Este e-book reúne poemas do segundo semestre se 2002. Relendo-os percebo a intensidade com que vivi aquela época, muito amargurado pela separação da Estelita mas já dando um balanço em outras relações também muito fortes, embora de natureza distinta. São poemas domésticos no sentido de que seu espaço é recatado e íntimo. Gosto deles por sua retórica, seu humor e por desenhar um período no qual, se não fosse a companhia da Anna, eu estaria perdido nos desertos corredores da universidade. Dedico-os, pois, à Anna e aos meus filhos, que sempre foram meus melhores amigos. Se desejar enviar estes poemas a um amigo, faça-o livremente.
As oscilações térmicas das correntes de ar sobre o Pacífico
Fazem chover o verão todo no quintal
As bananas amadurecem depressa
Sentadas sobre a mesa as moscas esperam o tempo propício
08/12/02
É preciso aprender a esquecer
A deixar que o inevitável aconteça
A não procurar consolações vãs
Beijos que jamais foram dados
E que não voltarão
Num idílio que não pertence
À generosidade humana
Juntar-se à sua invencível tendência
De lutar sem boas razões
De morrer antes de pedir perdão
De esperar esconder o que espera
O seu inefável
Mínimo eu
05/12/02
Remexer devagar as gavetas
Brincar com os cachos da menina mãe na foto
Descobrir como se guardam telefones
Que não são de ninguém hoje
E a fartura de borrachas sujas clipes enferrujados
Pedacinhos de grafite 0,5 e 0,7
Encontrar surpreso o seu anel
De prata e ônix
Suas outras jóias as avarentas mulheres de família
Repartiram entre si
E poemas que escrevi não lembro a que propósito
Que decifro como os de um outro , não eu
Orações a Santa Terezinha que falharam
Moedas sem mais nenhum valor
Museu de assombro, esquecimento,cinzas
01/12/02
1
Inexato amor
Que rouba no sete e meio
Me faz comer bolinha da terra
Brincando de casinha
Não me concede um beijo
Só se deixar olhar
Os olhos baixos
A pele rosa
A boca num esboço
Da precoce imemorial arcana
Sei lá forma de amor
2
todos os poemas (todos os textos)
são datados
dizem, pois, a que vêm,
ou são vãos
3
Aurora gosta no jardim das primaveras
Das dálias dos crisântemos
Mandou o jardineiro cortar uns finos bambuzinhos
Achando lá na sua cachola
Que era tudo mato
4
os cabelos envelhecem conosco
e saem logo dando a notícia
5
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