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Os resultados de uma pesquisa realizada por NUTTI (2001), indicam que professores bem sucedidos na prática docente percebem que o fracasso escolar nã£o é causado por fatores relacionados exclusivamente ao aluno. Nessa perspectiva AQUINO (1997, p. 20) afirma que "nã£o existimos para decretar fracassos, mas para promover aprendizagens".
O fracasso escolar é causado por diversos fatores sejam eles de ordem psicológica, social ou estrutural e organizacional da escola e ou do sistema. Em muitos casos, tais fatores atuam simultaneamente. No que diz respeito ao papel do educador, nã£o se pode perder de vista essa compreensã£o sem deixar de reconhecer a parcela que cabe a escola e o que ela pode fazer para o sucesso na aprendizagem de seus alunos.
Assim, a própria açã£o docente torna-se fator essencial na promoçã£o a aprendizagem, tendo em vista que precisam ficar atentos às possíveis causas que dificultam a aprendizagem, podendo levar o aluno ao fracasso. É preciso ter claro, portanto que esses fatores atuam, na maioria das vezes, entrelaçados.
Quadro 01 – Fatores que influenciam o fracasso escolar
Fatores que influenciam o fracasso escolar
A - Falta de estímulo para professores e alunos; aulas repetitivas e massantes; falta de compromisso com alunos que apresentam maiores dificuldades. |
B – Crianças que nã£o tãªm ajuda em casa; crianças com problema de saúde e emocional; crianças que precisam de atençã£o especial na escola e infelizmente nã£o tãªm. |
C – Desnutriçã£o; salas lotadas; falta de professores recuperadores; aquisiçã£o sócio-econã´mica muito baixa; salários dos professores muito baixo, tendo dupla jornada de trabalho; falta de acompanhamento da família. |
D – Os meios em que vivem os alunos; situaçã£o sócio-econã´mica; estrutura familiar fora dos padrãµes; a questã£o de relacionamento, respeito dentro e fora dos limites e fora da escola, entre os envolvidos no processo. |
Há estudos como os de THOMAZ (2000) que coloca a família, o professor da série anterior, o governo, a miséria, o desemprego, a fome, a desnutriçã£o e os problemas de saúde e a própria escola como fatores que interferem no desempenho escolar dos educandos.
Quadro 02 – Diagnosticando o fracasso escolar
Como é diagnosticado o fracasso escolar?
A – Pela avaliaçã£o diagnóstica que mostra as necessidades de intervençã£o para que ocorra a aprendizagem, uma vez que os alunos que se encontram nesta condiçã£o nã£o atingiram os objetivos propostos. |
B – Crianças que nã£o conseguem acompanhar os conteúdos. |
C – Desinteresse, evasã£o e notas baixas. |
D – É diagnosticado por números. Número de alunos reprovados, repetentes ou evadidos. |
Sobre esse aspecto, ABRAMOWICZ (1997) ressalta que os professores desconhecem os processos pelos quais as crianças aprendem. Observa-se, ainda, que o fracasso continua sendo diagnosticado e atacado nas tradicionais análises de processo-produto, que seria por números de alunos que entram e saem.
Nessa concepçã£o, AQUINO (1997) esclarece que a avaliaçã£o escolar possibilita a identificaçã£o das dificuldades, dos sucessos e fracassos, apoiando encaminhamentos e decisãµes sobre as açãµes necessárias, sejam elas de natureza pedagógica, administrativa ou estrutural.
Sobre as atitudes do aluno propenso ao fracasso escolar os professores apontam o desinteresse e a indisciplina. Cabe ressaltar que, muitas vezes, a criança se comporta de forma rebelde, deseducada, como uma maneira de expressar as suas frustraçãµes escolares, deixando sinais de necessidades de processos escolares diferenciados ou da ajuda de outros profissionais. O que ocorre, muitas vezes, é que sem preparo suficiente para identificar e ajudar o aluno, como, por exemplo, encaminhando-os à profissionais competentes, os professores reprovam as suas atitudes, sem colocar em questã£o a própria prática.
Segundo ARROYO (1997, p.18) "os alunos chegam à escola defasados, com baixo capital cultural, sem habilidades mínimas, sem interesse, ou seja, chegam à escola reprováveis". No entanto, os professores nã£o demonstram compreensã£o de que tais atitudes dos alunos podem expressar rejeiçã£o aos conteúdos, às atividades, ou às normas da escola desconexas com a realidade dos mesmos.
Ao rotular a criança, a escola e seus professores estã£o contribuindo para o seu fracasso, ao passo que, como afirma MIZUKAMI (1986) a escola, deve possibilitar ao aluno o desenvolvimento de suas possibilidades de açã£o motora, verbal e mental, de forma que possa, posteriormente, intervir no processo sócio-cultural e inovar a sociedade. Deve ser algo que possibilite ao aluno ter um interesse intrínseco à sua própria açã£o. No entanto, quando a escola nã£o demonstra preocupaçã£o com a nã£o aprendizagem, dificilmente estará proporcionando a esses alunos as condiçãµes de interventores e inovadores na sociedade.
Esse impasse parece reforçar a necessidade da escola e dos professores buscarem estratégias que levem ao sucesso dos alunos, focando na açã£o coletiva e na compreensã£o da questã£o da nã£o aprendizagem.
3.1 Consideraçãµes metodológicas
A nossa investigaçã£o utiliza a pesquisa qualitativa, definida por MINAYO & SANCHES (1993) como aquela capaz de aprofundar a complexidade de fenã´menos fatos e processos particulares e específicos de grupos mais ou menos delimitados em extensã£o capazes de serem abrangidos intensamente.
Compreendendo a Pesquisa Qualitativa como sendo aquela capaz de "incorporar a questã£o do Significado e da Intencionalidade como inerente aos atos, às relaçãµes e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento, quanto na sua transformaçã£o, como construçãµes humanas significativas" (MINAYO,1992, p.10).
Para RAMOGNINO (1982), um trabalho de conhecimento tem que atingir trãªs dimensãµes, a simbólica, a histórica e a concreta. A dimensã£o simbólica contempla os significados dos sujeitos; a histórica, privilegia o tempo consolidado do espaço real e analítico e a concreta se refere às estruturas e aos atores sociais em relaçã£o.
Concordamos com MINAYO (1992), que a compreensã£o do indivíduo como representativo tem que ser completada pelas variáveis próprias, tanto da especificidade histórica como dos determinantes das relaçãµes sociais e também, dentro do próprio grupo ou comunidade alvo da pesquisa, com uma diversificaçã£o que contemple as hipóteses, pressupostos e variáveis para compreensã£o do objeto.
3.2 Procedimento metodológico
Os dados contidos nesta pesquisa foram coletados em duas escolas públicas estaduais, situadas no município de Olinda e Recife. Estabelecemos como critérios para a escolha dessas escolas, o fato de uma apresentar um alto nível de violãªncia e a outra nã£o.
Para compreendermos como se dá a violãªncia nessas escolas lançamos mã£o da observaçã£o da realidade cotidiana dessas escolas. Essa observaçã£o restringiu-se apenas às anotaçãµes contidas no livro de ocorrãªncia adotado pela escola. Esse livro é utilizado pela equipe gestora para notificar os casos de violãªncia que ocorre na escola, para a partir daí tomar as providãªncias necessárias, isso se dá, quando acontece qualquer fato que interfira e chame a atençã£o no dia-a-dia da escola.
Foram observados os alunos da 5ª e 8ª séries do ensino fundamental, analisamos 42 ocorrãªncias em relaçã£o a violãªncia na escola, só em 2007, segue em anexo a descriçã£o de algumas dessas ocorrãªncias.
Observamos que apenas uma das escolas dispãµe desse recurso, a outra nã£o possuí tal instrumento, uma vez que nã£o necessita do mesmo, pois nã£o apresenta um alto índice de violãªncia.
3.3 Campo de estudo
3.3.1 Caracterizaçã£o da Escola Mal. Floriano Peixoto
A escola Mal. Floriano Peixoto, está localizada no bairro de Ouro Preto – Olinda, onde sua equipe é composta de: gestora, gestora adjunta, secretária, uma educadora de apoio, 24 professores, sendo 07 com especializaçã£o, 02 coordenadores de biblioteca, 02 professores readaptados, 06 auxiliares administrativos, 02 assistentes administrativos, 05 assistentes com curso noturno, 02 vigilantes, 02 auxiliares terceirizados (Adlim).
A escola funciona em 03 turnos divididos em: manh㣠(sete turmas), tarde (cinco turmas), noite (nove turmas). No ano de 2007 de acordo com o censo, foram matriculados 395 alunos para o ensino fundamental, 230 para o ensino médio e, 400 para o EJA – fundamental/médio, totalizando 1.025 alunos. A maioria da clientela é de baixa renda, nã£o tem uma assistãªncia da família com relaçã£o ao rendimento escolar do seu filho, motivo pelo qual geram fatores como: desestímulo e uma alta taxa de abandono, contribuindo para o fracasso escolar.
Instalada em prédio próprio de médio porte, conta com 09 (nove) salas de aulas, 01 (uma) biblioteca, laboratório de informática (sem funcionamento), secretaria, sala de direçã£o, sala dos professores, pátio interno, cozinha, área para eventos, estacionamento, banheiros, despensa, almoxarifado, salas amplas, ventiladas, conservadas e limpas.
A escola mantãªm equipamentos eletrã´nicos em uso (televisores, dvd's, caixa de som, freezers, máquina de xerox (sem funcionar), fogã£o, ar condicionado, máquina fotográfica etc.. O apoio pedagógico é verificado através da atuaçã£o de 01 (uma) educadora de apoio à gestã£o, atuando também na parte pedagógica da escola, assim como o pessoal de secretaria e de serviços gerais. A biblioteca tem papel fundamental na formaçã£o dos alunos e na melhoria da qualidade de ensino.
A administraçã£o da escola é exercida pela gestora, gestora adjunta e secretária, mantendo relacionamento com toda a comunidade escolar. A escola é atualizada com os informes educacionais, transmitindo-os a todos os regimentos a que compãµe.
A escola em 2007 diminuiu um pouco seu número de alunos por conta de uma reforma que está ocorrendo desde 2007. com previsã£o para conclusã£o em 01/08/2008. Oferece uma merenda diversificada e saborosa, proporciona atividades extra-classes aos seus alunos como aulas-passeio, teatro, tornando assim as aulas mais atrativas e prazerosas. Festas de comemoraçã£o de datas importantes como dia do professor, sã£o joã£o, carnaval, formatura dos 3ºs anos do ensino de jovens e adultos e ensino regular. Sã£o vivenciadas coletivamente como integraçã£o, organizaçã£o, animaçã£o e participaçã£o de toda comunidade escolar e convidados.
Filhos de famílias carentes, os alunos muitas vezes abandonam a escola para trabalhar e ajudar na renda familiar. No ano de 2006, a escola atendeu 13 turmas do ensino médio regular, EJA II, III e IV, fundamental e EJA I, II, III médio, ficando com a matrícula final de 910 alunos.
Observe no quadro 1 o número de alunos matriculados e os níveis de abandono e reprovaçã£o dessa escola, de acordo com os dados do censo escolar de 2005 e 2006.
Quadro 1 – Taxas de desempenho 2005/2006
Matrícula Inicial |
Abandono |
Transferidos |
Matrícula Final |
Aprovaçã£o |
Reprovaçã£o |
963 |
34 tx 16,2% |
18 |
911 |
118 tx 56,2% |
58 tx 27,6%4 |
944 |
19 tx 14,8% |
15 |
910 |
212 tx 59,9% |
13 tx 25,3%5 |
Fonte Censo Escolar
3.3.2 Caracterizaçã£o da Jarbas Pernambucano
A escola Jarbas Pernambucano está situada na Rua Marquãªs de Tamandaré S/N, no bairro de Cajueiro, bairro de classe média, circundada de, favelas cuja maioria dos seus alunos moram e também, de bairros pobres circunvizinhos.
Instalada em prédio próprio de grande porte, conta com 15 (quinze) salas de aulas (1º andar), biblioteca, sala de tecnologia, laboratório de química (sem funcionamento), laboratório de informática (sem funcionamento), secretaria, sala de coordenaçã£o, direçã£o, sala dos professores, auditório, pátio interno, estacionamento, cozinha, banheiros, despensa e almoxarifado, suas dependãªncias sã£o amplas, ventiladas de fácil acesso, conservadas e limpas.
A Escola mantém equipamentos eletrã´nicos em uso e com bom estado de conservaçã£o (televisores, dvd's, caixa de som, computadores, aparelhos de som, freezers, fax, máquina xerox, fogã£o, ar condicionado, máquina fotográfica) etc..
O apoio pedagógico é verificado através da atuaçã£o de 02 (duas) educadoras de apoio à gestã£o, atuando também na parte pedagógica da escola, assim com o pessoal da secretaria e de serviços gerais. A biblioteca tem papel importante na formaçã£o dos alunos e na melhoria da qualidade de ensino.
A administraçã£o da escola é exercida pela equipe gestora, que é composta por (diretor, diretor adjunto e secretária), que segundo a escola mantém um bom relacionamento com toda a comunidade escolar.
A escola também tem uma prática que é a de atualizar a comunidade escolar com os informes educacionais.
Em 2006 aumentou seu número de alunos, diminuiu a evasã£o, ofereceu a sua clientela merenda diversificada e saborosa, proporcionou atividades extra classe aos seus alunos diversificando e tornando as aulas mais atrativas e prazerosas.
Festas de comemoraçã£o das datas importantes com o: Aniversário da Escola, dia do Professor, Natal, Sã£o Joã£o, Carnaval, Formatura de 8ª série e 3º ano do ensino médio, etc.. Sã£o vivenciadas coletivamente, com integraçã£o, participaçã£o, organizaçã£o e muita animaçã£o.
Filhos de famílias carentes, os alunos muitas vezes abandonam a escola para trabalhar e ajudar na renda familiar.
No ano letivo de 2006, a escola atendeu 30 turmas do ensino fundamental e ensino médio, EJA II, III e IV e, projeto avançar ficando com a matrícula final de 632 alunos.
Diagnóstico da Escola Jarbas Pernambucano
Número de turnos: 03 (trãªs)
Número de alunos matriculados: 1.262
Horário de funcionamento: 1º turno – 7:30 às 12:00 h
2º turno - 13:30 às 18:00 h
3º turno – 18:40 às 22:00 h
No quadro 2, a seguir apresentamos a taxa de abandono e reprovaçã£o da escola em estudos dos anos de 2005 e 2006, de acordo com o censo escolar.
Quadro 1 – Taxas de desempenho 2005/2006
Matrícula Inicial |
Abandono |
Transferidos |
Matrícula Final |
Aprovaçã£o |
Reprovaçã£o |
1.228 |
190 |
*********** |
659 |
196 |
463 |
********** |
EF 12,8% |
*********** |
************ |
EF 67,7% |
32,3% |
********** |
EM 19,6% |
*********** |
************ |
EM 68,7% |
18,3% |
3.4 – Resultados e Discussã£o
Apesar de ser uma escola mais violenta que a Jarbas Pernambucano, a taxa de abandono da Escola Marechal Floriano Peixoto nã£o é tã£o assustadora. Esses dados apontam que o fracasso escolar nã£o está necessariamente atrelado a questã£o da violãªncia, contrariando assim, o que o senso comum advoga, ou seja, que a violãªncia gera o fracasso escolar.
Essa questã£o é preocupante pois abre uma série de discussãµes acerca dessa problemática. Esses dados indicam que é preciso a escola refletir sobre seu papel e o que esses alunos considerados violentos tem a dizer, por que será que eles agem assim, qual a justificativa, e sendo violentos por que ainda assim acreditam na escola, e permanecem nela, e até buscam ela.
Nesse sentido, compreendemos que a organizaçã£o escolar caracteriza-se como uma instituiçã£o multifacetada, que compreende sistemas e subsistemas diversos que se relacionam entre si e com o ambiente. Durante a pesquisa, observou-se que as duas escolas apresentam aspectos que enfatizam a escola como sistema, pois: elas se inter-relacionam com a sociedade (cada uma de uma forma particular), com pais, alunos e professores.
Com base nos nossos dados acreditamos que as instituiçãµes de ensino precisam organizar-se no sentido de propiciar aos educandos a satisfaçã£o de seus desejos para, desta forma, motivá-los. Entretanto, nas escolas públicas surge o dilema de nã£o conseguir satisfazer as necessidades dos alunos em vista da escassez de recursos, ocasionando, assim, frustraçãµes que podem acarretar em conflitos. Neste caso, o educando é instigado a transpor as dificuldades e tem a possibilidade de desenvolver senso crítico mais aguçado.
Ressalta-se que a escola como sistema deve integrar os alunos às pessoas que trabalham nela, para que haja harmonia e colaboraçã£o entre eles. Isso poderá ser realizado através de reuniãµes, eventos e datas comemorativas. Nas escolas pesquisadas, observamos que essas práticas já sã£o vivenciadas, e acreditamos que elas favorecem a formaçã£o e o fortalecimento da comunidade escolar. No entanto, registramos uma maior preocupaçã£o nesse sentido, apenas em uma das escolas da amostra.
Fazendo uma análise comparativa entre as duas escolas, observou-se que a escola Marechal Floriano Peixoto apesar de ser mais violenta obteve maior número de matriculados perfazendo 910, enquanto a Jarbas Pernambucano obteve praticamente a metade do número das matrículas iniciais num total de 659. Porém, verifica-se, ainda assim, que a escola Jarbas Pernambucano apesar do reduzido índice de matricula final, obteve um percentual de aprovaçã£o em 2006 de 68,7% e reprovaçã£o de 18,3%. Já a escola Mal. Floriano Peixoto teve um índice de aprovaçã£o em 2006 de 59,9% e reprovaçã£o de 25,3%, portanto, alto índice de reprovaçã£o.
Todos estes fatores sã£o observados que, apesar de realidades diferentes por uma encontrar-se em bairro de classe média e a outra nã£o, o público-alvo nã£o dispãµe de estrutura familiar para enfrentar os problemas oriundos de baixa escolaridade dos pais, e assim, sem um acompanhamento psicológico e pedagógico eficaz, além das condiçãµes sócio econã´micas desfavoráveis que obrigam muitos a trabalharem cedo e outros a optar pelo caminho da violãªncia, acarretam sérios problemas a vida social e afetiva de si e dos seus companheiros na escola, tanto docentes quanto alunos, provocando graves entraves sociais na vida dos mesmos.
Neste sentido, nã£o cabe só a escola o papel de conscientizador e transformador da vida em sociedade de seus alunos, mas, principalmente, que os governantes proponham políticas públicas de inserçã£o dessas pessoas em atividades profissionalizantes em busca de um futuro melhor para si e suas famílias.
A análise da observaçã£o realizada na realidade das escolas estudadas, permite-nos formular algumas consideraçãµes ressaltando, porém, que estas assumem caráter de incompletude. Isso porque nã£o pretendemos elaborar conclusãµes definitivas ou generalizaçãµes, mas, aproximaçãµes que venham subsidiar as discussãµes sobre a violãªncia nas escolas e a relaçã£o com o fracasso escolar.
Nossos dados mostram que nã£o só a escola produz violãªncia, mas existem vários fatores externos que contribuem para que ela ocorra, visto que, muitas vezes, a violãªncia na escola é uma reaçã£o à falta de diálogo na família, à atitudes de rejeiçã£o nos vários espaços onde a criança e o jovem convivem, além de problemas familiares, falta de moradia, uso de drogas e álcool na família ou nos grupos de amizade, de festa entre outras. Entã£o, esses determinantes "trazidos" para o ambiente escolar na experiãªncia de crianças e jovens que, no contato com outras pessoas (colegas, docentes, funcionários), também marcados por problemas similares, vãªm provocando problemas individuais e coletivos, levando a situaçãµes violentas em sala de aula e em outros espaços da escola, inclusive no momento do recreio. Nessa perspectiva, Santos apud Dimenstein (2000) afirma que a visã£o é de que a violãªncia vem de fora, nunca ela é gerada de dentro do próprio estabelecimento escolar.
Nã£o obstante isso, e mesmo incipiente já se inicia uma prática de construçã£o de uma cultura de educaçã£o e uma cultura para a PAZ nas escolas. Há diretoras que vãªm se preocupando em dedicar tempo para conversar com as alunas e os alunos sobre seus problemas, melhorar a imagem dos espaços físicos da escola. Outras iniciativas vãªm se dando com a realizaçã£o de debates e seminários na própria escola, envolvendo estudantes, docentes, mã£es e pais.
Pela divulgaçã£o diária da violãªncia na mídia, vimos que esse fenã´meno da violãªncia passou a ser incorporado no dia-a-dia da escola. Nã£o se atribui mais a responsabilidade somente ao estranho, àquele que está fora da escola, mas também à própria escola. Ao ser compreendida, nã£o se abandona mais esta idéia e a atençã£o se volta para dentro da escola e açãµes violentas aí ocorrem e sã£o vistas, até mesmo, no intervalo de uma aula de uma disciplina para outra. Muitas vezes, os autores da violãªncia escolar a percebem somente como possibilidade de ascensã£o social em suas vidas, pois passam a "ser heróis", motivo de notícia no rádio e na televisã£o, considerando que esta nã£o pode ser oferecida pelo ensino público, cuja capacidade socializadora para uma formaçã£o humanista, técnica e ético-política está muito reduzida na formaçã£o dos seus educandos. Esta está muito fragilizada, conforme estudos de François Dubet e Danilo Martuccelli (1996). A escola foi pensada como espaço de socializaçã£o de novas geraçãµes para formaçã£o de humanos capazes de viverem ativamente como cidadã£s e cidadã£os na sociedade. Entretanto, esse papel está muito comprometido na contemporaneidade, dada a perspectiva das políticas públicas inspiradas no modelo neoliberal dos governos de diversos países capitalistas.
A violãªncia na escola deve ser entendida como produto da desorganizaçã£o econã´mica, social e cultural. Seus efeitos serã£o neutralizados apenas quando a escola tiver o reconhecimento de que pertence e beneficia a todos, indiscriminadamente. Este reconhecimento passa pelo fortalecimento das relaçãµes família-escola. Contudo, é preocupante perceber que os pais sugerem que o problema seja tratado simplesmente como um caso de polícia.
Os dados coletados e as informaçãµes geradas na presente pesquisa podem e devem ser utilizados por diferentes instã¢ncias da sociedade. Vale ressaltar que, no final das contas, a educaçã£o pública desempenha um papel fundamental no desenvolvimento educacional. Quanto melhor for a escola, quanto mais os pais ou responsáveis participarem e desejarem uma boa escola para os seus filhos, melhor será o futuro da sociedade, pois a educaçã£o é um dos principais motores de desenvolvimento social e econã´mico na modernidade.
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Monografia apresentada ao Curso de Especializaçã£o em Gestã£o Democrática do Ensino Fundamental / Gestã£o Democrática do Ensino Médio da Universidade Federal Rural de Pernambuco como requisito para obtençã£o do título de especialista.
DEDICATÓRIA
Dedicamos este trabalho aos nossos familiares, esposos e filhos, pelo apoio e compreensã£o durante o curso.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradecemos a Deus por ter concedido o ensejo de iniciar o Curso e concluir este trabalho, tornando-se um grande marco em nossas vidas.
Aos nossos esposos e filhos, que com muito carinho nos incentivaram nessa caminhada.
A professora orientadora Rejane Dias da Silva.
Aos nossos professores que fizeram parte dessa conquista.
Aos nossos colegas que compartilharam mais estas nossas conquistas.
Autores:
Andre Gustavo Cosme dos Anjos
Cristina Mariã¢ngela Rangel Machado
Evane Souza Pessoa
Geruzita da Silva
Lygia Maria Pessoa Negromonte
Maria de Lurdes Laert Cavalcanti
Orientadora: Profª Rejane Dias da Silva.
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
Curso de Especializaçã£o em Gestã£o Democrática do
Ensino Fundamental / Gestã£o Democrática do Ensino Médio Recife
2008
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