Geografia política e geopolítica: determinismo e possibilismo?*
José William Vesentini
"A política de um Estado está na sua geografia", afirmou Napoleão Bonaparte com base na sua leitura de Montesquieu e na experiência como militar. Esta sucinta e polêmica frase de uma certa maneira sintetiza a questão sugerida no tema desta prova, que à primeira vista é simples, mas que, na realidade, embaralha ou emaranha duas renitentes problemáticas da história da geografia: as (possíveis) diferenças entre geografia política e geopolítica e a (pretensa) oposição entre uma abordagem determinista e uma outra possibilita.
Como desfazer ou esmiuçar esse imbróglio?
Pensamos ser imprescindível retomar brevemente as origens e a evolução da geografia …exibir mais conteúdo…
Até mesmo um importante geógrafo alemão da época, Leo Waibel, que fugiu de seu país devido ao regime nazista e se exilou nos Estados Unidos (embora tenha vivido alguns anos no Brasil), no afã de desancar aquela geopolítica germânica bastante identificada com o totalitarismo, acabou meio apressadamente rotulando-a como um "produto da escola geográfica determinista" e bastante diferente de uma outra abordagem geográfica –inclusive de geografia política – mais aberta e liberal, que a seu ver não seria tanto simbolizada por La Blache e sim pelo seu mestre Alfred Hettner. A partir daí, e em especial com o desfecho da Segunda Guerra Mundial, essa identificação do determinismo com a geopolítica e desta última com os regimes totalitários acabou por predominar durante algumas décadas, sendo repetida, embora com algumas nuanças, por importantes geógrafos como Jacques Ancel, Pierre George, Jean Gottman e inúmeros outros autores, inclusive não geógrafos (historiadores, cientistas políticos, sociólogos), tanto na França como em outros países como o Brasil, os Estados Unidos, a Argentina, etc.
Sem dúvida que aquela geopolítica alemã dos anos 1920, 30 e 40 foi racista e dogmática, além de manifestar uma clara simpatia pelo nazi-facismo. E também é