Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) o educador brasileiro que via como tarefa intrínseca da educação a construção do senso crítico pela verdadeira cidadania - e não apenas a mera formação para o mercado do trabalho - nasceu em Recife, no dia 19 de setembro de 1921 e faleceu no dia 02 de maio de 1997, aos 75 anos, em São Paulo.
O educador que revolucionou o ensino brasileiro escreveu mais de 50 livros e afirmava: "sou predisposto à mudança, à aceitação do diferente. Nada do que experimentei em minha atividade docente deve necessariamente repetir-se. [...] Minha franquia ante os outros e o mundo mesmo é a maneira radical, como me experimento enquanto ser cultural, histórico, inacabado e consciente do inacabamento". (FREIRE, 1998, p.55)
Paulo Freire era, sobretudo, um modelo de filósofo da educação com marcas extremamente significativas que caracterizam seu discurso. Revolucionário, o educador afirmou que a educação está enraizada na realidade do homem, na busca de práticas que levam-no a um futuro melhor e transformador.
"Abrir o texto, fundar o sistema de leitura, não é, pois, apenas pedir e mostrar que é possível interpretá-lo livremente; [...] o jogo não deve ser aqui compreendido como uma distração, mas como um trabalho[...] ler é fazer trabalhar o nosso corpo ao apelo dos signos do texto, de todas as linguagens que o atravessam e que formam como que a profundidade cambiante das frases". Roland Barthes
Ler, para Paulo Freire, poderia ser traduzido como o ato mesmo de viver, respirar- ação que "não se esgota na descodificação pura da escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo", (FREIRE, 1986, p.11-3) nas relações sociais. A proposta do pequeno livro A importância do ato de ler pode ser entendida como base para a conscientização, primeiro passo para desvendar os valores ideológicos que permeiam as relações sociais.
Com a leitura do mundo - "palavramundo" - é possível, segundo o educador, entender os diversos discursos, é possível transformar-(se). Foi com essas intenções que criou e aplicou o método de alfabetização em diversos países. Esse método de alfabetização para adultos propiciava ao aprendiz, além do domínio da leitura e da escrita num curto prazo, um exercício crítico próprio dos problemas sociais, políticos e econômicos que o cercam, através da percepção dos conteúdos culturais, das relações dialógicas, como compreendeu Bakhtin.
Pelo método, a palavra - instrumento de poder e transformação - contribui para que o indivíduo se perceba a si mesmo, a linguagem passa a ser mecanismo de cultura, pois "educador e educando são sujeitos no processo: o primeiro aprende com a aprendizagem do segundo e este descobre o seu universo sobre a orientação daquele - sem qualquer atitude paternalista." (SOTO, 1993, p.3).
Semelhante a Barthes, as palavras na pedagogia de Paulo Freire, são utilizadas como chaves semiológicas, são determinadas e escolhidas pela realidade do alfabetizando que passa a ter diante de si situações significativas que o estimulem associar uma imagem ao seu significado cultural e dialógico.
Nesse universos semiótico "palavra geradora" e "universo temático" são os dois conceitos fundamentais dentro do método Paulo Freire. O primeiro faz parte do contexto cultural do grupo a ser alfabetizado e o segundo uma forma de aplicação das palavras geradoras em situações de vida, no contexto de uso. O contexto figurativo daria, nesse caso, sustentação semiológica da palavra na mente do aprendiz e provocaria debates a propósito das experiências coletivas de cada um do grupo.
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