Algumas questões sobre o transexualismo
Barbara Zenicola1
O presente trabalho traz para discussão o transexualismo assim como alguns temas que costumam ser associados a ele. Para isso, tomaremos o artigo “Travestismo, transexualismo, transgêneros: identificação e imitação”, de Simona Argentieri — publicado no Jornal de Psicanálise de São Paulo em dezembro de 2009— que localiza o transexualismo e o travestismo como sendo próprios da estrutura perversa, e os exemplifica através de dois casos: o de uma mulher em processo de transgenização e um caso de travestismo. A partir deste artigo, levantamos as seguintes questões: o que há de comum e em que diferem transexualismo e travestismo? A perversão é, de fato, a estrutura que os une? …exibir mais conteúdo…
O transexual transforma-se na verdadeira mulher— A Mulher que não existe” (RINALDI e BITTENCOURT, 2008: 292).
O fenômeno do “sentir-se pertencente ao outro sexo” também é observado fora da psicose, o que levou a Henry Frignet— psiquiatra e psicanalista— autor do livro “O transexualismo” (2002), a propor, a partir de sua prática clínica, uma nova abordagem que distingue transexuais, aqueles que estariam localizados na estrutura psicótica, dos transexualistas2, uma manifestação do transexualismo fora do âmbito da psicose.
Encontramos um exemplo de fenômeno transexual fora do âmbito da psicose na autobiografia de João Nery (2011), onde ele relata que nasceu com o corpo feminino, mas se sentia como um menino. Quando criança, sabia que não possuía um pinto tão grande como o dos meninos de sua idade, mas tinha esperança que um dia ele fosse crescer. João, que na época era Joana, expõe exatamente o que Freud, em 1923, evidenciara: que a principal característica da organização genital infantil consiste no fato de crianças de ambos os sexos considerarem apenas o órgão sexual masculino.
Constatamos outro ponto da teoria freudiana na biografia de João Nery que exemplifica uma das três direções possíveis no desenvolvimento da menina a partir da constatação de sua castração: o complexo de masculinidade. A menina se apega à masculinidade ameaçada e alimenta tanto a esperança de um dia “voltar” a ter um pênis quanto à fantasia de ser um homem, “e