A cultura afro-americana
A cultura afro-americana compreende o grande conjunto de sobrevivências culturais africanas que podem ser encontradas nas Américas. Da música à culinária, das danças à religião, é quase impossível pensar atualmente num domínio da vida em que a presença dos afro-americanos, antes escravos oprimidos, não tenha adquirido com o tempo um papel de relevo, e muitas vezes de supremacia.
Não se sabe ao certo o número de africanos transportados para a América, com os quais se iniciou todo esse longo processo. Sabe-se, porém, que a população escrava foi submetida a uma tal pressão de aculturação, que as sobrevivências africanas encontradas na América não provêm em linha direta do tráfico dos séculos XVII e XVIII. …exibir mais conteúdo…
São os ritmos dos atabaques que fazem baixar os "santos"ou orixás, que provocam o estado de "possessão"ou transe, que determinam a coreografia da dança e, por vezes, parecem mesmo falar pela divindade.
Um de canção americana de proveniência negra é o blues, que não teve origem em corais, ao contrário do spiritual, e sempre foi forma compatível com a expressão da alma lírica. O blues, que, devido à sua estrutura, exige de quem canta qualidades de voz muito especiais, tornou-se posteriormente música urbana popular, com acompanhamento instrumental de banjo e depois de piano.
Por processo análogo, as cavalhadas de origem hispânica, do Brasil meridional, tiveram seu sentido alterado com a participação dos negros, através da luta simbólica entre cristãos e mouros. As pastoris de Natal, que de início, na época colonial, eram festas privativas dos brancos da alta sociedade, foram da mesma forma adotadas pelos negros, que as transformaram em desfiles de fim de ano.
Um dos fenômenos mais ricos de africanização de um folclore europeu é o carnaval, onde as molas propulsoras, seja no Brasil, no Haiti e em quase toda a zona caraíba, são as expressões corporais e as batucadas dos negros. Artur Ramos definiu o carnaval do Rio de Janeiro como a fronteira entre a cultura africana e a cultura branca européia, considerando-a sem limites precisos, como um ponto de fusão entre instituições e culturas. Em sua época (1935), apontou o totemismo, as realezas africanas,