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Palavra-texto-leitura seriam os postulados da lição de Paulo Freire para uma pedagogia da transgressão. "A leitura verdadeira me compromete de imediato com o texto que a mim se dá e a que me dou de cuja compreensão fundamental me vou tornando também sujeito. Ao ler não me acho no puro encalço da inteligência do texto como se fosse ela produção apenas de seu autor ou de sua autoria. Esta forma viciada de ler não tem nada que ver, por isso mesmo, com o pensar certo e com o ensinar certo", dizia Paulo Freire (1988, p.30).
"Minha alfabetização não me foi nada enfadonha, porque partiu de palavras e frases ligadas à minha experiência, escritas com gravetos no chão de terra do quintal" (FREIRE, 1997, p.3).
"Aprendemos, não apenas para nos adaptar, mas sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, recriando-a" (FREIRE, 1988, p.76)
"[...] toda comunicação é comunicação de algo, feita de certa maneira em favor ou na defesa, sutil ou explícita, de algum ideal contra algo ou contra alguém, nem sempre claramente referido. Daí também o papel apurado que goza a ideologia na comunicação, ocultando verdades mas também a própria ideologização no processo comunicativo" (FREIRE, 1988, p.158).
" Se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar" (FREIRE, 1988, p.163).
Educar para Paulo Freire requer coragem e audácia apesar do desrespeito e da desvalorização do trabalho do professor em todos os níveis. Seus livros resgatam, querendo ou não, uma forma provocativa de ler a prática pedagógica e a concepção, muitas vezes distorcida, dessas ações. Aprender, para o renomado educador, "é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito" (FREIRE, 1988, p.77).
Todas as propostas do professor-filósofo defendem que o ser humano deve construir e pronunciar seu próprio discurso, sua própria palavra e não apenas repetir o que ouve. A palavra, ensina ele, deve ser o instrumento pelo qual o indivíduo se torna criador e sujeito de sua história. "Não sendo neutro, o processo educativo constitui uma ação cultural de libertação e dominação" (MAYRINK, 1997, p.3).
Capítulo 1: Não há docência sem discência
Ensinar exige rigorosidade metódica
Ensinar exige pesquisa
Ensinar exige respeito aos sabres dos educandos
Ensinar exige criticidade
Ensinar exige estética e ética
Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo
Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação
Ensinar exige o reconhecimento e assunção da identidade cultural
Capítulo 2: Ensinar não é transferir conhecimento
Ensinar exige consciência do inacabamento
Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado
Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando
Ensinar exige bom senso
Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores
Ensinar exige apreensão da realidade
Ensinar exige alegria e esperança
Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível
Ensinar exige curiosidade
Capítulo 3 : Ensinar é uma especificidade humana
Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade
Ensinar exige comprometimento
Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo
Ensinar exige liberdade e autoridade
Ensinar exige tomada consciente de decisões
Ensinar exige saber escutar
Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica
Ensinar exige disponibilidade para o diálogo
Ensinar exige querer bem aos educandos (FREIRE, 1996)[1]
A educação para Paulo Freire "tem caráter permanente. Não há seres educados e não educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de educação, mas estes não são absolutos" (FREIRE, 1983, p.28), afirmava.
O método que recebeu o nom do educador, - celebrado e respeitado mundialmente-, foi lançado nacionalmente no governo João Goulart, mas a ditadura militar proibiu a continuidade dessa proposta. Sua utopia, no entanto permanece viva, trava a reflexão na construção sistemática do pensamento pedagógico libertário, recusando, ao mesmo tempo, os discursos vazios e a prática descontextualizada.
Esse também foi o sentido do seu último livro, A Pedagogia da Autonomia, condição indispensável à natureza da educação. Paulo Freire com seu discurso transgressor e revolucionário nos faz refletir sobre os saberes necessários à prática de qualquer educador, sempre fundamentados, segundo sua poética-filosófica, numa visão de mundo alicerçada no diálogo, na pesquisa, na concepção crítica de mundo, na humildade, no bom senso, no risco e na curiosidade, na disponibilidade e, acima de tudo, no ato vivo e pulsante de ensinar e aprender.
BARTHES, Roland. Escrever a leitura. In: O Rumor da Língua. Lisboa. Edições 70, 1987. pp.27-29
_______. Aula. São Paulo. Cultrix. 2005.
CORDOVIL, Claudio. A Educação como ato político. Rio de Janeiro, J.B. 03.05.1997. p.3.
FREIRE, Paulo. Minha primeira professora. Rio de Janeiro, J.B. 03.05.1997. p.3.
_______. Educação e mudança. Rio de Janeiro. Paz e terra, 1983.
_______. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Paz e Terra. 1996.
_______. A importância do ato de ler. São Paulo. Cortez. 1986. p.11-3
FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo. Ática, 2006.
MAYRINK, José Maria. Pedagogia se mantém atual. Rio de Janeiro, J.B. 03.05.1997. p.3.
SANTOS, Milton. Um guardião da utopia. Rio de Janeiro, J.B. 03.05.1997. p.2.
SOTO, Ernesto. Um método para transformar o homem. Rio de Janeiro, J.B. 03.05.1997. p.3.
[1] Índice poético do último livro de Paulo Freire - Pedagogia da autonomia. Saberes à prática educativa.
Autor:
Rodrigo da Costa Araújo
Professor de Literatura Brasileira, da FAFIMA - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé e Mestrando em Ciência da Arte pela UFF.
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