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Merchandising social na novela Mulheres apaixonadas (página 3)

Renato Souza Do Nascimento

Partes: 1, 2, 3

ANEXO 1 – CRITICAS DE JORNALISTAS À NOVELA

MERCHANDISING SOCIAL
Etienne Jacintho e Keila Jimenez

"Indústria do Social", copyright O Estado de S. Paulo, 6/04/03

"Elas são criticadas por estimular a violência, abusar do erotismo e dar mau exemplo aos jovens e crianças. Na contramão dessas, entre outras críticas, as novelas brasileiras adotaram um discurso politicamente correto, incluindo em suas tramas mensagens com preocupações sociais e educativas. São os chamados merchandisings sociais.

Mas o que era ocasional, só para inglês ver, se tornou uma poderosa indústria, que ganha cada vez mais força na televisão. As idéias e as manifestações esporádicas de alguns autores deram espaço a uma grande equipe na Globo centrada em levantar oportunidades para inserir mensagens sociais nas tramas. Até um consultor especializado em marketing social é ferramenta dessa ‘linha de produção do bem’, Márcio Schiavo, diretor da empresa de marketing social Comunicarte. Schiavo, que é especialista em merchandising, presta consultoria ‘de graça’ para a Globo.

Como o merchandising social tem de ter o compromisso ideológico com o pensamento do autor, o trabalho do consultor não é nada fácil. Schiavo atua em parceria com a Central Globo de Comunicação, a CGCOM, analisando os capítulos, um a um, com certa antecedência e sugerindo temas.

‘O merchandising social começou no México, anos atrás, mas o Brasil é um dos poucos países que usa suas telenovelas também como instrumento educador e com sucesso’, diz Schiavo. ‘Desde 1984 venho me especializando nesse serviço, mas só em 88 é que demos os primeiros passos. Lembro-me que o problema do alcoolismo da personagem Heleninha Roitman (Renata Sorrah), em Vale Tudo (1988), foi um dos primeiros merchandisings sociais de destaque na TV’, continua. ‘Agora temos toda uma metodologia para essas ações. No início, não tínhamos nenhum domínio técnico, hoje temos ONGs de todos os lados nos sugerindo temas, gente especializada em pesquisa social e autores sem medo de defender causas importantes.’

Bandeira - É justamente aí que as coisas se misturam. Segundo Schiavo, o merchandising social tem duas origens: essa do levantamento de oportunidades na trama, que é o trabalho dele, e a vontade do autor de defender temáticas sociais. ‘Há autores que, quando criam suas tramas, já incluem uma campanha social de destaque misturada na ficção. Alguns nem precisam da minha consultoria’, diz ele. ‘Às vezes, acabo dando alguma dica ou indicando fontes de pesquisa’, observa. ‘Nas barrigas (períodos em que a trama está mais parada, sem muitas ações) é que costumam surgir espaço para as minhas sugestões.’

Manoel Carlos, Benedito Ruy Barbosa e Glória Perez entram nesse time que cria o próprio merchandising. O mais recente ‘filhote’ de Maneco é a campanha em prol do respeito à terceira idade, questão levantada em seu novo folhetim, Mulheres Apaixonadas. Sabe aquela raiva que você sente da Dóris (Regiane Alves), neta má que chega a exagerar ao maltratar os avós velhinhos, Flora (Carmem Silva) e Leopoldo (Oswaldo Louzada)? Sim, é essa raiva que o autor acredita que vá sensibilizar as pessoas e abrir caminho para que ele possa mostrar como os idosos são relegados a um plano inferior no País. Na mesma novela, Raquel, papel de Helena Ranaldi, levantará o problema da agressão à mulher. O ex-marido da personagem aparecerá na história, fazendo-a relembrar momentos difíceis que passou ao lado do agressor.

‘A ficção tem sido uma boa aliada no esclarecimento de questões importantes para a sociedade e a telenovela, como o mais abrangente dos gêneros ficcionais, precisa estar atenta a isso’, diz Manoel Carlos. ‘O fato de a novela ser cultura de massa não lhe tira o valor, muito pelo contrário. O último capítulo de O Clone (2002) foi visto por cerca de 45 milhões de pessoas. Que ficcionista não sonha com isso, em qualquer lugar do mundo?’

Autores e consultor concordam que a dimensão de pessoas atingidas pelo merchandising social nas novelas é o que realmente vale a pena. Detalhes pequenos como uma cena de Laços de Família (2000) em que Capitu (Giovana Antonelli) mostrava uma camisinha, ou campanhas importantes, como a de doação de medula, encabeçada pela personagem Camila (Carolina Dieckmann), que tinha leucemia na novela, têm efeitos grandiosos. Na época, a Secretaria de Saúde chegou a registrar um aumento de doação de medulas de 20 para 200 por mês. ‘Questões familiares, taxa de natalidade, trabalho infantil, não faltam bandeiras a serem levantadas e discutidas nas tramas’, diz Schiavo. ‘Pesquisas nos mostram que uma mulher brasileira assiste, em média, dos 15 aos 40 anos, 15 mil horas de novelas. Imagine o poder que uma mensagem subliminar numa trama tem?’

Resultados - Mas nem sempre a mensagem é tão subliminar assim. De tanto aparecer na telinha, o merchandising social às vezes rouba a cena e se transforma no argumento principal de um folhetim, vencendo até os tradicionais triângulos amorosos. Os protagonistas Jade, Lucas e Said perderam espaço em O Clone para os personagens Mel (Débora Falabella) e Lobato (Osmar Prado). As desventuras dos dependentes químicos prenderam a atenção do telespectador que respondeu bem. A audiência do folhetim aumentou depois que a autora Glória Perez teve a idéia de colocar depoimentos reais de dependentes químicos em cena. ‘Vi que seria mais bacana e menos moralista ter depoimentos de pessoas que estavam passando pelo problema’, conta a autora. ‘É muito mais eficiente do que botar a família, a polícia ou psicólogos falando sobre o assunto’, ela completa.

As campanhas sociais são recorrentes nas tramas de Glória Perez. ‘Desde o começo de minha carreira vi a TV como um instrumento de mobilização nacional’, fala a autora, que fez a primeira campanha sobre a aids na TV - na novela Carmem, da Manchete, em 1986. Para emplacar seus merchandisings, a autora diz que é necessário estar antenada. ‘Costumava andar pela cidade e via as mulheres da Cinelândia que procuravam por seus filhos desaparecidos’, diz. Daí a idéia de colocar a causa na novela Explode Coração (1996). ‘Queria dar voz a quem não tem voz.’

Para Glória Perez, o merchandising social funciona muito bem. ‘Durante o período em que Explode Coração esteve no ar, 100 crianças foram recuperadas’, comenta a autora, que também recebeu elogios do Instituto do Coração por sua campanha a favor da doação de órgãos. O argumento fazia parte da trama de De Corpo e Alma (1992). ‘Pela primeira vez sobrou coração’, fala Glória Perez sobre o fim da fila de transplante no Incor. Mas a autora afirma que não é função dos folhetins resolver problemas sociais. O ideal, para ela, seria que as instituições aproveitassem o momento em que se forma o interesse nacional e dessem continuidade ao trabalho após o término da novela.

‘É só uma questão de informação’, acredita a autora. ‘Na época de De Corpo e Alma, a doação de órgãos não era freqüente pois as pessoas não entendiam o que era a morte cerebral’, diz. A autora conta que uma enfermeira do Incor disse a ela que, no dia em que a cena da doação de coração foi ao ar, uma família vivia uma situação idêntica nos corredores do hospital. Um pai, que não queria doar os órgãos da filha, se sensibilizou e fez a doação.

Recordista - Malhação, por exemplo, fez do merchandising social a estrutura principal de boa parte de suas histórias, mesmo que bobinhas. A novelinha juvenil já teve personagem portador do vírus da aids, um homossexual, um drogado, um alcoólatra, um menino de rua, um portador de deficiência física, entre outros casos. Seu cenário, que era uma academia de ginástica, deu lugar a um colégio, o que facilita a discussão de temas mais sérios. ‘Em 2002 , Malhação teve 1.138 ações de merchandising social em suas histórias: 244 sobre uso de drogas, 116 sobre sexualidade, 567 sobre causas sociais. É a campeã absoluta da Globo’, diz o diretor da CGCOM, Luís Erlanger. ‘Ganhamos prêmios, fazemos nossa parte e ainda ensinamos como se faz isso no exterior. O merchandising social da TV está ultrapassando os limites da teledramaturgia e indo para outros programas, como Big Brother. Ao que tudo indica, essa indústria vai crescer ainda mais.’

No Big Brother Brasil, o merchandising surgiu já na primeira edição do programa, quando os participantes ajudaram a divulgar a campanha contra a dengue. Nesta última edição, o foco foi o combate à fome, com o projeto Ação da Cidadania, que arrecadou 30 toneladas de alimentos em todo o País. ‘A idéia principal era chamar a atenção do público para esse tipo de ação, não estávamos procurando um resultado na arrecadação propriamente dita. Mas, de acordo com a equipe da Ação, foi um resultado impressionante’, diz o diretor do programa, Boninho. Para ele, as campanhas dão resultado e o BBB é um exemplo disso. ‘Se as pessoas se mobilizam para eliminar um candidato do programa, é lógico que estão dispostas a interagir com boas idéias e ações.’"

MULHERES APAIXONADAS
Leila Reis

"Novelão de Manoel Carlos é o refresco da TV", copyright O Estado de S. Paulo, 23/02/03

"Os críticos chamam de teatrão os espetáculos sem engajamento cujo único objetivo é entreter e conseqüentemente garantir sucesso comercial. Na TV existe o novelão, que captura o espectador pela diversão e não por alguma causa. O rei do novelão é, sem dúvida alguma, Manoel Carlos, o autor de Mulheres Apaixonadas, que substitui a arrastada e esquizofrênica Esperança no horário nobre da Globo.

Quando alguma trama de Manoel Carlos é anunciada, o público já sabe o que virá. Imagens belíssimas de um Rio de Janeiro glamourizado, bossa nova, mulheres peruas, mansões, festas chiques, romances arrebatadores e muitas intrigas.

O universo de Manoel Carlos é circunscrito à zona sul e aos problemas da classe média carioca. Há quem possa dizer que suas histórias destoam desse Brasil novo, interessado preponderantemente nas questões sociais.

Mas quem disse que novela precisa ser coerente com a conjuntura nacional? Talvez seja a avalanche de desgraças que a TV despeja em cima do telespectador todos os dias que leve o público a desejar um refresco. Um pouco de glamour para contrabalançar com o festival de rebeliões, desbarrancamento de encostas, acidentes de trânsito, crimes nefastos, desgraças individuais exploradas às últimas conseqüências pelas revistas femininas, programas de auditório e pelos ‘noticiários’ policiais.

Talvez esteja aí também a boa receptividade do telespectador para com Mulheres Apaixonadas, que estreou com 45 pontos de média no Ibope (na Grande São Paulo) e manteve a marca na noite seguinte.

Poder invadir mansões e testemunhar o modo de vida chique das peruas e suas intrigas fúteis, sobrevoar as praias da Barra da Tijuca (sem gastar um tostão) e apreciar a forma física de mulheres e homens que nunca vão estar em sua sala é um luxo para o telespectador médio. E ele sabe que Manoel Carlos é o passaporte para essa viagem.

Sabe também que, se a novela é dele, vai reencontrar figurinhas supercarimbadas no elenco. Umberto Magnani, Helena Ranaldi, José Mayer, Suzana Vieira, Tony Ramos, Regina Braga e Julia Almeida são peixinhos de Manoel Carlos.

As mulheres apaixonadas da novela são mulheres insatisfeitas. Como em outras novelas MC, são elas que movimentam a trama. Lorena (Suzana Vieira), assim como Branca de Por Amor, é a perua-mor que manipula a vida de todos à sua volta. A brecada que ela dá em Sílvia (Natália do Valle) para garantir o casamento (já fadado ao fracasso) dos filhos para não decepcionar os convidados nem desperdiçar o dinheiro gasto na festa foi monumental e já mostra que caminhos a perua vai trilhar.

Christiane Torloni também seguirá a pauta criada por MC para as Helenas antecessoras: o da finesse e do comedimento, isso até ser arrebatada pelo verdadeiro amor.

O assédio das maduras (Lorena e Raquel, da personagem de Helena Ranaldi) aos garotões vai apimentar a história. Mas os romances anunciados - de mulheres mal-amadas por namorados do passado, de doidivanas que tiram a roupa por causa de padre e entre adolescentes - é que realmente vão fazer funcionar o motor da trama.

Uma observação: quem disse aos figurinistas que vestidos sem ombro são chiques? Christiane Torloni e Suzana Vieira bem que podiam ser poupadas de tamanha breguice na estréia."

Artur Xexéo

"Primeiro capítulo ainda rende", copyright O Globo, 23/02/03

"Já se disse que o Brasil tem 160 milhões de técnicos de futebol. Eu acrescento: e 160 milhões de especialistas em telenovelas. Alguns destes 160 milhões me escreveram nos últimos dias para comentar a coluna sobre o primeiro capítulo de ‘Mulheres apaixonadas’. Com adendos, é claro.

‘O senhor esqueceu de dizer que, no primeiro capítulo, Manoel Carlos já tocou no assunto que ele se propôs nessa novela: os maus tratos sofridos pelos idosos’, afirma Claudio Palmeira.

Imagino que o leitor Palmeira só tenha me chamado de senhor para deixar claro que a novela era sobre a terceira idade. Mas ele está certo. A escalação de Carmen Silva e Oswaldo Louzada é emocionante.

Teve gente que não gostou. ‘Longo e tedioso capítulo’, avaliou Rita de Cássia Gonçalves. ‘Parecia meio de novela, quando enrolam até não poder mais. Tem cabimento colocar no ar todo velório, enterro, casamento, com imenso sermão dos padres? Fora o balde de água que atiraram em José Mayer num dia ensolarado! E fez-se a chuva mais falsa do mundo! Sem que ninguém tirasse os óculos escuros. No velório falavam do casamento e no casamento falavam do velório. Assunto para animar uma festa chata com personagens previsíveis? Tinha gente demais. Não deu para entender a história nem o que cada um quer da vida.’

Rita tem um pouco de razão - os sermões foram longos demais mesmo - e muito de implicância.

O leitor André Bertrand cita Joãozinho Trinta para dizer por que gostou. ‘Quem gosta de pobreza é intelectual’, concorda e acrescenta: ‘Que cortiço sépia o quê...’ Acho que esse negócio de cortiço sépia é uma referência a ‘Esperança’. Mas Bertrand continua: ‘O negócio é luxo, carro importado e banheira de espuma. Se você viu o segundo capítulo, deve ter notado o cenário do apartamento da candidata a professora de educação física Helena Ranaldi. Tá ganhando beeeeem!!!!’

A maioria discorda de meu entusiasmo com a novela e até de minhas poucas críticas: ‘Você disse que o Rodrigo Santoro ainda não teve um bom papel em novela’, recorda-se uma certa Maria Cecília. ‘E precisa? Basta a presença dele na telinha. Por mim, ele pode entrar mudo e sair calado. Eu só estou vendo a novela por causa dele.’ Bem, pelo menos a Maria Cecília me chamou de você. Ela não se liga na trama da terceira idade. Está mais preocupada com o núcleo jovem.

Agora quem escreve é Gabriel Marques: ‘Mulheres apaixonadas’ começou com a velha e surrada apelação para a nudez, para atrair audiência. E o que dizer das ‘coincidências’ até agora entre a história criada por Manoel Carlos e a trama do seriado ‘Everwood’, do Warner Channel?’ Só posso dizer o seguinte: até hoje, não conhecia uma só pessoa que assistisse ao seriado ‘Everwood’. Na verdade, não fazia idéia de que existia um seriado chamado ‘Everwood’.

Além disso, a novela já está no capítulo 6. É completamente ultrapassado a gente continuar discutindo o primeiro capítulo. E podem falar mal o quanto quiserem. Com Manoel Carlos, as novelas são mais cariocas. E eu sou mais feliz.

***

Passo a palavra ao secretário de estado de Ação Social, Fernando William, que quer responder nota recente do colunista:

‘Eu sei que o senhor não gosta da governadora. Até aí tudo bem. Fica por conta do narcisismo de intelectuais que se julgam o máximo e acham feio o que não é espelho seu, mesmo que seja de mais da metade da população do Rio que a elegeu no primeiro turno.

Se o preconceito lhe faz crítico, tudo bem. A crítica é fundamental para quem está na vida pública. Agora, critique com base em dados corretos. Quando diz que a governadora não paga a dívida com a União e nem os servidores, o senhor faz uma confusão elementar. Quem não pagou a dívida, atrasou o salário e não pagou o 13º do funcionalismo foi a ex-governadora Benedita da Silva, do PT.

A dívida com a União tem sido paga com o confisco de repasses do ICMS do Estado. Já o salário de dezembro dos servidores - cuja verba não foi deixada pela ex-governadora - foi pago em janeiro, e o de janeiro, em fevereiro, dentro de um cronograma preestabelecido pela atual governadora.

Quanto ao cheque-cidadão, de cujo programa sou o atual responsável, é pago com recursos de um fundo específico para investimentos no combate à pobreza e às desigualdades sociais. Ou seja, são recursos carimbados que não podem ser utilizados no custeio de pessoal.

A governadora está apenas há 50 dias no cargo. A maior parte deles dedicada a resolver problemas deixados pela administração anterior. Ainda assim, ela lançou a campanha em defesa de uma refinaria de petróleo em nosso estado, retomou diversos projetos que estavam parados por falta de recursos e está pagando o salário dos servidores, apesar de toda a pressão que não vinha ocorrendo antes, como o citado bloqueio de ICMS.

Não é por nada, não, o mínimo de bom senso e responsabilidade com o estado deveria mobilizar todas as forças possíveis, inclusive os meios de comunicação, para encontrar soluções e não para se fazer julgamentos precipitados e preconceituosos, que haveremos de contrariar no devido tempo.’"

TV E CLICHÊ
A novela nossa de cada dia

Fernando Torres (*)

Clichês. Qualquer reflexão feita a respeito da novela repetirá a mentalidade trivial de nossos antepassados; conduzirá aos lugares-comuns já defendidos ora por intelectuais rebuscados, ora por noveleiros apaixonados; indagará sucessivamente se "reflete ou influencia", "aliena ou conscientiza".

No entanto, um pouco de coerência ajudará a mostrar que não se pode exigir lances de ineditismo sobre esse assunto. Afinal, o clichê é a matéria-prima do gênero novelesco, o responsável por sua fórmula de sucesso. Dia após dia, repetitivamente.

Quando este escriba fala em novela não se refere exclusivamente às de televisão. O gênero é mais amplo – e também mais antigo. Surgiu na Idade Média, na Espanha, quando os menestréis corriam o mundo para propagar as conquistas heróicas de seus governantes, a maioria sem qualquer compromisso com a verdade. À época, o estilo era conhecido por "canção de gesta" e continha início, meio e fim.

A novela só começou a ser contada em capítulos na França, em julho de 1836. Curiosamente, seus primórdios estão ligados ao jornalismo. Já naquela época, as pessoas não se interessavam muito pelo noticiário; preferiam o entretenimento. Foi quando o então editor do jornal francês La Presse, Émile de Girardin, decidiu utilizar o rodapé do jornal – conhecido como folhetim – para publicar obras da escola romântica, então emergente.

Dor de cotovelo?

O romance Lazarillo de Tormes (anônimo) foi o primeiro folhetim publicado. Seguiram-se A menina velha, de Honoré de Balzac, e O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. Consta que, precocemente neste período, os leitores enviavam cartas aos autores a fim de pedir modificações nas histórias.

Mesmo tendo população predominantemente analfabeta, o Brasil importou a novidade. Destacaram-se os jornais O Ipiranga (pioneiro no segmento), Gazeta de Notícias e Jornal do Brasil e os romancistas José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo.

Curioso é verificar que nomes atualmente consagrados pela literatura universal figuravam nos jornalões, como Júlio Verne, Miguel Cervantes e Victor Hugo. Não se tratava de novela de elite, como se pode supor em princípio. A leitura constante dos folhetins era recriminada pelos intelectuais da época.

Machado de Assis era um desses intelectuais. Como sua estilística pouco combinava com a exigida pelos folhetins, o consagrado escritor não titubeou em desferir severas críticas aos que publicavam e consumiam as novelas literárias. Dor de cotovelo ou sincera repugnância? Mais uma questão a se somar às outras.

Controversa metamorfose

Mas deixemos a história um pouco de lado. Basta ao leitor conhecer os primórdios do gênero para entender a força que a novela concentra hoje. Se o folhetim já evidenciava o poder da ficção novelesca para a eficaz alienação das massas, imagine quando a imagem e o som substituem o não tão doce prazer da leitura.

É interessante observar a controversa metamorfose do folhetim, curiosa quando se contrapõe a mídia impressa à televisiva. A aceitação do público pelo folhetim decaiu quando este começou a dar espaço à literatura realista e naturalista. O romantismo barato coube às fotonovelas e radionovelas. Na TV, o efeito foi inverso. O melodrama da pioneira Sua vida me pertence (Tupi, 1951) cedeu lugar ao realismo de Beto Rockfeller (Tupi, 1968-1969). E em vez de afundar, a telenovela prosperou.

Na verdade, o público ainda é uma incógnita para os novelistas. Em 1998, a novela Torre de Babel (Globo) chocou os telespectadores por seu realismo obstinado. O autor, Sílvio de Abreu, foi obrigado a alterar a história a fim de recuperar a audiência. Excluiu, inclusive, personagens polêmicas da trama, como o casal de lésbicas Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Sílvia Pfeifer).

Barreiras tênues

Moralismo? Preconceito? Difícil diagnosticar. O fato é que a atual novela das oito, Mulheres apaixonadas, aborda o lesbianismo sem grandes reações de interferência do público. Manoel Carlos, novelista responsável pela trama, pensa até em explorar o beijo romântico entre as personagens Clara (Aline Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli).

Janete Clair, autora de sucessos como Pecado capital (Globo, 1975-1976), em depoimento à série TV Ano 25 (programa transmitido pela Rede Globo em 1975), revela a fórmula para conquistar o público: "Uma emoção de alegria, uma emoção de tristeza, uma emoção de drama." (Citado por Mauro Alencar, em A Hollywood brasileira.)

A partir daí, delineiam-se as barreiras que separam ficção e realidade nas novelas. Tênues, por assim dizer. No mesmo caldeirão, acomodam-se as clássicas discussões: ao exibir dramalhões inverossímeis, a telenovela aliena ou simplesmente entretém? Em contrapartida, ao produzir realismo, ela reflete ou influencia?

Lentes da realidade

Ora, é indiscutível que as novelas transformam a realidade, sim. "Quem fica em frente à tela corre risco de contágio", decreta Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia, na obra já citada. Não se pretende aqui estabelecer a clássica behaviorista estímulo è reação; obviamente, o processo vai além disso.

Academicamente, a influência exercida no espectador é conhecida como teoria da modelagem ou como parte de uma teoria de aprendizagem social mais geral. Segundo Melvin DeFleur e Sandra Ball-Rokeach, em Teorias da comunicação de massa, "se uma pessoa vê outra usando determinada técnica para enfrentar com sucesso um problema com o qual o observador de vez em quando tem que se haver ela pode experimentar esse comportamento como uma solução pessoal".

Assim, rapazes que queiram ser "machos" procurariam homens viris na telinha para se espelhar; moças que desejam "namorar" imitariam as técnicas de sedução das heroínas da telenovela. Por vezes o modelo exibido não exerce contemplação e reprodução individual, mas quase todos os espectadores se posicionam sobre o tema.

A constatação não é boa ou ruim por si só. Afinal, se a novela concentra tamanho poder de influência no comportamento, que seja utilizada para transmitir valores morais, éticos e de cidadania. O problema é: quem define o que é bom?

Agenda política

Sob a ótica de um discurso religioso, por exemplo, Mulheres apaixonadas se caracterizaria como aberração completa, invenção diabólica em que valores eternos seriam desmoralizados: sexo antes do casamento, adultério, homossexualismo, violência, desrespeito familiar etc. Em contrapartida, sociólogos pós-modernos veriam os mesmos temas sob ângulos diferentes e importantes para a discussão social: virgindade, fidelidade matrimonial, preconceito, uso indiscriminado de armas, agressão contra a mulher e/ou idosos. Não mudam apenas as palavras; trocam-se também as lentes.

E nem é apenas na sociedade que as transformações se refletem. Por muitas vezes, a política nacional se altera em virtude da telenovela. Aliás, desde a redemocratização do país, em 1985, política e ficção andaram de mãos dadas. Tome-se como exemplo O salvador da pátria (Globo, 1989), Brasileiras e brasileiros (SBT, 1990-1991) e Pátria minha (Globo, 1994-1995).

Pode-se afirmar que nenhuma novela provocou tanta interferência quanto O rei do gado (Globo, 1996-1997). Por meio do senador Roberto Caxias (Carlos Vereza) e do líder sem-terra Regino (Jackson Antunes), a novela discutiu a reforma agrária promovendo debate político, tanto no cotidiano popular como no Congresso Nacional e mobilizando líderes a favor ou contra o Movimento dos Sem Terra. A trama chegou a incluir os senadores petistas Eduardo Suplicy (SP) e Benedita da Silva (RJ), que discursaram em prol da reforma agrária e da paz.

No artigo "Política e Novela", publicado no livro TV aos 50, a socióloga Esther Hamburger constata: "Ao propiciar publicidade inédita ao MST, a novela [O Rei do Gado] atuou sobre a agenda política do momento a partir de um ponto de vista que não coincide com o de nenhum dos agentes sociais e políticos envolvidos." Para o bem ou para o mal? Ninguém pode catalogar com certeza; depende do grau da lente utilizada.

A volta do clichê

A euforia em transformar a realidade faz com que os novelistas abandonem os ingredientes básicos do folhetim – a saber, o maniqueísmo e a fantasia. Tendência óbvia, mas que não se constitui regra. Tramas açucaradas como Maria do Bairro (SBT, 1997) e A usurpadora (SBT, 1998) ainda vingam, apesar de consideradas cafonas.

Torça o nariz, mas ainda existem muitos traços folhetinescos nas novelas brasileiras. A ambígua babá Nice (Glória Pires) de Anjo mau (Globo, 1997-1998) se contrapunha às demais personagens da trama. Caricaturas como as da vilã Paula (Alessandra Negrini) e da viúva falida Elisinha Ferraz (Ariclê Perez) povoam o dramalhão. O mesmo pode ser dito a respeito das histórias de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares. A indomada (Globo, 1997), por exemplo, exibia passagens absurdas, como a do delegado Motinha (José de Abreu) que caía num profundo buraco e ia parar no Japão.

Consagra-se, assim, a eternização do clichê. Na verdade, ele nunca saiu de circulação. Por mais que as novelas pós-modernas trabalhem com temas pós-modernos, o lugar-comum do velho folhetim sempre irá se repetir.

No entanto, um pouco de coerência ajudará a mostrar que não se pode exigir lances de ineditismo sobre esse assunto. Afinal, o clichê é a matéria-prima do gênero novelesco, o responsável por sua fórmula de sucesso. Dia após dia, repetitivamente.

E você nem notou.

(*) Fernando Torres é Jornalista

ANEXO 2 – MINUTAGEM DOS CAPÍTULOS

MINUTAGEM DOS CAPÍTULOS

CAPÍTULO 1 (1 de outubro)

Dos 49min e 32seg do episódio, 16min e 47s tiveram inserções de merchandising social .

Cena 1 - O casal de velhinhos é um dos preferidos do autor Manoel Carlos para as cenas que envolvem temáticas sociais. Nesse dia, Carlão lê a carta dos pais que decidem se mudar pra um abrigo(Abrigo dos Artistas). Na cena, mostra a importância dessa casa para todos os artistas que são abandonados por suas famílias. A mudança do casal é motivada por brigas constantes entre eles e a neta Dóris, que maltrata os dois a novela inteira.

Esse foi um dos temas preferidos do público, que se apegou ao casal de um jeito, que possivelmente deve ter mudado, em uma parcela da população, a relação com seus idosos. Um exemplo real disso, é a provação do Estatuto do Idoso.

Cena 2 – A personagem Hilda Espera o marido após uma seção de fisioterapia. Manoel Carlos abordou essa temática após a metade da novela. Esse tema já tinha sido utilizado em outras novelas do autor, e tinha ganhado uma ótima repercussão.

Cena 3 - Os professores do Colégio Ribeiro Alves preparam um viagem, e no meio da conversa discutem sobre a problemática salarial da classe. O temas foi pouco abordado, mas na minha opinião seria bem aceito, visto que, o número desses profissionais no Brasil é enorme.

Cena 4 – Fred incentiva Raquel a denunciar o Marido. Esse é um dos temas mais abordados, e virou discussão em todos os lares brasileiros. Talvez tenha sido o melhor merchandising social da novela. E com certeza, deve ter tido efeito imediato nas casas aonde acontecia esse tipo de crime.

Cena 5 – Hilda comenta que ninguém tem mais medo de esconder o câncer. Artistas e gente famosa, falam abertamente da doença. Ela fala da prevenção do câncer de mama.

CAPÍTULO 2 ( 2 de outubro)

Nesse capítulo só destaco um tema, que durou 6min, em meio aos 47min do episódio.

Cena Única – A mãe de Fernanda( Vanessa Gerbeli) lê uma carta na qual organização Rio Transplante faz um agradecimento à família pelo órgãos doados.

CAPÍTULO 3 ( 3 de outubro)

São 50 min e 17 seg de capítulo, com uma média de 15min de inserções de merchandising social.

Cena 1- Diálogo entre o casal de lésbicas. As cenas são sempre contidas, para não chocar a sociedade. Nesse episódio elas aparecem por duas vezes: num primeiro momento, namorando na casa de uma delas. Na outra cena, elas discutem a maioridade de um das garotas. Chegada essa data, elas irão morar juntas.

Cena 2 – Raquel faz o auto-exame das mamas

Cena 3 – Marcus bate em Raquel. Em uma das cenas mais chocantes da novelas, Marcus dá uma surra com duas raquetes na personagem Raquel.

CAPÍTULO 4 (4 DE OUTUBRO)

São 47min e 18 seg, com cerca de 27 min de inserções de merchandising social.

Cena 1 – Ponto culminante da novela: Raquel decide denucnciar o Marido pelos espancamentos. Ela procura o cunhado de Helena, que é advogado, e ele lhe conta que as penas para esse tipo de crime são alternativas(cestas básicas, trabalhos comunitários). Mesmo assim ele decide ir. O autor aproveita a oportunidade para incitar as mulheres que sofrem esse tipo de violencia, a nunca desistir, e deixar que os agressores saiam impunes desses crimes.

Cena 2 – A personagem vai ao IML fazer o exame de corpo de delito.

CAPÍTULO 5 (6 de outubro)

Esse capítulo durou 50 min e teve 7 min de merchandising social.

Cena 1 – Raquel explica a Fred e sua empregada as falhas existentes na lei brasileira. É uma duro críticas do autor aos nossos legisladores.

Cena 2 – Marcus é intimidado a depor.

CAPÍTULO 6 (7 de outubro)

Esse capítulo teve duração de aproximada de 45 minutos. Sendo 11 min de merchandising social.

Cena 1 – Heloísa se descontrola. Atravessa avenidas e acaba se jogando no mar.

Cena 2 – Hilda fala com o marido e Raquel sobre seu tratamento de quimioterapia.

Cena 3 – O marido de Hilda, que é advogado, fala para Raquel como está o andamento do processo de seu marido.

Cena 4 – Heloísa tem crise nervosa.

Cena 5 – Helena e Sérgio internam Heloísa.

Cena 6 – Enfermeiros levam Heloísa para o Hospício.

CAPÍTULO 7(8 de outubro)

Duração de 51 min e 6 min de merchandising social.

Cena Ünica - As irmãs descutem sobre o estado de Heloísa, depois Helô aparece na cama do hospício, muito confusa com a situação.

CAPÍTÚLO 8 (9 de outubro)

Duração de cerca de 49 min, sendo 23 mim de merchandising social.

Cena 1 – Marcos é intimado a comparecer a uma audiência com o Juiz.

Cena 2 – Marcos planeja um encontro com Raquel e Fred. No fervor das discussões, o marido e o garoto acabem morrendo.

CAPÍTULO 9 – último capítulo(10 de outubro)

Durou 1 hora e 32 min, tendo 6 min de merchandising social.

Cena 1 – Dóris senta ao lado de um casal de velhinhos, e acaba ajudando a senhora, que estava com falta de ar.

Cena 2 – Santana conversa com seu namorado, e fala de como conseguiu, através de um tratamento, acabar com o seu vício(alcoolismo)

ANEXO 3 – RESUMO DA NOVELA

A novela Mulheres Apaixonadas

A novela Mulheres Apaixonadas estreou no dia 17 de fevereiro de 2003 e terminou no dia 10 de outubro do mesmo ano. Teve exatamente 203 capítulos. Uma coisa chamou logo a atenção dos telespectadores: a quantidade de personagens. Ao todo, eram mais de cem, e desde o início, o autor Manoel Carlos avisou: todos iam ter o seu momento de protagonista e de coadjuvante.

O folhetim alcançava médias diárias de 50 pontos no ibope, com picos de 54. No último capítulo da trama, 79% dos televisores brasileiros estavam ligados na trama de Manoel Carlos.

A história se passa na cidade do Rio de Janeiro, com a maioria de seus personagens residindo no Leblon (bairro do autor). Segundo ele, os tipos são baseados nos próprios moradores do bairro, dando um ar de veracidade as histórias da trama.

Vamos relembrar agora, a trajetória dos principais personagens, as mudanças pelas quais eles passaram e os momentos de destaque.

Helena (Christiane Torloni) - Com o passar do tempo, a personagem chegou até a decepcionar alguns telespectadores. Ela fugia totalmente do "padrão Helena de qualidade", já que as Helenas das tramas anteriores de Manoel Carlos eram mais "mocinhas" e heroínas. Voluntariosa e sedutora, a personagem de Christiane Torloni traiu, foi traída, mas sempre disse que não era santa.

César (José Mayer) - O médico foi conquistador desde o primeiro capítulo, mas ficou mais "leve" em alguns aspectos ao longo da trama. O relacionamento com o filho Rodrigo (Leonardo Miggiorin), por exemplo, mudou da água para o vinho.

Diogo (Rodrigo Santoro) - No começo da novela, Diogo ganhava de César quando o assunto era o gosto por um "rabo-de-saia". Depois do casamento frustrado com Marina (Paloma Duarte), o galã andou dando uns beijos em Dirce (Lucielle Di Camargo), mas acaba a trama aos pés de Luciana (Camila Pitanga), seu amor juvenil.

Caetano (Paulo Coronato) - Desde o começo da novela, Caetano prometia, mas somente na metade ele ganhou mais destaque. O taxista bon vivant ganhou popularidade não apenas entre as mulheres que conquistava na trama, mas também com o público. Teve um caso com a personagem Silvia, além de sua empregada. Acaba no fim da trama deixando sua esposa, e trabalhando para a sua amante.

Carlinhos (Daniel Zettel) - Engraçado desde o começo de Mulheres Apaixonadas, Carlinhos foi ganhando mais destaque, principalmente à proporção que Dóris (Regiane Alves) também foi crescendo na história. O menino irreverente e tranqüilo, sempre atencioso com os avós, era um contraponto com a irmã mimada, deslumbrada e interesseira.

Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) - No começo de Mulheres Apaixonadas, o relacionamento das duas alunas do Colégio Ribeiro Alves era incógnita e o próprio Manoel Carlos parecia não saber direito que rumo daria ao romance. Na reta final, o amor das duas ficou mais do que confirmado e gerou muitas brigas de Clara com a mãe.

Raquel (Helena Ranaldi) - A misteriosa professora, que não gostava de falar do passado, viveu um romance com o aluno Fred, denunciou o marido violento e acaba a novela liberando geral, ao assumir, no discurso da formatura dos alunos, que teve um caso com Fred e que espera um filho dele.

Fred (Pedro Furtado) - O menino que só nadava nos primeiros meses da novela, atravessando a piscina do Colégio Ribeiro Alves sob o olhar curioso da professora Raquel (Helena Ranaldi), ganhou uma importância enorme na trama. Fred se apaixonou por Raquel, insistiu ao máximo na luta para conquistá-la, conseguiu viver um rápido romance com ela, morreu em nome desse amor e será pai depois de morto.

Fernanda (Vanessa Gerbelli) - No começo da novela, Fernanda era muito misteriosa. Afinal, quem era ela? A moça não só foi mostrando a sua função na trama, como rendeu a Mulheres Apaixonadas uma das maiores audiências, quando a personagem levou tiros em pleno Leblon.

Salete (Bruna Marquezine) - A menina que conquistou o Brasil e que chorou sem parar durante a novela só viu a sua personagem crescer, ainda mais depois da morte de Fernanda. Com certeza, foi a criança mais importante da trama.

Téo (Tony Ramos) - O saxofonista nutriu amor pela mulher Helena a novela inteira, mas, aos poucos, foi sendo revelado que, entre uma briga e outra, ele se consolava nos braços de Fernanda. No final, ele conquista um novo amor e acaba com Laura (Carolina Kasting).

Marcos (Dan Stulbach) - Entrou no meio da trama e só cresceu. Protagonizou muitas das cenas mais marcantes de Mulheres Apaixonadas e cumpriu o seu destino: morrer no final.

Cláudio (Erik Marmo) - Simpático e "boa gente", Cláudio nutriu a sua paixão por Edwiges (Carolina Dieckmann) por toda a trama. Deixou-se seduzir por Gracinha (Carol Castro), pagou um preço alto por isso, mas vai acabar a novela sem grandes mudanças de personalidade, mesmo que tenha deixado a tranqüilidade de lado e se rebelado contra a mãe, Marta (Marly Bueno).

Edwiges (Carolina Dieckmann) - Romântica do começo ao fim. E fiel aos seus princípios. Edwiges começou a novela virgem e só vai deixar de ser na imaginação dos telespectadores, já que se casa com Cláudio no último capítulo.

Dóris (Regiane Alves) - Desde os primeiros capítulos dava para perceber que Dóris não era flor que se cheirasse. Mas, com o desenrolar da novela, a menina ficou muito pior, especialmente nos maus tratos destinados aos avós - Flora (Carmem Silva) e Leopoldo (Oswaldo Louzada).

Estela (Lavínia Vlasak) - Sem dúvida, uma das mudanças mais radicais de personalidade. A socialite que não dispensava uma taça de champagne e morava no quarto de um hotel no melhor estilo ¿boa vida¿, acaba a novela se desfazendo das suas riquezas materiais para viver ao lado do seu grande amor, o ex-padre Pedro (Nicola Siri).

Lorena (Suzana Vieira) - A "Miss Simpatia" da novela não mudou. Alegre e comunicativa, Lorena sofreu, mas levantou com a mesma classe e com o mesmo sorriso de sempre.

Luciana (Camila Pitanga) - Uma das conquistas de César, Luciana acaba a novela nos braços do primo Diogo. O que no começo da trama parecia mais um romance de adolescente foi se revelando como um grande e tórrido amor.

Expedito (Rafael Calomeni) - De jardineiro a modelo famoso. Do tímido rapaz conquistado por Lorena (Suzana Vieira) Expedito não tem mais quase nada. Aliás, ele abandonou a ex-amada para ficar ao lado de Marina (Paloma Duarte).

Gracinha (Carol Castro) - Já surgiu no meio da novela, com uma função bem definida: atrapalhar o romance de Cláudio e Edwiges. Conseguiu, ao engravidar do amigo de infância, mas acaba meio "apagada", sem atrapalhar mais ninguém.

Heloísa (Giulia Gam) - A personagem só cresceu. Ciumenta e possessiva, Helô foi ganhando destaque à medida que seu ciúme foi se transformando em uma doença.

Sérgio (Marcello Antony) - No começo, Heloísa era menos ciumenta e Sérgio era mais mulherengo. Com o tempo, Helô levou o ciúme ao limite da loucura e Sérgio foi ficando mais tranqüilo e centrado. Virou alvo do amor de Vidinha (Júlia Almeida).

Hilda (Maria Padilha) - Das três irmãs, Hilda começou e acabou a trama como a mais feliz e bem resolvida. Apaixonada pelo marido (Carlos Eduardo Lago), ela viveu o seu drama apenas na reta final, quando descobriu que tinha câncer de mama.

Laura (Carolina Kasting) – Extremamente apaixonada por César no começo da trama, a obstinada médica acaba a trama tranqüila e parecendo bem mais simpática do que em outros momentos.

Marina (Paloma Duarte) - Mimada do começo ao fim, Marina vive entre brigas com o marido (Rodrigo Santoro). Voltou à tona quando começou a dar em cima de Expedito e o tomou de Lorena.

Padre Pedro (Nicola Siri) - Fiel à sua vocação, Padre Pedro foi fisgado por Estela. Largou a batina e acaba a novela apaixonado e feliz.

Paulinha (Ana Roberta Gualda) - Cruel, preconceituosa e ambiciosa, Paulinha mantém-se fiel ao seu estilo. Mas o fato de ter conseguido se mudar para a mansão de Marcinha (Pitty Webo) mudou um pouco a sua dureza. Lá ela encantou Rodrigo e começou a ser domada.

Santana (Vera Holtz) - Ao longo da novela, Santana foi se entregando cada vez mais ao alcoolismo, o que renderam momentos de interpretação brilhante da atriz Vera Holtz. Sem querer assumir que era dependente, a personagem resolveu se ajudar na reta final e acaba buscando tratamento.

Silvia (Natália do Vale) - De dona-de-casa reprimida, Silvia passou a uma amante fogosa e sem medo de ser feliz. Largou a frieza do marido Afrânio para cair nos braços do taxista Caetano.

Adelaide (Lica Oliveira) - Se no começo da trama, a professora parecia ser apenas mais uma coadjuvante, que jamais ia ter importância na novela, no desenrolar da história as coisas mudaram. Adelaide não apenas dividia o apartamento com Santana Vera Holtz, como foi a pessoa que mais a ajudou a lutar contra o alcoolismo. Já na reta final, ela foi "presenteada" também com um namorado (Luigi, vivido por Waldir Gozzi).

Afrânio (Paulo Figueiredo) - Desde o começo frio e distante com a mulher Silvia (Natália do Vale), Afrânio foi além e acaba a trama assumindo o romance com a amante Rebecca, vivida por Alessandra Colassanti.

Alzira (Walderez de Barros) – No começo da trama, não apoiava o romance do sobrinho (Nicola Siri) com Estela (Lavínia Vlasak), mas depois (depois de saber que poderia tirar proveito da situação) resolver aceitar o romance.

Celeste (Sheila Mattos) - A trajetória da personagem pode ser dividia em A.G e D.G, ou seja, antes e depois de Gracinha. Mãe da personagem de Carol Castro, Celeste só aparecia para servir o jantar na casa de Onofre (Serafim Gonzáles). Depois que a filha começou a infernizar a vida de Cláudio (Erik Marmo), a personagem colocou as asinhas de fora e mostrou a sua verdadeira face: o que ela mais queria era que Gracinha tivesse dado o golpe do baú.

ANEXO 4 – FOTOS DA NOVELA

CHAMADA DA NOVELA

A personagem Heloísa ( Julia Gam) teve problemas por amar demais seu marido, e durante a novela procura ajuda em um grupo que auxiliava essa mulheres.

Dan Stchuban à esquerda (Marcos) e Pedro Furtado (Fred)

Casal de velhinhos, Seu Leopoldo e Dona Dora (Carmem Silva e Oswaldo Louzada

O casal de lésbicas Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) lutaram muito para ter o reconhecimento da sociedade.

O autor da novela, Manoel Carlos

ANEXO 5 - ENTREVISTAS

Entrevista com o senhor Antônio (um dos coordenadores do AA Teresina)

O senhor assistiu a novela?

- Sim

O que achou do uso da temática alcoolismo na telenovela?

- Achei muito louvável, e espero que outras iniciativas como essas venham a ocorrer. Isso é um fato que a Rede Globo vem utilizando há muito tempo, e tenho fé que continue por muito tempo também.

Como os freqüentadores do Grupo reagiram à novela?

- Eles reagiram bem, gostaram e comentavam entre si. É muito bom ver que existe uma divulgação do nosso grupo. O AA é conhecido no mundo inteiro, e seu trabalho é gigantesco. A instituição vem ajudando muita gente desde a sua fundação.

É muito chato ver que tem gente que não trata o alcoolismo como doença, pois ele é uma doença. Eles acham que é coisa de gente sem-vergonha. Essa é a nossa maior barreira. Já é difícil lutar contra o alcoolismo, ainda temos que lutar contra toa a sociedade, que acha que o alcoólatra só não pára por que não quer.

Será que a opinião dessas pessoas mudou depois do merchandising social que das novelas globais que sempre tem o alcoolismo como uma de suas temáticas?

- Eu acho que mudou, mudou sim.. O número de pessoas que nos procuram aumentou, e os tratamentos estão menos demorados.

Eu só não posso afirmar se o preconceito diminuiu. Isso vem da cabeça de cada um, é um processo longo e difícil, mas com ajuda dos meios de comunicação, nÃo só das novelas, mas dos jornais e reportagens também. Eu te que digo que não só as televisões brasileiras, estão engajadas nessa responsabilidade social, mas também as empresas. O alcoólatra não é mais despedido do seu trabalho; agora ele ganha acompanhamento e sua recebe todo o apoio, sendo que seu retorno às suas atividades normais seja o mais rápido possível.

Então merchandising social está conseguindo levar uma mensagem boa para a população? Ele está realmente atingindo o seu lado social?

- Realmente. Ninguém tem mais vergonha de procurar nosso grupo. Antes as pessoas tinham receio. Ninguém quer ser visto como alcoólatra. A sociedade exclui essas pessoas do seu convívio. Graças ao merchandising social, também esse da novela Mulheres apaixonadas, muita gente resolveu sair da toca, e procurar tratamento. Essas pessoas viram que é muito difícil conseguir uma saída sozinho. Até que enfim a televisão está cumprindo o papel de ajudar a sociedade. Os gananciosos empresários da comunicação estão dando oportunidade pro nosso povo.

Entrevista com a titular da Delegacia da Mulher no Piauí, Daniele Leal Ribeiro.

A senhora assitiu a novela Mulheres Apaixonadas?

- Sim, praticamente todos os dias...

O que achou do uso do tema Violência contra a Mulher no interior da trama?

- Foi bom. Mas é uma faca de dois gumes. Em primeiro lugar, as mulheres, do Brasil em geral, sabem que podem ser assistidas, e que nÃo precisam ficar apanhando caladas, pois sabem que existe um lugar onde elas podem denunciar seus maridos. Aqui seus direitos são resguardados, e pode contar com nossa total ajuda.

Mas nós temos que ver o outro lado também. O tal de Marcos ficou impune, morreu no final da novela, e não teve nem que passar por um processo. Para os agressores que assitem a novela, o pensamento é de que não acontece nada, só precisa pagar umas cestinhas básicas, e umas penas alternativas.

Pra mim, ele deveria ter sido julgado e condenado para provar que a jsutiça nÃo passa a mão na cabeça dos criminosos. Eu acho que a trama merecia ter um final mais real.

A senhora acha que a novela teve realmente um compromisso com o social? Acha que obteve resultados reais?

- Com certeza. O número de mulheres que começaram a denunciar foi muito grande. Muitas mulheres viram como é possível denunciar. Acho que nisso, a telenovela conseguir transformar pensamentos

Na verdade, ela configura como uma formadora de opiniÃo, e neste caso conseguiu um objetivo social de grandes proporções.

Talvez o que falte são mais iniciativas como esta. Mas tenho certeza que essa não será a última.

O merchandising social está dando resultados, e acho que tosa as redes de televisão deveriam colocar assuntos polêmicos como estes nas suas telenovelas.

Como ta dando certo, eu acho, isso tem que continuar.

Entrevista com a secretária de Trabalho e Ação Social do Governo do Estado do Piauí, Umbelina Jales

A senhora assistiu a novela?

- Sim

Pelo que a senhora notou nos abrigos de idosos da cidade, o merchandising social da novela obteve algum efeito, no sentido de ajudá-los?

- Claro, pra eles virou um entretenimento meio que real, que remetia os idosos ao seu tempo familiar, infelizmente a maioria nÃo teve o final feliz dos dois.

Mas acha que a novela obteve resultados práticos com o merchandising social?

- A reação não dá pra ser medida, infelizmente, mas acho que sim, acho que obteve um resultado bom.

Não se verificam muitos casos de retorno dos idosos ao seus lares, mas as famílias começaram a visitar mais os abrigos, levando mais alegria pra essa gente.

Então foi uma boa iniciativa, essa da Rede Globo?

- Com certeza. O merchandising social cria uma nova consciência, um novo jeito de pensar. As pessoas criam novos costumes. Isso é ótimo.

Acho que deveriam ter mais iniciativas dessas. A sociedade tem que ver a realidade. Os nossos idosos não estão sendo bem tratados. O povo tem que denunciar.

A gente pode até verificar que após a novela, aumentaram o número de denúncias de maus-tratos aos idosos, daí a gente pode tirar que a coisa está dando certo.

O merchandising social é um trabalho muito complexo, mas acho que ele está fazendo muito mais bem do que mal.

Agradecimentos

Nesse trabalho, não poderia deixar de agradecer as pessoas que cederam gentilmente as entrevistas além de meu amigo Jaison Castro, que tanto ajudou na escolha desse tema, como na confecção deste trabalho.

Dedico esse trabalho a minha mãe, Terezinha Souza, que tanto me incentivou neste curso, e que sempre me apoiou na escolha da minha profissão.

 

Renato Souza Do Nascimento

renatosouzan[arroba]gmail.com

TERESINA 2004


Partes: 1, 2, 3


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