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Os estudantes de ciencias sociais (página 2)

Simon Schwartzman

 

QUADRO 4 - POR QUE OPTOU POR ESTE CURSO?
(PERCENTAGEM DE INGRESSANTES EM 1991 QUE RESPONDERAM "MUITO IMPORTANTE")

Diurno

Noturno

Total

Tenho grande interesse nessa área, é minha vocação e primeira opção

46%

44%

45%

Para complementar minha formação (já tem curso superior)

16%

30%

23%

Para ampliar minha cultura geral, me desenvolver intelectualmente

77%

61%

70%

Para aumentar minhas chances de conseguir um bom emprego

27%

5%

17%

Dentre o que era factível, esse curso é o que mais se aproxima do que eu queria

27%

17%

22%

O exame das respostas à pergunta sobre a escolha da USP revela que, ao lado das motivações mais gerais e abstratas, existem duas outras bastante concretas, relacionadas com a gratuidade do curso e a existência do turno da noite, e outras relativas ao prestigio acadêmico da universidade.

QUADRO 5 - INGRESSANTES, 1991. POR QUE DECIDIU VIR PARA A USP
(% QUE DERAM A RAZÃO COMO "MUITO IMPORTANTE")

Diurno

Noturno

Total

É a universidade mais próxima de onde moro

5%

5%

5%

É a que tem melhor reputação

58%

54%

56%

É a melhor na minha área

82%

88%

75%

É gratuita

63%

72%

87%

Oferece curso noturno

6%

65%

35%

Em resumo, para a maioria dos estudantes, o curso de Ciências Sociais da USP é percebido, com base em muito pouca informação, como uma oportunidade de desenvolvimento cultural em uma instituição prestigiada, a custo zero e, para muitos, com a possibilidade de estudar à noite. (Quadro 6). Esta oportunidade é utilizada em combinação com outras estratégias educacionais e de carreira, e desde o início está presente a possibilidade de que o curso não seja seguido até o fim. É possível caracterizar esta estratégia como uma "estratégia frouxa", em contraste com estratégias mais firmes e focalizadas, em cursos onde o custo de ingresso é mais alto (seja em termos monetários, seja em termos de um exame vestibular mais competitivo) e os objetivos profissionais são muito mais definidos, como no caso das engenharias. Uma confirmação desta estratégia é que a escolha de matérias se dá a partir do "gosto" dos estudantes, sem nenhum condicionamento de ordem profissional. A segunda é que a maioria dos estudantes pretende concluir o curso em um tempo superior ao normal. É o que mostram os Quadros 7 e 8 a seguir.

QUADRO 6 - QUE INFORMAÇÕES VOCÊ TINHA PREVIAMENTE SOBRE O CURSO
(% QUE SÓ "TINHA UMA IDÉIA" OU DESCONHECIA A INFORMAÇÃO)

Diurno

Noturno

Total

Não sabia qual era o currículo. as diferentes matérias do curso

65,0%

69,2%

66.9%

Não conhecia as áreas de especialização e as carreiras oferecidas

61,3%

59,8%

60.7%

Não conhecia pelo menos alguns professores, nem pelo nome

63,9%

62,4%

63.2%

Não sabia do tempo de dedicação exigido

71,2%

68,9%

70,0%

Não sabia do nível de desempenho (notas) exigido

65,0%

44,0%

64,4%

Não sabia de possibilidades de estágio

94.0%

88,3%

91.2%

Não sabia das possibilidade de obter bolsas de iniciação científica

86,7%

76,6%

71,9%

Não sabia se ia ter apoio para encontrar trabalho depois de formado.

97,4%

94.8%

96,2%

QUADRO 7 - COM QUE RAPIDEZ VOCÊ PENSA EM TERMINAR O CURSO?

Diurno

Noturno

Total

O mais rápido passível, em menos tempo do que o prazo normal

2,4%

5,3%

3,8%

Pretendo seguir a ordem normal dos cursos, e levar o tempo normal para me formar

27,7%

26,3%

26,9%

Minha preferência dependerá do tempo que terei para me dedicar aos estudos

25,3%

27,6%

26,9%

Pretendo levar mais tempo do que o normal

12,0%

6,6%

9,4%

Não sei ainda

7,2%

5.3%

6,3%

Não se aplica (não pretende terminar)

25,3%

28,9%

27,5%

Total (100%)

(83)

(16)

(159)

QUADRO 8 - COMO VOCÊ PENSA EM ORGANIZAR SEUS ESTUDOS AO LONGO DO CURSO? (ESCOLHA DUAS ALTERNATIVAS POR ORDEM DE IMPORTÂNCIA)

Primeira Opção

Segunda Opção

Gosto: pretendo me concentrar nas matérias e áreas de especialização de que eu gosto mais

74,8%

15.3%

Profissão: pretendo me concentrar nas matérias ou áreas de especialização que ofereçam as melhores perspectivas profissionais de longo prazo

0,4%

36,5%

Currículo e estudo: pretendo procurar ter boas notas em todas as matérias, porque as chances de emprego ou de pós-graduação dependem muito disso

12,9%

27,1%

ESTUDANDO CIÊNCIAS SOCIAIS NA USP

6. O estudo de Ciências Sociais na USP se desenvolve de maneira convencional, através de aulas expositivas, com pouca possibilidade de pesquisa ou trabalho prático junto aos professores.

Perguntados sobre se desenvolveram no último semestre, alguma atividade de pesquisa, 45% dos alunos de primeiro ano responderam negativamente; dos demais, 37,5% disseram que haviam feito "pesquisa bibliográfica para o trabalho de curso", e 11,9% haviam feito "pesquisa por conta própria". É razoável imaginar que alunos recém-admitidos na universidade não tenham tido ainda a oportunidade de se envolver em formas de treinamento mais complexas, e que esta situação possa melhorar nos anos subseqüentes. Em seu conjunto, no entanto, as respostas a uma bateria de perguntas sobre problemas, métodos e condições de estudo revelam um sistema educacional bastante convencional.

 QUADRO 9 - FATORES QUE AJUDARAM OU PREJUDICARAM
O ANDAMENTO DE SEUS ESTUDOS ESTE ANO

Valores Médios - Escala de 1 (ajudou muito) a 5 (prejudicou)

Observações

Fatores Positivos

O acesso e o uso de bibliotecas

1.8

diurno 1,66; noturno: 1.96

Os contatos com os colegas

1,98

Possibilidade de passar o dia na universidade

2,12

Fatores Negativos

Problemas práticos e operacionais (condução, horários, etc.

4,01

Problemas de saúde ou pessoais

4.01

N = 85

Greves na universidade

3,98

A conjugação dos estudos com o trabalho

3.83

N = 72

Falta de base geral para acompanhar o curso

3,72

N = 99

O sistema de pró-requisitos

3,52

A conciliação dos estudos na USP com outros compromissos e atividades não profissionais

3,29

A obrigatoriedade de cursar disciplinas de professores de outros departamentos

3,28

N = 95

Militância política

3,05

(mulheres: 2.81 homens 3,28)

Disponibilidade de recursos financeiros para materiais de estudo

2,95

O que ajuda, afora a disponibilidade de bibliotecas e do campus são os amigos; o que prejudica são as restrições curriculares e as condições externas ao curso. Tudo o que se refere à qualidade do curso propriamente dito, ou de seus professores, recebe uma avaliação morna; assim, obtiveram médias ao redor de 2,5 itens como "o entrosamento entre disciplinas e professores , contatos pessoais com professores", e a qualidade didática dos professores", "o ambiente de trabalho na faculdade". O aspecto convencional do curso pode ser ainda auferido pelo Quadro 10.

 QUADRO 10 - COMO VOCÊ COSTUMA LIDAR COM SEUS ESTUDOS

Percentagem que respondeu "freqüentemente"

Uso anotações e materiais de aula

71.9

Faço as leituras recomendadas

54,4

Uso livros e artigos de revistas

30.0

uso apostilas

18.8

Faço leituras em inglês

6.9

Faço leitura em outra língua estrangeira (menos castelhano)

1.9

Consulto colegas

26.9

Trabalho com micro-computadores

17.5

Consulto professores

16,9

Estudo com amigo(a) de classe

7.5

Estudo em grupo de estudo

5.0

A atividade escolar consiste basicamente em assistir às aulas e tomar notas; na metade dos casos as leituras recomendadas são feitas, ainda que livros e revistas propriamente ditos só sejam lidos com freqüência por 30% dos alunos, quase sempre em português. A natureza convencional destes estudos aparece também na questão que trata diretamente da forma pela qual o trabalho acadêmico é desenvolvido.

QUADRO 11 - SISTEMA DE ENSINO ADOTADO PELO CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA USP

Sistema Adotado
(% média do tempo)

Sistema Preferido
(% de primeira opção)

Aulas expositivas

56.1

38.1

Seminários por Sistemas de grupos (apresentações feitas pelos alunos)

20,7

10.0

Seminários (discussão de textos com a turma)

18,8

36,3

Aulas ou palestras de especialistas convidados

2,4

3,1

Aulas práticas (exercícios, laboratórios, etc.)

1,5

5,0

Não sabe, não responde

7,5

 

AVALIAÇÃO

7. Os alunos de Ciências Sociais apreciam, em seu curso, a dedicação e o interesse dos professores; todos os demais fatores de avaliação identificados na pesquisa,. do apoio para a obtenção de bolsas e trabalho à organização do curso e as instalações e facilidades materiais, foram analisados negativamente.

Os itens de avaliação constantes do questionário foram analisados, por um lado, em função do grau de satisfação maior ou menor dos estudantes em relação a cada um; e, por outro, através de uma análise fatorial que buscou agrupá-los em um número mais restrito de fatores estatisticamente independentes. Os resultados constam do Quadro 12. Entre fatores identificados, o único que mostra níveis de satisfação positivos é o fator 2, relativo à assiduidade e interesse dos professores pelas aulas, e que vem associado também a uma avaliação positiva do "clima" institucional e da motivação das pessoas. Afora isto, o que predomina é a insatisfação, seja com as possibilidades de estágio e perspectivas de trabalho, seja com os demais fatores.

QUADRO 12 - SATISFAÇÃO E INSATISFAÇÃO COM DIFERENTES ASPECTOS DO CURSO

Satisfação (%)

Fatores (Rotação Ortogonal)

Excelente

Inadequado

Estágio, bolsas

Dedicação dos profes-sores

Auton-omia dos alunos

Organi-zação escolar

Apoio

Insta-lações

disponibilidade de livros e materiais didáticos previsos pelos cursos

8.8

16,3

0,00

0,04

0,13

-0,10

0,89

0,01

disponibilidade de xerox, materiais e equipamentos para atividades curriculares

2,5

27,5

0,15

0,05

0,11

0,18

0,80

0,16

Organização da rotina dos cursos, exigências burocráticas

3,1

16,3

0,04

0,12

0,01

0,85

-0,04

0,14

Instalações

5,0

10,0

0,08

0,19

0,20

0,15

0,16

0,82

Tamanho das turmas

11,0

3,1

-0,04

0,25

0,68

0,06

0,05

0,24

Duração das aulas

30,0

15,6

0,13

0.53

0,29

0,10

0,12

-012

Disponibilidade dos professores para os alunos

3,0

15,6

0,14

0,40

0,19

0.59

0,10

0,04

Assiduidade dos professores

20,0

2,5

-0,16

0,79

0,12

0,09

0.08

0,15

interesse dos professores pelas aulas

23,1

3,1

0,16

0,85

0,04

0,05

0,04

0,04

Clima institucional, motivação

6,3

12,5

0,30

0,65

0,08

0,27

0,10

0,13

Sistemas de avaliação

6,9

11,9

0,10

0,22

0.54

0,42

0,06

0.26

Oportunidades de recuperação

6,9

8.1

0,29

-0,03

0,62

0,13

0,18

0,21

Oportunidades de alunos avaliarem

1,3

30,0

0,25

0,22

0.71

-0,23

0.02

0.03

Flexibilidade na escolha de disciplinas

6,3

25,0

0,22

0,22

0,55

0,35

0,24

-0.25

Variedade das disciplinas

6.1

6,9

0,32

0,30

0,28

0,34

0,24

-0,08

Possibilidade de acompanhar matérias em outro turno

10,6

10,6

0,13

-0,11

0,50

0,37

0,10

0,22

Oferta de bolsas de iniciação científica

2,5

19,4

0,84

0,04

0.05

0,20

0.33

-0,08

Oferta da funções remuneradas (assistentes, etc.)

0.6

18,8

0,85

0,16

0,22

-0,01

-0.05

-0,02

Oferta de estágios

3,1

25,0

0,89

0,07

0,22

0,10

0,07

-0,10

Oportunidade de profissionalização

3,8

20,6

0,85

0,07

0.08

0,04

0,12

0.8

Uma outra questão indagava como o estudante via o curso em relação ao que imaginava antes de ingressar. O que predomina, sobretudo, é a surpresa e a desorientação, além da queixa sobre a carga de estudos, particularmente entre os alunos do curso noturno. Existe também uma noção muito forte de que o curso é "muito teórico", desligado da realidade. Do ponto de vista de orientação mais geral, 73% dos alunos acham que o curso não pode ser definido como técnico ou científico, mas também não tem uma tendência ideológica definida, com orientações que variam conforme cada professor.



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