Não existem linguás uniformes

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Alguém que estivesse desanimado pelo fato de que parece que as coisas não dão certo no Brasil e que isso se deve ao “povinho” que habita esse país (conhecem a piada?), poderia talvez achar que tem um argumento definitivo, quando observa que “até mesmo para falar somos um povo desleixado”. Esse modo de encarar os fotos da linguagem é bastante comum, infelizmente. Faz parte da visão de mundo que as pessoas têm a respeito dos campos nos quais não são especialistas. Em outras palavras, é uma avaliação falsa. Mas como existe, e como também é um fato social associado à linguagem, deve ser levado em conta. Por isso, para quem pretende ter uma visão mais adequada do fenômeno da linguagem, especialmente para os profissionais, dos fatos são …exibir mais conteúdo…

O mesmo vale para diferentes sexos, idades, etnias, profissões. De um forma um pouco simplificada: assim como certo grupos se caracterizam através de alguma marca (digamos, por utilizarem certos trajes, por terem determinados hábitos etc.), também podem caracterizar-se por traços linguísticos. Para exemplificar: podemos dizer que fulano é velho porque tem tal hábito (fuma cigarro sem filtro, por exemplo), ou porque fala ”Brasil” com “L” no final (ao invés de falar “Brasiu”, com uma semivogal, como em geral ocorre com os mais jovens). Ou seja, as línguas fornecem meios também para identificação social. Por isso, é frequentemente estranho, quando não ridículo, um velho falar como uma criança, uma autoridade falar como uma pessoa simples etc. Por exemplo, muitos meninos não podem ou não querem usar a chamada da linguagem correta na escola, sob pena de serem objetos de gozação por parte dos colegas, porque em nossa sociedade a correção é considerada uma marca feminina.
Também há fatores internos a língua que condicionam a variação. Ou seja, a variação é de alguma forma regrada por uma gramática interior da língua. Por isso, não é preciso estudar uma língua para não “errar” em certos casos. Em outras palavras, há “erros” que ninguém comete, porque a língua não permite. Por exemplo, ouvem-se pronuncias alternativas de palavras como caixa, peixe, outro: a pronuncia padrão incluiria a semivogal, a pronúncia não-padrão a

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