Relações entre a teoria dos atos de fala e quadrinhos humorísticos
RESUMO
Neste artigo, pretendemos descrever e problematizar os conceitos básicos da Teoria dos Atos de Fala, desenvolvida e debatida por J. L. Austin em How to do things with words (1976). Para isso, utilizaremos algumas tiras que contemplam atos de fala. Falaremos, também, sobre a presença dos atos locucionários, ilocucionários e perlocucionários nos textos analisados. PALAVRAS-CHAVE: Atos de fala – Quadrinhos – Performatividade – Humor.
1. Considerações iniciais
A Teoria dos Atos de Fala nasceu na filosofia da linguagem e tem como base doze conferências de Austin, publicadas sob o título How to do things with words em 1976. A grande …exibir mais conteúdo…
De onde você tirou essa idéia?); um desejo (“tomara que o cachorro esteja preso.”); uma ordem (“prenda o cachorro [ para que as visitas possam entrar]”).
Austin tentou classificar os verbos do Inglês, mesmo que desconfortavelmente, em cinco grupos performativos: veriditivos, exercitivos, comissivos, comportamentais e expositivos.Essa classificação pode ser, contudo, problematizada, tendo-se em vista que não há um limite entre o início e o término de um ato. Se um ato deve considerar o que é dito, o que o interlocutor entende, a força do dito e o seu efeito, num determinado enunciado, o interlocutor pode entender uma ordem como um pedido ou um pedido como uma ordem. Segundo Rajagopalan (1992) as tentativas de classificar os atos têm sido desastrosas, já que eles constituem unidades irredutíveis. Além disso, as situações em que os atos ilocucionários aparecem extravasam para turnos descontínuos, em vez de se restringir a um só falante ou turno de fala. É o que ocorre, por exemplo, quando alguém começa a dizer algo e o outro continua a sua fala. Outros motivos comprovam que o ato ilocucionário não é redutível a uma classificação metódica e restrita. Os atos de fala produzidos pelo corpo, por exemplo, como poderiam ser classificados? Haveria uma maneira de dizer, por exemplo, que o modo como determinada pessoa utiliza o corpo revela um exercício de julgamento e, portanto, esse ato seria veriditivo? Sem dúvida, o corpo também produz ilocução, tanto é que