O antes, o meio e o depois
Pelo barulhão que as colheres faziam nas panelas onde Quitéria preparava o almoço da família, todo mundo na casa sabia que ela estava num dia daqueles: uma cobra de braba.
– Desgraçado, filho-da-mãe, cachorro, cretino! – resmungava Quitéria, numa ladainha interminável e repetida, ouvisse quem quisesse ouvir, tapasse os ouvidos quem não quisesse. E, a cada xingamento, colheradas nas panelas: des – PÁ! – gra – PAM! – ça – PAF! – do! – BUM!
É que, mais uma vez, o Aleluia, seu marido, havia chegado tarde do trabalho. Bem, não era bem isso…ou melhor, era isso, mas era mais do que isso, ou era isso e mais do que isso.
Aleluia havia chegado tarde do serviço e com um bafo de água-que-boi-não-bebe que encheu a casa na horinha mesma em que ele disse um “boa noite” cabreiro, assim meio de lado, dando para Quitéria aquela olhada de cachorro que rasgou roupa no varal. Sejamos justos: bebum, assim bebunzão mesmo, estava não.
Altinho, meio-que-besta, meio-mole, alterado…ah!, isso é que sim. Mas, de tudo isso, o que deixava Quitéria puruca da vida era o “mais uma vez”.
– Ó, Aleluia, vou te falando logo– disse a Quitéria para um Aleluia meio sem graça quando aquilo havia acontecido pela segunda ou terceira vez no seu casamento – eu não sou desse tipo de mulher que briga à toa, que implica com qualquer coisinha.
Nem fico vigiando homem meu, não. Eu cuido das minhas obrigações, eu sou uma mulher direita e o que eu quero de