Cada povo tem a sua história. Este é elemento integrante da sua existência; todo povo necessita de ter consciência e conhecimento das suas imagens. Elas são importantes, pois sem raízes não há vida.
A história do povo ngaguela não se reduz em simples narração de acontecimentos do passado, engloba toda a sua experiencia, cheios de factos reais, sonhos, vivencias, lendas, histórias comunitárias, além disso engloba o mundo concreto do nganguela que, unicamente se mantém presente através da tradição que se comunica de geração a geração.
A história não e um conjunto de belas teorias fruto de ideologias, mas é procura da verdade. Esta está formada pelo que realmente se passou e pelo património do imaginário, do simbólico de um povo que interpreta e integra os acontecimentos no seu ser e no seu evoluir. A memória histórica e cultura de um povo e um dos elementos da sua identidade e evolução porque quando um povo perde o passado, arrisca-se a construir sobre o vazio e isto impede de se assumir como gente com personalidade própria no evoluir da história.
O passado é sempre o ponto de referência necessária na construção do futuro; É raiz da árvore em crescimento. O próprio termo nganguela que da o nome a este grande povo, há tradições e interpretações que encontram-se em diferentes partes. De acordo com a sua etimologia, o termo "ganga" em nganguela significava; conhecedor dos segredos da natureza.
Ao princípio usava-se no sentido positivo para curar epidemias evitar estiagem, impedir derrotas nos campos de batalhas.
Mwene Nganga é o nome dos antepassados máximos dos nganguelas, isto é segundo fontes orais destes mesmos povos. Era um soba Mwene notável pelo Extraordinário dos segredos de mal.
Este trabalho tem por objectivo dar à conhecer e saber um pouco acerca do povo nganguela mais propriamente dos ritos de iniciação deste povo.
Preparação: começando pelo eixo do tempo o Nganguela distingue o tempo da chuva e o tempo seco. O tempo seco passa-o no quimbo. Ali não tem grande trabalho vai a mata caçar ou colher o mel, realiza as festas, vive mais com os outros. E neste tempo que se realiza a cerimónia do vamba (circuncisão). No eixo do espaço encontra-se o quimbo e a mata. O quimbo está ligado ao tempo seco, e a mata ao tempo das minas.
O quimbo costuma estar á beira do rio ou numa chana, a comida vem da mata, os Nganguelas não têm praticamente nacas (hortas) nem árvores de frutas, a caça vem também da mata. No quimbo criam cabras, galinhas, bois e porcos; não para a alimentação mas para as festas ou para resolver problemas familiares como o alambamento e óbitos. O quimbo é o lugar das reuniões e festas da vida social, ai encontra-se escolas e todo mundo da cultura.
Da mata o Nganguela tira tudo o que precisa para a sua subsistência, as lavras estão na mata, para as fazer cortam algumas árvores, ali semeiam milho e massango se é uma zona arenosa e sem água no meio mistura-se abóboras e outras hortaliças. Perto da aldeia semeia-batata- doce e mandioca, na mata encontra-se ainda cogumelos, raízes para curar algumas enfermidades, massarocas para arregalar as crianças. Ali passam os nove meses do tempo da chuva.
A circuncisão realiza-se num ano de muita abundancia, porque durante muitos meses quase ninguém trabalha e também durante este tempo gasta-se muito milho.
Para este acontecimento é necessário que aja um grupo numeroso de rapazes que ainda não tenham sido circuncidados. Geralmente, por volta dos seis aos dez anos podendo ser mais velhos ou mas novos, chegando á haver homens entre eles. Reúnem-se os sobas e séculos (velhos com autoridade) das aldeias que lhes estão sujeitas a fim de combinarem o dia da circuncisão. Marcado este dia, o soba avisa o pregoeiro para o comunicar a toda gente e avisar em especial as mulheres para porem de molho o milho suficiente para o fabrico da cerveja a que se chama «VWALA VWA MPOCO ou VWALA VWA MANINGA» que quer dizer cerveja de sangue ou cerveja de faca.
Esta festa da cerveja, assistem ainda os incircuncisos, com ela pretendem honrar os antepassados para que não lhes façam mal e lhes protejam. É, portanto, um sacrifício. No dia seguinte há a caçada geral (likandyo) neste likandyo, tomam parte os homens circuncidados, reúnem-se dentro do cercado da casa do soba com as suas armas gentílicas, arcos e flechas azagaias, machados e purinhos, e dali partem para a floresta sem trazerem carne para toda gente.
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