Análise do poema "O que há em mim é sobretudo cansaço"
O poema pode ser dividido em quatro partes lógicas (correspondentes às quatro estrofes). Na primeira estrofe (primeira parte lógica), o sujeito poético refere que se sente cansado com o que o rodeia. A causa do seu cansaço não é isto ou aquilo, nem ter feito tudo ou não ter feito nada, ele sente-se simplesmente cansado, no sentido literal. Contrariamente ao que referiu na primeira parte do poema, na segunda estrofe (segunda parte lógica do poema), o “eu” indica as razões do seu …exibir mais conteúdo…
Para as outras pessoas (os que amam o infinito, os que desejam o impossível e os que nada querem) há algo que as faz viver e sonhar de forma equilibrada (“a média entre tudo e nada”). Para o sujeito é bem diferente pois o facto de não ser compreendido e de não atingir os seus desejos traduz-se num “supremíssimo cansaço/ Íssimo, íssimo, íssimo, / Cansaço...” (vv.28 a 30). O poeta sente, com felicidade, um infecundo cansaço, pois encontra uma razão para tal fraqueza – a incapacidade das realizações.
O poema apresenta um ritmo lento, ausência de rima (verso livre), irregularidade de versos por estrofe e aliteração em “s” (“Essas coisas todas” (v.9)).
As figuras de estilo presentes são a repetição (utilização frequente do substantivo “cansaço” para transmitir também esse sentimento ao leitor), a anáfora (“Há sem dúvida quem (…) / Há sem dúvida quem (…) / Há sem dúvida quem (…)” (vv.14 a 16)); “Porque (…) / Porque (…) / Porque” (…) (vv.18 a 20) e “Para eles (…) / Para eles (…) / Para eles” (vv.23 a 25)), a hipérbole (utilização do grau superlativo absoluto sintético para marcar o exagero) e a antítese (“infinitamente o finito” (v.18); “impossivelmente o possível” (v.19); “média entre tudo e nada” (v.25) – podem mesmo ser considerados oxímoros). É de referir a presença de verbos no presente do indicativo (“amo” (v.18); “desejo” (v.19)) e no presente do conjuntivo (“ame” (v.14), “deseje” (v.15)) e o predomínio de orações coordenadas