A idéia de uma justa urbanização, de organização dos homens nesse desejo da cidade contemporânea, não pode ser concretizada se não for planejada, experimentada, acertando e errando para fazer algo que possa ser ´existoso´. É o caso dessa história de ´reviver´ os centros.
Paulo Mendes da Rocha
É, sem dúvida, um grande desafio inserir um museu num espaço urbano – paradoxalmente - decadente e de extrema vitalidade, como é o centro da cidade de São Paulo. No limite dessa inserção em um local bastante adensado, a tarefa torna-se ainda mais árdua, quando se deve adequar uma nova construção a um local cujas bases urbanísticas já estejam tradicionalmente sedimentadas. A proposta do estudo preliminar a ser realizado pelos alunos do curso de pós-graduação da FAU/USP visa a contribuir para formação de profissionais que, ao projetarem um museu, tenham critérios e cuidados específicos para esse tipo de edificação, que não é um mero depósito de objetos de arte, mas, acima de tudo, um espaço de cultura, convívio e lazer. O que segue abaixo é a síntese de um dos muitos estudos realizados.
A presença de um museu nas imediações da Praça da República constituiria um marco na história cultural da cidade (especialmente do Centro), proporcionando-lhe um novo dinamismo, ou seja, "mais vida", daí o conceito de "revitalização". Nesse sentido, há que se observar a diversidade das construções ali existentes, sua importância e seu uso, antes da tomada das primeiras decisões para elaboração do projeto.
O estudo aqui apresentado tem por principal objetivo projetar uma edificação para abrigar o Museu de Arquitetura da Cidade de São Paulo, que, em princípio, seria no quarteirão compreendido entre as ruas: Marquês de Itu, Bento Freitas, General Jardim e Rego Freitas, preservando, obrigatoriamente, o prédio onde funciona o IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) e o da Aliança Francesa.
foto: FAU-USP |
Toma por ponto de partida a real situação do uso do espaço urbano e a condição de manutenção obrigatória do edifício do IAB e o da Aliança Francesa. Seria muito mais fácil, sem dúvida, pressupor a demolição do restante do quarteirão e ajustar o projeto do museu a somente dois edifícios. Haveria maior liberdade para a concepção do partido, para o estudo volumétrico e para a própria redefinição do entorno. No entanto, optou-se por partir de uma realidade existente, que prevê a conservação de alguns edifícios dada à sua especificidade construtiva - como é o caso de um hotel, uma edificação recente e de grande porte - ou ao uso, como é o caso de algumas lojas ali instaladas, que caracterizam o local como um "centro aberto de comércio de material artístico". A mesma diversidade de construções que compõem o quarteirão onde será construído o museu é encontrada em seu entorno: uma mescla de edifícios de várias épocas, alguns novíssimos e outros em péssimo estado de conservação. (Vale lembrar que, quando falamos na construção do museu e nas demolições, estamos no âmbito do hipotético).
foto: FAU-USP |
Do mesmo modo, há grande variação em termos de uso dessas edificações: existem imóveis comerciais e residenciais, por isso a paisagem local é marcada por estilos arquitetônicos diferentes, que resume bem a diversidade urbana que caracteriza a cidade de São Paulo: a cidade patchwork, segundo o antropólogo italiano Massimo Cavenacci (1993). Em sua visita a São Paulo em 1986, assim definiu nossa cidade:
A cidade apresentava-se como uma mistura de estilos, um imbricado de signos, um congestionamento de tráfegos. Experimentos "futuríveis", autoconstruções marginais, demolições constantes, hipermercados ou shopping centers: tudo era estilisticamente permitido e podia coexistir lado a lado. Cidade patchwork.
Dessa forma, num espaço urbano tradicionalmente tão conhecido e tão diverso, com seus múltiplos usos, cogitou-se a implantação do "Museu de Arquitetura da Cidade de São Paulo". Temos, a seguir, um breve estudo dos itens fundamentais para a construção de um museu:
Antes de se pensar o partido, organizou-se um fluxograma para que os elementos obrigatórios do projeto e suas respectivas áreas estivessem devidamente conectados, com fluxo de circulação coerente e viável. O fluxograma auxiliou muito na elaboração dos primeiros croquis, para que houvesse plena obediência ao programa proposto. Adotou-se também o conceito de "museu-museu", de Montaner, segundo o qual, está "inserido na tradição tipológica de museu, adequando-se à morfologia urbana e a construções pré-existentes" (2000:62).
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