O Amor Desaforado



  1. El niño
  2. Para Edméia
  3. Kali
  4. Lira dos Quinze Anos
  5. Auto-ajuda
  6. Oração
  7. Conversa íntima
  8. Tiago
  9. Farrapo hegeliano
  10. Forever
  11. Anúncio
  12. Teu último poema
  13. Quarta – Feira
  14. Elegia fúnebre

Este e-book reúne poemas do segundo semestre se 2002. Relendo-os percebo a intensidade com que vivi aquela época, muito amargurado pela separação da Estelita mas já dando um balanço em outras relações também muito fortes, embora de natureza distinta. São poemas domésticos no sentido de que seu espaço é recatado e íntimo. Gosto deles por sua retórica, seu humor e por desenhar um período no qual, se não fosse a companhia da Anna, eu estaria perdido nos desertos corredores da universidade. Dedico-os, pois, à Anna e aos meus filhos, que sempre foram meus melhores amigos. Se desejar enviar estes poemas a um amigo, faça-o livremente.

El niño

As oscilações térmicas das correntes de ar sobre o Pacífico

Fazem chover o verão todo no quintal

As bananas amadurecem depressa

Sentadas sobre a mesa as moscas esperam o tempo propício

 

08/12/02

É preciso aprender a esquecer

A deixar que o inevitável aconteça

A não procurar consolações vãs

Beijos que jamais foram dados

E que não voltarão

Num idílio que não pertence

À generosidade humana

Juntar-se à sua invencível tendência

De lutar sem boas razões

De morrer antes de pedir perdão

De esperar esconder o que espera

O seu inefável

Mínimo eu

05/12/02

Para Edméia

Remexer devagar as gavetas

Brincar com os cachos da menina mãe na foto

Descobrir como se guardam telefones

Que não são de ninguém hoje

E a fartura de borrachas sujas clipes enferrujados

Pedacinhos de grafite 0,5 e 0,7

Encontrar surpreso o seu anel

De prata e ônix

Suas outras jóias as avarentas mulheres de família

Repartiram entre si

E poemas que escrevi não lembro a que propósito

Que decifro como os de um outro , não eu

Orações a Santa Terezinha que falharam

Moedas sem mais nenhum valor

Museu de assombro, esquecimento,cinzas

01/12/02

1

Inexato amor

Que rouba no sete e meio

Me faz comer bolinha da terra

Brincando de casinha

Não me concede um beijo

Só se deixar olhar

Os olhos baixos

A pele rosa

A boca num esboço

Da precoce imemorial arcana

Sei lá forma de amor

2

todos os poemas (todos os textos)

são datados

dizem, pois, a que vêm,

ou são vãos

3

Aurora gosta no jardim das primaveras

Das dálias dos crisântemos

Mandou o jardineiro cortar uns finos bambuzinhos

Achando lá na sua cachola

Que era tudo mato

4

os cabelos envelhecem conosco

e saem logo dando a notícia

5


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