No século XVIII, Antonil percebeu algo interessante numa sociedade dividida entre senhores e escravos, e escreveu: “O Brasil é um inferno para os negros, um purgatório para os brancos e um paraíso para os mulatos” Caso se queira ter uma compreensão mais profunda e original das relações raciais que existem no Brasil, será necessário tomar essa expressão nos seus sentidos velados, considerando todas as suas implicações morais e políticas. Digo que a frase de Antonil tem um sentido sociológico e simbólico profundo porque, no contexto das teorias raciais do momento, ela é no mínimo contraditória.
Hierarquia das raças; o problema maior dessas doutrinas, o horror que declaravam, era contra a mistura/miscigenação das “raças”. Diziam elas, que …exibir mais conteúdo…

Antonil não fala de branco, negro e mulato numa equação biológica. Constrói uma associação social ou normal, relaciona o branco com o purgatório, o negro com o inferno e o mulato com o paraíso. Estabelece um triângulo para o entendimento da sociedade brasileira, é significativo e importante. O Brasil não é um país dual onde se opera somente com uma lógica do preto ou branco... No caso de nossa sociedade, a dificuldade parece ser de aplicar esse dualismo de caráter exclusivo, oposição que determina a inclusão de um termo e exclusão do outro, como é comum no racismo americano, que nós brasileiros consideramos brutal no nosso caso tudo se passa conforme Antonil intuiu; Entre o preto e o branco temos um conjunto infinito e variado de categorias intermediárias em que o mulato representa uma unificação perfeita. Antonil foi um jesuíta as equaciona a três espaços sagrados, críticos na cosmologia católica romana: o paraíso, inferno e o purgatório. A correlação aqui é igualmente perfeita. Se o mulato é ser intermediário e ambíguo, categoria que existe de fato e de direito na ideologia social da sociedade e se legitima precisamente por instituir o intermediário e a síntese dos opostos como algo positivo, sua associação com Paraíso nos ajuda a entender a genial sensibilidade de Antonil para os valores mais profundos da nossa sociedade. Ele percebeu o valor positivo que associamos ao intermediário, situado