Corpos dopados edvaldo souza couto

6145 palavras 25 páginas
Corpos dopados. Medicalização e vida feliz

Edvaldo Souza Couto[1]

A grande ocupação, e a única que se deve ter, é viver feliz.
Voltaire

1. Boloft, um alvoroço No palco, uma atriz espanhola, magra, cabelos longos, usando calça justa e blusa que a deixa com a barriga sarada a mostra, exibe suas formas físicas e explica porque vive tão feliz. Ela diz que está muito bem, plena de si mesma. Não necessita de companhia, está tranqüila. E por quê? Porque faz exercícios corporais todos os dias e toma Boloft. Boloft é um medicamento que levanta o ânimo, pois promove o equilíbrio químico natural entre as células nervosas do cérebro. Isto é que faz uma pessoa se sentir esplêndida, cheia de contentamento. Porém, como todos os medicamentos, explica a personagem, Boloft tem pequenos efeitos colaterais. Os mais frequentemente relatados são: desarranjo intestinal, náusea, tendinite, flatulência, dores de cabeça, insônia, tontura, sarampo, catapora, agressividade, confusão, convulsão, depressão, alucinação, paranóia, falência de órgãos, disfunções sexuais, alergia e febre. Também foram relatados casos isolados de forte tendência suicida. Entretanto, ela está bem, muito linda e tarada. Não lhe falta nada. A personagem termina a cena recomendando que aqueles que desejarem adquirir o fabuloso medicamento devem, ao final, se dirigir à produção do espetáculo[2].

2. Performances farmacêuticas Dois pares de vitrines de aço inoxidável e vidro, cheias de pílulas de diversos

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