O FATOR RELIGIOSO NA REVOLTA DA VENDÉIA (1793-1796) – UM PROBLEMA HISTORIOGRÁFICO
Sabrina Alencastro Ferreira

Resumo
A historiografia em geral, pouco deu relevância à Revolta da Vendeia. Trata-se de uma espécie de tabu, o que torna-a um assunto freqüentemente ignorado e mal compreendido. Durante muito tempo, foi tida majoritariamente como uma conspiração nobiliárquica e/ou clerical, que valeu-se de uma massa de camponeses fanáticos como combatentes, no intuito de restabelecer o Antigo Regime. Posteriormente, foi entendida como uma resistência ao novo poderio econômico e administrativo da burguesia que se instalou com a Revolução, numa perspectiva da luta de classes. Somente a partir das últimas décadas é que foram apontadas suas raízes mais profundas, isto é, as religiosas. Embora estas últimas estivessem claras desde o início, foram raros os estudiosos que reconheceram-nas. O objetivo do presente ensaio é analisar – mesmo que de forma ainda superficial - o trajeto historiográfico em torno das causas da guerra vendeiana e a evidência do fator religioso, bem como compreender a larga desconsideração em relação ao último.

A Vendeia: uma “pedra no sapato”
O levante da Vendeia é por si só um acontecimento emblemático, não apenas pela exacerbada violência com que foi reprimido – visto que, a história conta com outros episódios semelhantes – mas, principalmente, pelo contexto em que ocorreu, por quem foi o repressor e pelo que reivindicava. Esclareça-se: quando se