"Podemos falar sobre o futuro, visualizar o futuro, mas se queremos este futuro teremos que agir."
Daryl Kollman
Como afirma Daryl Kollman, muito se discute sobre o que realmente deve ser feito para gerar um amanhã mais digno e igualitário, principalmente, dentro das universidades. Com efeito, o que estamos propondo nesse trabalho é a análise sobre o projeto "Adeus aos lixões" que colocou em prática a teoria adquirida na academia, construindo dessa forma uma intervenção socioambiental que estimulou e transformou a comunidade local da época.
Dentro da perspectiva da História Ambiental, o projeto aqui abordado pode ser considerado uma construção plena de educação transformadora, pois conseguiu atuar de maneira enfática na comunidade. Tal resultado foi fruto do fomento da inter-relação entre homem e sociedade para obtenção de um novo conhecimento que instigou a mudança de hábitos cotidianos, acarretando bem estar e a participação do homem, no seu próprio meio, na solução das questões ambientais. É importante mencionar ainda que no período trabalhado, a década de 1980, na cidade do Rio Grande, já existiam movimentos que fomentavam esse ideário. Entre esses, podemos mencionar o NEMA (Núcleo de Educação e monitoramento ambiental) e o CEA (Centro de Estudos Ambientais) em nossa cidade, fato que muito colaborou na caminhada percorrida.
Implantado em 1990, "Adeus aos lixões" atuou na iniciativa da coleta seletiva de lixo na cidade do Rio Grande, prática da educação ambiental em escolas e universidade e no incentivo a cooperativa de catadores de lixo para realização da necessária, separação de resíduos e posterior geração de trabalho e renda.
Contudo, mesmo com sua forte atuação, o programa ao longo dos anos foi sendo esquecido e os hábitos cultivados enfraquecidos, restando somente a todos aqueles que vivenciaram o seu auge questionar: O que aconteceu? Por essa intervenção não teve resultados permanentes? Quais os vestígios que ainda podemos observar dessa história? Elementos que serão observados no decorrer desse trabalho.
A vontade de pesquisar e escrever sobre esse assunto surgiu da curiosidade dessa articulista e das respostas obtidas através do orientador desse trabalho, Daniel Prado, e da coordenadora do Núcleo de desenvolvimento social e econômico da universidade Federal do Rio Grande – FURG, Lúcia Nobre. Sendo graduanda do curso de História Bacharelado e realizando estágio no NUDESE[1]fui incumbida de prestar assessoria a dois grupos de reciclagem: "Reciclar é vida" e "Associação Vitória".
O primeiro é um programa o qual mães do Centro de atenção Integral a Criança, escola de ensino fundamental - CAIC realizam o beneficiamento do papel gerado pela academia na coleta seletiva local. Já o segundo grupo trata-se de uma associação de mulheres catadoras de lixo que realizam a triagem e venda dos resíduos da Universidade Federal do Rio Grande e da Vila da Quinta, que é onde se localiza a Associação. Trabalho que além de agregar na luta contra a exploração dos recursos naturais, gera renda para as associadas.
Dessa forma, através de um convívio maior e do conhecimento das problemáticas acerca dessa realidade, naturalmente foi "brotando" uma grande admiração pelas trabalhadoras dos grupos assessorados. Paralelamente, foi surgindo a culpa por nunca antes ter enxergado o prejuízo ambiental e as maravilhas que podem ser realizadas através dos resíduos que tantas vezes ignoramos e misturamos em um saco para ser levado pelo caminhão municipal. Com efeito, comecei a questionar a origem de nossa coleta seletiva, para onde era enviado o restante do lixo que não ia para os grupos os quais estava envolvida, se nunca houve um programa de conscientização que deu certo e outros pontos acerca dessa temática.
A primeira pessoa que respondeu minhas dúvidas foi Lúcia Nobre, coordenadora do NUDESE, a qual durante sua especialização em gestão ambiental foi aluna de Artur Oliveira (um dos idealizadores do projeto e, considerado por ela, seu grande mestre). Apaixonada pela reciclagem, a coordenadora me contou sobre "Adeus aos lixões" e sua importância e resultados, enfatizando a coleta seletiva e a educação socioambiental. Assim, fui me encantando pela problemática que vivenciava e resolvi procurar o professor do curso de História Daniel Prado, doutor em Educação Ambiental para conversar, expor minhas descobertas, as minhas curiosidades e propor a construção de algo juntos, como um artigo ou um projeto.
Mais uma vez, escutei a trajetória e resultados do programa "Adeus aos lixões" e fiquei sabendo que neste ano estaria completando vinte anos de sua implantação, do estopim de tudo o que eu via e admirava. Não tive dúvidas, lá estava o meu orientador e esse era o tema ideal para minha monografia.
Página seguinte |
|
|