MEMÓRIAS PESSOAIS E FAMILIARES DA GUERRA DO KUITO-BIÉ
2636 palavras
11 páginas
IntroduçãoA triste guerra do Kuito, a chamada guerra dos 9 meses, foi para muitas sociedades angolanas, africanas e até a nível mundial um acontecimento histórico carregado de dor, sangue e lágrimas, onde cada família que sofre as suas agruras, perdeu directa ou indirectamente uma ou mais pessoas, engolidas pelo demónio que traziam aquelas armas portadas igualmente por homens sem o mínimo de respeito e consideração pela vida humana.
A guerra é uma das únicas acções praticadas pelo homem e que é reprovada consequentemente pelo próprio homem, uma vez que não traz nada de bom, pelo contrário promove o ódio entre irmãos que sem compaixão acabam tirando a vido um do outro.
Ainda pesam sobre as nossas almas e com certeza pesarão por mais …exibir mais conteúdo…
O melhor esconderijo
Com o evoluir da guerra, dias depois nós tivemos que nos esconder ou refugiar-se no Hotel Kuito junto com dezenas de famílias, uma vez que já não havia nenhuma segurança em permanecer nas nossas casas. Tivemos que deixar quase tudo em casa para então levarmos apenas o necessário á nossa sobrevivência, neste caso, o alimento, para nos esconder em comum e em condições extremamente lamentáveis para garantir a segurança da própria vida pelo menos a 50% e deixar tudo nas mãos de nosso Grandioso e Glorioso Deus. Eu lembro-me das orações infindáveis que a minha mãe e as outras senhoras faziam todas as tardinhas quando começava então o flagelo de obuses vindos das áreas do aeroporto, Katemo etc. Todos direccionados sem piedade para o centro da cidade onde se encontravam vidas inocentes. Hoje tenho a plena certeza que estas orações valeram realmente pois velaram pela nossa protecção.
O fagulhador
Quando a guerra começou em 1992, o inimigo fugiu para muito longe, mas com tempo, foi voltando e se aproximando cada vez mais e foi ocupando os Bairro e a parte alta da cidade, partindo da rua principal para cima de modo que ficamos fechados num circulo. Não se podia circular de um lado para outro e tornou-se muito difícil atravessar algumas ruas com temor de ser baleado por causa do homem