O presente ensaio trata da análise do espaço de representação da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Antioquina a partir da territorialidade cristã ortodoxa de origem árabe e como faceta de uma cultura imigrante no Brasil. Na perspectiva da diversidade imigrante emerge a dinâmica religiosa aliada à perpetuação da religião ancestral como símbolo da permanência cultural e capital simbólico. No contexto recente das duas últimas décadas do século XX o impacto do pluralismo religioso se faz sentir nas relações multiculturais com a espacialidade islâmica e católica romana. Partimos do pressuposto de que a identidade cultural árabe é uma construção histórica e social espacialmente reconhecível através das estruturas da territorialidade religiosa. A identidade é um processo de construção social baseada em atributos culturais possuindo uma dimensão individual e outra coletiva. A religião é uma um aspecto associado a uma rede de estruturação espacial a partir da identidade cultural do imigrante onde a Igreja Católica Ortodoxa Antioquina compõe um espaço de representação dessa cultura. A cultura religiosa imigrante é de especial importância no que tange à estruturação espacial. Este sistema se realiza nas práticas religiosas constituindo uma identidade específica percebida enquanto formas simbólicas articuladas a estruturas da espacialidade. Em contrapartida, reconhecemos que na medida em que a sociedade estrutura e reestrutura o espaço a variável característica cultural e religiosa transformase em uma dialética de assimilação e preservação. Construímos uma interpretação do fenômeno religioso a partir de caminhos epistemológicos específicos nas ciências humanas e em especial na Geografia da Religião. Deste modo, o limiar do estudo das estruturas religiosas como formas simbólicas se apresenta como um desafio de análise. Nosso aporte teórico inspira-se em Ernst Cassirer e parte do pressuposto que o homem é mais que um ser cultural, ele é simbólico. Desse modo, o homem produz símbolos e estes o caracterizam como superação da vida biológica. Há, assim, uma ruptura da ordem natural criada pelo homem e ao qual ele deve se submeter. Esse processo concientiza o homem de que ele não somente vive no universo físico, mas sobretudo em um universo simbólico. Desse modo, a religião é parte deste universo pleno de significados que faz parte indissociável da experiência humana. Sendo assim, o homem não está mais diante da realidade física per si; à medida que sua prática simbólica avança, ele busca em si mesmo os significados do mundo. Os templos nas cidades são a imagem desta prática simbólica mediada pelo sagrado em estruturas religiosas. O sagrado, considerado como atributo distintivo do fenômeno religioso, passa a ser entendido ontologicamente como representação. Sendo assim, o sagrado éa identificação das formas religiosas. As formas religiosas são formas simbólicas espaciais vivenciadas e semantizadas no cotidiano. As religiões são reonhecidas como sentidos específicos das manifestações do sagrado cuja permanência se realiza em estruturas específicas. Há a construção de esquemas rituais, reflexões teológicas das igrejas imigrantes que visam ataviar a realidade atual aos fragmentos dos eventos ancestrais em práticas rituais originais.
Palavras-chave: Igreja Ortodoxa Antioquina, territorialidade ortodoxa, espaço de representação, Geografia da Religião, Igreja Oriental
Nos anos de 2002 a 2006 participamos de um grupo de pesquisa internacional sobre a imigração árabe no mundo. Os levantamentos feitos pela nossa equipe de pesquisa sobre essa questão no Paraná teve o foco na dimensão religiosa como estruturantes das territorialidades imigrantes em especial dos muçulmanos e dos cristãos ortodoxos de origem árabe. Ficou patente que muito embora o Islamismo e o Cristianismo sejam religiões essencialmente universais as formas de como as instituições religiosas, tanto islâmicas como católicas ortodoxas, demonstram suas práticas revelam uma representação cultural específica de caráter imigrante.
Interessou-nos aprofundar a pesquisa das formas religiosas próprias da Igreja Católica Ortodoxa Antioquina e como estas formas simbólicas fornecem uma semântica do espaço de representação dessa instituição religiosa no Brasil.
A Igreja Católica Ortodoxa Antioquina, cuja sede do patriarcado fora transferida da Antaquia[1](antiga Antioquia) para Damasco capital da Síria no ano de 1342, tinha em seu clero lideranças de origem cultural eminentemente grega. De 1724 a 1893 os patriarcas da Igreja eram gregos, somente em 1899 assumiu novamente uma representação árabe dando início a uma reorganização da Igreja com a eleição de bispos árabes. Essa caraterística de uma Igreja cuja comunidade é notoriamente árabe acompanha a diáspora do seu povo nas Américas e estabelece uma territorialidade imigrante no continente.
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