Poemas de autores modernistas
Não Sei Quantas Almas Tenho (Fernando Pessoa)
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
em se …exibir mais conteúdo…
E roda a melancolia seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia, o outro desapareceu...
Épura (Ronald de Carvalho)
Geometrias, imaginações destes caminhos da minha terra!
Curvas de trilhas, triângulos de asas, bolas de cor...
Círculos de sombras agachadas entre as árvores, cilindros de troncos embebidos na luz.
Geometrias, imaginações destes caminhos da minha terra!
Melancolicamente, nesta alegria geométrica, pingando bilhas polidas, o leque das bananeiras abana o ar da manhã .
Ronald de Carvalho deixou em todos seus poemas,a marca da cor, da luminosidade fulgurante, realizando uma poesia gráfica e nítida.
Telha de vidro (Rachel de Queiroz)
Quando a moça da cidade chegou veio morar na fazenda, na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha, uma alcova sem luzes, tão escura! mergulhada na tristura de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada, mas mandou buscar na cidade uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada sua camarinha sem claridade...
Agora, o quarto onde ela mora é o quarto mais alegre da fazenda, tão claro que, ao meio dia, aparece uma renda de arabesco de sol nos