Uma noite de dezembro, no tempo em que eu era faroleira, descobri um velho livro numa mala que tinha ido dar na praia. As letras douradas do título estavam quase apagadas: A ilha do tesouro. Do autor, só dava para ler os dois primeiros nomes: Robert Louis. O céu carregava-se de nuvens ameaçadoras. Voltei ao farol, acendi um bom fogo na lareira e espantei-me ao sentir vontade de tomar rum. Pus um pouco no copo para mim, instalei-me em minha poltrona, usando meu velho roupão escocês, e abri olivro. Que decepção! As páginas estavam cobertas de bolor ou roídas pelos ratos. Só o papel das ilustrações resistira. Consolei-me contemplando a primeira: do alto deu ma falésia batida pelos ventos, um rude marinheiro do século XVIII, com uma cicatriz no rosto, contemplava o mar com uma luneta de cobre. Alguém tossiu atrás de mim. Surpresa voltei-me e vi o personagem dailustração avançar em direção à lareira, enquanto um forte cheiro de maresiamisturava-se ao do fogo da lareira.— Obrigado por me fazer subir ao convés — resmungou ele. — Lá dentro cheira a mofo. E pode acreditar que isso é duro para um marinheiro acostumado como vento do alto-mar. Ele indicou o livro com o queixo mal barbeado: — Os ratos, não é? Do fundo do porão eu ouvia o barulho que faziam roendo o papel! O aspecto desse homem era de assustar uma dama sozinha, e mesmo várias damas juntas. Mas o rum me dava coragem. — Quem... quem é vo...você? — gaguejei. Ignorando minha pergunta, ele virou novamente o queixo, dessa vez