O Seminário ministrado pelo professor Marcello Baquero, junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFRGS, teve como objetivo principal, capacitar os acadêmicos a uma compreensão maior sobre o conceito Cultura Política como disciplina que estuda a dimensão cultural da Ciência Política. Além da dimensão teórica, aprendeu-se algumas técnicas de pesquisas através de surveys existentes na América Latina, como o Latinobarômetro.[1] A proposta do professor foi demonstrar a utilidade da cultura política e a sua contribuição para tentar resolver os problemas da América Latina, isto é, pensar a América Latina sob um enfoque alternativo, através da teorização dos próprios autores latino-americanos.
A disciplina procurou desmistificar a idéia dominante que o conhecimento proveniente dos Estados Unidos ou da Europa é o melhor. Segundo Baquero vive-se uma crise de paradigmas, e não há, portanto, um conhecimento único, é preciso pensar conhecimentos alternativos. O que impera na Ciência Política latino-americana é o enfoque institucionalista (fenomenológico internacional): é preciso um enfoque "compreensivo" para o nosso continente. Baquero condena a ausência de diálogo entre os cientistas políticos em que cada professor cria seus "guetos" e acabam por se tornar "profetas" no intuito de agregar um maior número de "seguidores", segundo a afirmação de Weber.[2] Conforme Baquero, a responsabilidade do cientista político é conhecer todas as abordagens e fazer um diálogo entre elas. Porém, o enfoque institucionalista, o paradigma da escolha racional, ainda é dominante na Ciência Política.
Mais adiante, Baquero tratou de dois tipos de conhecimento nas Ciências Sociais: o conhecimento enquanto "representação" e o "conhecimento estratégico" (do analismo simbólico). O conhecimento enquanto "representação" segue a ortodoxia normativa, é o conhecimento oficial, tradicional. Pode-se citar, neste tipo de conhecimento, autores institucionalistas como Habermas, Bourdieu, Huntington, entre outros. Já o "conhecimento estratégico" do analismo simbólico se pergunta "como é possível resolver os problemas." Está preocupado com o "empoderamento" das pessoas, pois é um conhecimento alternativo, interventor, se pergunta sempre se tem eficiência, produz novos conhecimentos e questiona o que é necessário para propor alternativas. Segundo Baquero, é necessário passar do diagnóstico para as soluções.
Este ensaio procura discutir, de forma sistemática, alguns temas que foram tratados no Seminário de Cultura Política. Inicialmente objetiva discutir o conceito de cultura política, segundo os estudos de Almond e Verba, a partir da obra The civic culture (1963). No segundo momento, discute o descrédito por que passa a democracia latino-americana. Para tratar deste tópico, procurou-se fundamentação teórica na publicação do Relatório Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento do (PNUD), intitulado O desenvolvimento da democracia na América Latina, da que teve objetivo de avaliar a democracia, suas características e sua aceitação pelos latino-americanos. No terceiro momento, o ensaio discute o conceito de poliarquia segundo a compreensão de Robert Dahl. No quarto momento, discute a teorização conceitual do capital social, a pertinência desta temática nas Ciências Sociais nas últimas décadas, a evolução histórica do conceito e a diversidade de compreensão entre os teóricos, entre eles, Robert Putnam. Por último, escolheu-se algumas variáveis do latinobarômetro como instrumento para a pesquisa pessoal que pretendo realizar.
De acordo com John Street (1993), o primeiro momento dos estudos de cultura política tem como principal representante, os autores Almond e Verba com o livro The civic culture (1963). É, exatamente com essa obra, que a cultura política começa a ser tratada nos estudos da Ciência Política. Um aspecto dessa nova cultura política mundial é a participação e, com ela, o tema da democracia e seu futuro, pois são preocupações que foram tratadas desde a Segunda Guerra Mundial. Pela primeira vez se define a cultura cívica como uma cultura pluralista baseada na comunicação e persuasão, de consenso e diversidade, que permitiu mudar com moderação realidades consolidadas. Segundo Almond e Verba, teóricos da democracia, desde Aristóteles até Bryce, têm enfatizado que democracias são mantidas pela participação ativa dos cidadãos, em assuntos cívicos, por um alto nível de informação sobre assuntos públicos e por um expressivo senso de responsabilidade cívica.
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