis foi, neste último ano de 12,4 contos e o dos excursionistas de 9,8 contos.
Os espanhóis, procuram, em Portugal, essencialmente a região de Lisboa e Vale do Tejo, que absorveu cerca de 58% das suas dormidas na hotelaria do país, estando a seguir o Norte (12,0%) e o Algarve (11,1%).
A sazonalidade deste mercado é muito acentuada, havendo, no entanto, uma tendência para uma certa atenuação ao longo dos últimos anos.
REINO UNIDO
Portugal, em 1998, como mercado receptor é, na Europa, um dos principais destinos dos ingleses, com 1,7 milhões de turistas daquela origem (4,2% da sua quota). Contudo, a França absorve 28,9% das deslocações turísticas dos nacionais do Reino Unido, estando nas posições imediatas a Espanha com 26,6%, a Itália com 4,8% e a Grécia com 4,7%.
O gasto médio diário dos turistas ingleses, foi em 1998 de 17,4 contos, quando em 1990 só atingiu os 9,8 contos.
As dormidas na hotelaria de turistas provenientes do Reino Unido são, na sua grande maioria, registadas no Algarve (72% do total deste mercado em Portugal), vindo a seguir a Região Autónoma da Madeira (17,2%). Não tem grande expressão as dormidas de britânicos na hotelaria portuguesa no resto do território.
O tipo de alojamento mais utilizado por este mercado em 1998, foram os apartamentos turísticos (32,2%), seguindo-se os hotéis de 4 estrelas (18,5) os hotéis-apartamentos (17,8%) e os hotéis de 5 estrelas (9,9%).
O peso da via aérea nas chegadas de turistas britânicos a Portugal representou, em 1998, mais de 89% do movimento geral deste mercado. A via aérea tem vindo, ao longo dos anos, a adquirir maior quota relativamente aos ingleses.
ALEMANHA
Em termos de turistas, o mercado alemão é o que mais tem progredido para Portugal, entre 1985 e 1997 (variação média anual de 7,9 %). Porém, em 1998 verificou-se uma acentuada queda em relação ao ano anterior (-6,5%), colocando o movimento de turistas provenientes deste mercado ao nível do movimento de 1995. Em 1998 foram registados 859,4 milhares de turistas alemães, contra 919,5 milhares no ano anterior.
O gasto médio diário dos turistas alemães também sofreu uma quebra acentuada de 1997 para 1998 (respectivamente 16,0 milhares de escudos e 14,1 milhares de escudos).
No cômputo geral, o mercado alemão gastou em Portugal e em 1998 cerca de 157,3 milhões de contos, quando no ano anterior aquele montante já tinha atingido os 188,1 milhões de contos.
As dormidas registadas na hotelaria por este mercado, tendo, em 1998, atingido um volume geral no país de 3.806,5 milhões, foram maioritariamente efectuadas no Algarve (58,0%) seguindo-se a Região Autónoma da Madeira (24,1%), a Região de Lisboa e Vale do Tejo (12,4%).
Os hotéis de 4 estrelas são os mais utilizados pelos alemães na sua permanência em Portugal, seguindo-se-lhes os hotéis-apartamentos (18,6%) e os apartamentos turísticos (11,6%). Nos últimos anos, este tipo de alojamento tem vindo a assistir a uma progressão na sua utilização por parte deste mercado.
Excluindo os meses de Janeiro, Fevereiro, Março, Novembro e Dezembro, os restantes meses têm uma frequência muito regular nas dormidas na hotelaria, não havendo nenhum mês que provoque um "pico" sazonal evidente.
A via aérea é a que maior frequência dá às entradas de turistas provenientes da Alemanha, estando representada por cerca de dois terços dos movimentos de turistas para o país.
FRANÇA
Cerca de 22 milhões de franceses chegaram aos restantes países do mundo como turistas, dos quais Portugal recebeu perto 674 milhares. Os principais destinos dos franceses foram a Espanha (15,6% do total mundial), Itália (10,2%) e Portugal (3,1%).
O turistas franceses que visitam Portugal são essencialmente especialistas das profissões intelectuais e científicas, vindo a seguir os técnicos e profissionais de nível intermédio.
O gasto médio diário do turista francês foi, em 1998, de 10.700$00, ascendendo o montante total dos seus gastos em Portugal a 88,3 milhões de contos.
Os franceses, juntamente com os espanhóis não recorrem com muita frequência aos serviços das Agências de Viagens para as deslocações a Portugal, sendo o serviço mais solicitado, o transporte (34,8%) e a viagem com pequeno almoço (34,2%).
A região de Lisboa e Vale do Tejo recebe cerca de 50% das dormidas de franceses na hotelaria, vindo na posição imediata a Região Autónoma da Madeira (16,9%) e só depois o Algarve (11,9%) muito perto da Região Norte (11,3%).
Os Hotéis de quatro estrelas são os mais procurados em Portugal, seguindo-se os hotéis-apartamentos e as pensões.
A sazonalidade dos franceses que dormem na hotelaria portuguesa é muito acentuada, tendo atingido em Agosto de 1998 os 16,8%, enquanto no mesmo ano o mês de Janeiro só atingiu 3,1%.
A via aérea regista cerca de 41% do total de chegadas de turistas a Portugal e 1998, quando em 1990 aquele valor era de 32,2% . É assim evidente que a via terrestre é a que maior acesso dá aos turistas com origem em França.
HOLANDA
Os turistas holandeses têm por principal destino a França (8.845 milhares, ou seja cerca de 37% dos seus movimentos a nível mundial).
A Espanha é o segundo destino dos holandeses (2.480 milhares, ou 10,4% dos movimentos mundiais).
Portugal só tem uma quota de 1,8% dos movimentos mundiais de turistas holandeses, que no total ascenderam a cerca de 23,8 milhões.
O gasto médio dos holandeses em Portugal foi de 13.300$00 em 1998, quando em 1990 era somente de 7.800$00. Os gastos globais atingiram naquele último ano o montante de 89,7 milhões de contos, ascendendo as dormidas de holandeses em todos os meios de alojamento em Portugal a 6.743 milhares.
A região em Portugal mais procurada por este mercado é o Algarve que absorve 72% das suas dormidas na hotelaria, sendo esta quota das mais baixas nesta região desde 1990, pois em 1992 chegou a atingir os 78,4% e no ano anterior a este 76,7%. A segunda região mais procurada é Lisboa e Vale do Tejo (12,9% em 1998) e a seguir a Madeira (9,3%) não tendo expressão as dormidas nas restantes regiões do país.
Os apartamentos turísticos, em 1998, embora seja visível, não é das mais acentuadas, pois estende-se desde 3,6% em Dezembro a 12,7 em Agosto.
A entrada de turistas holandeses é essencialmente pela via área, tendo sido cerca de 78% do total das entradas de turistas desta nacionalidade.
ITÁLIA
Sendo a Itália o sexto mercado emissor de turistas para Portugal, foram aqui recebidos cerca de 297,8 milhares durante 1998.
O principal destino dos italianos na Europa é a França (5.683 milhares ou 32,2% da quota mundial) estando a Espanha na posição imediata (12,6%).
Em Portugal, o primeiro destino deste mercado, expresso em dormidas na hotelaria é Lisboa e Vale do Tejo (62,6% em 1998) seguindo-se o Algarve (12,8%) e o Norte do país (10,5%), sendo os hotéis de quatro estrelas os mais frequentados (26,3%) bem como os de cinco estrelas (10,5%).
A sazonalidade é muito acentuada, atingindo o mês de Agosto e ao longo dos últimos anos, valores muito elevados (30,8% em 1991, 27,9% em 1996 e 23,9% em 1998).
O acesso a Portugal pela via aérea representou em 1998 cerca de 65% do movimento geral deste mercado.
E.U.A.
O número total de turistas americanos em 1998, rondou os 273,5 milhares, quando no ano anterior era de 251,7milhares.
Os destinos europeus mais procurados por este mercado é a Itália, que regista cerca de 3.074 milhares de turistas provenientes deste mercado emissor, seguindo-se a França com 2.640 milhares e a Espanha com 1.020 milhares.
O gasto médio diário dos americanos em Portugal em 1998 foi o mais elevado (23.800$00), tendo os gastos totais atingido os 45,5 milhões de contos.
No mesmo ano, as dormidas em todos os meios de alojamento de americanos rondava os 1.910 milhares, enquanto as dormidas na hotelaria não iam além de 646,7 milhares (pouco mais de um terço daquelas).
Lisboa e Vale do Tejo é a região onde se registam os maiores volumes de dormidas de americanos na hotelaria (64% em 1998 – valor mais elevado – e 54,9% em 1991 – valor mais baixo). O Algarve está na posição seguinte (16,1% em 1998).
Os hotéis de quatro e cinco estrelas são os mais procurados, atingindo, no seu conjunto, 58,1% no último ano.
O mês de Agosto não representa o pico na distribuição sazonal das dormidas deste mercado, pois oscila entre 6,3% em 1994 e 7,9% em 1990, enquanto que em 1998 ficou nos 7,2%.
O avião é o meio de transporte mais utilizado pelos americanos que atingiram os 77,3% em 1998 e no ano anterior, os 78,1%.
Notando-se assim, que a maior parte das entradas de turistas em Portugal em 1998, provinham de países da União Europeia.
As entradas de turistas continuam a evidenciar um certo índice de sazonalidade, pois a Figura 13 mostra que o seu ponto mais alto tem lugar de Julho a Setembro, período durante o qual, em 1995, ocorreram 37% do total de entradas.
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Figura 13 – Estrangeiros entrados nas fronteiras por meses do ano (1995). Fonte: Estatísticas do Turismo. |
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Figura 14 – Dormidas por tipo de alojamento (1995). Fonte: Estatísticas do Turismo. |
No entanto, esta situação tem vindo a revelar uma certa melhoria desde 1989, com 43% de entradas para o mesmo período. Em relação ao mercado interno, tem-se verificado o mesmo índice de sazonalidade. É nos meses de Julho a Setembro que se registam os maiores aumentos nas dormidas nacionais, bem como no mês de Março, provavelmente devido às férias da Páscoa.
Comparando as dormidas por tipo de alojamento com a nacionalidade dos utentes (Figura 14), verifica-se um padrão de utilização dependente das condições socio-económicas. Assim, os portugueses utilizam com menor frequência a hotelaria tradicional, onde a maior fatia é representada pelas dormidas de estrangeiros, utilizando mais, devido aos fracos recursos económicos, os parques de campismo e as colónias de férias, continuando a ser, assim, o tipo de turista com um nível económico médio a elevado, a procurar Portugal como país de destino turístico, embora haja de ter em conta as diferenças cambiais e do nível de vida que não é uniforme, estando Portugal muito abaixo da média dos países emissores dos principais fluxos turísticos.
Em 1995, as dormidas de nacionais representaram cerca de 27% do total de dormidas, na sua maioria na hotelaria tradicional (54%), embora os parques de campismo não fiquem muito atrás, pois detinham 40% das dormidas (Figura 15). No que respeita às dormidas no parque hoteleiro, a sua maioria foi efectuada em hotéis e pensões (na sua maioria de 3 estrelas), havendo outras formas, ainda menos implantadas, mas já com certa importância, como os hotéis-apartamentos e os apartamentos turísticos.
Figura 15 – (a): Dormidas dos portugueses por tipo alojamento (1995); (b): Dormidas dos Portugueses por tipo de estabelecimento, na hotelaria tradicional (1995). Fonte: Estatísticas do Turismo.
A permanência média geral de turistas estrangeiros tem vindo a baixar progressivamente, atingindo 7,5 dias em 1991 (Figura 16). Sendo o reflexo da diferença de ritmo de crescimento verificado entre a entrada de estrangeiros e aquele operado nas dormidas.
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Figura 16 – Permanência média dos turistas estrangeiros (1975-91). Fonte: Estatísticas do Turismo. |
Para efeitos promocionais e estatísticos, Portugal foi dividido em nove grandes destinos ou Áreas Turístico-Promocionais, o Algarve tem ocupado e mantido com largo destaque o primeiro lugar, quer em termos de procura como de oferta turísticas. No que respeita às outras áreas existe um certo equilíbrio entre o nível da procura e o nível da oferta.
O domínio do Algarve na procura turística é, em parte, função da duração média da estada dos visitantes estrangeiros, a qual é de cerca de dez a catorze noites. Em Lisboa, esta duração média é de três a quatro noites, sendo esta cidade um destino privilegiado de viagens de negócios.
A capacidade de alojamento tem aumentado gradual e significativamente (Figura 17). Em 1995 é de realçar a capacidade de oferta dos hotéis de 3 e 4 estrelas, em conformidade com o que se disse atrás, relacionado com a procura turística desta modalidade de alojamento (Figuras 18 a 20). Todavia, ainda existem muitas camas que são utilizadas ilegalmente, sobretudo no Algarve.
Figura 17 – Capacidade de Alojamento em 1984-95, centenas de estabelecimentos e milhares de Camas. Fonte: Estatísticas do Turismo.
No que respeita à capacidade de alojamento, ou seja à oferta turística, o seu ritmo de crescimento tem-se vindo a atenuar (Figura 17), pois devido à distribuição dos fluxos turísticos, à menor permanência média no país, à diminuição do poder económico e ao alojamento paralelo, o mercado começa a ficar saturado. Embora haja grandes assimetrias neste domínio.
Figura 18 – Número de estabelecimentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos turísticos, por nuts II, em 31/07/1999. Fonte: Estatísticas do Turismo.
Figura 19 – Distribuição da capacidade de alojamento nos estabelecimentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos turísticos, por nuts ii (em camas), em 31/07/1999. Fonte: Estatísticas do Turismo.
Figura 20 – Distribuição do pessoal ao serviço nos estabelecimentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos turísticos, por nuts ii em 31/7/1999. Fonte: Estatísticas do Turismo.
Figura 21 – Oferta Hoteleira (1991). Fonte: Estatísticas do Turismo.
Figura 22 – Procura Hoteleira (1991). Fonte: Estatísticas do Turismo.
Apesar das grandes flutuações cambiais e económicas verificadas no período 1988-95, as receitas turísticas sofreram alterações surpreendentemente pequenas, mantendo o seu ritmo crescente, com um saldo nitidamente positivo de vários milhões de contos (Figura 23).
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Figura 23 - Receitas e despesas cambiais do turismo (1988-95). Fonte: Estatísticas do Turismo. |
No entanto existem grandes assimetrias, que se tendem a agravar, a par de proble-mas de superlotação de que o Algarve é um exemplo, a par de uma total dependên-cia do volúvel turismo, actividade económica sem-pre contingente e muito sem-sível às crises econó-micas ou a mudanças de moda.
Mesmo no Algarve, a Serra de Monchique continua esquecida, pois basta afastar uma dezena de Km para o interior, para logo desaparecer a presença maciça das construções e dos empreendimentos turísticos nascentes por todo o lado, como cogumelos.
Para resolver estes problemas tem-se criado outras alternativas como sejam a valorização do património, o lançamento do turismo de habitação e o relançamento das termas.
O Alentejo continua quase virgem em matéria de turismo, com uma costa ora fragosa, ora arenosa, ainda pouco conhecida e desvendada. O ambiente é prioridade, embora a Câmara Municipal de Odemira esteja interessada em atrair os investidores, fá-lo com o maior cuidado e a maior severidade, para evitar o que aconteceu no Algarve. As preocupações postas na preservação da imagem parecem garantir que mesmo a promoção turística local será capaz de conservar a quase «virgindade da região». O que, a suceder, constituiria exemplo impar no nosso país.
5. Turismo no Interior
9. Principais temas tratados no âmbito do Turismo
9.1. Turismo e Qualidade
9.2. Turismo e Desenvolvimento Regional
9.3. Turismo e Ambiente
Aanálise dos espaços turísticos tem sido matéria relativamente pouco explorada nos estudos sobre turismo. Para ilustrar esse facto basta observar a escassez de tentativas de sistematização existentes na profusa bibliografia sobre o assunto. Na realidade, a atenção dos investigadores tem recaído preferencialmente sobre o acto turístico em si, mais do que sobre o seu enquadramento espacial (Figura 24).
Pensamos que uma explicação para este fenómeno seja o carácter dominantemente económico que enquadra a grande maioria dos enfoques turísticos, mais estranho é, no entanto, que mesmo os estudos feitos a partir do campo da Geografia (para quem o elemento espacial é vertente de primeira importância) também não lhe tenham dado o relevo que o domínio cientifico sugeriria. Assim os principais estudos recaem sobre assuntos relacionados com a situação da actividade turística em termos económicos e estratégias de desenvolvimento. Havendo, contudo, uma variada e profusa bibliografia no que concerne ao Turismo em Espaço Rural e às potencialidades e roteiros turísticos, destinados a cativar potenciais visitantes.
Figura 24 – Produção Cientifica no âmbito do turismo (1873-1996): temas abordados.
Os outros estudos de caracter espacial são mais raros, mas não perdem a sua importância. Nota-se que existe um certo paralelismo entre as modas turísticas e a bibliografia produzida, começando no termalismo e acabando na actual multifacetada procura de espaços turísticos.
Figura 25 – Produção Cientifica no âmbito do turismo (1873-1996): áreas abrangidas.
O termalismo é uma das formas mais antigas de turismo, tomado este num sentido lato. O território português não constitui excepção, até pela sua riqueza em nascentes termo-minerais, cujas águas são tidas desde há muito tempo como santas, e de grande valor curativo para muitas doenças, desde reumatismos e doenças da pele, das vias digestivas e respiratórias e várias outras. Muitas águas termais foram utilizadas no tempo dos romanos. São exemplo de Chaves, Vidago, Pedras Salgadas, Caldelas, Taipas, Águas de S. Vicente, Vizela, Caldas da Rainha, Lisboa.
Ao longo dos séculos da história portuguesa recorreu-se à terapia hidrotermal, mesmo entre personalidades da corte: em 1495 D. João II recorreu às águas das Caldas de Monchique; a rainha D. Leonor está na origem do desenvolvimento das Caldas da Rainha; em 1894, D. Amélia frequentou as termas de S. Pedro do Sul, que durante algum tempo foram conhecidas como Termas D. Amélia, etc. Foi, porém, nos meados do século XVIII que se viu despertar um interesse mais geral pelas termas. Este ganhou particular amplitude no decurso do século seguinte, principalmente na segunda metade, quando começam a ser exploradas com fins terapêuticos quase todas as nascentes actualmente utilizadas, após a construção de instalações minimamente suficientes, o que levou o Governo, em 1892, a expropriar as suas nascentes a favor do Estado, passando-as ao regime de concessão.
Uma simples análise da evolução do fenómeno através dos tempos dá-nos uma clara indicação sobre uma espécie de fluxo vital que, latente, faz sempre ressurgir as termas. Com efeito, no reduzido espaço de pouco mais de um século, as estâncias termais conheceram o período áureo das primeiras décadas do século, que no período entre-guerras, foram logo esquecidas com a vivência aligeirada e desportiva das praias e pelos avanços da quimioterapia; por seu turno, a voga dos areais irá prontamente sofrer um renovado assalto concorrencial, trazido agora pela reanimação hidrológica de pendor tradicionalista que a consciencialização ecológica dos nossos dias introduziu, pregando um retorno à natureza e assim um ressurgimento das termas.
Ramalho Ortigão (Banhos de Caldas e Águas Minerais, 1875), deixou-nos o testemunho da utilização das termas no início do último quartel do século XIX. "Dantes o costume em Portugal, nos meses de Verão, era tomar ares. Os citadinos com casa no campo, chegado o mês de Maio emigrava-se para a quinta. Depois começou a ir toda a gente para um canto qualquer, alugado. Primeiro tratou-se só de banhos de mar, mas a pouco e pouco a população sentiu-se cada vez mais agoniada e começaram a conhecer os benefícios da água mineral. A vida moderna faz doenças novas, que se encontram alivio no descanso e na distracção; distrair-se alguém em Lisboa de Abril a Outubro é difícil: as caldas conciliam tudo: mudanças de ares, exercício ameno, banhos, copinho, peregrinação, entretenimento, vida nova, passeios, picniques, etc.".
Na difusão da crenoterapia entre a população portuguesa interveio, certamente, o desenvolvimento dos transportes terrestres (quer pelo aparecimento das primeiras linhas do caminho de ferro, quer pelos arranjos e construção de estradas seguidas pelas diligências) e a expansão demográfica das principais cidades, além dos progressos lentos da quimioterapia. "A evolução fez com que (...) os portugueses fechem a porta de casa, metam a chave no bolso, e vão por aí fora com a sua família em caminho de ferro e em diligências, beber água daqui a cem léguas. As pessoas que para ali vão ou estão doentes, ou fazem como se o estivessem, uns tomam banho, outros de manhã bebem água e à noite chá, outros tomam banho de água quente. Os passeios e os picniques são o entretenimento."
As caldas surgem como um remédio para curar e evitar o envelhecimento, pois "... a velhice é uma enfermidade cutânea, a pele engelha, enruga, deslaça, perturba e altera em todas as suas funções os órgãos que enfeixa. Das rugas exteriores resulta o deperecimento interno."
Segundo o mesmo autor existiam na altura as seguintes Caldas e fontes de águas minerais:
Muitas termas continuavam a ser alcançadas por barco, como é o caso de Entre os Rios e Moledo. As mais acessíveis e as mais próximas dos principais centros urbanos e das áreas de maior densidade populacional são as que se desenvolvem mais depressa. No Norte salientam-se então "Vizela (2 hotéis); Caldas das Taipas (1 hotel moderno); Pedras Salgadas (1 hotel confortável; Vidago (o Grande Hotel de Vidago e outro mais pequeno), o estabelecimento termal funcionava de Maio a finais de Outubro e o Luso (2 hotéis médios)". Na Estremadura, as Caldas da Rainha continuavam a impor-se "havia dois hotéis, duas hospedarias, e durante a estação balnear quase todas as famílias recebem hospedes. (...) a clientela provinha não só de Lisboa como também de Espanha (à semelhança de certas termas de fronteira: Monção, Águas de Ourives, Monfortinho, Castelo de Vide). No Alentejo, Castelo de Vide era então o principal centro termal, atraindo clientela regional e da Extremadura espanhola. No Algarve, apenas as Caldas de Monchique dispunham de estabelecimentos termais decentes e até confortáveis; atraem grande número de banhistas da província, do Alentejo, da Andaluzia e de outras partes de Espanha, próximas do Guadiana; este rio e o mar facilitavam o acesso, através de Portimão, mesmo para os lisboetas"(C. CAVACO, 1979).
A viragem do século é por toda a Europa uma época de expansão do termalismo. Portugal acompanhou essa evolução, se bem que em termos mais modestos, em 1911 institucionaliza-se a actividade turística, com a criação da Repartição de Turismo do Ministério do Fomento, que a partir de 1968, se passa a designar Direcção Geral de Turismo (DGT), dando novo alento à promoção termal. As mais acessíveis tiveram novo impulso, enquanto que as mais afastadas continuaram quase por explorar. Algumas começaram a exportar água mineral, é o caso do Luso e da Curia e, consequentemente, a fazer concorrência à actividade que lhe deu origem. Salienta-se nesta época a grande frequência das termas do Geres e o elevado nível das instalações, apesar do relativo isolamento, bem como o inicio da expansão da Curia. Alguns centros termais começam a afirmar-se como lugares de veraneio: Entre os Rios, Caldas das Taipas, Luso e, sobretudo, Caldas da Rainha. Não são indiferentes a esta nova motivação os seus parques e matas (a do Bussaco, no caso do Luso) e a paisagem que os rodeia. Isto não significa retracção do interesse puramente termal que se manteve pelas décadas seguintes, com intensidades dependentes das dificuldades económicas e políticas do país, e mesmo de Espanha no caso de certas estâncias que polarizavam numerosa clientela deste país.
Na década de 30, o termalismo alcançou o seu período áureo, não se prolongando por muito mais, "em função dos progressos da quimioterapia e da afirmação de novas modas e lugares de tempos livres. Não deixaram também de referir a larga distribuição pelo país das águas minero-medicinais, com desenvolvimento da indústria de engarrafamento e as facilidades do seu transporte, asseguradas pela expansão da camionagem (termalismo ao domicilio)" (C. CAVACO, 1979).
Até ao boom eclodido no após II Guerra Mundial, os atractivos mais encorajadores das digressões turísticas radicaram, sobretudo, em aspectos ligados à natureza (clima, paisagem) e às tradições histórico-naturais (costumes, monumentos, museus).
Chegados aos nossos dias como decanas das estâncias turísticas portuguesas, as velhas termas irão despertar gradualmente duma intermitente letargia, favorecidas por um conjunto de circunstâncias abonatórias, onde floresce uma tendência internacionalmente generalizada para o seu reaproveitamento pela integração paulatina nos esquemas de saúde e segurança social.
Para Portugal, com o voltar das páginas da belle èpoque e anos 20, este terceiro fôlego aquista simboliza, de certo modo, o regresso às suas origens e sentido quatrocentistas, quando o remoto hospital das Caldas da Rainha, fundado por D. Leonor, se abalançou, pioneiro, na assistência termal.
Com efeito, o stress e a pressão do quotidiano urbano, os excessos medicamentosos, esse vago e inquieto mal-estar que se apoderou das sociedades industriais, correndo paralelos ao despertar ecológico dos anos 70, vão provocar uma renovada apetência pelo caracter terapêutico das termas, bálsamo natural e integrado para os padecimentos do corpo e do espirito.
Procurando adaptar-se, em equipamento e animação, aos requisitos modernos, as estâncias termais emergem duma obscura subalternidade a que a corrida às praias dos anos 50 e 60 as havia sujeitado.
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Figura 26 – Estâncias Termais. Fonte: http://www.dgturismo.pt/irt/irt.htm |
Nas figuras seguintes apresenta-se a evolução das dormidas nos estabelecimentos hoteleiros das termas.
Figura 27 – Dormidas nos Estabelecimentos Hoteleiros das Termas. Fonte: INE/DGT
Conforme se pode observar na figura anterior, em 1999, os estabelecimentos hoteleiros das Termas das Caldas da Rainha registaram o maior número de dormidas, logo seguidos pelos das Termas da Curia.
As Termas do Carvalhal e de S. Gemil apresentaram as maiores variações positivas no número de dormidas, com taxas que reflectem um crescimento médio anual, entre 1995 e 1999, de 59,5% e 42,2%, respectivamente.
Figura 28 – Dormidas Totais nos Estabelecimentos Hoteleiros das Termas. Fonte: INE/DGT
Figura 29 – Hóspedes nos Estabelecimentos Hoteleiros das Termas. Fonte: INE/DGT
No que diz respeito aos hóspedes nos estabelecimentos hoteleiros das Termas (Figuras 29 e 30), verifica-se que foi nas Termas de Chaves que se registou o maior número de hóspedes em 1999.
Figura 30 – Evolução dos Hóspedes nos Estabelecimentos Hoteleiros das Termas. Fonte: INE/DGT
Tendo em conta a variação média anual observada, constata-se que foi nas Termas de Caldelas que houve um maior incremento ao longo dos últimos 5 anos (53,6%).
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Figura 31 – Estada Média Anual nos Estabelecimentos Hoteleiros das Termas. Fonte: INE/DGT |
Da análise da figura anterior verifica-se que a estada média nos estabelecimentos hoteleiros das principais estâncias termais foi de 2,3 dias em 1999 (2,7 dias em 1998).
As estadas médias mais elevadas no estabelecimen-tos hoteleiros das Termas poderão traduzir uma maior participação de aquistas na sua frequência. No entanto, refira-se que se registam em estâncias com excelente envolvimento paisagístico.
Os números relativos, nomeadamente, às Termas das Caldas da Rainha apresentam uma irregularidade bastante forte e não têm, como se verá de seguida, correspondência com o número de inscrições de aquistas, fornecido pelo Instituto Geológico e Mineiro (IGM) - é mais uma evidência da falta de correspondência entre a actividade balnear e a frequência dos estabelecimentos hoteleiros das Termas.
Analisando os elementos anteriormente apresentados pode concluir-se que os estabelecimentos hoteleiros das termas são frequentados predominantemente por pessoas que não vão fazer tratamentos, mas apenas passar um breve tempo num ambiente repousante - pois os tratamentos termais raramente têm uma duração normal inferior a 2 semanas, sendo a duração de 3 semanas quase geral.
Importa, no entanto, referir a possibilidade das estâncias termais serem frequentadas por aquistas residentes em localidades próximas das mesmas, como é o caso dos nossos vizinhos espanhóis que frequentam Termas localizadas próximo das fronteiras.
Não sendo possível conhecer o movimento de estrangeiros nos estabelecimentos hoteleiros das Termas, por principais nacionalidades, optou-se por analisar a informação disponibilizada pelo IGM. Esta informação refere-se ao número de inscrições balneares e não ao movimento nos estabelecimentos hoteleiros.
Assim, tendo por base o "Boletim de Minas" - 1999 - do IGM, em 1998 frequentaram as estâncias termais portuguesas 502 aquistas estrangeiros (-17,8% que na época termal de 1997). Esta frequência corresponde a 0,6% do total de inscrições nas estâncias termais.
Dos estrangeiros que frequentaram as Termas portuguesas, 66,3% eram oriundos de países comunitários, nomeadamente de Espanha (44,8%).
Figura 32 – Evolução da frequência termal estrangeira. Fonte: IGM
A análise do gráfico anterior permite concluir que a partir de 1996 o número de aquistas estrangeiros que frequentam as estâncias termais portuguesas tem vindo a baixar, tendo-se registado no último ano em análise o menor número de sempre (502).
Na figura seguinte apresenta-se informação relativa à frequência termal estrangeira em 1998, sendo de salientar o mercado espanhol devido a factores de proximidade.
Figura 33 – Frequência Termal Estrangeira em 1998. Fonte: IGM
A evolução da capacidade de alojamento instalada nas Termas pode observar-se no quadro que se segue:
Quadro II – Camas hoteleiras disponíveis nas estâncias termais (épocas alta e baixa)
Se nos basearmos na capacidade existente em 31 de Julho de 1999, a taxa de ocupação-cama anual obtida é de cerca de 23,2%. No entanto, como cerca de 57% dos estabelecimentos hoteleiros das Termas apenas funcionam durante 5 ou 6 meses em cada ano, a taxa relativa ao período em funcionamento é bastante mais alta.
Como se pode observar na figura que se segue, a análise comparativa entre o movimento de hóspedes nos estabelecimentos hoteleiros e as inscrições nos balneários não permite reconhecer a existência de qualquer correlação. Em alguns casos, esta situação pode dever-se ao facto de um grande número de aquistas e seus familiares optar por meios de alojamento não recenseados.
Análise comparativa entre o movimento nos estabelecimentos hoteleiros e as inscrições nos balneários
Figura 34 – Número de Inscrições em 1998. Fonte: IGM/INE
Podemos, então, concluir que, comparando a relação entre o número de hóspedes e o número de inscrições:
Na origem das estâncias termais esteve seguramente o aproveitamento das águas minerais naturais, embora depois o número de estabelecimentos hoteleiros das Termas tenha crescido independentemente de tal aproveitamento, passando a sua utilização a ter características meramente turísticas.
Outrora, as populações urbanas mais abastadas que dispunham de casas rurais e propriedades deixavam a cidade nos meses de verão ao encontro da sombra e da frescura que aí poderiam encontrar. A distância era variável, mas muitas das melhores quintas ficava a pouca distância de Lisboa ou do Porto, funcionando por isso não só como lugar para férias mas também dos fins de semana mais ou menos longos, das elites ociosas e endinheiradas. Na região de Lisboa encontravam-se dispersas em redor da capital. Mas esta dispersão convinha pouco à vida social, o que deve ter levado à eleição de lugares de certa concentração de residências secundárias, não muito distantes da grande cidade e de ambiente climático e vegetal verdadeiramente contrastante, é o caso de Sintra.
Nos anos 30 eram referidas na Serra da Estrela, as estâncias de cura e repouso das Penhas da Saúde, o Sanatório Ferroviário, o Sanatório da Guarda e a dispersão pela serra de habitações ocupadas no Verão por famílias adoptando o turismo de montanha, o costume de armar tendas de lona para pernoitar na Nave de Santo António, como forma incipiente de turismo selvagem, e, desde 1931, a prática de desportos de Inverno.
Manteigas era uma instância climática de altitude e centro de turismo de cura (com termas); o Caramulo, estância climática e de cura pulmonar, para o que dispunha do Grande Hotel Sanatório, de quatro outros hotéis, de sete pensões, do Sanatório da Marinha e de um grupo de chalés destinados a doentes acompanhados de familiares; no distrito do Porto, Lourado da Serra era considerada como estância de cura e repouso dotada de equipamento confortável e rodeada de parques e jardins.
O climatismo surge como forma de turismo de Verão em áreas acessíveis e de paisagens apreciadas; associando a terapêutica climática na montanha média ou em sítios particularmente soalheiros durante o Inverno (S. Brás de Alportel), o gosto pelas altitudes elevadas (turismo de montanha) e o dos desportos de neve. Mas se a terapêutica pulmonar tocou significativamente muitos lugares, segundo a procura de uma clientela numerosa, o turismo simplesmente climático e de montanha teve pouca procura e expressão, pelo afastamento dos grandes centros urbanos, a inacessibilidade de muitos lugares antes da generalização do transporte automóvel, a origem rural das novas gerações urbanas que, em termos de férias, dificilmente podiam programar estadias fora dos lugares de origem, onde contavam com o acolhimento de familiares. O mercado turístico nacional era ainda reduzido, e os visitantes estrangeiros limitavam-se aos espanhóis, que até à guerra civil, frequentavam as termas de fronteira e as praias bem servidas por caminho de ferro.
3 – Os Hotéis de Turismo e as Pousadas como uma preocupação de desenvolvimento do turismo internacional
Segundo o plano das pousadas oficiais de turismo e das estalagens nas décadas de 40 e 50, as pousadas são construídas pelo Estado e concedidas para exploração de acordo com um conjunto de normas previamente estabelecidas. A sua construção era sempre em pontos estratégicos das principais estradas do país.
As estâncias termais eram o lugar turístico por excelência, onde o lúdico se juntava ao repouso e à terapia. As praias, que de alguma maneira as substituíram, são já um produto massificado e assim diferente das suas antecessoras. Ao mesmo tempo, o turismo passou de um privilégio de uma minoria para a massificação. Contudo, a prática de banhos de mar não é de agora, tendo já uma longa história.
A segunda metade do século XIX foi também a do despertar do interesse pelas estadias estivais à beira-mar, sobretudo em Setembro, que desencadeou movimentos de pessoas de todas as classes sociais, nacionais e estrangeiras, aqui residentes, tanto das cidades do litoral como das regiões do interior. O ar do mar era tido como revigorante, sobretudo para as crianças, e o banho terapêutico. Pela fachada marítima, ocidental e meridional, de povoamento intenso e antigo e numerosas praias, o país acompanhou com facilidade a evolução da moda europeia. Assim, em 1864, as praias passam para o regime de domínio público marítimo. As grandes cidades elegeram as suas praias, também descritas por RAMALHO ORTIGÃO (1876). Este autor dá-nos uma preciosa imagem das praias da região de Lisboa e a norte desta, com um roteiro turístico, com a descrição dos lugares, das gentes, costumes e diversões, nos meados da segunda metade do século XIX. A pesca representava uma das principais riquezas e, poucos anos depois as conservas de peixe alimentam largamente o valor das exportações. Os sectores mais prestigiados e de mar mais calmo tinham sido humanizados por grupos de pescadores que, ao abrigo de um cabo, de um estuário, de uma baía ou de uma restinga, instalaram as suas aldeias.
O veraneio foi naturalmente eleger os mesmos sítios, mas não todos, apenas aqueles que se localizavam na proximidade das principais vilas e cidades. Na região de Lisboa, as praias de veraneio seguiam-se quase continuamente de Belém a Cascais. Na área do Porto havia a Foz, Leça e Matosinhos. A Póvoa de Varzim servia todo o Minho. S. Pedro de Moel era a mais «mimosa, a mais familiar e a mais intima das praias portuguesas». Ramalho Ortigão fala ainda de outras praias: a Figueira frequentada pelos conimbricenses; Espinho, Nazaré, Setúbal, Granja, Vila do Conde, Ericeira. As paias "obscuras" eram: Âncora, Apúlia, Lavadores, Furadouro, Costa nova, S. Martinho do Porto, Assenta, Santa Cruz, Porto Brandão, Alfeite e Fonte da Pipa, devido à pouca afluência de pessoas estranhas, sendo na sua maioria frequentadas por residentes desses lugares e áreas limítrofes. No Sul, embora o autor não tenha deixado nenhum testemunho, as praias eram frequentadas pelos autóctones, de reduzida importância.
Havia uma complementaridade entre as praias e as termas, pois, normalmente quando a distância o permitia, ia-se às termas (onde os idosos tomavam banhos) de seguida ia-se até à praia (onde era vez dos mais novos tomarem banhos de sol e de água salgada).
Deste panorama da organização antiga da vida balnear em Portugal, que aliás se manteve até 1960, salienta-se a influência da situação geográfica dos sítios.
Por todo o litoral o turismo balnear parece apoiar-se apenas ou essencialmente em residências secundárias e no aluguer de casas e quartos à população local. Só em raros casos foram construídos hotéis, pensões ou restaurantes.
No primeiro decénio do século XX referem-se novas praias, como Sines, frequentada por alentejanos e espanhóis, vindos por Ayamonte e Badajoz, ou Vila do Conde, concorrendo com a Póvoa de Varzim, os novos equipamentos de outras (como a Figueira da Foz: teatro, casino) e o cosmopolitismo das da Costa do Sol, o Monte Estoril parecendo mais uma estância do Mediterrâneo do que uma praia portuguesa, para o que contribuiu a acessibilidade (tramways de ligação de Lisboa a Cascais). "Pela sua excepcional situação, para quem vem por mar de Londres, Nova Iorque ou Rio de Janeiro, e pela proximidade que está duma grande cidade, alegre e hospitaleira, o Monte Estoril não tem rival" (A. ARROYO, 1908).
Vinte e cinco anos depois (década de 30), Estoril e Monte Estoril, são duas das mais famosas estâncias balneares e de turismo do país, desenvolvidas numa paisagem de vegetação abundante e exótica, com dispersão de luxuosas vivendas, vários hotéis confortáveis e pensões modernas e um equipamento recreativo muito diverso, capaz de atrair clientela estrangeira que chega pelo porto ou pelo Sud-Express; salienta-se o casino, com salas para festas, exposições, teatro, cinema e jogos regulamentados, intensa vida mundana e lugar de encontro da elite portuguesa e cosmopolita; e todo o equipamento desportivo: golfe (para ingleses e americanos), hipódromo, campos de ténis, picadeiros para equitação, etc. A costa, prolonga-se por Cascais, ainda elegante, e a leste pela Parede (com sanatório e solário) e Carcavelos (sanatório ósseo).
Na área de influência do Porto destacava-se a Póvoa, "desde as manhãs na praia e as noites nos seus espaçosos cafés e luxuoso e monumental casino" (C. CAVACO, 1979). Mas a Granja, a sul do Porto, também já tinha casino, golfe, campos de ténis e um grande movimento, e Vila do Conde, o Palace Hotel e o casino.
Além destas praias salientam-se outras, embora de menor importância, como as de Espinho, da costa de Aveiro (Mira, Costa Nova, Barra, S. Jacinto, Torreira, Furadouro), a Figueira, Nazaré, S. Martinho do Porto, Praia de Santa Cruz, Ericeira, Trafaria, Costa da Caparica. No sul, só no Algarve aparece novo rosário de centros de vida balnear, destacando-se, a leste, Monte Gordo, bastante frequentada por famílias da região, do Alentejo e de Espanha e com casino, e, no Barlavento, a Praia da Rocha, de fama muito recente, em franco desenvolvimento, com o melhor hotel da região e a única zona de jogo autorizada no sul.
Esta expansão da vida balnear faz-se a par da maior vitalidade do termalismo e em parte foi dirigida aos mesmos tipos de clientela, já que em ambos se consideram valores terapêuticos e as vantagens de um bom equipamento hoteleiro, recreativo e desportivo. Portugal como quase não conheceu formas de turismo litoral de Inverno, nem mesmo suburbano, as praias dos fins do século XIX e dos primeiro decénios do século seguinte, apagam-se perante as termas. As únicas excepções parecem limitar-se à Costa do Sol, Figueira da Foz, Espinho e à Póvoa de Varzim.
Pelos anos 30, a posição relativa dos dois tipos clássicos de estâncias turísticas passa a inverter-se com o crescente favoritismo que a praia recolhe em detrimento das velhas termas. Enquanto que para a primeira concorriam as seduções da moda e dum modo de viver mais desportivo e ar-livrista, para as segundas desfalecia-lhes o primado da quietude bucólica, dos mundanismos de salão e até das próprias virtudes curativas, gradualmente suplantadas por uma farmacopeia industriosa que, ao menos em teoria e sem mais formalidades nem despesas, obtinha resultados idênticos aos produzidos com o tratamento das águas.
Ainda assim, a primeira metade do século assiste a um segundo e derradeiro fôlego do estilo termalista de outrora, entretanto vitalizado com algumas piscinas, ringues de patinagem e campos de ténis, que ripostavam à concorrência desportiva que as praias se moviam.
Não obstante, o ascendente dos areais vai desviando a clientela das águas, designadamente nos seus estratos mais jovens, onde se instala um progressivo fenómeno de rejeição que espelha o próprio conflito de gerações.
A sul do território, descontado o filão ainda por explorar dum Algarve bloqueado pela falta de acessos, ergue-se o Estoril cosmopolita, que deslumbra o provincianismo do país profundo. Ao centro destaca-se a Figueira da Foz que detivera até aos anos 30 a honra de ser "a mais preferida por toda a elegância rica e fina de lés-a-lés do país" (P. PINA, 1988). No norte do país dominavam as alegres e concorridas praias de Espinho e da Póvoa de Varzim, alimentadas pelas gentes do interior.
A partir dos anos 60, vai ser esta a forma dominante entre os espaços turísticos, sendo o litoral do Algarve o mais representativo.
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