Em sua teoria do Estado, Friedrich Nietzsche demonstra-se como fundamentalmente contrário à democracia moderna, destacando que esta representa a supervalorização da igualdade e, neste sentido, impede o crescimento de grandes homens que promovam o progresso da cultura e da humanidade. Através da categoria de novos filósofos, Nietzsche propõe uma forma de superar o movimento democrático de modo que a cultura será reconstruída sob uma nova roupagem que não está centrada nos valores dos escravos (povo), mas nos valores dos homens excepcionais. Conclui-se, assim, que, em Nietzsche, são os governantes que devem se proteger dos governados, e não o inverso tal qual preconizava Karl Marx.
Palavras-chave: Democracia, Modernidade, Igualdade, Cultura
Abstract
In his theory of the State, Friedrich Nietzsche has demonstrated as basically contrary to the modern democracy, detaching that it represents the supervaluation of the equality and, in this direction, it hinders the growth of the great men who promote the progress of the culture and of the humanity. Through the category of new philosophers, Nietzsche proposes a form to surpass the democratic movement so as to the culture be reconstructed by a new way that is not centered in the values of the slaves (crowd), but in the values of the exceptional men. It concludes, thus, that, in Nietzsche, are the governing that must be protected from the governed, and not the inverse such as defended Karl Marx.
Keywords: Democracy, Modernity, Equality, Culture
Introdução
Friedrich Nietzsche, ao realizar uma reflexão acerca da democracia e de seus elementos essenciais, toma uma posição claramente contrária a ela, ao constatar que em todas as ideologias democráticas há algo que detesta: a supervalorização da igualdade. Em O Estado entre os Gregos, Nietzsche repudia esta valorização da igualdade retomando os gregos que, a seu ver, eram políticos por natureza. Parte-se do pressuposto de que, na era moderna, não são os poetas e os grandes homens que produzem as representações do mundo e da vida, mas sim os escravos rudes e grosseiros, malfadados à sua eterna condição. Ou seja, a doutrina da igualdade é uma doutrina que vem de baixo, é algo do povo inferior, e não dos aristocratas no sentido aristotélico e nobre do termo.
Neste artigo, de cunho descritivo através de uma abordagem qualitativa, será realizada uma reflexão acerca das críticas do filósofo Nietzsche a respeito da democracia, partindo-se da premissa de que esta leva ao empobrecimento da cultura e à indistinção entre governantes e governados.
Segundo Nietzsche, todas as ideologias democráticas (inclusive socialistas, liberais, etc) têm um ponto em comum: a sua base é fundada no cristianismo, na medida em que, sendo humanistas, pregam a igualdade dos homens. Enquanto o cristianismo ressalta que todos são iguais perante Deus, os modernos somente substituem Deus pelo Estado. Permanece, então, o sentimento de igualdade que se originou no cristianismo e se irradiou por todas as doutrinas democráticas.
Em verdade, a modernidade traz consigo a condição de escravo a todos os homens. A ênfase na dignidade do trabalho, deste modo, é uma forma do escravo dignificar a sua própria condição pois, já que o indivíduo não pode deixar de ser escravo, ele dignifica e confere um valor a tudo que faz enquanto tal. Assim, o sentimento do escravo com relação ao senhor é o da inveja, e esta inveja enseja a vingança e revolução.
Para os gregos, por exemplo, trabalhar era sinônimo de vergonha; para os modernos, é sinônimo de dignidade. Entretanto, para o surgimento dos grandes homens, é necessário que uns trabalhem e outros não; uns tenham tempo para pensar e outros não; uns tenham ócio e outros não. Somente assim, segundo o filósofo alemão, será possível o progresso da humanidade. Deve-se ter em mente que a escravidão é a essência da civilização; logo, sempre houve senhor e escravo, em contraposição ao que prega o ideal de igualdade democrática. Na verdade - e Nietzsche frisa muito bem isso - as relações de poder são constitutivas e indissociadas da vida humana.
Neste sentido, Nietzsche afirma que a cultura moderna é vulgar, superficial e pobre, pois as representações, como vimos, advêm dos escravos. A era moderna equaliza senhor e escravo sob a idéia de todos são iguais perante a lei e, em virtude desta equalização, não há pessoas com tempo para pensar em coisas maiores e amplas sobre e para a humanidade.
Neste caso, dialoga-se diretamente com Rousseau. Segundo Nietzsche, quando Rousseau defende o bom selvagem, ele nega as grandes obras da civilização. Rousseau seria negligente pois, efetivamente, são os grandes homens que revolucionam e fazem a história, e não as massas. A escravidão, desta forma, é a destruição da possibilidade que os homens têm de construir os grandes homens. O líder, por exemplo, não pode ficar restrito ao trabalho material, pois só se pode saber e criar se tiver disponibilidade de tempo. Mais especificamente, sem a escravidão não há cultura, civilização ou homens grandes. O homem tem potencialidades, mas a modernidade frustra o seu desenvolvimento.
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