Arte construtivista

6500 palavras 26 páginas
HAROLDO DE CAMPOS

Depoimento por ocasião dos

Arte construtiva no Brasil
40 anos da Exposição

Nacional de Arte Concreta

O Construtivismo brasileiro tem suas raízes na década de 1950. De fato, em 1949 se situam as primeiras atividades de artistas como Waldemar Cordeiro (pesquisas com linhas horizontais e verticais: criação do Art
Club de São Paulo, dedicado ao experimentalismo) bem como os experimentos iniciais de Abraham Palatnick com a luz e a cor; de Mary Vieira com volumes; de Geraldo de
Barros com “fotoformas”. Como precursoras dessa tendência se poderiam citar, nos anos
20, as estruturas neocubistas de Tarsila do
Amaral (1886-1973), animadas por um
“colorismo” voluntariamente ingênuo, “caipira”. Tarsila fora
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Em 1959, os artistas concretos do
Rio, sob a liderança de Ferreira Gullar, lançam a dissidência denominada Neoconcretismo, anunciada por um manifesto publicado no Jornal do Brasil, cujo Suplemento
Dominical se convertera na tribuna dos poetas e pintores da vanguarda brasileira. No

R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 30 ) : 2 5 1 - 2 6 1 , J U N H O / A G O S T O 1 9 9 6

plano estético, o dissídio explicava-se pela diferença de formação do grupo carioca, em especial de seu porta-voz e teórico, Ferreira
Gullar, cuja concepção artística procedia da matriz surrealista francesa, aguçada pelo sonorismo glossolálico e fraturado de Antonin
Artaud, e decantada pelo cubismo e pela abstração geométrica, uma concepção de forte marca subjetivista; os paulistas, acusados pelos cariocas de “racionalistas”, defendiam, na verdade, um “racionalismo sensível”, uma dialética “razão/sensibilidade”, que não discrepava da máxima de Fernando Pessoa “Tudo que em mim sente está pensando” e que não encontraria maiores objeções da parte do
Mallarmé da “geometria do espírito”, do
Lautréamont do elogio às matemáticas, do
Pound da equação “poesia” igual a “matemática inspirada” e, entre nós, do João Cabral do lecorbuseriano e valeryano O Engenheiro
(1945), mas que irritava o expressivismo subjetivista do grupo do Rio, sobretudo de seu mentor no nível crítico-teórico. Os pintores de São Paulo estavam influenciados pelo

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