As perguntas da vida de fernando savater ( capitulo 2, as verdades da razao )

7511 palavras 31 páginas
Capítulo dois
As verdades da razão
A morte, com sua urgência, despertou meu apetite de saber coisas sobre a vida. Quero dar resposta a mil perguntas sobre mim mesmo, sobre os outros, sobre o mundo que nos cerca, sobre os outros seres vivos ou inanimados, sobre como viver melhor: pergunto-me o que significa toda essa confusão em que estou metido uma confusão necessariamente mortal - e como posso me virar nela. Todas essas interrogações me assaltam sempre de novo; procuro sacudi-las de mim, rir-me delas, aturdir-me para não pensar, mas elas voltam com insistência depois de breves momentos de trégua. E ainda bem que voltam! Pois se não voltassem seria sinal de que a notícia de minha morte só teria servido para me
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Mais tarde outro amigo, que viajava muito, informou-me que o melhor restaurante de Nova York se chama Four Seasons. E hoje li no jornal que o presidente russo léltsin é muito afeiçoado à vodca. A maioria de meus conhecimentos provém de fontes como essas.
Há outras coisas que sei porque as estudei. Das vagas lembranças da geografia da minha infância tenho a informação de que a capital de
Honduras se chama, espantosamente, Tegucigalpa. Meus sumários estudos de geometria me convenceram de que a linha reta é a distância mais curta entre dois pontos, enquanto as linhas paralelas só se encontram no infinito. Também creio me lembrar de que a composição química da água é
H2O . Como aprendi francês quando pequeno, posso dizer "j'aiperdu maplume dans lejardin de ma tante" para informar a um parisiense que perdi minha caneta no jardim da minha tia (coisa que, na verdade, nunca me aconteceu). Pena que nunca fui muito estudioso, pois poderia ter obtido muito mais conhecimentos pelo mesmo método.
Mas também sei muitas coisas por experiência própria. Assim, comprovei que o fogo queima e que a água molha, por exemplo. Também posso distinguir as diferentes cores do arco-íris, de modo que, quando alguém diz "azul", imagino determinado tom que vi com freqüência no céu ou no mar. Visitei a praça de San Marco, em Veneza, e portanto creio firmemente que ela é maior do que a querida praça De Ia Constitución de minha San

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