A invenção da política
Quando, há alguns meses apenas, em Paris, meu amigo Adauto Novaes propôs que eu abrisse este terceiro ciclo de conferências consagradas à descoberta do Brasil com uma exposição sobre a Grécia clássica intitulada "A invenção da política", logo achei a ideia excelente e senti-me tão honrado com a proposta que aceitei de pronto. Foi depois (tarde demais!) que me pus a pensar. Afinal, perguntei-me eu, para que falar da Grécia quando se trata da origem do Brasil? E, sobretudo, por que falar da invenção grega da política? Não teria qualquer povo, à sua maneira, inventado a política e, entre eles, por que não, os índios da América antes de Cabral? É verdade que os gregos são sólidos inventores em todos os …exibir mais conteúdo…
E era precisamente o que os descobridores europeus recusavam-se a reconhecer. Das tribos tupinambás, eles diziam com desprezo: “Sociedade sem fé, sem lei, sem rei”. Mas era só porque eles não reconheciam sua fé, sua lei, seu rei, e porque identificavam o político com sua realização nas sociedades de onde eles próprios vinham, nas quais reinavam monarquias “absolutas” e de “direito divino”. Ao pretender falar, em um ciclo consagrado à descoberta do Brasil, da invenção grega do político, eu iria não somente ser infiel à mensagem grega a respeito da política, mas repetiria os mesmos erros da descoberta do Brasil. Todavia, tendo aceitado, devo continuar. Devemos, portanto, nos deter um instante nessa descoberta grega da universalidade do político. O que significa aqui “político”? O que seria esta vida política constitutiva da vida humana, segundo os gregos? De ordinário, o termo “político” não evoca de forma alguma um caráter geral da vida humana, mas certos homens em particular (os “políticos”, deputados ou ministros, ou os militantes), certos aspectos determinados da vida humana (ambição, popularidade, lutas pelo poder...), certos momentos privilegiados da vida pública (campanhas eleitorais, manifestações), ou ainda certos setores da vida social (por oposição à economia, à cultura, à educação...). É preciso também mudar de método: não mais enumerar empiricamente aquilo que é político, mas deduzir a priori o seu conceito, esforçando-se