A sinagoga ortodoxa: Novo espaço de sociabilidade para jovens judeus não-religiosos

Enviado por Marcelo Gruman


  1. Resumo
  2. A sinagoga
  3. As correntes religiosas
  4. A sinagoga Beit Lubavitch
  5. A escolha da ortodoxia
  6. Referências bibliográficas

ENFOQUES - revista eletrônica dos alunos do PPGSA - ISSN 1678-1813

Resumo

O artigo trata da construção da identidade judaica por parte de um grupo de jovens judeus cariocas de classe média. A partir da entrada na faculdade, a falta de opções não-religiosas para o exercício da "judeidade" leva muitos dele a freqüentarem uma sinagoga ortodoxa, apesar de não serem religiosos. O artigo tenta analisar o porquê deste fenômeno se, aparentemente, a ortodoxia desafia seu estilo de vida moderno.

Abstract

The article deals with the construction of jewish identity by a group of Young middle-classe carioca jews. The lack of non-religious alternatives for expressing their "jewishness" in the university milieu induces many of them to frequent an orthodox synagogue. The article analyzes the reasons for this apparently paradoxical phenomenon since, at first sight, religious orthodoxy might be seen to challenge their otherwise modern life style

O que leva jovens não-religiosos a freqüentarem uma sinagoga que simboliza o que há de mais tradicional na religião judaica? Esta pergunta surgiu durante meu trabalho de campo para o mestrado, quando me interessava por analisar os processos utilizados por um grupo de jovens cariocas na elaboração de sua identidade judaica.2 Levando em conta sua inserção na sociedade brasileira e sem a sombra do anti-semitismo, ao menos na forma institucionalizada que caracterizou uma parte da história européia e brasileira anterior, pretendia revelar o significado que estes jovens davam á sua judeidade, a importância de se afirmarem enquanto parte de uma minoria num país que tem na ideologia assimilacionista a base de suas relações sociais e o valor dado á endogamia, historicamente um importante determinante na definição de quem é e quem não é judeu.

Os jovens entrevistados são parte das chamadas camadas médias urbanas e sua idade varia entre 20 e 30 anos, são moradores da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, estudaram em escolas judaicas até a faculdade ou pelo menos até a oitava série do ensino fundamenta, socializaram-se em movimentos juvenis sionistas ou não e quase todos já viajaram a Israel num dos programas financiados por instituições judaicas ou com familiares, realizaram os rituais de passagem da religião judaica - o brit-milá (circuncisão), o bar-mitzvá (maioridade religiosa aos 13 anos) para os rapazes e, muito raramente, o bat-mitzvá (maioridade religiosa aos 12 anos) para as moças. Não se consideram religiosos, não seguem os preceitos religiosos da alimentação (chamada kashrut) e das rezas diárias nem fazem o descanso semanal (chamado "guardar o shabat"), considerado um dos principais mandamentos de Deus. Todos trabalham ou fazem algum tipo de estágio na área em que pretendem continuar profissionalmente.

Sua vida social tem início numa das escolas judaicas da cidade. Desde o maternal até o terceiro ano do ensino médio, ou ao menos o oitavo ano do ensino fundamental, o jovem cria os primeiros vínculos de amizade com os colegas de turma. Brincam durante o recreio e estendem a diversão para além do horário

escolar.

Nos sábados á tarde, freqüentam um dos movimentos juvenis existentes, sionistas ou não, nos quais, além das atividades voltadas para a conscientização política, passa-se o tempo jogando bola e pintando as paredes da casa ou apenas batendo papo com os amigos. No movimento juvenil, além dos colegas da escola que eventualmente se encontram, brincam e se divertem com aqueles que lá foram apresentados e que não estudam juntos. Já na fase adolescente, os jovens, cujas amizades se estendem para além das paredes da sala de aula, acham no cinema, no teatro e nos piqueniques nos parques da cidade outras formas de entretenimento. A socialização se restringe, na grande maioria dos casos, á comunidade judaica. Também durante a fase adolescente, e até a entrada na faculdade, viagens a Israel, programadas por instituições judaicas ou pelas próprias famílias, são outra maneira de criar vínculos com o judaísmo e expandir o círculo de amigos.

O ingresso na faculdade marca o início de um novo momento nas relações sociais destes jovens. A partir de então, eles são parte de um universo completamente distinto daquele existente na escola judaica. Em vez do contato mediado pelo sobrenome típico, o que impera é a re lação impessoal do número de inscrição. é na faculdade, também, que a maioria deles toma consciência de sua condição judaica, surgindo aquilo que Cardoso de Oliveira (1976) chamou de "identidade contrastiva", quando a separação entre o "nós" e o "eles" torna-se evidente. Creio que a entrada na faculdade deve ser lida como o primeiro desafio á manutenção das fronteiras étnicas, o momento de decidir quem vai ser amigo e quem vai ser apenas colega de turma, tendo contato maior na época de provas e trabalhos em virtude da troca de informações, ajuda nas matérias em que se é deficiente, trabalhos em grupos etc. é neste momento que o jovem judeu deparase com questões do tipo "continuo sendo judeu se tenho amigos não-judeus ?", "devo afirmar minha identidade judaica para meus amigos não-judeus?" ou ainda "quem são meus amigos verdadeiros?". Além disso, há a possibilidade de sentir-se atraído por um colega não-judeu (uma colega não-judia), criando um conflito de valores relativos á endogamia, princípio considerado muito importante para a manutenção da identidade judaica nas futuras gerações.


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