A busca da construção de um novo paradigma civilizatório, diante de uma sociedade mundializada, certamente será apontada pelos historiadores do futuro como uma das características mais marcantes do último período deste final de século e milênio. A sustentabilidade consolida-se como um dos mais importantes conceitos desenvolvidos pela humanidade neste período. Entretanto, nem a sua lógica simples e irrefutável nem a enorme popularização deste conceito a partir da Conferência Mundial das Nações Unidas no Rio de Janeiro – ECO 92, têm sido suficientes para engendrar as mudanças necessárias em direção a sociedades sustentáveis.
Diante do impasse atual, torna-se necessário a busca de alternativas capazes de atenuar os problemas crônicos vivenciados pelo mundo nesse final de século. É necessário atribuir prioridade à sociedade, ao seu funcionamento, às suas contradições e sua diversidade, assim como ao entendimento integrado e sistêmico de suas relações com a natureza, como assinala RATTNER (1993)[1]. Entretanto, os desafios são enormes e o abismo entre as nações ricas e pobres, que se aprofunda com o crescimento do PIB mundial, constitui o principal obstáculo a ser superado. Ainda de acordo com esse autor, este abismo é fomentado pelo padrão insustentável de consumo dos países industrializados, pelo uso eticamente discutível da tecnologia, que tende a perpetuar o subdesenvolvimento, o desemprego e a concentração da renda mundial, a erosão da base dos recursos naturais; a descapitalização e a imobilidade dos governos terceiro-mundistas, que se vêem forçados a adotar, em nome da modernidade, modelos de desenvolvimento socialmente injustos e cujos efeitos perversos se fazem sentir em nível mundial sobre o meio ambiente e sobre as sociedades.
Dentro dessa ótica, a sustentabilidade embute um forte componente econômico, mas não pode evidentemente ser reduzida a esta única dimensão. Para que ocorram mudanças, os conceitos vigentes que servem a uma minoria planetária devem ser revistos, (como educação, ciência, meio ambiente, tecnologia), em função da promoção da igualdade na distribuição dos custos e dos benefícios do desenvolvimento, melhor qualidade do meio ambiente e o respeito à diversidade de culturas (MADUREIRA, 1997)[2]. Nesse sentido, e embora seja amplamente reconhecido que a sustentabilidade vai além da concepção econômica e ecológica do termo, pouca ênfase tem sido dada na dimensão cultural deste conceito. A sustentabilidade cultural, traduz-se, na concepção de SACHS (1993)[3], na busca das raízes endógenas dos modelos de modernização e dos sistemas rurais integrados de produção, privilegiando processos de mudança no seio da continuidade cultural e traduzindo o conceito normativo de ecodesenvolvimento em uma pluralidade de soluções particulares, que respeitem as especificidades de cada cultura local.
A perda da diversidade cultural tem sido reportada por sociólogos e antropólogos como uma das consequências da globalização. No Brasil a tendência de homogeneização cultural é mais sentida no litoral, principalmente nas áreas mais privilegiadas para a indústria do turismo, particularmente no nordeste, que vem experimentando um acelerado processo de "Cancoonização". As comunidades rurais em toda a América Latina estão experimentando um processo de mudanças acentuadas em suas economias, com o turismo e atividades relacionadas substituindo geralmente a pesca e a agricultura (LEMAY, 1997)[4]. Essas mudanças são acompanhadas por profundas transformações sociais com reflexos no papel da família, na estrutura das comunidades e na cultura. O processo de modernização endógena, deve ser capaz de encontrar um caminho entre o "paroquialismo local primitivo" de RATTNER (1998)[5], e a acumulação selvagem, individualista e competitiva dos países industrializados, privilegiando a formação de cidadãos responsáveis, solidários, participativos e conscientes de sua identidade histórica e cultural. Conhecer o passado e a cultura de um povo é valorizá-lo, e constitui o primeiro passo nessa busca. Pequenas ações locais talvez sejam embriões capazes de promover mudanças. Nesse sentido esta obra pretende aportar uma singela contribuição na construção do desenvolvimento sustentável na região da restinga da Lagoa dos Patos.
Página seguinte |
|
|