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D. Hélder conta: — "Quando estive nos Estados Unidos, bolei um cartaz assim: O arcebispo vermelho! Era eu o arcebispo vermelho, eu!". Insinuei a dúvida: — "Mas esse negócio de comunismo é meio perigoso". Nova risada: — "Perigosa é a direita. A direita é que não dá mais nada. O arcebispo vermelho fez um sucesso tremendo nos Estados Unidos".
Pede outro cigarro. Fez novas confidências: — "Sou homem da minha época. Na Idade Média, eu era da vida eterna, do Sobrenatural. Fui um santo. É o que lhe digo: — cada época tem seus padrões. Benjamim Costallat, no seu tempo, era o Proust. O Charleston já foi a grande moda. Pelo amor de Deus, não me falem da vida eterna, que é mais antiga, mais obsoleta do que o primeiro espartilho de Sarah Bernhardt. Hoje, a moda não é mais Benjamim Costallat, nem o Charleston. Entende? É Guevara. O santo é Guevara. E acompanho a moda" (RODRIGUES, 1994, p. 57).
Facina (2004) confirma essa observação ao escrever que Nelson, nesta crônica, sugere que D. Hélder, "homem considerado por muitos um santo" (p. 236), era, na verdade, um mundano, tinha vaidades pessoais e seguia a moda. Segundo Vannucci (2004), Nelson usava o humor para desmoralizar a igreja progressista e, não raro, criava imagens caricaturais dos tipos que queria criticar.
4.3.4 "Os Dráculas" (05/04/68)
Logo na primeira frase desta crônica, Nelson expressa o seu desacordo e espanto com as transformações de comportamento e com as liberdades de representantes de setores da sociedade: "Quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: — a nossa" (RODRIGUES, 1994, p. 74). Nelson trata da proposta de Dom Hélder Câmara, de promover uma "missa cômica":
D. Hélder propõe, se bem o entendi, que se enfie o sobrenatural na gafieira ou por outra: — que se faça da catedral uma gafieira gótica. Parece ao arcebispo de Olinda que se pode louvar a Deus, igualmente ou até com vantagem, com a cuíca, o pandeiro, o recoreco e o tamborim. A missa, como a conhecemos, nos últimos vinte séculos, é triste, é depressiva, é neurótica. E quem sabe se a Virgem, se Jesus, se os santos não hão de preferir, por fundo musical, o samba? Seria uma boa maneira de espanar o pó que 2 mil anos depositaram em certas representações católicas. (RODRIGUES, 1994, p. 74).
De acordo com Facina (2004), a polêmica de Nelson Rodrigues com a Igreja progressista se acirra a partir de 1967, quando o tema, bem como a própria figura de D. Hélder, se tornam obsessões em suas crônicas. À época a igreja católica apostava em uma participação cada vez mais ativa na luta contra o regime militar. Para Nelson, mais anti-humanista do que qualquer manifestação de esquerda, somente a esquerda católica. Para ele, a "Igreja pra frente" reunia em si dois fatores dos quais ele tinha horror e que via como essencialmente desumanizadores: esquerdismo político e certa complacência com os novos padrões de comportamento sexual. "Esses dois elementos, na sua visão, eram contrários à essência da religião católica e de seu humanismo" (FACINA, 2004, p. 233).
Mais do que criticar o arcebispo, nesta crônica, Nelson expressa o seu espanto diante da não reação da sociedade em relação à proposta de D. Hélder. "Hoje, achamos perfeitamente normal que se instale a vida eterna numa gafieira" (RODRIGUES, 1995, p. 75). O autor ressalta que "não houve escândalo, ninguém arrancou os cabelos" (idem). Não só as instituições grupos politizados ligados à esquerda acirravam o assumido reacionarismo de Nelson: "Não quero ser enfático. Mas me parece estar havendo, no Brasil, uma degringolada de valores" (RODRIGUES, 1995, p. 76)
4.3.5 "O "velho"" (03/05/1968)
"Grã-finos" é a forma como Nelson Rodrigues se referia à elite social e econômica carioca, um dos principais alvos das críticas do autor. Suas posições políticas e seu padrão comportamental incomodavam profundamente Nelson, para quem o grupo era sempre marxista e adepto da pílula anticoncepcional, entusiasta da educação sexual e do feminismo. Nelson tinha restrições ideológicas a todas essas inovações do período (FACINA, 2004).
Em "O "velho"", o autor trata primeiramente de uma visita que fez a uma grãfina que, diz a crônica, era capa da revista Manchete de três em três meses. Ele conta que, no encontro, até o fim da noite, "só se ouviu um nome e só se falou de uma figura: --Marx. Tudo era Marxista" (RODRIGUES, 1995, p. 86). Vale lembrar que, como mencionado no capítulo anterior, em 1968 foi publicado no Brasil, pela primeira vez, O Capital, de Karl Marx, em torno do qual girava certo entusiasmo.
Para o teórico Pierre Bourdieu (apud VANNUCCI, 2004), "De maneira geral, são os mais ricos em capital econômico, em capital cultural e em capital social os primeiros a voltar-se para as posições novas."
Nelson Rodrigues escreve que, no encontro, de um momento para outro, Marx passou a ser chamado de "O velho", satirizando a intimidade com que aquelas pessoas se referiam ao autor socialista: "Damas e cavalheiros diziam "o velho" com uma salivação intensa" (RODRIGUES, 1995, p. 86). E além: "Havia, ali, um tal clima marxista que os furúnculos do "velho" pareciam mais resplandecentes do que as chagas de Cristo" (idem).
As elites e o seu envolvimento com o marxismo configuravam razões mais do que suficientes para os ataques de Nelson Rodrigues:
Eis o que eu pensava: — "Como a nossa alta burguesia é marxista!". E não só a alta burguesia. Por toda a parte, só esbarramos, só tropeçamos em marxistas. Um turista que por aqui passasse havia de anotar no seu caderninho: — "O Brasil tem 80 milhões de marxistas". Hoje, o não-marxista sente-se marginalizado, uma espécie de leproso político, ideológico, cultural etc. etc. Só um herói, ou um santo, ou um louco, ousaria confessar, publicamente: — "Meus senhores e minhas senhoras, eu não sou marxista, nunca fui marxista. E mais: — considero os marxistas de minhas relações uns débeis mentais de babar na gravata" (RODRIGUES, 1995, 87).
Após escrever sobre o entusiasmo das grãs-finas em torno do "velho", Nelson ironiza: terão aquelas pessoas também intimidade com os escritos do autor de O capital? Então passa a narrar a visita a uma outra casa, a um "sarau político", onde, segundo ele, o "grã-finismo" e o marxismo reinavam. Nelson escreve que, com intenções provocativas, reuniu os presentes -"a flor da festiva", em suas palavras -e disse-lhes que contaria algumas piadas:
E comecei a ler frases de recente leitura: — "O imperialismo é a tarefa dos povos dominantes — Alemanha, França, Inglaterra, Estados Unidos". Estes últimos "eram o país mais progressista do mundo". "Contra o imperialismo russo, a salvação é o imperialismo britânico." Outra: — "O defeito dos ingleses é que não são bastante imperialistas". Quanto à história, "avança de leste para oeste". O colonialismo é progressista porque os povos domináveis e colonizáveis só têm para dar "a estupidez primitiva". O budismo é "o culto bestial da natureza".
E que dizer da China? É uma "civilização que apodrece". Por outro lado, a vitória dos Estados Unidos sobre o México, em 1848, foi uma felicidade para o próprio México. Dizia o autor, que eu citava: — "Presenciamos a conquista do México e regozijamo-nos porque este país, fechado em si mesmo, dilacerado por guerras civis e negando-se a toda evolução, seja precipitado violentamente no movimento histórico. No seu próprio interesse, terá que suportar a tutela que, desde este momento, os Estados Unidos exercerão sobre ele".
Por outro lado, é maravilhosa a sujeição da Índia à Inglaterra. "A Alemanha é um povo superior e os latinos e os eslavos, mera gentalha." Ainda sobre os eslavos: — "Povos piolhentos, estes dos Bálcãs, povos de bandidos". Os búlgaros, em especial, são "um povo de suínos" que "melhor estariam sob o domínio turco". Em suma: todos esses povos eslavos são "povos anões", "escórias de uma civilização milenar". Mais ainda: — "A expansão russa para o Ocidente é a expansão da barbárie" etc. etc (RODRIGUES, 1995, p. 88).
De acordo com a crônica, em seguida à leitura dessas frases e julgamentos considerados ofensivos para aquelas pessoas, Nelson perguntou se, na opinião dos presentes, os dois autores daqueles pensamentos, então já mortos, eram canalhas. "Os marxistas ali presentes juraram que os dois autores eram canalhas e abjetos" (RODRIGUES, 1995, p. 89). E então Nelson revela aos marxistas que os autores daquelas frases eram ninguém menos que Marx e Engels.
Tudo aquilo estava em Marx et la politique internationale, por Kostas Papaloanou etc. etc. Os dois, Marx e Engels, eram paladinos fanáticos do imperialismo, do colonialismo, admiradores dos ianques, russófobos. Disseram mais: — "A revolução proletária acarretará um implacável terrorismo até o extermínio de todos esses povos eslavos". Os marxistas que me ouviam eram poetas, romancistas, sociólogos, ensaístas. Intelectuais da mais alta qualidade. E entendiam tanto de Marx quanto de um texto chinês de cabeça para baixo. Eis a verdade: somos analfabetos em Marx, dolorosamente analfabetos em Marx. (RODRIGUES, 1995, p. 89).
4.3.6 "A Bofetada" (03/06/1968)
Esta crônica é muito ilustrativa no sentido de mostrar o quanto Nelson
Rodrigues era contrário à evidência que a juventude ganhara em 1968 e à complacência da sociedade para com essas transformações comportamentais e conceituais. Aqui, Nelson busca entender, e explicar a seu público, qual é a origem do por ele chamado "poder jovem": "O defeito do jovem é o velho. Não sei se me entendem. É o velho, ou pluralizando: — são os velhos que, no momento, em toda parte e em qualquer idioma, corrompem os jovens" (RODRIGUES, 1995, p. 109).
Nelson escreveu que "a idealização da imaturidade" não começava nos jornais, nas universidades ou nos sermões públicos, mas em casa:
O moço começa a ter razão na altura da primeira chupeta e quase no berçário. Eu gostaria de saber qual teria sido o primeiro pai, ou mãe, ou tia, ou avó, ou cunhada, que inaugurou o Poder Jovem. O Poder Jovem é, portanto, anterior a si mesmo. Começa a exercitar a sua ferocidade muito antes, ainda na infância profunda. Há por aí toda uma geração de pequeninos possessos. São garotinhos de quatro, cinco anos, de uma intensa malignidade. Um dia, a família achou que a criança está certa quando mete a mão na cara da mãe, do pai, tia ou avó (RODRIGUES, 1995, p. 109).
O título da crônica se justifica pelo episódio que Nelson narra: uma garotinha, impedida de alguma atitude, teria atacado com chutes o próprio pai. À intervenção da mãe, "a filha mete-lhe a mão na cara" (RODRIGUES, 1995, p. 109). A esta reação, a mãe da garota teria soluçado: "Coitadinha, coitadinha."
Para Nelson Rodrigues, a origem do "poder jovem" estava na "bofetada consentida". A sensação de onipotência do jovem não seria, portanto, culpa do próprio jovem: "[...] o jovem não tem culpa nenhuma. Vítima de um processo de desumanização, ele é vítima também dos velhos" (RODRIGUES, 1995, p. 110).
O cronista afirma, em "A bofetada", que eram os velhos, sacerdotes, psicólogos, professores, artistas e sociólogos os responsáveis pela suposta legitimação da imaturidade.
De acordo com Facina (2004), Nelson Rodrigues considerava o "poder jovem" um fenômeno expressivo da decadência e do absurdo do mundo de então. Se Nelson assumia-se sempre uma "flor de obsessão", pode-se dizer que criticar esse fenômeno era uma de suas maiores obsessões. E essa crítica ao "poder jovem" englobava também outros dois conflitos de Nelson: contra os intelectuais e artistas de esquerda e contra os "padres de passeata", ou seja, a Igreja progressista. De maneira que, nesta crônica e em várias outras, são também alvos de escárnio os representantes católicos D. Hélder Câmara e Alceu Amoroso Lima[16]para Nelson, "[...] velhos que se submetiam ao poder jovem" (FACINA, 2004, p. 241).
O ano de 1968 foi um ano especialmente importante nos debates sobre juventude, particularmente devido às manifestações estudantis e ao decorrente "poder jovem". Nelson Rodrigues era claro na sua oposição a esse processo.
4.3.7 "O negro azul" (01/07/1968)
Esta crônica expressa as opiniões, impressões e idéias de Nelson Rodrigues acerca do Zeitgeist[17]de 1968. Após a introdução – em que narra um dos vários episódios do dia-a-dia dos quais tirava seus exemplos e conclusões –, o cronista volta a abordar o "poder jovem", questionando a sua então alardeada "razão". O autor argumenta:
Dirá o leitor que qualquer um pode ter razão. Nem todos, nem todos. Eu diria mesmo que só algumas almas seletíssimas, alguns espíritos de rara delicadeza podem tê-la. Lembro-me de outro episódio também perfeitamente cabível. Foi uma briga de mulheres. Uma senhora insultou outra. Por que, não me lembro. E o marido da ofendida foi tomar satisfações. A culpada estava esperando criança. Mas o Fulano tinha razão; e porque a tinha derrubou-a a bofetões e mais: — pisou-lhe a barriga, chutou-lhe a gravidez. Correto. Tinha razão.
Nas almas menos nobres, a razão pode subir à cabeça em forma de vil embriaguês. E os piores sentimentos, e as crueldades mais secretas e inconfessas, e todos os demônios do orgulho são liberados. Tudo que sei da vida ensina que a razão pode perder a nossa alma e repito: — pode destruí-la (RODRIGUES, 1995, p. 158).
Em seguida, Nelson escreve que, para a sociedade do período, o jovem em tudo tinha razão, mesmo não a tendo. "É uma razão que não lhe custa um esforço, um mérito, um sacrifício, uma conquista. Tem razão porque é jovem" (RODRIGUES, 1995, p. 158). O autor não perde a chance de também atacar, mais uma vez, Alceu Amoroso Lima, que teria descoberto então (e apoiado) a chamada "razão da idade." Essa "razão", para Nelson, mudava todas as relações e todos os valores:
Nem importa o que faça "o jovem". Incendeia a França. Tem dezessete, dezoito, 22 anos. E basta. Arranca os paralelepípedos e vira os carros. Pode fazê-lo porque tem no bolso a triunfal certidão de idade. Se nasceu no ano X, tudo lhe é permitido. Estão aí o jornal, o rádio, a tv para justificá-lo, para absolvê-lo. Há uma "Moral da Idade", assim como há uma "Igreja da Idade". Conheço sacerdotes que só confessam "o jovem". Todos põem na mão do jovem, como uma bomba, a razão absoluta. O mundo deixou de ser dos "mais velhos". Mas pergunto: — que fará "o jovem" com sua onipotência? A razão da idade pode destruir o mundo (RODRIGUES, 1995, p. 159).
4.3.8 "O furioso Nelsinho Mota" (01/08/1968)
"Depois do último Carnaval, passei uma semana escrevendo sobre o mesmo assunto. Meus amigos me chamam de "Flor de Obsessão"" (RODRIGUES, 1995, p. 200). Nelson inicia assim esta crônica, em que se afirma um homem obsessivo, que convive muito bem com as suas idéias fixas.
Com este texto, o cronista reafirma o seu moralismo e conservadorismo diante de um outro fenômeno comum à época, mencionado no capítulo anterior: a revolução sexual e a liberdade das mulheres.
E a minha fixação, nos quatro dias de Carnaval, foi a nudez unânime. Imaginem uma cidade que se despia, e com a agravante: — não se despia para o namorado, noivo, marido ou lá o que fosse. Não. Um, apenas um, seria muito pouco para o seu impudor. (Hoje, a própria palavra "pudor" é tão antiga e irreal como, como... Vejamos uma palavra bem fora de moda. Já sei: — "supimpa". Aí está: — supimpa.). Mas as mulheres se despiam para milhões de telespectadores. Milhões (RODRIGUES, 1995. p. 200).
Obviamente Nelson referia-se ao uso de poucas roupas e fantasias carnavalescas. Conta ainda que viu um programa na TV no qual a câmera filmava apenas o umbigo da entrevistada, e que sonhou que era "atropelado por milhões de umbigos" (RODRIGUES, 1995, p. 201). Considerado por muitos críticos de suas peças teatrais um "tarado" e imoral, nesta crônica Nelson faz afirmações como "Nada mais feio do que a nudez sem amor" (RODRIGUES, 1995, p. 201) e "O ideal seria que só o bem-amado pudesse ver um decote" (idem). A razão do título só surge a meio da crônica, quando Nelson apresenta Nelson Motta, ou "Nelsinho", "o escritor, o jornalista, o ensaísta, o sociólogo, o letrista, o homem de televisão" (RODRIGUES, 1995, p. 202). O cronista trata de um artigo de Nelson Motta sobre a música popular brasileira, sobre a juventude e sobre as passeatas. Escreve Rodrigues: "Realmente, as passeatas! Alguém viu um negro um operário, um roto, um esfarrapado?" (RODRIGUES, 1995, p. 203). Em relação às passeatas, para Nelson Rodrigues, elas eram a "expressão de uma multidão alienada, que servia de esconderijo à mediocridade intelectual e artística" (FACINA, 2004, p. 247). O autor considerava essas manifestações movimentos antinacionalistas, dos quais apenas a elite – os "grã-finos" – participava a fim de se autopromover. Nelson se referia a essa esquerda como a "festiva": de acordo com Facina (2004), termo utilizado à época para definir pejorativamente a intelectualidade boêmia que se opunha à ditadura. De acordo com Ventura (2008), apesar do usual exagero de suas observações, Nelson Rodrigues "não deixava de traduzir um certo clima de época no que ele tinha de mais visível e às vezes risível. Um de seus temas recorrentes eram justamente as passeatas" (VENTURA, 2008, p. 79).
E assim Nelson finaliza esta crônica, criticando o fato de Nelsinho Motta "acreditar" nas passeatas:
[...] ponha um negro na marcha; um operário; um esfarrapado; um torcedor do Flamengo; uma crioula dando o peito seco ao filhinho recém-nascido. Não me comove a passeata das classes dominantes. É preciso tirar a fome brasileira de sua hedionda solidão (RODRIGUES, 1995, p. 203).
4.3.9 "É triste ser Neruda" (13/09/1968)
Esta crônica é como o próprio Nelson escreve, inspirada pela figura do poeta chileno Pablo Neruda: "[...] o homem que, segundo Sartre, está merecendo um urgente prêmio Nobel. Neruda não é um chileno como outro qualquer. Seria mais exato chamá-lo de poeta do mundo." (RODRIGUES, 1995, p. 294). Neruda, à época, praticava um gênero de poesia com razões sociais. Nelson assume um tom de saudosismo ao escrever que o poeta estava mudado, que não produzia mais versos melancólicos que falassem de amor. Nelson conta que o Neruda que naquele ano desembarcou no Brasil era outro, e narra uma entrevista coletiva concedida pelo poeta, na qual, diante da insistência dos jornalistas, respondeu a perguntas sobre a Tchecoslováquia e a União Soviética[18]De acordo com Rodrigues, Neruda teria afirmado que "[...] está com o crime e com a vítima, com a vítima do estupro e com o autor do estupro etc. etc." (RODRIGUES, 1995, p. 250).
Explicou: — "Sou amigo da Tchecoslováquia, país que me deu asilo quando dele precisei, e também sou amigo da União Soviética". Por isso, quando perguntam com quem está, ele não se aperta e responde: — com os russos e com os tchecos (RODRIGUES, 1995, p. 250).
E continua, ironizando a posição de Pabo Neruda:
Se a Rússia pode invadir a Tchecoslováquia, tudo é permitido. Tratase de um crime que envolve o próprio destino da pessoa humana. E vem o nosso Pablo e diz que "a Tchecoslováquia deve compreender". Vejam: — ainda por cima, "deve compreender". Quem o diz é o poeta, e o poeta sabem o que diz. Cabe então a pergunta: — e o que é que os miseráveis tchecos "devem compreender"? Responde Neruda: — que a Rússia perdeu muitos homens na guerra. Ah, perdeu? Também os Estados Unidos perderam, e a Inglaterra perdeu, e a França, e outros, e outros. Portanto, vamos nos invadir uns aos outros. (RODRIGUES, 1995, p. 250, 251)
Ilustra-se claramente por meio deste texto o quanto Nelson se opunha aos intelectuais que se relacionavam com a esquerda, ou mesmo àqueles que não se posicionavam contra o comunismo, que Nelson abominava.
E é um intelectual. Chamado a opinar sobre o expurgo de intelectuais, diz: — não pode condenar a Rússia, porque tem amigos lá; tampouco pode condenar a Tchecoslováquia, porque também tem amigos na Tchecoslováquia. Agora compreendo o desespero de um amigo meu. Fez dois ou três ensaios literários e desistiu da literatura. Um dia, alguém o apresentou como "intelectual". Corrigiu: — "Não sou intelectual". O outro insiste: — "É intelectual, sim". O meu amigo apontou o dedo: — "Se me chamar de intelectual outra vez, parto-lhe a cara", É triste, é humilhante ser Neruda (RODRIGUES, 1995, p. 251).
Nelson Rodrigues fazia de suas crônicas espaço de disputa com setores da sociedade dos quais divergia política e ideologicamente, e um dos artifícios que utilizava era a menção constante de personalidades que representavam essas posições (VANNUCCI, 2004).
4.3.10 "A ira de Vandré" (01/10/1968)
Nesta crônica, Nelson Rodrigues trata do fato de o compositor Geraldo Vandré, com sua música Pra não dizer que não falei de flores, ter ficado em segundo lugar na final do Festival Internacional da Canção, do qual também participaram, entre outros, Caetano Veloso e Gilberto Gil, Chico Buarque e Tom Jobim – esses, os vencedores.
O cronista não se abstém, contudo, de analisar também a personalidade do compositor. Logo no início do texto, Nelson compara Vandré a um personagem de um livro do autor português Eça de Queirós:
Imaginem um rapaz vestido de negro e pálido como um santo. É uma festa. Ele está, na janela, maravilhosamente só. E ali, olhando a noite, que já vai para a madrugada, cheira uma flor, talvez camélia. Muito olhado pelas damas, exalava uma nobre e inconsolável melancolia. E, súbito, vem a dona da casa e pergunta: — "Não dança?". O rapaz ergue a fronte diáfana e responde: — "Como posso eu dançar, se a Polônia sofre?". [...] Outro que tem o mesmo valor social, humano, histórico, é o nosso Geraldo Vandré (RODRIGUES, 1995, p. 285).
Em seguida, escreve: "Quem não o conhece? Com o seu sucesso no Festival da Canção, o nosso Vandré tornou-se uma súbita figura nacional" (RODRIGUES, 1995, p. 285), afirmando que a celebridade do compositor configurava uma "evidência estarrecedora" (idem). Como se sabe, Nelson acompanhava com atenção o cotidiano da época, e dele tirava os detalhes que permeavam as suas crônicas. De acordo com ele, depois do resultado do festival, sempre que brasileiros se juntavam, o assunto obrigatório era a "vil injustiça" cometida contra Geraldo Vandré. "Vandré concorria ao Festival com a sua "Pra não dizer que não falei de flores". Segundo se diz, ele devia tirar o primeiro lugar. Vai o júri e dá-lhe um mísero e franciscano segundo lugar" (RODRIGUES, 1995, p. 286). Ainda tratando da personalidade do compositor, Nelson narra um episódio que, se fictício, serve ao propósito de mostrar a idéia que o cronista tinha a respeito de Vandré:
Dias atrás, um amigo meu cruza com o compositor e diz-lhe: — "Boa noite". Ora, a um cumprimento responde-se com outro cumprimento. É o mínimo e o máximo que se pode fazer. O Vandré, porém, está bem acima de um automatismo tão crasso e tão ignaro. Assim saudado, ele se arremessa para o meu amigo, como se fosse agredilo. Agarra-o pelos dois braços, sacode-o; diz-lhe, embargado: — "Como pode você me dar boa-noite se o mundo está em guerra?". O outro tomou o maior susto: — "Eu não tive intenção! Eu não tive intenção!". E, realmente, o meu amigo não tivera nenhuma intenção, senão a de lhe dar boa-noite. E o Vandré, em arrancos: — "Você não vê que estão morrendo no Vietnã?". O autor do imprudente "boa noite" quase correu, fisicamente, do Vandré (RODRIGUES, 1995, p. 286).
Segundo escreve o cronista, Vandré agia como se o Brasil fosse o Vietnã, e afirma que narrou o episódio transcrito acima para caracterizar o cantor.
Nelson Rodrigues expressa, ainda, a sua perplexidade diante do anúncio dos juízes do festival quanto aos vencedores, e explica o título da crônica – "A ira de Vandré" – no seguinte trecho:
[...] Vandré e seus partidários, que eram numerosos e ululantes, estavam maravilhosamente certos da vitória. Daí a crudelíssima desilusão. Os jurados preferiram "Sabiá", de Chico e Tom. Ao nosso Vandré coube o segundo lugar. Outro qualquer estaria soltando os foguetes da vaidade, e telefonando para casa: — "Tirei o segundo lugar! Tirei o segundo lugar!". Seria uma glória para a família, para a namorada etc. etc. Mas Vandré não tem as reações de qualquer um. Assim como não admite que o cumprimentem, também não aceita um reles segundo lugar. O resultado doeu-lhe, fisicamente, como uma nevralgia (RODRIGUES, 1995, p. 287).
Diante da possível reação de Vandré, o cronista observa que, em gerações anteriores, o brasileiro carregava sempre um soneto no bolso, mas que naqueles tempos politizados o soneto deu lugar ao comício. Mas o compositor era amigo dos vencedores Chico Buarque e Tom Jobim, e se proferisse ataques atacaria também seus companheiros. "Então o Vandré cometeu o erro de saudar os concorrentes vitoriosos. Só ele e Deus sabem o esforço braçal que lhe custou essa concessão às boas maneiras" (RODRIGUES, 1995, p. 288). A única reação de Geraldo Vandré foi dizer: "Nem tudo é festival" (idem).
Pra não dizer que não falei de flores, ou Caminhando, teve a sua execução proibida por vários anos durante a ditadura militar, pois seus versos incitava, de maneira sutil, o povo à resistência.
Segundo Ventura (2008), um general teria dito, no dia seguinte à apresentação da música no festival: "Essa música é atentatória à soberania do país, um achincalhe às forças armadas e não deveria nem mesmo ser inscrita" (VENTURA, 2008, p. 183).
4.4 BREVE ANÁLISE QUANTITATIVA
Os temas que compõem o quadro de análise a seguir têm como referência a leitura de livros sobre o período, como 1968, o ano que não terminou, de Zuenir Ventura; 1968, a esquina do mundo, de Daniel H. de Medeiros; e Santos e Canalhas: uma análise antropológica da obra de Nelson Rodrigues, de Adriana Facina. De acordo com esses autores, são assuntos em evidência naquele contexto: Política (esquerda/ direita/ poder jovem/ conflitos); Intelectualidade (literatura, teatro, música, cultura etc.); Personalidades (históricos ou do período); Jornalismo e Imprensa (TVs e jornais); Comportamento e sociedade (o Brasil, revolução sexual, o palavrão, a mulher etc.); Religião.
A função do quadro é mostrar, quantitativamente, a freqüência com que Nelson Rodrigues abordava esses assuntos. Como se poderá notar, uma mesma crônica tratava constantemente de diferentes temáticas, da mesma forma como diferentes crônicas abordavam temas comuns – fato que pode ser também evidenciado na análise de conteúdo, no tópico anterior.
Em seguida ao quadro, segue um gráfico com a representação geral dessa recorrência temática.
4. 5 ANÁLISE QUANTITATIVA TEMÁTICA
TABELA 1: INDICA A RECORRÊNCIA TEMÁTICA NAS CRÔNICAS ANALISADAS
GRÁFICO 1:GERADO A PARTIR DO QUADRO DE ANÁLISE POR RECORRÊNCIA TEMÁTICA
O gráfico exibe a porcentagem (freqüência) com que os temas apontados são tratados nos textos de Nelson Rodrigues, considerando-se a análise das crônicas "O Ex-covarde" (14/01/1968); "A doença infantil do palavrão" (01/02/1968) "Terreno baldio" (14/03/1968); "Os dráculas" (05/04/1968); "O "velho"" (03/05/1968); "A bofetada" (03/06/1968); "O negro azul" (01/07/1968); "O furioso Nelsinho Mota" (01/08/1968); "É triste ser Neruda" (13/09/1968) e "A ira de Vandré" (01/10/1968)
4.6 ANÁLISE DE RESULTADO
Por meio da análise quantitativa das crônicas selecionadas, conclui-se que o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues abordava constantemente em suas crônicas os assuntos mais em voga naquele momento. Por exemplo, 90% dos textos analisados abordam assuntos relacionados à política, à esquerda e ao poder jovem.
A partir da análise descritiva de conteúdo, constata-se que o autor se opunha aos movimentos e ideologias especialmente evidenciados no ano de 1968. Os trechos reproduzidos e a contextualização dos assuntos abordados dão provas de que o cronista utilizava o espaço da crônica, em um jornal de grande circulação como O Globo, para desmoralizar seus desafetos políticos, artísticos e ideológicos, além de buscar demonstrar o seu espanto diante das novas modas e comportamentos do período.
As transcrições são também prova de que o cronista, sempre com estilo irônico e hiperbólico, utilizando de episódios do cotidiano e de personagens da época, objetivava atacar aqueles que não compartilhavam da sua ideologia. Mas não só isso: mesmo quando não proferindo críticas, Nelson traduzia de maneira diferenciada a época. Por meio de seus textos, 1968 é retratado de maneira distinta.
É preciso ressaltar que Nelson Rodrigues, enquanto jornalista e intelectual, utilizava de toda a sua autoridade para emitir opiniões, profundamente parciais e subjetivas, acerca dos mais diversos assuntos.
O Quadro de Recorrência Temática, no início deste capítulo, dá uma idéia geral sobre este fato: em uma mesma crônica, Nelson abordava temas diferenciados, ainda que, pode-se concluir, todos estivessem correlacionados. Um exemplo é a crônica "A doença infantil do palavrão", de fevereiro, em que o eixo temático se refere a comportamento; não obstante isso, o texto contém também críticas ao teatro e à tendência do público de não apreciar o conteúdo da peça, e sim o seu teor "pornográfico". Ao considerar esse público "antipolítico", Nelson o ataca ideologicamente.
Em "Terreno baldio", crônica publicada em março daquele ano, o eixo temático é a crítica à Igreja progressista e ao posicionamento desta ao lado dos movimentos esquerdistas. Contudo, nota-se também ali a opinião do cronista a respeito da profissão que praticava – o jornalismo. O autor reivindica certa autoridade ao afirmar, aos 55 anos, que somava então 42 anos de profissão: "Depois de 42 anos de redação, o sujeito acumulou uma experiência em nada inferior às obras completas de William Shakespeare" (RODRIGUES, 1994, p. 54).
Nota-se ainda, por meio do Quadro de Recorrência Temática e da análise de conteúdo de cada uma das dez crônicas selecionadas, outro artifício utilizado pelo autor para proferir suas críticas e desacordos: a repetição. Obsessivo assumido, Nelson abordava os mesmos assuntos repetidamente, às vezes de passagem, às vezes mais detalhadamente.
Era recorrente em suas crônicas, por exemplo, a crítica ao chamado "poder jovem". Em "A bofetada", no entanto, o jornalista não se limita a criticar o jovem pelo seu engajamento político: ele argumenta que o "defeito" do jovem de então era o velho, ou seja: os movimentos estudantis eram legitimados por homens maduros, formadores de opinião, como D. Hélder Câmara. Aqui, como se nota, a crítica se estende também às transformações de comportamento.
É possível concluir, a partir dessas análises, considerando-se 1968 um ano em que socialismo e capitalismo – esquerda e direita – apresentavam entre si profunda cisão, em que tantas transformações se operavam no âmbito da sociedade, que Nelson Rodrigues utilizava o espaço das crônicas para se posicionar diante das mais diversas questões. Comprova-se, também, que embora os assuntos tratados dêem a idéia de variedade, o objetivo do autor era, ora de maneira velada, ora não, atacar os regimes comunistas/ socialistas e seus simpatizantes, fossem esses jovens, "grã-finos", artistas ou políticos.
É possível a afirmação de que Nelson Rodrigues deixou para os comunicadores, pensadores e intelectuais que vieram depois dele algumas lições valiosas, por ter praticado um jornalismo diferenciado, apaixonado e cheio de personalidade. Em sua época, embora moralista em certos aspectos, ou reacionário, atuou decisivamente diante da efervescência de movimentos políticos, artísticos e comportamentais com os quais não concordava.
Se a crônica jornalística é um espaço para a manifestação livre de idéias, com base no cotidiano, e um recurso para a prática da crítica social, Nelson Rodrigues soube como ninguém utilizá-la. Além de colher exemplos do dia-a-dia para ilustrar ou justificar os seus textos, o intelectual os interpretava de acordo com os próprios conceitos, idéias, concepções e experiência de vida.
Se o período foi propício para o surgimento e fama de várias personalidades, artísticas ou não, políticas ou não, ligadas à esquerda, Nelson Rodrigues soube como se posicionar e afirmar o seu lugar em meio a esse fenômeno. E para tal, fazia uso também do humor, sempre lançando mão de ironias inteligentes, idéias obsessivas, frases de efeito, sarcasmo e, principalmente, colocando em evidência as contradições contidas nas próprias atitudes e posicionamentos políticos de seus desafetos – como no episódio narrado em que visita uma "grã-fina" marxista e lhe expõe os pensamentos racistas e preconceituosos do pensador comunista.
É interessante notar a forma por meio da qual um ano mítico como 1968, sempre retratado saudosamente nos livros de história como um período de grandes revoluções e transformações que teriam mudado o mundo para melhor, surge diferente diante dos olhos após a análise e a leitura das crônicas rodrigueanas. Após a finalização deste trabalho, é possível entrar em um debate para afirmar que 1968 não foi exatamente aquilo que se conta; ou que, no mínimo, há opiniões profundamente divergentes.
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AGRADECIMENTOS
Pelas predileções literárias, não há vivos a quem eu possa agradecer. Expresso, pois, a minha gratidão a figuras como Machado de Assis, Paulo Francis, Kenneth Tynan, Oscar Wilde, Evelyn Waugh, P. G. Wodehouse, Stendhal, entre tantos outros.
Pelo presente trabalho, agradeço à minha orientadora Kátia Mássimo, que me guiou pelos caminhos tortuosos aos quais fui apresentado, e à professora Taílze Melo, que se dispôs a ocupar um lugar na banca de avaliação desta pesquisa. Aos meus pais, por tudo, aos meus amigos e à minha noiva – que sempre compreenderam os meus momentos de estresse.
"Toda unanimidade é burra."
Nelson Rodrigues
Autor:
Edson Junior
edson.viciouslain[arroba]gmail.com
http://breviario.org/sententia
Currículo: http://edjrcv.blogspot.com/
Faculdade Estácio de Sá de Belo HorizonteComunicação Social -Jornalismo
Belo Horizonte 2009
Monografia de Pesquisa de conclusão de curso apresentado ao Curso de Comunicação Social – Jornalismo, da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.
Orientadora: Prof. Kátia Mássimo
Trabalho de conclusão de curso defendido em 1º de julho de 2009, pela banca examinadora constituída pelos professores:
Prof.: Kátia Mássimo – Orientadora.
Prof.: Taílze Melo – Convidada
[1] 1951 ENTREVISTAS em 39 anos. Veja - edição especial 40 anos, setembro 2008, p. 80.
[2] Na chamada "Teoria Funcionalista, de Lasswell e Wright, destacam-se cinco classes de necessidades sociais que os mass media satisfazem: Necessidades cognitivas: aquisição e reforço de conhecimentos e de compreensão; Necessidades afetivas e estéticas: reforço da experiência estética, emotiva; Necessidades de integração a nível social: reforço dos contatos interpessoais; Necessidades de integração a nível da personalidade: segurança, estabilidade emotiva; Necessidade de evasão; abrandamento das tensões e dos conflitos.
[3] Política predeterminada pela direção do veículo de comunicação ou pela diretoria da empresa que determina "a lógica pela qual a empresa jornalística enxerga o mundo; ela indica seus valores, aponta seus paradigmas e influencia decisivamente na construção de sua mensagem.
[4] Texto literário breve, situado entre o poético e o didático, expondo idéias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de certo tema.
[5] É uma narrativa seriada dentro dos gêneros prosa de ficção e romance. Possui duas características essenciais: quanto ao formato, é publicada de forma parcial e seqüenciada em periódicos (jornais e revistas); quanto ao conteúdo, apresenta narrativa ágil, profusão de eventos e ganchos intencionalmente voltados para prender a atenção do leitor.
[6] Socialite da época.
[7] Sylvia Seraphim foi presa e, a 23 de agosto de 1930, data em que Nelson completou 18 anos, foi julgada inocente.
[8] Nelson nunca deixou de escrever sobre esporte, tendo assinado até seus últimos dias de vida as colunas "À sombra das chuteiras em Flor" (O Globo) e "A Manhã" (Jornal dos Sports).
[9] "Meu Destino é Pecar" terminou ao fim de seu 38º capítulo e foi publicado em livro.
[10] Um dos mais ruidosos casos de erro judicial da história moderna da França. Envolveu Alfred Dreyfus (18591935), capitão do estado-maior geral do exército francês, numa acusação de espionagem em favor da Alemanha, por terem sido encontrados documentos com a sua caligrafia falsificada junto ao adido militar alemão em Paris. Foi, por isso, condenado á prisão perpétua na ilha do Diabo, na costa da Guiana Francesa. Em 1898, encontraram-se evidências de sua inocência e culpa do major francês Esterhazy, espião alemão. Mas o segundo julgamento manteve o resultado do primeiro, provocando a indignação do escritor Émile Zola (1840-1902) que escreveu o artigo J'Accuse para denunciar a farsa. O escândalo dividiu a opinião pública entre dreyfusards (a esquerda progressista) e anti-dreyfusards (a direita conservadora), O capitão foi inocentado, em 1906 [Disponível em: http://br.geocities.com/discursus/archistx/dreyfhis.html].
[11] Cambaxirra é uma espécie de ave. Pode ser encontrada no Brasil e na Bolívia. Nelson usou a expressão em sentido figurativo.
[12] Ver capítulo 3.
[13] Disponível em http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=957 -História: debate e tendências, Revista do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo, V.8, n. 1, jan./junh. 2008 [no prelo].
[14] Em maio de 1968, amplos movimentos revolucionários corriam a Europa e chegavam ao Brasil. Em Paris uma onda de protestos estudantis logo tomou largas proporções. Trabalhadores aderiram á revolta e iniciaram uma longa greve geral. O governo do então presidente francês Charles de Gaulle a princípio recuou; falou-se em governo popular, até que o movimento revolucionário foi desencorajado pelo Partido Comunista Francês. Quando o governo se encontrava em iminente colapso, a insurreição cessou e os operários voltaram ao trabalho. Maestri escreve que "O maio francês galvanizou o mundo, colocando quase nas sombras as lutas estudantis e operárias" (MAESTRI, 2008).
[15] Peça de Oswald de Andrade, cujo texto foi escrito em 1933. Muito encenada no período, inclusive fora do Brasil.
[16] Pseudônimo: Tristão de Athayde. Crítico literário e líder católico na década de 60, também ligado á Igrejaprogressista.
[17] Termo alemão. Significa espírito de época ou espírito do tempo.
[18] Em 21 de agosto de 1968 a União Soviética invadiu a Tchecoslováquia temendo que ali se instalasse uma democracia ou um "socialismo com face humana", livre da influência comunista soviética, objetivo do movimento liderado por intelectuais reformistas do Partido Comunista Tcheco, conhecido como A Primavera de Praga.
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