O paradigma perdido a natureza humana
EDGAR MORIN
O PARADIGMA PERDIDO: A NATUREZA HUMANA
4ª edição
PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA
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PRIMEIRA PARTE
A sutura epistemológica
“Tudo nos incita a pôr termo à visão de uma natureza não humana e de um homem não natural.”
Serge Moscovici
1. A ciência fechada A evidência estéril Todos sabemos que somos animais da classe dos mamíferos, da ordem dos primatas, da família dos hominídeos, do gênero homo, da espécie sapiens, que o nosso corpo é uma máquina com trinta bilhões de células, controlada e procriada por um sistema genético que se constituiu no decurso de uma longa evolução natural de 2 a 3 bilhões de anos, que o cérebro com que pensamos, a boca com que falamos, a mão com que escrevemos, são …exibir mais conteúdo…
Não comporta um princípio de transformação? Não comporta em si própria a evolução, que conduziu ao homem? Será a natureza humana desprovida de qualidades biológicas?
A casa isolada Poder-se-ia supor que a extensão ao homem dos métodos quantitativos e das formas de objetivação próprias das ciências da natureza fosse romper a insularidade humanista, reintegrando o homem no universo, e que a filosofia do homem sobrenatural fosse um dos últimos fantasmas, uma das últimas resistências opostas à ciência do homem.
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Na verdade, estabeleceu-se unidade quanto ao método, mas não quanto à teoria. Houve, no entanto, tentativas teóricas para firmar a ciência do homem sobre uma base natural. Nas páginas fulgurantes do manuscrito de 1844, Marx colocava no centro da antropologia não o homem social e cultural, mas o “homem genérico”; longe de opor natureza e homem, Marx afirmava que “a natureza é o objeto imediato da ciência que trata do homem”, visto que “o primeiro objeto do homem - o homem- é natureza”, e enunciava o princípio básico: “As ciências naturais englobarão em seguida a ciência do homem, assim como a ciência do homem englobará as ciências naturais: apenas haverá uma única ciência.” (Segundo a tradução Molitor.) Engels esforçou-se por integrar o homem na “dialética da natureza”. Spencer baseava a explicação sociológica na analogia entre o corpo social e o organismo biológico, e,