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Já Bettarello e Aricó (1988) nos trazem que
"o sentimento mais profundo do alcoólatra é de incapacidade, dependência e desestruturação emocional, ele precisa constantemente criar para si a impressão de que não é tão ruim quanto se imagina. Os subsídios externos são buscados vorazmente como forma de melhorar a auto-estima. A urgência dessa procura não favorece o raciocínio. Pensar é esperar, e isso o alcoólatra não tem condições de fazer satisfatoriamente. A ação substitui a reflexão".
Poderemos acompanhar melhor essa reflexão entre o álcool e suas conseqüências relacionais mais adiante.
3.3.1 problemas sociaisNo que diz respeito aos comportamentos desviantes estudado pelos sociólogos há décadas, como suicídio e crime, a maior ocorrência destes fenômenos entre alcoolistas tem sido explicada, basicamente, em termos de estrutura da sociedade e do grupo social a que pertencem os alcoolistas:/ tanto a estrutura da sociedade como a carência de recursos próprios do alcoolista criaram a anomia, em geral, associada ao crime e ao suicídio (MERTON apud BERTOLATE; RAMOS, :1997 ) e atualmente tem-se acrescido essa lista grande parte dos acidentes de transito.
A explicação de porque em certas sociedades alguns de seus membros se tornem alcoolistas ou bebedores- problema e outros não é vista não como função de estrutura e da dinâmica da personalidade, mas como função de diversos fatores socioculturais:
a) A função exercida pelo álcool em nível individual (em geral redução da ansiedade).
b) A existência ou não de formas alternativas de redução de tensão e ansiedade; e
c) A maior ou menor disponibilidade de bebidas alcoólicas. (BERTOLATE; RAMOS, 1997: p 135).
Como descrito por Ramos temos vários teorias para explicar tal efeito e quando tentamos definir a personalidade do alcoolista, pois tais propostas tem sido de grande valia e sendo confirmada e amplamente aceita "entretanto, do ponto de vista sociológico, fica difícil entender a ingestão patológica, ou a existência de bebedores problema, num dado grupo, sem se considerar com relevância o significado cultural da ingestão do álcool, as exigências de desempenho de papeis sociais e existência de modos de adaptação alternativos" (p.135).
Cada vez mais ganhando espaço entre os estudiosos os problemas sociais causados pelo consumo de álcool em excesso por indivíduos. Como base até hoje um artigo publicado por Kunpfer (apud BERTOLATE; RAMOS, 1997, p. 137) onde, foram agrupados dez indicadores associados a três critérios:
A. Indicadores de conseqüências sociais
Problemas no emprego
Problemas com amigos
Problemas policiais
Diagnóstico hospitalar
B. Problemas conjugais Indicadores de dependência
Consciência do problema
Uso de álcool para enfrentar a vida
Sintomas de dependência
C. Indicadores de ingestão
Períodos prolongados de ingestão
Ingestão elevada com freqüência
Não obstante sua operacionalidade, alguns questionaram a generalização intercultural desta proposta, a qual vem sendo constantemente revisada (BERTOLOTE apud BERTOLATE; RAMOS, 1997) e o primeiro dos três critérios em recebido enorme aporte de contribuições. A guisa de exemplo, indicador de numero três (problemas policiais), já é utilizado se discriminado problemas de envolvimento com a polícia por embriaguez em via publica ou por agressões físicas, de problemas causados por dirigir em estado de embriaguez e de problemas judiciários. Por outro lado o problema no emprego vem sendo decompostos em problemas do desempenho no trabalho e problemas de acidentes do trabalho (BERTOLATE; RAMOS, 1997).
3.3.2 Problemas sociais no Brasil
Em sociedades estratificadas por renda, educação e ocupação, há uma tendência a padrões de ingestão distintos, para os diferentes extratos: nos mais altos há uma grande tolerância a ingestão de álcool, em qualquer nível, com franca desaprovação de comportamentos agressivos, verbais ou físicos; nos extratos médios há menor tolerância a ingestão de álcool com evidentes desaprovações da embriaguez e de suas conseqüências; nos extratos mais baixos não há restrições nem a ingestão, nem a embriaguez, nem a agressividade que em geral a acompanha. Sobre os extratos médios pesa ainda o fator sociológico do desejo de identificação com os mais altos e o temor a identificação com os mais baixos, criando uma variedade da ambivalência mencionada acima, com seus riscos correspondentes (DOLLARF apud BERTOLATE; RAMOS, 1997, p. 134-135).
O tratamento da dependência química é um assunto relativamente novo. Não faz dois séculos, o beber excessivo do Reino Unido era punido com exposição em praça pública e publicação dos nomes nos principais jornais da cidade (MILLER apud RIBEIRO: 2007). Até meados do século XX, o termo dependência enfatizava mais as complicações clínicas do consumo do que o comportamento em si (CROWLEY apud RIBEIRO: 2007).
Temos registros de vários depoimentos de pessoas que tem a vida controlada pelo vício excessivo do álcool, é problema no mundo que muitas das vezes se passa despercebido. Como sabemos o alcoolismo é circulo vicioso, e sua causa final é beber compulsivamente. Esses questionamentos sobre alcoolismo resultam na enorme a diversidades de programas terapêuticos, como:
a) Internações hospitalares;
b) Tratamento ambulatorial;
c) As psicoterapias grupal e individual;
d) Alcoólicos anônimos[5]
Ou também a ordem que escolhemos para tratar neste artigo começando pelo reconhecimento do vicio, tratamento químico, internações do alcoólatra, a importância da família e os grupos de alcoólico anônimos.
O cumprimento destas ações, dentro da realidade (interna e externa) de cada serviço, requer estratégias específicas, tais como ampliação ou modificação do foco do atendimento; investimento em capacitação profissional ou na ampliação da rede de apoio; melhora do ambiente de trabalho; e outros. Além disso, os responsáveis pela execução e os recursos (humanos, logísticos e financeiros) necessários para o sucesso do empreendimento devem ser bem estabelecidos (RIBEIRO: 2007).
O alcoólatra é beneficiário por que bebe. Cria dependência porque é beneficiado. Então, bebe porque criou dependência. O processo é progressivo e (por ser o álcool um tóxico), no fim, fatal. A única maneira de deter a progressão do alcoolismo e pôr em fim processo do circulo vicioso é para de beber.
Para Bernik, (apud FORTES, CARDO, 1991), não está ainda estabelecido, mas pode haver um tratamento que seja mais eficiente para um determinado indivíduo alcoólatra. Nesse caso é muito importante planejar um sistema de atendimento individualizado baseado em um processo de tomada de decisões o menos empírico e mais norteado por informações de pesquisa, descrevendo o perfil da população e os padrões de seguimento utilizados. Usando de em outras palavras, torna-se necessário verificamos a eficaz do tratamento em condições ideais, abrangendo tanto a eficácia quanto a aderência do paciente ao tratamento oferecido.
Apenas a partir da segunda metade do século, o conceito de dependência deixou ser considerado um desvio de caráter ou um conjunto de sinais e sintomas físicos para ganhar características de transtorno mental. (GRANT apud RIBEIRO, 2007). Além disso, ao entender o consumo de álcool e drogas como um padrão de comportamento cuja gravidade varia ao longo de um continuum, influenciado por fatores biológicos, psicológicos e sociais, surgiu à necessidade de organizar serviços que atendessem aos usuários em seus diferentes estágios e considerassem também sua reabilitação psicossocial e qualidade de vida. Cada pessoa pode modificar alguma coisa na sua própria vida para não sofrer todas as conseqüências desta doença.
Os membros de uma família comparados com o problema devem primeiro aprender a libertar-se da pressão em que vivem e tornarem-se independentes do alcoólico, pois ao tornarem-se independentes os membros da família preparam-se para ajudar de uma forma mais efetiva.
4.1 TER CONSCIÊNCIA DO SEU VÍCIO
O alcoólatra necessita de auxílio, e necessita o mais rápido possível. Tem sido de todo desacreditada nos últimos anos a crença amplamente aceita de que os alcoólatras precisar "chegar ao fundo do abismo" antes que possam ser ajudados. Espera que o alcoólatra compreenda que ele necessita de tratamento é simplesmente um engano, porque, entregue a si mesmo, é provável que ele se torne menos propenso a procura tratamento. É necessária uma força motivadora que direcione o alcoólatra ao tratamento. Pois em sua maioria dos "alcoolistas o conceito de doença não é entendido a não ser com o tempo. O conceito de vicio, decorrente da moral permanece em varias camadas da população. Alguns médicos que se encontram em tratamento também não percebem a sua doença e foi necessário alguém que os orientassem a procurar ajuda (ARAÚJO, 1997, p. 177).
Na prática, o alcoolista procura os serviços de saúde com as queixas mais diversas, que variam de insônia, nervosismo, até situações mais graves como gastrite, sangramentos, pancreatites, hepatite ou queixa cardíacas. Uma vez estabelecida o diagnóstico, há uma necessidade de abordá-lo para que trate da disfunção orgânica que trouxe até a consulta, é claro que muitas vezes o problema não está no desconforto do corpo, mais o paciente apresenta faltas no serviço, em especial, nas segundas feiras, ou tem um decréscimo na qualidade da produção de seu trabalho, e é provável que isto seja uma preocupação do Setor de Recursos Humanos de sua empresa. Outras vezes o alcoolismo não afeta; nem o corpo nem o emprego; no entanto gera uma preocupação no âmbito familiar ou de amigos que notam mudanças no comportamento do chefe da família, no filho, na mãe ou no amigo após terem ingerido álcool, e estas mudanças colidem com o padrão aceito pelo grupo.
De novo Araújo (1997, p. 178) ressalta que é "importante desde o inicio o alcoolista posso ir assumindo o seu tratamento e a responsabilidade por sua conduta"
Um dos recursos utilizados utilizado é o mecanismo de negação que "é provavelmente, o mais significante fator que está entro o alcoolista e a pessoa que faz a abordagem. Toma as mais variadas formas, que vão desde minimizar a seriedade dos problemas até a autopiedade. Além disso, faz-se acompanhar na maioria das vezes por projeções e racionalizações" (BERTOLATE; RAMOS, 1997, p.146).
É bem conhecido o fato de o alcoolista ser a ultima pessoa a admitir a sua doença. Também se sabe de sua relutância em consultar o médico, e que faz muito pouco para reverter à situação. Mas isto não quer dizer que nada possa ser feito (BERTOLATE; RAMOS, 1997, p.146).
Vendo tais situações, o alcoólatra em meios às barreiras que surgem em sua frente tem antes de tudo deixar ajuda-se, sabemos que é necessária uma força que os motivem a procurar ajuda, ou seja, que os direciones para hospitais ou clinicas especializadas para tais finalidades. Também vemos como necessidade ter pessoas qualificadas que possam estar comprometendo com o bem-estar do paciente. Ajuda também emergir da sociedade em geral, portando, fica claro que ajuda não fica reduzindo aos hospitais e clinica, a sociedade também tem que abraçar a causa.
Nestas situações se é aconselhável que seja envolvida no tratamento do alcoolista as pessoas mais significativas para ele; tais como esposa, filhos, pais, amigos, empregador, líder religioso, ou qualquer outra pessoa importante para o paciente (BERTOLATE; RAMOS, 1997, p.147). O autor da um tom de ênfase nesse período, pois pode ser decisivo e retrata os primeiros contatos com o médico e qual é o procedimento a ser tomado pelo mesmo.
É bom lembrar que se for um familiar a procurar o médico para pedir orientação para o tratamento do membro da família, a primeira tarefa médica a tomar é tranqüilizar esse familiar, pois a experiência tem mostrado que essa pessoa já convive com o alcoolismo, às vezes a mais de 10 anos e carrega consigo uma carga grande de culpa. Ela precisa ser informada corretamente do conceito da doença para que se sinta aliviada. Às vezes gasta-se mais de uma entrevista para que isto aconteça; mas vale a pena, pois o sucesso da abordagem em muito vai depender desta tarefa inicial. Assim como o alcoolista, também a família usa mecanismo de negação em função da situação de culpa em que se encontra (BERTOLATE; RAMOS, 1997, p. 148).
Ramos ainda ressalta, mas adiante como muito importante, pois leva o alcoolista a sentir que as pessoas que confrontam querem realmente ajudá-lo, pois vale à pena investir porque gostam dele (BERTOLATE; RAMOS, 1997, p.148). Um paciente recuperado em fase de recuperação também pode auxiliar muito, desde que estejam no mesmo nível ou com perdas parecidas, pois do contrario pode reforça o mecanismo de negação. Pode-se também usar a eclosão de uma crise (BERTOLATE; RAMOS, 1997, p.150)
4.2 DESINTOXICAÇAO
A desintoxicação segundo o dicionário da língua portuguesa nada mais é do que neutralização ou eliminação pelo organismo de substancias tóxicas endógenas ou exógenas; ação de eliminar a dependência em relação a um tóxico, como álcool ou psicotrópico.
Depois de o alcoolista ter sido devidamente informado, orientado, motivado ao inicio do tratamento. Se da um novo passo de profunda importância no processo de tratamento, onde o paciente terá e deverá realmente demonstrar na prática que ele onde, "portanto, o processo de desintoxicação deve ser visto de uma maneira mais ampla que um mero reajuste eletrolítico (BERTOLATE; RAMOS, 1997, p.150)".
A desintoxicação é um processo relativamente rápido, se entendido apenas no seu componente bioquímico. Bertolate; Ramos (1997, p.153) traz alguns critérios norteadores no processo de recuperação/ desintoxicação. Para eles muitos critérios tem sido propostos. O senso comum, no entanto é o seguinte.
1. Nível de dependência
2. Nível das complicações orgânicas
3. Nível das complicações psíquicas
4. Nível da barreira defensiva
5. Nível sócio- econômico
Em síntese, pode-se afirmar que dependência grave, complicações orgânicas e/ou psíquicas evidentes, negação maciça, família deteriorada (BERTOLATE; RAMOS, 1997, p.153)". E mais a frente seguem esclarecendo sobre o procedimento clínico a ser tomado depois de ter alertado sobre o desencadeamento de um delirium tremens[6]
Portanto, é boa pratica que um clínico familiarizado com o atendimento de alcoolistas seja chamado a intervir nos primeiros momentos da desintoxicação para um completo check-up do enfermo. Esta avaliação clínico/ laboratorial deve seguir os seguintes exames de rotina: hemograma com V.C.M. (medido e não formulado); GGT; T.G.O; triglicerídeos; qualitativo de urina; V.D.R.L.(BERTOLATE, RAMOS, 1997, p. 154)
Mas adiante ressaltam que a maioria dos alcoolistas "está apta a completar sua desintoxicação sem nenhum amparo farmacológico (p. 154)" ressaltando que recentemente cada vez mais os fatores de ambiente até sendo importante. Mas trás também que "no entanto, é fato que de 5% a 10% dos pacientes precisarão, para superar da síndrome de privação de ajuda medicamentoso(154)" como trataremos nas próximas páginas.
4.3 INTERNAÇÕES DO ALCOÓLATRA
Em itens anteriores colocamos em mente que, o alcoólatra dever ter consciência do seu vício e a necessidade de uma pessoa que o incentive. De como deve ser os primeiros contatos e abordagem medica. Pois como sabemos alguns anos atrás o alcoolista era compreendido diante da sociedade como uma pessoas doente. Mas isso mudou, com avanço de pesquisas e profissionais que se dedicam à saúde mental responsáveis pelo seu tratamento, admitindo tais pacientes em hospitais psiquiátricos, essa nova forma de ver o alcoólatra tem melhorado bastante diante da sociedade.
4.3.1 Constatações no primeiro contato
Até ano de 1987, no Brasil este assuntos eram pouco comentados, anos seguintes com surgimento da CEBRID (Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas). Deu inicio a um levantamento das internações hospitalares por dependência de drogas, com objetivo de contribuir para o conhecimento da realidade brasileira neste aspecto. Esse levantamento foi estendido pelos anos seguintes, permitindo o estudo de internações ao longo de sete anos consecutivos.
Essas pesquisas apontaram a participação do álcool, sendo responsável de 95% do total das internações por dependência (psicose induzida por drogas). Vejamos outros relatos: Outros estudos brasileiros complementaram essa informação, apontando o alcoolismo como das principais patologias responsáveis por internações em hospitais psiquiátricos (MORGADO, IGUCHI, 1983).
A sustentação desses estudos sucedeu que, o levantamento das internações hospitalares, realizado pelo CEBRID, observou que o álcool foi responsável por mais de 90% dos casos de internações nos sete analisados (CARLINI, 1995, p.107-114).
Observando os resultados incertos e as repetidas internações desses pacientes, levantam três hipóteses para explicar tais ocorrências. Vejamos:
Primeiro, o desconhecimento por parte dos pacientes do que seja o alcoolismo, mesmo durante sua internação. A segunda hipótese que tenta explicar o insucesso das internações, é que essas geralmente ocorrem numa fase muito avançada dos distúrbios, já com prognóstico reservado. E em terceiro lugar, o insucesso se deveria ao próprio psiquiatra, diante de sua expectativa negativa em função das condições gerais de seus pacientes e da alta incidência de recidivas (MATOS, KARMAL, P. 378).
Essas barreiras serão encontradas para o alcoolista que carrega consigo uma complexa relação de negação, como físicas e sociais e até mesmo econômicas criando assim barreiras quase intransponíveis para uma abordagem disciplinar. Dessa forma percebe-se que o resultado desses fatores advém da dificuldade de se manterem em tratamento, permanecendo presos ao superficialismo dos sintomas e bem-estar, sentido nos primeiros dias de internação, evidenciando-se então as distorções do objetivo das internações psiquiátricas.
Borkman (1999) define a relação desses profissionais com seus grupos de ajuda mútua situando-se em três níveis: os simpatizantes (mentes aberta), os céticos (mente fechadas) e aqueles simplesmente indiferentes. Em outras palavras, tais esferas encontram-se por dos profissionais de saúde, concomitantemente desprezo, admiração ou desinteresse.
Nestes termos, Bordieu (1983, p. 89) nos adverte para o fato de que "em cada campo se encontra uma luta, da qual se deve, cada vez, procurar as formas especificas, entre o novo que está entrando e que tenta forçar o direito de entrada e o dominante que tenta defender o monopólio e excluir a concorrência." Em suma, os médicos, baseados em seus preceitos científicos, podem advogar para si o melhor método de tratamento das dependências do álcool.
A organização de um serviço começa pela clarificação da estrutura disponível (enquadre terapêutico) e das necessidades dos indivíduos que irão procurá-la. Alguns questionamentos relacionados a essa fase são a prevalência local do consumo de substâncias psicoativas, da via de administração e das complicações clínicas e sociais relacionadas; o perfil sociodemográfico da população atingida; o modelo que atenderia da melhor maneira tais necessidades; a eficácia das tentativas de tratamento anteriores; a existência de serviços de apoio na região; e o nível de capacitação e entrosamento da equipe (RIBEIRO, 2007).
A internação dos alcoolistas está cada vez mais preocupando o poder publico, uma vez que a maioria desses é tratada em hospitais públicos, pois o consumo de álcool vem se alastrando muito rapidamente, facilitado pelo baixo custo e fácil acesso a todas as camadas sociais, gerando grande preocupação nas comunidades acadêmica, terapêutica, familiar e, em alguns países, também governamental.
4.3.2 Dados hospitalares
No Brasil, entre os anos de 1970 e 1996, ocorreu um acréscimo de 74,53% neste consumo (CARLINI-MARLATT apud. SEIBEL; TOSCANO JUNIOR, 2001). Estima-se que 11,2% da população brasileira seja dependente de álcool. Este índice, dividido por gênero, aponta a dependência em 17,1% da população masculina e 5,7% da população feminina (CARLINI et al., 2002)
Estes dados, que por si só já são preocupantes, tornam-se ainda mais inquietantes quando analisamos a distribuição etária deste consumo: 41,2% de alunos dos ensinos fundamental e médio da rede pública, entre 10 e 12 anos, fizeram uso de álcool (GALDURÓZ et al., 2005).
Da mesma forma que o início ocorre cada vez mais precocemente, o consumo de álcool pelos idosos também vem aumentando consideravelmente: 15% dos idosos que procuraram atendimento em determinado ambulatório de Geriatria na cidade de São Paulo apresentavam a condição de dependentes de álcool. No Brasil, o álcool é responsável por 85% das internações decorrentes do uso de drogas; (GALDURÓZ et al., 2005)[7] 20% das internações em clínica geral e 50% das internações masculinas psiquiátricas. (FIGLIE, 2004). Somente entre os anos de 1995 e 1997, as internações decorrentes do uso abusivo e dependência de álcool e outras drogas geraram um gasto de 310 milhões de reais. Além disso, estudo realizado em Recife, Brasília, Curitiba e Salvador detectou índice de 61% de casos de alcoolemia em pessoas envolvidas em acidentes de trânsito. (ABDETRAN, 1997).
Estudo realizado em 1993, pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), mostrou que o alcoolismo, se comparado a outros problemas de saúde, é responsável por gerar três vezes mais licenças médicas; aumentar em cinco vezes as chances de acidentes de trabalho; aumentar em oito vezes a utilização de diárias hospitalares, e levar as famílias a recorrerem três vezes mais às assistências médica e social (BRASIL, 2004).
Visto que o aumento do consumo de álcool eleva também a gravidade dos problemas decorrentes, conseqüentemente, o custo social será maior. Dados especulativos, porém relevantes, estimam que o Brasil gaste, anualmente, 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB) com conseqüências de problemas relacionados ao álcool - desde o tratamento do paciente, até a perda da produtividade por causa da bebida (SCHEINBERG, 1999). Considerando-se o PIB brasileiro do ano de 2004 em R$ 1, 769 trilhão, tal custo social atingirá a cifra de R$ 130 bilhões, por ano.
4.3.3 Diagnósticos e tratamento
No que concerne aos diagnósticos não psiquiátricos, o Quadro 1 permite a visualização da distribuição das categorias diagnósticas que mais frequentemente foram associadas aos diagnósticos psiquiátricos relacionados ao álcool, feito com base em dados No período estudado encontrou-se 1835 atendimentos relacionados ao uso de álcool e destes 487 atendimentos apareceram associados a outros diagnósticos não pertencentes à psiquiatria.
Publicado na revista latino-americana de enfermagem podemos notar que todos os diagnósticos psiquiátricos relacionados ao álcool apareceram mais frequentemente associados à categoria diagnostica Outros transtornos do SNC (340-349), com 84 (17,2%) casos no período, seguido de Lesões e complicações traumáticas (800-959) com 80 (16,4%) casos e Doenças do aparelho digestivo em geral (530-579) com 73 (14,9%) casos. As demais categorias diagnósticas apresentaram números inferiores a 60 casos, conforme se observa no Quadro 1.(OLIVEIRA; LUIS, 1997).
Com relação a diagnósticos associados ao álcool constata-se, no que diz respeito às categorias de maior ocorrência: "no ano de 1988 predominaram às Intoxicações e efeitos tóxicos (960-989). No ano de 1989, aparecem como mais freqüentes as Doenças do aparelho digestivo em geral (530-579) tais como as do esôfago, estômago, doenças crônicas do fígado e outras. Já nos anos de 1990 e 1991 a categoria diagnóstica dominante para ambos os anos refere-se a Outros transtornos do SNC (340-349) como a epilepsia, esclerose múltipla (OLIVEIRA, LUIS, 1997)."
No intuito de identificar quais as categorias diagnósticas orgânicas aparecem mais associadas com diagnósticos psiquiátricos relacionados ao álcool foi elaborado o Quadro 2.
O diagnóstico psiquiátrico da Síndrome de Dependência do Álcool (303) apareceu mais associado à categoria diagnóstica. Outros transtornos do SNC (340-349) com 61 (18,7%) casos, e em segundo lugar com o mesmo número de casos, Lesões e complicações traumáticas (800-859) e Doenças do aparelho digestivo em geral (530-579) ambos com 47 (14,4%); já as categorias Intoxicações e efeitos tóxicos (960-989) e Sintomas, sinais e afecções mal definidas (780-789), apresentam-se com números iguais de 36 (11,0) casos, ficando em terceiro lugar. A Psicose Alcoólica (291) esteve associado mais frequentemente, a Doenças do aparelho digestivo em geral (530-579) com 25 (21,3%), seguido de Outros transtornos do SNC (340-349) com 19 (16,2%) e Lesões e complicações traumáticas (800-859) com 18 (15,3%) casos.
Essa última categoria está relacionada a fraturas, traumatismos e outros quadros dessa natureza. Cabe ressaltar que o diagnóstico Psicose Alcoólica (291) apresentou número de casos bem inferior (24% do total) ao apresentado pela Síndrome de Dependência do Álcool (303) (66,9 % do total).
No referente ao diagnóstico Álcool sem dependência (305.0), este esteve, primeiramente mais associado às categorias Lesões e complicações traumáticas (800-959) e Intoxicações e efeitos tóxicos (960-989), ambos com 15 (34,0%) casos e Outros transtornos do SNC (340-349) e Sintomas, sinais e afecções mal definidas (780-789), tais como as de pele, nutrição e outras, também com números iguais a 4 (9,0%) casos. As demais categorias apresentaram números inferiores, mas nem por isso deixam de ser importantes.
Fonte: OLIVEIRA; LUIS, 1997
A Figura 3 demonstra a evidente predominância do sexo masculino, embora venha a insinuar que os diagnósticos relacionados ao álcool e associados à intercorrências das clínicas médica e/ou cirúrgicas, vem aumentando também nas mulheres (OLIVEIRA; LUIS, 1997).
4.3.4 A importância da avaliação
Nesse tópico falaremos da importância de sempre está atenta ao processo, e um dos meios a ser utilizados é a avaliação. Para Ribeiro (2007) vem nos dizer que:
Uma boa avaliação permite ao serviço mensurar a qualidade e o impacto das ações implementadas, identificando, por exemplo, grupos mais refratários e estratégias mal-sucedidas e abrindo novas discussões na equipe a fim de solucioná-los. Desse modo, todo esse processo deve ser monitorado e avaliado constantemente para que os aprimoramentos ou modificações necessárias sejam implementados antecipadamente, aproveitando as oportunidades e evitando ameaças à viabilidade do serviço.
Todos esses critérios podem ser percebidos no quadro abaixo onde traz pontos importantes a serem avaliados, tais como: padrão de consumo, adesão do tratamento, qualidade de vida, direito dos pacientes e até mesmo a satisfação dos clientes.
Sobre esta e outros meio de avaliação Seibel e Toscano Junior (2001) nos traz que a avaliação de um serviço, baseada em critérios científicos, é um procedimento complexo, que requer estudos sistematizados, com grupos-controle para comparações e amostras randomizadas.
Por isso são difíceis de serem implementadas em serviços que não contem com profissionais altamente capacitados. No entanto, é sempre possível balizar a efetividade de um serviço, considerando alguns indicadores, tais como adesão, melhora dos padrões de consumo, do nível de emprego, dentre outros (Quadro 4) (OPAS & CICAD apud RIBEIRO, 2007).
No Brasil, boa parte dos serviços é organizada única e exclusivamente a partir do empenho e da experiência de seus profissionais. Isso origina serviços com potencial de atendimento limitado e desvinculado das necessidades locais (LARANJEIRA apud RIBEIRO, 2007).
O conhecimento acerca da estrutura do serviço e das necessidades dos pacientes (atuais e/ou potenciais) orienta, refina e otimiza a proposta terapêutica em andamento. O processo de planejamento constitui a etapa dinâmica da organização. Nesse momento, os diversos componentes são dispostos e integrados de uma maneira sistematizada, fortalecendo potencialidades, aprimorando deficiências e respondendo melhor à realidade externa que circunda o projeto terapêutico.
4.3.5 Internamento domiciliar[8]
Já comentamos a avaliação, os meios de abordagem hospitalar e até mesmo dados referentes às maneiras de se diagnosticar um alcoolista, pois quando o caso não é tão grave como relatado por Ramos a seguir:
A síndrome de privação do álcool em geral está superada até o final da primeira semana de tratamento, sendo notável que terapeutas experientes aproveitem esse tempo para reforça no enfermo sua convicção de que está doente, que os sintomas de tremores, insônia, sudorese, e irritabilidade que surgiram, sinalizam sua dependência, e que, mais que tudo, sua situação é tratável. Tal postura, na medida que fortalece o vinculo terapêutico, aumenta as chances de bons resultados, pois a tendência dos pacientes largados a própria sorte é, uma vez livres da síndrome de abstinência, terem uma reagudização da onipotência e acharem que tudo está resolvido. Da mesma forma as chances ficam também aumentadas se durante a tratamento a síndrome de privação a família do paciente foi atendida de tal maneira que agora o profissional consiga formar uma aliança terapêutica com ela e o alcoolista (BERTOLATE; RAMOS, 1997, p. 154 – 155)
Existem casos que não é necessário a internação hospitalar, uma vez diagnosticado que "são graves o suficiente para que se aconselhe o paciente a suspender o seu trabalho, mas não tão grave que necessitem ser hospitalizados". Nesse ponto surge então o internamento domiciliar onde se ocorre o seguinte em geral, utiliza-se de quinta feira até a segunda pela manhã onde o paciente deve se manter recluso e não saindo em hipótese alguma e o médico "deverá assisti-lo diariamente para coordenar todo o grupo familiar no manejo da situação. O medicamento recomendado pelo seu efeito psicológico e "pela gastrite que dificulta a absorção da vitamina ingerida" é a tiamina que "deverá ser usada de forma injetável".
Devido ao ônus medico e a necessidade de um bom suporte familiar "obviamente, uma técnica restrita a segmentos econômicos da sociedade que possam suportar".
4.4 TRATAMENTOS QUÍMICOS
Segundo o site "Psicosite" como prova de inúmeros fracassos não desanimaram os pesquisadores que temos hoje, já comprovados em fase avançada de teste, três substâncias eficazes do problema que cortam o mal pela raiz. Estamos falando da Naltrexona, do Acamprosato e da Ondansetrona. O tratamento do alcoolismo não deve ser confundido com tratamento do metabolismo, a irrupção da ingestão de álcool faz com que o corpo se ressinta: a isso chamamos abstinência que, dependendo do tempo e da quantidade de álcool consumido, pode causar sérios problemas e até a morte nos casos não tratados. As medicações acima citadas não têm finalidade de atuar nessa fase. A abstinência já tem suas alternativas de tratamento bem estabelecidas e relativamente satisfatórias. Vejamos agora as novas definições sobre as novas medicações:
Naltrexona é uma substancia conhecida há vários anos. Seu uso restringia-se ao bloqueio da atividade dos opiódes: é uma espécie de antídoto para a intoxicação de heroína, morfina, e similares. Recendente verificou-se que a Naltrexona possui um efeito bloqueador do prazer proporcionado pelo álcool, cortando o ciclo de reforço positivo que leva e matem o alcoolismo. A Naltrexona foi a primeira substância a atingir a essência do alcoolismo: o desejo pelo consumo de álcool. Naltrexona foi o primeiro e grande passo para o tratamento do alcoolismo, mas não resolveu todo o problema sozinho.
Acamprosato, essa substância ao contrário da Naltrexona é nova e foi criada especificamente para tratamento do alcoolismo. Está sendo introduzida no mercado brasileiro pela Merck, mas já é usada na Europa há alguns anos. O mecanismo do Acamprosato é distinto da Naltrexona embora também diminua o desejo pelo álcool. O acamprosato atua mais na abstinência, reduzindo os reforços negativo deixados pela supressão do álcool naqueles que se tornaram dependentes.
Ondansetrona, esta medicação vem sendo usada e aprovada como inibidor de vômitos, principalmente nos pacientes que fazem uso de medicações que provocam fortes enjôos como alguns quimioterápicos. Está em estudo a utilização na bulimia nervosa para conter os vômitos induzidos por esses pacientes. Por enquanto, há poucos estudos da eficácia da Ondansetrona no alcoolismo, o que se obteve, por enquanto, é uma maior eficácia no tratamento do alcoolismo nas fases finais. Os pacientes que tomam Ondansetrona tendem a beber menos que o habitual (MAROT, 2004)
Diante do que estamos vendo a guerra contra alcoolismo não é uma tão fácil como pensamos, o desempenho em pesquisas e novos medicamentos têm contribuindo bastante, porém cabe um esforço do indivíduo, ou seja, força de vontade para se torna independente do álcool.
Uma boa observação quanto às necessidades e capacidades imediatas do paciente propicia algumas vantagens, como o aumento da conscientização do paciente de suas mudanças; demonstração para paciente de suas possibilidades de sucesso em realizar essas mudanças; facilidade de avaliação contínua do tratamento e de suas dificuldades imediatas; pequenos sucessos e desenvolvimento de reforços positivos relacionado aos ganhos do tratamento; facilitação da determinação de estratégias, aumento a flexibilidade e maleabilidade do tratamento (FORTES; CARDO, 1991).
Depois desses requisitos o paciente ganha autoconfiança, passa acredita em suas transformações e toma consciência que pode emergir desse abismo que é alcoolismo. Vimos também que a medicina vem dando suas contribuições, para solucionar este fantasma que habita na vida do alcoólatra é uma luta em conjunto.
4.4.1 Recaída e tratamento em grupo
Há de se ressaltar a importância do tratamento em grupo, pois ele pode dar uma maior liberdade ao viciado uma vez que todos ali estão nas mesmas condições que ele, porém nem todos no mesmo estágio.
Sobre o dano da recaída Araújo (1997, p. 179) ressalta que "sem duvida é a recaída o grande espectro, o grande fantasma a rondar, como elemento assustador, o tratamento do alcoolista. A recaída ocasiona no paciente, na família e no terapeuta um impacto que é necessário ser compreendido, contido e superado".
4.5 ALCOÓLICOS ANONIMOS (AA)
Passado esses estágios, restam aos movimentos outóctones da comunidade para enfrentar o problema, já que os programas governamentais ou inexistem ou são ineficazes, seja pelo enfoque seja pelo emaranhado burocrático onde se perdem, seja pela escassez de recursos técnicos e financeiros a enfrentar o problema. Destes movimentos autóctones, os Alcoólatras Anônimos (AA) certamente constituem o exemplo mais bem sucedido em certas sociedades. Deixando claro que o programa dos AA não tem o mesmo impacto de todas as culturas e em todos os alcoolistas despertando assim o interres dos que estudam nas áreas de sociologia e antropologia. Pretendemos mostrar nos próximos tópicos o seu surgimento assim como o seu mentor e a importância no processo de recuperação do alcoolista.
Como qualquer outro tipo de tratamento, não pode pretender também ser completamente eficaz e que todos os alcoolistas se adaptem a sua filosofia. Embora tenhamos um considerável número de alcoolistas com sucesso no tratamento, que jamais poderão negar a participação efetiva do AA, assim como é inegável o aumento progressivo de alcoolistas que procurem o AA, a clinica mostra que, na verdade, existem indivíduos com determinadas características que só se adaptam a essa filosofia. Lamentavelmente temos poucos dados de pesquisa para podermos consolidar a observação clinica (BERTOLOTE; RAMOS, 1997. p. 212).
Este fenômeno AA está inclusive despertando pesquisas principalmente das ciências sociais e das psicológicas. Pretendemos mostrar aqui de forma sucinta sua história, funcionamento, e tratar um perfil de quem freqüenta.
4.5.1 Introdução histórica do AAFundada por dois alcoólatras consideráveis irrecuperáveis, "AA teve o seu início em 1935 em Akron, Ohio, como resultado do encontro de Bill W, um corrector da Bolsa de New York, com o Dr. Bob S., médico cirurgião. Eram ambos alcoólicos considerados irrecuperáveis" (ASGAAP, 2005).
Antes de se conhecerem, Bill e o Dr. Bob tinham tido contato com o Grupo Oxford, uma sociedade composta, em sua maior parte, por pessoas não alcoólicas, que defendia a aplicação de valores espirituais universais na vida diária. Naquela época, os Grupos Oxford da América eram dirigidos pelo renomado clérigo episcopal Dr. Samuel Shoemaker. Sob sua influência espiritual, e com a ajuda de seu velho amigo, Ebby T., Bill havia conseguido sua sobriedade e vinha mantendo sua recuperação trabalhando com outros alcoólicos, apesar do fato de que nenhum de seus "candidatos" haver se recuperado. Entretanto, o fato de ser membro do Grupo Oxford não havia oferecido ao Dr. Bob a suficiente ajuda para alcançar a sobriedade (JUNAAB, 2005).
O Dr. Bob, porém, apesar do seu contacto com os grupos Oxford não conseguia deixar a bebida. Mas, quando travou conhecimento com Bill, tal facto surtiu um efeito imediato: Desta vez, encontrava-se cara a cara com um companheiro alcoólico que conseguira deixar de beber, que lhe explicou que o alcoolismo era uma doença mental, emocional e física. Bill repetiu-lhe o que lhe havia dito o Dr. William D. Silkworth no Hospital Towns de N.Y., onde estivera várias vezes internado. Apesar de ser médico, o Dr. Bob não sabia que o alcoolismo era uma doença, mas os argumentos de Bill convenceram-no e rapidamente alcançou a sobriedade, não voltando mais a beber (A data do início da sua sobriedade, 10 de Junho, foi adoptado pela comunidade como "Dia Mundial de A.A.") (ASGAAP, 2005).
Os dois começaram a trabalhar com os alcoólicos internados no Hospital Municipal de Akron e, em breve, tinham conseguido que um paciente alcançasse a sobriedade. Apesar de ainda não existir sequer o nome Alcoólicos Anónimos, estes três homens foram o núcleo do primeiro grupo de AA. No Outono de 1935 o segundo grupo foi tomando forma em N.Y., e o terceiro iniciou-se em Cleveland em 1939 (ASGAAP, 2005).
Em princípio de 1939, a Irmandade publicou seu livro de texto básico, Alcoólicos Anônimos. Nesse livro, escrito por Bill, expunha-se a filosofia e os métodos de A.A., a essência dos quais se encontram agora nos bem conhecidos Doze Passos de recuperação. A partir daí, A.A. desenvolveu-se rapidamente (JUNAAB, 2005).
Também em 1939, o Cleveland Plain Dealer publicou uma série de artigos sobre Alcoólicos Anônimos, seguida por alguns editoriais muito favoráveis. O Grupo de Cleveland, composto por uns 20 membros, logo se viu inundado por incontáveis pedidos de ajuda. Os alcoólicos que chegavam, logo após algumas semanas de sobriedade, eram encarregados de trabalhar com os novos casos. Com isso, deu-se ao movimento uma nova orientação, e os resultados foram fantásticos. Passados poucos meses, o número de membros de Cleveland havia crescido para 500. Pela primeira vez havia evidência de que a sobriedade poderia multiplicar-se, em massa (JUNAAB, 2005).
Corria o ano de 1945, um membro viajante norte-americano, de nome Bob Valentine, amigo de Bill W., de passagem pelo Rio de Janeiro, então capital nacional, conhece uma pessoa também americana (não está totalmente definido se era homem ou mulher), com o nome de Lynn Goodale. Após uma conversa com Bob Valentine, Lynn encontra a sobriedade. A Fundação do Alcoólico era a responsável direta pela correspondência de Alcoólicos Anônimos com a sociedade e o elo entre a correspondência de seus membros. Portanto, Bob Valentine, de volta aos EUA, em visita à Fundação, passa-lhe o endereço de Lyon, como possível contato no Brasil. Pouco se tem documentado sobre a formação do primeiro Grupo de A.A. no Brasil. O que se pode afirmar é que esse Grupo inicialmente era formado por norte-americanos a serviço no Rio de Janeiro e que o idioma das reuniões, sediadas nas casas ou apartamentos dos companheiros, era o inglês. A maior dificuldade que Herb teve, aparentemente, foi a de não falar fluentemente o português. Ele queria transmitir a mensagem de recuperação a brasileiros ou a quem falasse fluentemente o nosso idioma, pois sabia que quando de sua volta aos Estados Unidos, provavelmente todo o seu trabalho seria perdido. Alguns pontos, inclusive a data do início do "A.A. Rio Nucleus" ou Grupo A.A. do Rio de Janeiro, durante tempos foram envoltos em mistério e em controvérsias (ALCOOLICOS ANONIMOS DO BRASIL, 2007).
Mas adiante uma invocação no inicio de uma reunião no dia 28 de outubro de 1950 (Na reunião de hoje deliberamos comemorar o 3º (terceiro) aniversário da Fundação do Grupo A.A. do Rio de Janeiro no dia 5 (cinco) de setembro próximo.) é o que mais indica data de início do AA no Brasil.
Esse registro documentado é a mais clara evidência de que a data de início do primeiro Grupo de A.A. no Brasil foi 5 de setembro de 1947. Infelizmente o secretário não menciona detalhes como: onde foi realizada a reunião inaugural, quem foram os participantes dessa reunião etc.
O mais provável é que nessa data deu-se o encontro de Herb com o primeiro brasileiro que conseguiu manter-se sóbrio em A.A., o companheiro Antônio P., falecido em meados de 1951, quando tentava recuperar-se de um acidente de trabalho (ALCOOLICOS ANONIMOS DO BRASIL, 2007).
No estado de São Paulo tudo se deu inicio com a visita de Harold. Como podemos perceber no trecho que segue:
Na década de 50 (temos gravações no ESG) Harold esteve em São Paulo com outras pessoas que lançaram a semente do movimento e voltaram para o Rio de Janeiro; os que aqui ficaram tentaram esse "aparente" A.A. em São Paulo, pois achavam que esse direcionamento de Passos... não ter ninguém que manda... de não aceitar dinheiro de fora etc... não ia dar certo, e, dando outro enfoque às propostas, sem aceitar o programa de Alcoólicos Anônimos, transformaram este início na Associação Anti-Alcoólica. Donald nasceu nos Estados Unidos e veio para o Brasil. Alcoólatra, em 1965, passando muito mal, foi internado no Hospital Samaritano, onde foi abordado por um Padre americano que lhe falou sobre A.A. e lhe deu o "Livro Grande". Depois de lê-lo, aceitou conversar com uma AA, Dorothy, que tinha uma agência de empregos no Rio de Janeiro e filial em São Paulo onde vinha uma vez por semana. Depois desta conversa, Donald, já abstêmio, comprou a idéia de iniciar com Dorothy um Grupo em São Paulo (CENSAA/SP, 2007).
A primeira tentativa de abrir um Grupo foi no Largo do Arouche, mas não deu certo. Continuaram os contatos, até que conheceram Madre Cristina, não alcoólica, da Faculdade SED Sapiens, que conseguiu uma sala na parte de trás da entidade, que dava para a Rua Caio Prado, 120, uma travessa da rua da Consolação (atualmente um Departamento da PUC), e era necessário começar o movimento. Dr. João, um médico que freqüentava a Associação Anti-Alcoólica, mencionou ter uma pessoa lá, chamada Melo, que não aceitava as colocações da AAA e já tinha uma noção do que era Alcoólicos Anônimos. O doutor fez o contato entre os dois, que conversaram, juntamente com Dorothy, e iniciaram no dia 9 de abril de 1965 (data oficial), o Grupo Sapiens (CENSAA/SP, 2007).
4.5.2 O funcionamentoAs reuniões ocorrem em sua maioria uma vez por semana como demonstra Campos (2005), em um trabalho com um grupo da grande São Paulo "o modelo terapêutico da irmandade também conta com a participação dos AAs em reuniões periódicas, cujo objetivo é também ajudá-los a evitar o "primeiro gole" e, assim, a manter a sobriedade. As reuniões podem ocorrer em salas alugadas ou cedidas por igrejas, escolas, instituições correcionais ou de tratamento. As chamadas "reuniões de recuperação" podem ser de dois tipos: "fechadas", compostas apenas por aqueles que se consideram "doentes alcoólicos", e "abertas", destinadas a todos aqueles que desejam conhecer a irmandade".
Ele continua e demonstra uma coisa que é comum em muitos grupos, que é a associação de alcoolismo a doença, dando assim a conotação de vicio, oposta a de virtude:
O que é o alcoolismo? Existem muitas e variadas interpretações sobre o que é realmente o alcoolismo. A explicação que parece ter sentido para a maioria dos membros de A.A. é que o alcoolismo é uma doença; uma doença progressiva e incurável. Como algumas outras doenças, porém, pode ser detida. Indo um pouco mais longe, muitos membros de A.A. acreditam que a doença representa a combinação de uma sensibilidade física ao álcool com uma obsessão mental pela bebida que, apesar das conseqüências, não pode ser superada somente pela força de vontade. Antes de haverem sentido a influência de A.A., muitos alcoólicos que não conseguiam abandonar a bebida se consideravam moralmente débeis e possivelmente desequilibrados mentais. O A.A. acredita que os alcoólicos são pessoas enfermas, passíveis de recuperação se seguirem um simples programa, bem-sucedido para mais de 2 milhões de homens e mulheres. Uma vez que o alcoolismo se tenha fixado, não há pecado algum em ser doente. A esta altura, o livre-arbítrio inexiste e o sofredor já perdeu seu poder de decidir se continua a beber ou não. O importante, porém, é encarar a realidade da própria doença e aproveitar-se da ajuda disponível. Também é necessário que exista o desejo de recuperar-se. A experiência nos ensina que o programa de A.A. funcionará para qualquer alcoólico, quando este for sincero em seu desejo de parar de beber. Geralmente não funcionará para o homem ou a mulher que não estejam absolutamente seguros de que querem parar. (Alcoólicos Anônimos, s/d; grifos meus) (CAMPOS, 2005).
Portanto quando é julgado como vicio, ele está sendo julgado com base no terceiro parâmetro de Locke onde descreve as doutrinas morais e políticas que são "1) são as lei divinas; 2) as leis civis; 3) as leis de opinião publica ou reputação. Ou seja: 1) julgados com base no parâmetro do primeiro tipo de leis, as ações humanas são "pecados" ou "deveres"; 2) julgados com base no parâmetro do segundo tipo de leis, as ações humanas são "delituosas" ou "inconseqüente"; 3) julgadas com base no parâmetro do terceiro tipo de leis, as ações humanas são "virtude" ou "vícios" (REALE; ANTISERI, 2003, p. 522)
O alcoolismo é representado, inicialmente, como o resultado de uma articulação entre uma "sensibilidade física ao álcool" e "uma obsessão mental" em ingerir bebida alcoólica, que impede o alcoólico de parar de beber. Também é comum encontrarmos uma comparação entre o alcoolismo e uma espécie de "alergia ao álcool". Para A.A., o egocentrismo é "a raiz de todos os problemas" do doente alcoólico: "Não está a maioria de nós preocupada consigo mesma, com seus ressentimentos ou sua auto-piedade? [...] Acima de tudo, nós, alcoólicos precisamos nos libertar desse egoísmo. Precisamos fazê-lo, ou ele nos matará!" (ALCOÓLICOS ANONIMOS, 1994, p. 82-83).
Na linguagem da doença formulada pelos AAs, o alcoolismo assume os contornos de uma perturbação físico-moral, afetando tanto o âmbito físico/orgânico como o âmbito relacional. A chamada doença do alcoolismo é traduzida tanto a partir de seus efeitos sobre o organismo, atingindo o âmbito físico e mental da pessoa, como a partir de seus efeitos sobre o plano moral, afetando, sobretudo, o âmbito relacional da família (CAMPOS, 2005).
Mas como entender a existência de esquemas diferenciados de interpretação do alcoolismo no interior de A.A.? Garcia chama a atenção para o fato de que as narrativas dos membros "demonstram como o adepto da instituição dos Alcoólicos Anônimos constrói a sua trajetória como uma história coletiva que pode ser atribuída ao alcoólico" (GARCIA, 2004, p. 160).
Nesse sentido, pode-se dizer que a presença de esquemas interpretativos da doença diferenciados, no interior de A.A., é parte integrante do processo de construção de uma história coletiva, por meio da apropriação de aspectos pertencentes às trajetórias individuais. Com isso, os AAs podem integrar suas histórias individuais a uma nova ordem de significações, o que possibilita a reconstrução de sua identidade, reconhecendo-se como "doentes alcoólicos em recuperação", e permitindo, com isso, a elaboração de um sentido ligado à experiência do alcoolismo (CAMPOS, 2005).
4.6 A PARTICIPAÇAO DA FAMILIAR DO ALCOOLISTA
4.6.1 definição histórico-conceitual
O processo de transformações por que está passando nossa sociedade, aliás, muito acelerada nas últimas décadas, está provocando uma crise nas instituições tradicionais. Uma das instituições mais afetadas é justamente o pilar desta sociedade: a família (HINOJAL: 1990). É está instituição que pretendemos retratar nesse tópico e principalmente a posição desta instituição frente aos problemas de um alcoolista. Mas para entendermos essa mudança na estrutura da família temos que entender a sua gênese. O ser humano encontra na família a possibilidade de expandir-se no seu modo próprio de ser, enquanto proximidade e relação, capaz de comunhão. Leonardo Boff (2000, p. 48) ressalta esse encontro como o momento em que se da a transcendência "as vezes acontece: você está numa crise existencial, sem rumo, e encontra alguém que tenha palavras seminais, que lhe ascenda uma luz, que coloca a mão no seu ombro, que lhe aponte um caminho". Como percebemos esta é a realidade primeira – ontológica – que marca a sua existência enquanto pessoa, já descrita no antigo testamento como nos mostra Agostini:
No livro do Gênesis, está claro como o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, é um ser impelido à abertura aos outros, "não sendo bom que ele esteja só" (cf. Gn 2,18). Desde sua essência mesma, o ser humano sente necessidade de existir "com alguém" ou "para alguém" (seu semelhante ou companheiro/a, segundo o livro do Gênesis). "Estar só para o ser humano é uma imperfeição, uma carência (cf. Gn 2,18-24). Não lhe são suficientes os animais, as árvores, as pedras de toda sorte, a água abundante etc. No relato do Gênesis, fica claro que lhe falta uma "ajuda" (companheira) que lhe corresponda e seja adequada. Só quando esta lhe é apresentada, o ser humano – adam – se reconhece "homem" e "mulher", exclamando: "Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne" (Gn 2,23). Fica claro que a criação do ser humano – adam – só é completa quando ele se torna família, comunitário, no caso quando ele se relaciona como homem e mulher. Eis o grande dom da criação"(AGOSTINI, 2003, p. 11).
João Bodin ao definir o Estado como um governo justo e com poder soberano, realça a importância da família ao dizer que "assim como o navio não passa de uma madeira se lhe forem retiradas a lombada que lhe sustenta os flancos, a proa, a popa e o timão, da mesma forma o Estado já não será tal sem o poder soberano que mantém unidos todos os membros e as partes, dele fazendo uma grande família e de todos os círculos um só corpo (REALE; ANTISERI, 1993, p. 136).
Friedrich Engels no seu livro origem da família, da propriedade privada e do estado retrata a o surgimento da família e sua relação encontrada em toda a América e o significado dada aos nomes típicos como primo e irmão:
E não são simples nomes, mas a expressão das idéias que se tem de próximo e do distante, do igual ou do desigual no parentesco consangüíneo; idéias que servem de base a u, sistema de parentesco inteiramente elaborado e capaz de expressar muitas centenas de diferentes relações de parentesco de um individuo. (...) as designações pai, filho, irmão, não são simples títulos honoríficos, mas, ao contrario, implicam em sérios deveres recíprocos, perfeitamente definidos, cujo conjunto forma uma parte essencial do regime social desses povos (ENGELS, 1984, p. 29)
Mas adiante na sua divisão nos mostra a evolução do status e ordem na família ao mostrar primeiro a "família consangüínea", onde os grupos se classificam por gerações "nessa forma de família, os ascendentes e os descendentes , os pais e os filhos , são os únicos que reciprocamente, estão excluídos dos direitos e deveres (poderíamos dizer do matrimonio). Irmãos e irmãs, primos e primas, em primeiro, segundo e restante de graus, são todos , entre si irmãos e irmãs, e por isso mesmo maridos e mulheres uns dos outros. O vinculo de irmão e irmã pressupõe, por si, nesse período, a relação carnal mútua" (ENGELS, 1984, p. 38)
Depois vem a família punaluana, onde rompe com o primeiro exemplo excluindo, pouco a pouco os parentes "acabando pela proibição do matrimônio até entre irmãos colaterais (ENGELS, 1984, p. 39), mas adiante destaca com relação que os "maridos por sua parte, não se chamavam entre si irmãos, pois já não tinha necessidade de sê-lo, mas "punalua", quer dizer, companheiro intimo, como quem diz "associe (ENGELS, 1984, p. 40)".
No terceiro estagio é a família sindiásmica onde se marca a prevalência da poligamia principalmente porque fica "proibido o matrimônio entre todos os parentes reconhecido pelo sistema, no qual há algumas centenas de parentes diferentes. Com esta crescente complicação das proibições de casamento, tornam-se cada vez mais impossíveis as uniões por grupos, que foram substituídas pela família sindiásmica" (ENGELS, 1984, p. 48-49). Onde mas adiante destaca a punição cruel o adultério feminino, o do homem seja mais tolerável.
Até chegar a monogamia de fato a família passa por vários momentos, tais como, a riqueza até então desconhecida pelo alimento agora em acesso devido ao uso de animais, uso da força escrava, propriedade e riquezas definitiva da família.
"A família monogâmica nasce, conforme indicamos, da família sindiásmica, no período de transição entre a fase media e a faze superior da barbárie, seu triunfo definitivo é um dos sintomas da civilização nascente (ENGELS, 1984, p. 66)". Engels destaca que a diferença da família sindiásmica por uma solidez muito maior dos laços conjugais, que já não podem ser rompidos por vontade de qualquer das partes.
Boudon (et al. 1995) traz cinco modelos de família e "apresenta características notáveis em relação a todos as demais experiências deste domínio", onde a primeira é o próprio fato de parecer evidente que o casal constitui o menor grupo possível. Uma segunda característica original é a combinação juvenil, um fato de constituir um casal sem se cobrar o rito social do casamento. A terceira característica é a instabilidade do casal, ligado ou não ao rito matrimonial. E as duas ultimas características mencionadas são tradicionais, se bem que com um conteúdo novo. "Desde o final da Idade Média, a Europa distingue-se de todas as outras sociedades por seu recuo na idade do casamento e por uma elevada proporção de celibato definitivo, o modelo agrário emerge do regime feudal (BOUDON, 1995, p. 67).
Com a Revolução Industrial entra em cena alterações que incidem diretamente sobre o núcleo familiar. "A família deixa de ser, na nova situação, o grupo que organiza e leva a cabo a atividade produtiva. As novas unidades de produção afastam-se dela inclusive em sua localização, agora distanciada, mas, sobretudo em sua estrutura, fins, etc. Os instrumentos de trabalho, muito mais complexos e custosos, já não pertencem aos que trabalham, mas a um novo segmento social decisivo, os capitalistas, que garantem o processo produtivo e se apropriam do produto. Acentua-se a divisão do trabalho, dando lugar a tarefas muito diferentes e a posições, no processo produtivo, muito desigualmente valorizadas e recompensadas; as condições de admissão no processo e a atribuição de um ou outro posto de trabalho têm pouco ou nada a ver com o grupo familiar de origem nem com a posição que nele ocupa o candidato, mas com as suas condições pessoais, em função do maior rendimento nas tarefas"(HINOJAL, 1990, p. 43s). Mas adiante o próprio Hinojal (1990, p. 51) diz:
Um outro aspecto essencial da nova situação consiste em que a família extensa perde o controle sobre os indivíduos, mesmo antes de serem adultos, e sobre os núcleos familiares que estes criam. Tal fato deriva que os jovens já não dependem da família grande no seu trabalho nem da herança familiar para o seu bem-estar futuro; cada qual ver-se-á obrigado a residir onde o seu trabalho o exija, dispersão espacial que dificulta os contatos e alivia a dependência e o controle. A independência econômica e a residência autônoma significam a impossibilidade da subsistência do velho sistema familiar, a desarticulação da sua estrutura hierárquica, que perdeu a sua justificação tradicional, ficando eliminadas as bases da autoridade patriarcal.
Na esfera religiosa a preocupação é eminente, pois "muitos setores da Igreja não medem palavras em apontar para a existência de uma preocupante desintegração familiar em nossos dias, sobretudo no tocante à família enquanto instituição. Várias realidades são identificadas como "patologia social". Entre elas, podemos elencar: filhos fora do ambiente familiar, aumento de uniões temporais ou ocasinais, machismo e dominação abusiva do homem sobre a mulher, aumento acelerado do número de divórcios, aumento do número de abortos, ausência de políticas adequadas para a família, ajudas econômicas para implantar políticas antinatalistas, difusão dos métodos contraceptivos, abortivos e esterilizantes, educação sexual redutora, ausência de normas e leis adequadas para salvaguardar a integridade da família, dificuldade econômica e deterioração do poder aquisitivo da receita familiar, instabilidade no emprego, difusão do mito da explosão demográfica, avanço da manipulação e experimentação genética sem uma legislação adequada para proteger a dignidade do ser humano (SEDOC, 1994, p. 560.).
Paulo VI já tratava das crescentes mudanças e problemas enfrentado pela família quando diz que "o número dos problemas matrimoniais e familiares está em aumento, colocando em perigo ou até levando ao fracasso muitos casamentos. As novas condições sociais e culturais dificultam grandemente a fidelidade entre os cônjuges. A situação atual do casamento, menos apoiado externamente que na sociedade patriarcal, exige dos cônjuges um grau de maturidade e de ajustamento mais profundo e mais difícil" (PAULO VI apud CNBB, 1994, p. 23).
4.6.2 A organização da famíliaA estrutura familiar de base, no período colonial, foi a patriarcal (do branco). Também pode ser chamada de família tradicional, extensa, doméstica ou monogâmica. "O patrão, ou o 'senhor', assumia a função de protetor dos seus (inclusive dos escravos), de dispenseiro dos meios de sobrevivência de todos e de responsável pela religião sobre seu território. A função policial foi cedo delegada ao feitor. Na casa grande e na senzala reinava o personagem central, isto é, o 'senhor'" (AGOSTINI, 1994, p. 58-59).
Assim começava a surgir a família brasileira, que depois sofreria a influência dos imigrantes em sua maioria europeus, caracterizando-a como fortemente hierarquizada como destaca Hinojal, "ela é hierarquicamente bem definida, caracterizada pela superioridade dos pais sobre os filhos, dos velhos sobre os jovens, dos homens sobre as mulheres, dos maiores sobre os menores (HINOJAL, 1990, p. 34).
Muito ligado ao processo de industrialização está o da urbanização. Este processo provocou no Brasil o fortalecimento da classe média. Esta evolução não foi apenas socioeconômica, mas também comportamental; discernimos na nossa sociedade uma mentalidade que vai se modelando segundo as idéia vigentes na Europa e nos Estados Unidos. Em geral, o processo de urbanização provoca uma alteração dos padrões tradicionais, com o conseqüente enfraquecimento do modelo de família patriarcal, de origem rural. A urbanização, na verdade, vai representar um ajuste ao processo de industrialização em curso. Há uma simbiose entre os dois processos, como podemos perceber no pensamento de Azzi (apud MARCILO, 1933), que acrescenta as mudanças também nos aspectos sexuais abordado no seu livro, vejamos:
Sem dúvida, o desenvolvimento progressivo da vida urbana provocou o enfraquecimento do modelo de família patriarcal originário do mundo rural. Simultaneamente, diminuiu também o sentido de dependência da mulher com relação ao marido; esta, aliás, passou também a exercer algumas atividades fora do lar. Por sua vez, a preocupação mais intensa com a formação dos filhos fez com que os pais começassem a praticar o planejamento familiar. Por último, começou também a encontrar mais aceitação a idéia da separação do casal através do divórcio ou do desquite legalizado.
A residência nas cidades ofereceu à mulher condições mais adequadas para que ela tomasse consciência de seus direitos e se empenhasse também em defendê-los com mais intensidade.
A vida urbana criou também melhores condições para a influência dos meios de comunicação social sobre a vida no lar, bem como começou também a oferecer maiores oportunidades de lazer, através de clubes recreativos, salões de baile, teatros e cinemas. A Constituição de 1934, por sua vez, oficializou o direito da mulher à participação política mediante o voto.
Outra alteração significativa nesse período diz respeito à própria sexualidade. Até então, via de regra, as crianças e os adolescentes eram educados numa ignorância completa com relação à natureza sexual do próprio corpo e da própria natureza humana: o sexo era considerado um tabu. A nova abertura teve como um dos eixos principais as pesquisas científicas destinadas a um maior controle da natalidade. Ainda na área médica, os higienistas começaram a incentivar a prática de esportes, da natação, dos banhos de mar, das roupas leves no verão e da vida ao ar livre, não faltando até mesmo os propugnadores do nudismo.
Em conseqüência, introduziram-se modificações profundas no vestuário: o short passou a ser utilizado como parte do uniforme de ginástica, para o sexo feminino, e os trajes de banho foram reduzidos rapidamente, até a utilização bastante ampla do biquíni.
Por seu turno, os veículos de comunicação social tornaram-se grandes difusores de um relacionamento sexual mais íntimo. Um exemplo significativo foram os abraços e beijos encenados pelos astros do cinema.
Já nos anos 50, ocorreu uma das descobertas mais importantes em termos de alteração do comportamento sexual: os anticoncepcionais. Em 1953 apareceu uma pílula de progesterona, que, ingerida diariamente, fazia com que a mulher ficasse imune da concepção. Sua efetividade foi comprovada em larga escla em 1956, em Porto Rico. Em 1960 foi aprovada para ser comercializada nos Estados Unidos, difundindo-se em seguida, rapidamente, por todo o mundo (AZZI apud MARCILO, 1933, p..101-102).
De comum acordo a campanha da fraternidade de 1994 trazia um esboça do comportamento do surgimento das novas famílias ao comparar com o modelo patriarcal.
Até os anos cinqüenta, conhecia-se um único tipo de ciclo: deixava-se a família para buscar trabalho e para o casamento. Chegavam, então, os filhos que, via de regra, eram numerosos, e inaugurava-se o longo período da educação dos mesmos. Vinha, então, uma fase de vida a dois, relativamente curta, que era seguida do tempo da viuvez, marcada pela solidão ou vida junto a um dos filhos. Graficamente, este ciclo pode ser assim representado:
O filho deixa a casa/
casa-se/
vem a educação dos filhos/
envelhecimento a dois/
viuvez (CNBB, 1994, p. 44).
A partir dos anos cinqüenta, houve mudança no ciclo familiar: há jovens que deixam a família de origem para viverem um período sozinhos ou conjugalmente com um parceiro(a). Não deixam a casa para o trabalho ou para o casamento, mas em busca de "liberdade". Protela-se a idade do casamento, que passa a se dar em torno dos 28/30 anos. As famílias raramente têm mais de três filhos. Esquematicamente seria assim:
O filho deixa a casa paterna/
passa a viver sozinho em domicício particular/
período de coabitação/
novo período de vida solitária/
casamento (ou união consensual)/
união estável
divórcio ou separação/
vida solitária com ou sem filhos/
novo casamento ou
coabitação (CNBB, 1994, p. 45)
Quando a participação da igreja no processo da família o papa João Paulo II sublinha o quanto a Igreja quer acompanhar o ser humano no seu percurso terrestre. "A Igreja toma parte nas alegrias e nas esperanças, nas tristezas e nas angústias do caminho quotidiano dos homens, profundamente convicta de que foi o próprio Cristo Quem a introduziu em todas as sendas: foi Ele que confiou o homem à Igreja; confiou-o como 'caminho' da sua missão e ministério" (JOAO PAULO II, 1994).
Na realização desta sua missão e ministério, a Igreja identifica na família o primeiro e mais importante caminho, único e irrepetível, do qual ser humano algum pode separar-se. A família constitui-se no sustentáculo do humano, seu horizonte existencial permanente e comunidade fundamental. A Igreja tem consciência "de que o matrimônio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade". O bem de toda a sociedade e da própria Igreja estão estreitamente ligados ao bem da família. Ela é uma chance para a humanidade, hoje mergulhada em não poucos desafios, numa situação histórica que abarca luzes e sombras (JOAO PAULO II, 1994).
Destacamos a seguir os tópicos do Estatuto da família publicado pela Santa Sé, buscando recolher o que é expressão da consciência do ser humano e dos valores comuns a toda a humanidade, publicado no dia 24 de novembro de 1983 (data da apresentação à imprensa) a "Carta dos Direitos da Família". Há de se destacar a consciência do papel insubstituível e da posição da família, onde deve ser levar as famílias a se unirem na defesa e na promoção dos seus direitos e encorajar as famílias a cumprirem os seus deveres.
Artigo 1: "Cada pessoa tem direito a escolher livremente o próprio estado de vida, e, por conseguinte a casar-se e formar uma família ou a ficar solteiro ou solteira".
Artigo 2: "O matrimônio não pode ser contraído senão mediante o consentimento livre e pleno, expresso devidamente pelos esposos".
Artigo 3: "Os esposos têm o direito inalienável de constituir uma família e de decidir sobre o intervalo entre os nascimentos e o número dos filhos a procriar, tendo plenamente em consideração os seus deveres para consigo mesmos, para com os filhos já nascidos, a família e a sociedade, numa justa hierarquia de valores em conformidade com a ordem moral objetiva que exclui o recurso à contracepção, à esterilização e ao aborto".
Artigo 4: "A vida humana deve ser respeitada e protegida de modo absoluto desde o momento da concepção".
Artigo 5: "Tendo dado vida aos próprios filhos, os pais têm o direito originário, primário e inalienável de os educar; por conseguinte devem ser reconhecidos como os primeiros e principais educadores dos seus filhos".
Artigo 6: "A família tem o direito de existir e progredir como família".
Artigo 7: "Cada família tem o direito de viver livremente a própria vida religiosa no lar, sob a guia dos pais, assim como tem o direito de professar publicamente a sua fé e difundi-la, de tomar parte no culto público e de escolher livremente os programas de instrução religiosa, sem sofrer alguma discriminação".
Artigo 8: "A família tem o direito de exercer a sua função social e política na construção da sociedade".
Artigo 9: "As famílias têm o direito de poder contar com uma adequada política familiar por parte das autoridades públicas no campo jurídico, econômico, social e fiscal, sem discriminação".
Artigo 10: "As famílias têm direito a uma ordem social e econômica em que a organização do trabalho permita aos seus membros viverem juntos, e que não seja obstáculo para a unidade, o bem-estar, a saúde e a estabilidade da família, oferecendo também a possibilidade de uma sã recreação".
Artigo 11: "A família tem direito a uma habitação decente, adequada para a vida familiar, e proporcionada ao número dos seus membros, num ambiente que ofereça os serviços básicos para a vida da família e da comunidade".
Artigo 12: "As famílias dos emigrantes têm direito à mesma proteção que é concedida às outras famílias" (CNBB: 1994. p. 149-154).
O sentido antropológico da família nos leva a entender que ela encerra um sentido humano quando torna-se, muito cedo na história da humanidade, o centro gravitacional do ser humano. Ela lhe é conatural. A própria natureza do humano tem na família o seu ponto de apoio principal; mais até, tem nela o ninho onde o próprio ser se desdobra.
A família tem como fundamento próprio a acolhida das qualidades intrínsecas da masculinidade e da feminilidade, a acolhida da vida nos filhos, numa ordenação ao amor familiar, dando origem a uma comunidade de vida e de amor, como ressalta João Paulo II (1940) ao dizer "A família é um caminho do qual o ser humano não pode separar-se... Quando falta a família logo à chegada da pessoa ao mundo, acaba por criar-se uma inquietante e dolorosa carência que pesará depois sobre toda a vida" (JOAO PAULO II, 1994, P. 5-6)..
4.6.3 A importância da família no processo de recuperação
Toda história da humanidade como acabamos de mostra está permeado pelo consumo de álcool. Inicialmente as bebidas tinham baixo teor alcoólico, porém, com o advento do processo de destilação surgiram novos tipos de bebidas alcoólicas e em todos esses períodos as famílias sempre estiveram presentes. A família é fundamental para o sucesso do tratamento da dependência química. Pensar que tudo se resolverá a partir de uma internação ou após algumas consultas médicas é uma armadilha que não polpa a mais sincera tentativa de tratamento.
A dependência é um problema que se estruturou aos poucos na vida da pessoa. Muitas vezes, levou anos para aparecer. Muitas coisas foram afetadas: o desempenho escolar, a eficiência no trabalho, a qualidade dos relacionamentos, o apoio da família, a confiança do patrão, o respeito dos empregados. Como esperar, então, que algo presente na vida de alguém há tempo e que lhe trouxe tantos comprometimentos desapareça de repente? Quem decide começar um tratamento se depara com os sintomas de desconforto da falta da droga e, além disso, com um futuro prejudicado pela falta de suporte, que o indivíduo perdeu ou deixou de adquirir ao longo da sua história de dependência.
Como sabemos o álcool é umas das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo admitido e até mesmo incentivado pela sociedade, entretanto, seu consumo de forma excessiva, passa a ser um problema, pois dependendo da dose, da freqüência e das circunstâncias, pode provocar um quadro de dependência conhecido como alcoolismo. (BERTOLOTE, RAMOS, 1997).
As narrativas dos AAs sinalizam que a doença alcoólica é, sobretudo, uma "doença da família", na qual o dependente do álcool vive uma espécie de "falência da responsabilidade no cumprimento do dever" (DUARTE, 1986, p. 259), de maneira que o alcoolismo faz" brotar a irresponsabilidade nos territórios por excelência da responsabilidade, notadamente, a família e o trabalho" (CAMPOS, 2004, p. 1.385)
Segundo Mansur (apud BERTOLOTE; RAMOS, 1997) em março de 1940, o alcoolismo foi apontado como uma doença das quais as pessoas seriam portadoras, ou seja, uma característica biológica, bioquímica, que tornaria seu organismo de alguma forma incompatível com o álcool.
Vemos que esta visão nos remete perceber que predisposição interna e biológica de determinado indivíduo se popularizou bastante na medida em que é o referencial teórico adotado pela associação dos alcoólatras anônimos. No que refere ao tratamento vemos que, neste caso o principal objetivo é se abster totalmente das bebidas alcoólicas.
Segundo Kalino (1999) do ponto de vista das pesquisas mais modernas dizem que esta visão biológica deve ser revista em muitos pontos, principalmente no que diz respeito à perda do controle, pois este modelo biológico sugere que, o alcoólatra não pode nada, uma gota de álcool que penetre no seu organismo vai provocar um desarranjo metabólico, e ele compulsivamente vai precisar beber mais.
Que a perda de controle, como vemos, por sua parte existe, porém, ela não se reduz somente as condições biológicas, vai muito mais além quando observamos também em visão psicológica que o alcoólatra tem em sua afinidade em relação ao álcool.
Tais observações nos mostram que a transição do beber moderado ao, beber problemático ocorre de forma lenta, tendo uma interface que, em geral, leva vários anos, assim se torna aquilo que podemos chama de alcoólatra.
A partir destas referências pensamos que alguns problemas possam vir a ser e discutidos abrindo perspectiva para se repensar a atividade com o alcoólico. Pensamos a respeito da família alcoólica e do papel fundamental que esta exerce como processo de recuperação da dependência do alcoolismo e o modo de seu adoecer, buscando as causas que o levaram a recaída. Quando falamos desse modo é porque a família também sofre diante da situação, pois acaba envolvendo a todos
Quando falamos em família observamos a busca de segurança para si e a prole. Esse tem sido o determinante que impulsionou o homem da idade da pedra a se agrupar, ainda que de forma rudimentar, no que hoje chamamos de família, como seio para assegurar a vida como destaca o documento da CNBB de 1994 quando tratava sobre a família.
Quando se fala em geração e defesa da vida, pensamos em todo um leque de espaços onde a vida precisa ser respeitada. Pensamos, evidentemente, na missão procriadora dos pais, com a conseqüente educação da prole. Mas pensamos também na vida em seu sentido mais amplo, do qual a família precisa ser promotora. Muitas vezes uma cultura de morte leva a família a ser colaboradora da instauração de uma vida medíocre e vazia. Felizmente, meios populares, famílias de uma mesma comunidade se unem para reivindicar creches, assistência médica, salário, alimento, saneamento. Famílias de acampados se unem na busca do chão. Tudo isso manifesta o desejo de encontrar o direito à vida. A essas famílias se associam outros grupamentos que se fazem missionários da vida (CNBB, 1994, p. 59).
Além da segurança, a própria necessidade da procriação contribui para esse movimento aglutinador e, desde então, parecem ser esses os pilares de sustentação da família como conhecemos em nossos dias, como podemos perceber na citação que segue tirado do artigo de Campos (2005) intitulado "Contágio, doença e evitação em uma associação de ex-bebedores: o caso dos Alcoólicos Anônimos", que traz:
Entre os membros das camadas populares, a família é pensada como uma ordem moral, operando como uma referência simbólica central, a partir da qual se formula e se organiza a produção dos significados sobre a existência e sobre a vida social. Como sublinha Sartre, "a família como ordem moral [...] torna-se uma referência simbólica fundamental, uma linguagem através da qual os pobres traduzem o mundo social, orientando e atribuindo significados a suas relações dentro e fora de casa" (CAMPOS, 2005, p. 86)
Diante do que foi falado, analisamos a história da família, ao longo dos anos, a presença de vários mecanismos em sua dinâmica que visam proporcionar segurança e estabilidade para que seus membros possam não só conviver harmoniosamente, como também lançar-se nas sucessivas fases de seu desenvolvimento. Para isso aconteça sem maiores dificuldades, cada um dos pares, quando se casam, devem trazer consigo o modelo de uma família suficientemente integrada. Isso proporcionará a ambos um determinado grau de independência que viabilizará a estruturação da identidade da nova família. Esta guardará com as famílias de origem uma proximidade afetiva, nutrida de uma independência econômica e principalmente existencial.
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