A teoria do romance - george lukacs
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A percepção, a tomada de consciência, de que o mundo não é mais concebido por uma forma totalitária, por Deus ou deuses, de que o homem é dono de seu próprio destino, e consequentemente o responsável por conduzir o curso de sua história e de sua narrativa, é metaforicamente associada por Lukács como “o caráter demoníaco do indivíduo problemático” (p. 99/ p. 88). Ele diz: “Os deuses banidos e os que ainda não subiram ao poder tornam-se demônios; seu poder é vivo e eficaz, porém não mais penetra o mundo” (p. 88). O perigo dessa tomada de consciência habita no fato de que essa divindade não é mais externa, mas interna ao próprio homem: “o romance é a epopeia do mundo abandonado por deus; a psicologia do herói romanesco é a demoníaca, a percepção virilmente madura de que o sentido jamais é capaz de penetrar inteiramente a realidade” (pp. 89-90). Diferentemente dos personagens constituídos de modo idealista nos romances de cavalaria, ou dos heróis